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5 de janeiro de 2012

A Noiva Vendida

Na Inglaterra do século XIII, as lutas pelo trono fazem se enfrentar os partidários do rei Enrique com os seguidores do Simón do Montfort. Ninguém sabe em mãos de quem vai ficar o poder e a intranquilidade se apropriaram do país.
O barão de Fitzwarren perdeu toda sua fortuna por apoiar a causa de Montfort e agora tenta saldar suas dívidas vendendo a única posse que ficou: sua filha Alyce.
O comprador é Robert Wardell, um comerciante de Londres. Embora não seja o melhor partido para se misturar com o sangue nobre dos Fitzwarren, é bastante rico para acabar com seus problemas financeiros. E por fim quem disse que os matrimônios deviam celebrar-se por amor?

Capítulo Um

Começo
Castelo de Colmaine, fins de Fevereiro de 1264.
Uma manhã inteira dedicada a vigiar e por nada. Resmungando, Alyce Fitzwarren subiu correndo a escada em forma de caracol da torre norte. Toda uma manhã, e tudo porque tinha deixado seu posto meia hora para exortar ao mordomo, acalmar à chefa de cozinha e repreender dois pajens. Cada um deles estava mais nervoso que uma gata em um celeiro cheio de cães famintos, e era certo que a deixariam louca antes que acabasse o dia.
Bom, quem não estava nervoso no castelo? Certamente ninguém tinha mais direito que ela a essa emoção, e entretanto ninguém podia dizer que ela tivesse um estremecimento de mãos insensato.
Os lustrosos revestimentos em couro de seus sapatos escorregaram nos estreitos degraus. Tropeçou e bateu o joelho na dura pedra; escorregou outros dois degraus, e novamente bateu o joelho.
Soltando uma maldição que uma dama de sua estirpe jamais diria, ficou de pé e segurou a barra de seu vestido e sem deixar de grunhir, correu os degraus que faltavam, sem fazer caso da dor no joelho nem da indecorosa exibição de tornozelos e pernas.
Em todo caso, o guarda não a ia olhar mesmo, em pé no alto da torre, o velho Tadeus, era um pouco surdo e sua atenção estaria sobre os cavaleiros cuja proximidade acabavam de anunciar os guardas e com tanto ruído que seria até capaz de despertar os mortos... ou ao velho Tadeus.
Entrou pela porta da torre espantando as pombas que olhavam atentamente a multidão que se aproximava, tratando de voarem pelas ameias e que empreenderam o voo ruidosamente. Justo em frente a ela, um fraco traseiro masculino parcialmente coberto por uma suja túnica verde ocupava a porta e que oferecia a melhor vista do caminho principal que levava a Londres. O fraco traseiro estava unido a um par de pernas mais fracas ainda, metidas em folgadas meias azuis. Quase tendido sobre o ventre, Tadeus estava retorcendo-se, meneando-se e esperneando para ver melhor, deixando ver seu imundos e calosos pés pelos buracos dos sapatos.
Foi o bater das asas das pombas ante seu nariz, e não o ruído nada decoroso que fez ela ao chegar que distraiu Tadeus de seu empenho. O velho emitiu um grasnido, afastou-se da porta com mais rapidez do que tinha demorado a chegar ali, agarrou o seu arco que tinha deixado apoiado no muro, girou-se e o apontou.
Poderia ter sido um problema se tivesse se lembrado de pôr uma flecha antes. Ao vê-la, sua cara de maçã seca se enrugou em um sorriso desdentado, e seus olhos, meio ocultos pelas enrugadas dobras de suas pálpebras, brilharam de entusiasmo.
— Aí está, milady — disse-lhe deixando o pesado arco em sua posição anterior e afastando de lado para lhe deixar livre a porta — Muito vistosos, e os sons de seus cascos são para assustar até ao demônio.
Alyce não pôde evitar lhe sorrir ao murcho homenzinho, mas antes que começasse a lhe dizer algo, voltaram a soar os trombones. Com um rápido olhar para assegurar-se de que as pombas não tinham deixado nenhum novo presente durante sua ausência, ou os que Tadeus tinha limpado, ocupou o posto que o guarda acabava de deixar livre. Apoiando-se na larga pedra cinza da torre, estirou-se tudo o que pôde para ter uma boa visão do caminho e dos viajantes.