O barão de Fitzwarren perdeu toda sua fortuna por apoiar a causa de Montfort e agora tenta saldar suas dívidas vendendo a única posse que ficou: sua filha Alyce.
O comprador é Robert Wardell, um comerciante de Londres. Embora não seja o melhor partido para se misturar com o sangue nobre dos Fitzwarren, é bastante rico para acabar com seus problemas financeiros. E por fim quem disse que os matrimônios deviam celebrar-se por amor?
Capítulo Um
Começo
Castelo de Colmaine, fins de Fevereiro de 1264.
Uma manhã inteira dedicada a vigiar e por nada. Resmungando, Alyce Fitzwarren subiu correndo a escada em forma de caracol da torre norte. Toda uma manhã, e tudo porque tinha deixado seu posto meia hora para exortar ao mordomo, acalmar à chefa de cozinha e repreender dois pajens. Cada um deles estava mais nervoso que uma gata em um celeiro cheio de cães famintos, e era certo que a deixariam louca antes que acabasse o dia.
Bom, quem não estava nervoso no castelo? Certamente ninguém tinha mais direito que ela a essa emoção, e entretanto ninguém podia dizer que ela tivesse um estremecimento de mãos insensato.
Os lustrosos revestimentos em couro de seus sapatos escorregaram nos estreitos degraus. Tropeçou e bateu o joelho na dura pedra; escorregou outros dois degraus, e novamente bateu o joelho.
Soltando uma maldição que uma dama de sua estirpe jamais diria, ficou de pé e segurou a barra de seu vestido e sem deixar de grunhir, correu os degraus que faltavam, sem fazer caso da dor no joelho nem da indecorosa exibição de tornozelos e pernas.
Em todo caso, o guarda não a ia olhar mesmo, em pé no alto da torre, o velho Tadeus, era um pouco surdo e sua atenção estaria sobre os cavaleiros cuja proximidade acabavam de anunciar os guardas e com tanto ruído que seria até capaz de despertar os mortos... ou ao velho Tadeus.
Entrou pela porta da torre espantando as pombas que olhavam atentamente a multidão que se aproximava, tratando de voarem pelas ameias e que empreenderam o voo ruidosamente. Justo em frente a ela, um fraco traseiro masculino parcialmente coberto por uma suja túnica verde ocupava a porta e que oferecia a melhor vista do caminho principal que levava a Londres. O fraco traseiro estava unido a um par de pernas mais fracas ainda, metidas em folgadas meias azuis. Quase tendido sobre o ventre, Tadeus estava retorcendo-se, meneando-se e esperneando para ver melhor, deixando ver seu imundos e calosos pés pelos buracos dos sapatos.
Foi o bater das asas das pombas ante seu nariz, e não o ruído nada decoroso que fez ela ao chegar que distraiu Tadeus de seu empenho. O velho emitiu um grasnido, afastou-se da porta com mais rapidez do que tinha demorado a chegar ali, agarrou o seu arco que tinha deixado apoiado no muro, girou-se e o apontou.
Poderia ter sido um problema se tivesse se lembrado de pôr uma flecha antes. Ao vê-la, sua cara de maçã seca se enrugou em um sorriso desdentado, e seus olhos, meio ocultos pelas enrugadas dobras de suas pálpebras, brilharam de entusiasmo.
— Aí está, milady — disse-lhe deixando o pesado arco em sua posição anterior e afastando de lado para lhe deixar livre a porta — Muito vistosos, e os sons de seus cascos são para assustar até ao demônio.
Alyce não pôde evitar lhe sorrir ao murcho homenzinho, mas antes que começasse a lhe dizer algo, voltaram a soar os trombones. Com um rápido olhar para assegurar-se de que as pombas não tinham deixado nenhum novo presente durante sua ausência, ou os que Tadeus tinha limpado, ocupou o posto que o guarda acabava de deixar livre. Apoiando-se na larga pedra cinza da torre, estirou-se tudo o que pôde para ter uma boa visão do caminho e dos viajantes.