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9 de fevereiro de 2010

Deusa Cativa










“Na praia vagamente vislumbrada
Através da névoa densa,
Onde as insolentes hostes inimigas
Repousam em silêncio temível...”

Francis Scott Key
“The Star-Spangled Banner”
Baltimore, 1814

Capítulo Um

6 de abril de 1814
Baltimore, Maryland
_Como ousam atirar em nós aqui! _protestou Brett Benton indignada.
Surpreso, Jacques, o camareiro de treze anos, viu a srta.
Benton correr pelo convés rumo ao lado de onde viera o estrondo da bala de canhão. Brandindo as mãos enluvadas no ar como se desejasse agredir o culpado e apesar da saia justa e das sapatilhas de seda, ela movia-se tão depressa que o rapazinho mal podia acompanhá-la.
Felizmente, a escuna francesa, Le Havre, seguia devagar pelos baixios enevoados do rio Patapsco, a caminho do porto, e mos¬trava-se bem estável.
Ao lado da moça alta e magra, ele agarrou-se ao gradil da popa.
_Não, srta. Benton, não estão atirando- em nós _explicou no inglês pouco fluente que ela tentara melhorar durante as cinco semanas agitadas da viagem iniciada na França. _O capitão Piquet diz que os navios de Baltimore atiram com canhão quando sé passam com segurança o bloqueio inimigo inglês.
Aliviada, ela suspirou e, instintivamente, corrigiu o menino:
“Quando conseguem passar com segurança pelo bloqueio inimigo”, é como se diz, Jacques.
Embora mais calma, Brett Benton não conseguiu abafar a irritação provocada pelo susto.
Não havia percorrido a longa distância entre Londres e Baltimore, suportando tempestades, falta de conforto e febres ocasionais, para no último instante algo acontecer e impedi-la de receber a herança.
Ela não se deixara intimidar por ser uma súdita britânica com destino a Baltimore denominada pelo jornal London Times como “ninho de piratas e cidade anárquica da América”.
Também não a amedrontava o fato de ter sido pedida em casamento pelo oficial da marinha britânica em comando do bloqueio que a escuna Le Havre acabava de varar. Apesar de esta terra de rebeldes sediciosos e a sua amada Inglaterra estarem em guerra, o seu tio-avô havia morrido e lhe deixado a parte dele, a metade dos direitos de uma firma de frota mercante sediada em Baltimore.
Isso constituía seu único bem num mundo sombreado por lutas e revoltas.
Ela estremeceu quando o navio, envolto pela neblina e logo atrás da escuna, atirou novamente quebrando o silêncio do amanhecer.



O HOMEM DO REI



Lorde Nicholas Spencer não tinha medo de nada nem de ninguém! 

Fortalecido pela confiança do rei Henrique VIII, sua missão era impor a justiça real no litoral sul da Inglaterra. 
Desbaratar uma quadrilha de contrabandistas não seria problema para um homem tão destemido, que desejava se ver frente a frente com o perigoso marinheiro que, pelo que se dizia, liderava o bando.
A jovem viúva Rosalind Barlow era mulher de grande coragem. Dona de
uma hospedaria, à noite chefiava um grupo de contrabandistas. Rosalind havia jurado derrotar o homem do rei, mas acabou descobrindo que seu coração a traía... 
Levando-a irremediavelmente para os braços do inimigo!

Capitulo Um

22 de setembro de 1539
Cidade litorânea de Deal, Inglaterra.
— Quietos, todos vocês! — murmurou a pequena figura. — Esta noite Percy está na cidade e não quero que ele acabe sabendo deste carregamento! Todos para dentro do túnel.
Sete homens corpulentos, vergados pelo peso da carga que transportavam, apressaram-se em obedecer. Por cerca de quinze minutos eles carregaram desde a praia caixas, barris e peças de tecido, percorrendo o escuro túnel que ia até a única hospedaria da cidade. No interior do túnel, o mais magro daqueles homens acendeu nervosamente uma lanterna e abriu caminho entre os demais.
— Sacre bleu, Rosalind! Você é uma mulher com caráter forjado em aço. — Nesse ponto o francês passou a falar no idioma de sua terra natal, que ela dominava. — Mesmo sendo pequena e encantadora, você faz o papel de um fantástico general para a nossa audaciosa empreitada! Quem mais ousaria esconder me¬cadorias francesas bem diante do nariz do fiscal de tributos? Ah, eu a amo!
— Contenha-se, amigo Pierre — respondeu Rosalind, também falando em francês. — Como já lhe disse, devemos ser amigos, nada além disso.
Enfatizando a advertência, ela balançou levemente a cabeça, que estava encapuzada para esconder a identidade. 
— Sobre o que ele está tagarelando, Ros? — perguntou um homem alto e corpulento, aproximando-se. — Não quer mais lã ou dinheiro pelas mercadorias, não é?
— Nada disso, Wat. Está apenas nos cumprimentando por termos coragem de fazer isto bem diante do nariz de Putnam.
— Não temos escolha, Pierre — resmungou Wat. — Além disso, nunca tivemos medo daquele idiota. A única coisa que nos preocupa é o grande castelo que o rei Henrique VIII está construindo na praia, para nos proteger caso vocês franceses resolvam nos invadir. Fala-se que talvez sua majestade poderosíssima mande um militar de alta patente para supervisionar a obra. É esse que não queremos ver enfiando o nariz por aí.
— Cuidaremos desse problema direitinho, no momento em que ele se apresentar, não é mesmo, meus Rosados? — pronunciou-se Rosalind.
Quando ela voltou a cabeça para sorrir para o grupo, o capuz caiu, revelando os cabelos loiros que brilhavam à luz da lanterna.
Renovando os votos de implacável oposição ao rei e seus aliados, todos se despediram e foram se retirando. Quando Rosalind ia seguir o grupo, o francês segurou no pulso dela.
— Preste atenção nisso, Rosalind — ele recomendou, com ênfase, embora falasse quase num cochicho. — Embora tudo para nós tenha saído às mil maravilhas nos últimos três anos, um homem do rei que seja esperto poderá acabar nos levando à destruição!