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15 de fevereiro de 2010

Algo Proibido

















Capítulo Um

Wessex, Inglaterra, 716 d. c.
- Terão de matar esse.
- O quê! - Rowena sobressaltou-se.
- Por que não? - perguntou cadward, o senescal do rei. - Não é mais do que um escravo, e dizem que é indomável. Se não o conseguirem vender, para quê incomodar-se em continuar a alimentá-lo?
- Mas... - ela não se podia mostrar alarmada.
Inquietar-se pela sorte de um escravo seria um sinal de debilidade do qual cadward se aproveitaria imediatamente.
Rowena afastou o olhar do seu acompanhante e observou a fila de escravos para venda que havia naquele canto do mercado, acorrentados pelo pescoço para não puderem fugir: mendigos; prisioneiros, devedores, criminosos, escravos por nascimento... porém, não era correto que...
Não devia mostrar que se interessava.
- Refere-se ao último da fila?
O sol refulgia na pele bronzeada, endurecida pelos músculos.
Era um perigo. Um perigo que ia ser eliminado.
Aquele homem tinha o cabelo indecorosamente comprido, de uma cor que Rowena não sabia qual era. A da luz da lua entre as sombras. A dos sonhos.
- Por amor de Deus, Rowena, se pudesse ver a sua cara... Tem o coração mais terno do que uma menina. É realmente comovente.
A raiva contida crispou cada músculo do corpo de Rowena.
Ela não era uma menina.
Já não o era, e um coração não podia partir-se duas vezes. Já não era uma ingénua que se pudesse manipular. cadward deveria saber.
- Engana-se - disse lady Rowena. - Pouco me importa o que aconteça a esse escravo. Encontraremos um mais conveniente - afastou o olhar dos ombros largos do escravo destinado à morte e, olhando para a sua saia azul escura, agarrou-a para que não se manchasse de pó.
Mas, enquanto o fazia, alguém que tentava abrir passagem até ao posto do mel, empurrou-a por trás.
Rowena perdeu o equilíbrio e precipitou-se para a frente.
O véu caiu sobre a sua cara. Cega, procurou o braço de cadward.
Agarrou-se a ele. Conseguiu deter a queda.
Por pouco. O saiote do vestido encheu-se de lama.
- Podia ajudar-me - disse secamente.
Ele guardou silêncio ao sentir a frieza do seu tom.
Já não tinha a sua túnica.
A mão de Rowena tocava a pele nua.
O estômago encolheu. As dobras do seu véu caíram para um lado e, de repente, encontrou-se a olhar para a pele desconhecida e nua à qual se agarrava a sua mão.
- A senhora tem bom olho. Este é o melhor do lote - disse alegremente uma voz com sotaque forte. Uma voz lisonjeadora. E ávida.O negociante de escravos. O melhor do lote. Rowena atreveu-se a olhar de soslaio.
O braço nu parecia prolongar-se interminavelmente, sinuoso, forte e sólido sob a luz do sol. Em algum ponto longínquo fundia-se num ombro brilhante, numas costas tão largas que pareciam impossíveis de abraçar por completo.
Um pescoço preso por uma argola de ferro larga da qual pendiam umas correntes grossas e pesadas.
Rowena compreendeu a quem estava a agarrar.
Ao escravo do final da fila. O que era indomável. O que iam matar.
- Ah, não o quer soltar! Estou vendo que a bela dama... e o senhor. - em frente a ela, o negociante lançou um olhar calculista à figura elegantemente vestida que permanecia junto a Rowena.
- Sabem reconhecer uma autêntica pechincha.
- Asseguro que sabemos... que sei. Se o quiser comprar - disse cadward, com desdém.
Rowena advertiu que o semblante do mercador se endurecia.
Os seus olhos penetrantes e malévolos observavam a mercadoria humana como se não se tratassem de pessoas.