
No encouraçado em que viajava para Arginos, pequeno país ameaçado de invasão pelos russos, lady Glória pensava na mudança radical que sua vida sofrera da noite para o dia.
Seus brilhantes olhos azuis não refletiam apenas o medo que a invadiu desde que soubera que a rainha a obrigara a casar-se com um príncipe que ela nunca havia visto.
Refletiam também o desencanto e o ódio, que encheram seu coração.
O príncipe Darius teria muito mais a conquistar do que a paz que pretendera com o casamento ...
Capítulo Um
1875
— Excelência, o conde de Derby — anunciou o mordomo.
O primeiro-ministro, sir Disraeli, ergueu-se da poltrona para recebê-lo.
O conde de Derby acumulava o cargo de secretário de Estado de Negócios Exteriores.
Como vai? — o primeiro-ministro estendeu-lhe a mão.
Bem, obrigado — respondeu-lhe o conde. — Presumo que tenha más notícias, do contrário não mandaria me chamar a esta hora.
O primeiro-ministro riu.
Seu senso de humor fazia com que se divertisse ao observar a perspicácia de seus estadistas contemporâneos.
Infelizmente, nem todos eram como ele.
A maioria era composta de homens sisudos, que raramente sorriam, principalmente quando havia assuntos difíceis de se resolver nas sessões do Parlamento.
O conde de Derby sentou-se ao lado da escrivaninha do primeiro-ministro, defronte a este.
— O que há de errado, se mal lhe pergunto? — impôs na voz um tom desconfiado.
— Lamento ter de dizer-lhe — respondeu o primeiro-ministro -, mas Sua Majestade mandou-me um recado ontem, dizendo haver recebido um pedido do rei Hadrian, de Arginos.
Fez uma pausa para observar a expressão no rosto do conde c prosseguiu:
Creio que Vossa Senhoria já percebeu do que se trata.
O conde de Derby indignou-se.
— De novo mais um pedido?
— Sabia que ia trazer-lhe aborrecimento. São ossos do ofício, meu caro, mas a rainha é pessoa idônea e conhece a seriedade dos acontecimentos nos Bálcãs.
O rei Hadrian pretende, propositadamente, buscar o apoio da Grã-Bretanha, para evitar a infiltração dos russos, o que seria uma ameaça à soberania do seu país.
— Se ele quer uma parenta da rainha para se casar com um dos filhos, digo-lhe, com toda a certeza, que é impossível! — vociferou o conde. — Não há mais ninguém disponível na família real.
Nem sequer uma prima, de grau distante, restou.
O tom irritado do conde fez com que o primeiro-ministro risse outra vez.
— Esse argumento não convence a soberana — falou com voz compassada. — Já nem sei quantos parentes fez subir aos tronos da Europa, mas isso não importa. Se quiser mais uma, teremos de encontrá-la.
O conde agitou as mãos, num gesto de desalento.
— Não sou mágico para fazer aparecer uma candidata com um estalo de dedos — queixou-se. — Além do mais, estou tentando lembrar onde fica Arginos.
O primeiro-ministro rabiscou um mapa.
Aqui é o norte da Grécia — explicou ele
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