Ela ansiava por aventura...
Para a maioria das moças da sociedade, a temporada em Londres era uma sequência de bailes esplendorosos, uma oportunidade de exibir roupas novas e de flertar com os rapazes.
Para Juliette Hamilton, no entanto, era somente tédio e hipocrisia. Incapaz de reprimir sua natureza rebelde, Juliette estava desesperada para escapar daquilo tudo, para não ter de obedecer a regras ridículas e viver uma grande aventura.
E a oportunidade perfeita se apresentou na forma do atraente capitão Harrison Fleming...Mas ele podia oferecer muito mais!
Quando Harrison encontrou Juliette escondida no navio, seu primeiro impulso foi dar meia-volta e entregá-la de volta à família. Mas já era tarde demais para mudar o curso da viagem e atrasar seus compromissos, por isso ele impôs a Juliette um merecido castigo: o cargo de sua criada pessoal!
Agora Juliette estava à disposição dele, dia e noite, e ela não tardaria a descobrir que aquela punição poderia ser bem mais prazerosa do que ela imaginava...
Capítulo Um
Londres, Inglaterra, Verão de 1871
A noite em que o capitão Fleming chegou para o jantar em Devon House significou o impulso que faltava para Juliette Hamilton finalmente tomar a decisão de fugir de casa.
Isso tinha acontecido três semanas antes.
Agora, Juliette segurava o fôlego enquanto o coração se acelerava dentro do peito. Oculta nas sombras, ela observava em silêncio o pequeno grupo de marinheiros que passava e os sons ruidosos de suas conversas e gargalhadas. Ainda bem que eles nem mesmo olharam para o lugar onde ela se encontrava.
Oh. Deus! Ela realmente estava conseguindo fazer o que desejara havia muito tempo. Estava deixando tudo para trás: as irmãs, a família e seu lar.
Um arrepio lhe percorreu a espinha e ela inspirou o ar salino com força para tentar impedir que as pernas continuassem a tremer.
Juliette espiou com cautela por trás de um dos largos barris de madeira que estavam enfileirados e cheios de algo que ela não sabia o que era. Os raios da lua refletiam sobre as águas escuras do cais, tornando a superfície espelhada.
Tudo que ela planejara começava a acontecer naquele instante.
Lá estava o Sea Minx, atracado exatamente no lugar onde o capitão Fleming dissera que estaria. Por alguma razão, ele parecia menor do que ela imaginava.
Quando o último marinheiro desapareceu no passadiço em direção ao navio, Juliette puxou o capuz do casaco e escondeu os cabelos longos por dentro dele para completar seu disfarce de garoto. Respirou fundo outra vez, para reforçar a coragem e correu sorrateiramente na direção da rampa que conduzia ao deque do Sea Minx.
Juliette tinha conseguido um pequeno milagre por ter chegado ao cais e entrar no navio sem ter sido vista. Agora começava a parte mais difícil de seu plano. Ela precisava se esconder em algum lugar até que o navio estivesse em alto-mar e fosse tarde para que o capitão Fleming retornasse a Londres e a levasse para casa.
Sem ter certeza do que deveria fazer em seguida, Juliette desceu uma escada que a levou a um corredor estreito e pouco iluminado.
Ao ouvir vozes masculinas e passos pesados se aproximando, ela entrou em pânico e abriu a porta que estava mais próxima. Após entrar, trancou a porta com cuidado para não fazer barulho.
Apesar da ausência de luz, ela notou que se encontrava em um pequeno depósito. Mais uma vez, Juliette segurou o fôlego e permaneceu imóvel até que as vozes ficassem distantes e seus olhos se ajustassem à escuridão. Assim que houve silêncio no corredor, ela suspirou duas vezes e pensou: E agora?
Seu plano não tinha sido tão bem elaborado a ponto de saber o que deveria fazer depois que conseguisse entrar no navio, a não ser manter-se escondida até que as velas fossem içadas e o Sea Minx zarpasse do porto.
Ela estendeu os braços e começou a apalpar às cegas até encontrar um caixote de madeira baixo e largo. Animada com sua pequena descoberta, Juliette sentou-se sobre ele e depositou a seu lado a sacola que havia conseguido trazer e que continha alimentos suficientes para sustentá-la por alguns dias, desde que se alimentasse com moderação.
Também trouxera uma foto de família que havia sido tirada na festa de casamento de sua irmã Colette, realizado no último outono; algumas cartas de sua amiga Christina Dunbar que continham o seu endereço; uma muda de roupas e dinheiro.
Um montante suficiente para durar algum tempo. Seu cunhado havia depositado uma quantia considerável em sua conta, e Juliette tinha ido ao banco naquela tarde e retirado quase o total do dinheiro, porque não sabia de quanto precisaria.
Assim que chegasse a Nova York, procuraria a casa da amiga na Quinta Avenida e, então, sua aventura começaria de verdade.
Finalmente ela havia conseguido!
Estava a bordo do navio do capitão Fleming. Juliette cruzou os braços ao redor do corpo, quase não acreditando que havia atingido seu objetivo.
Um repentino arrependimento a incomodou quando se lembrou de suas quatro irmãs. No instante em que descobrissem o bilhete de despedida que ela deixara em seu quarto, antes de sair, certamente entrariam em pânico. Mas não havia alternativa. Aquele era o momento certo para agarrar a oportunidade de finalmente conseguir ser livre e independente.
Enquanto estava distraída com seus pensamentos, Juliette sentiu uns solavancos e agarrou-se ao assento improvisado para não cair. Ela podia ouvir as exclamações e os gritos excitados dos homens no convés.
Um sorriso vitorioso surgiu em seus lábios. O Sea Minx estava deixando o cais para cruzar o Oceânico Atlântico em direção à América do Norte.
Agora não havia mais retorno, pensou Juliette. Seu destino estava selado, fosse para bem ou para mal. Por uma fração de segundo, ela se arrependeu daquela louca aventura, mas em seguida confirmou seu desejo e empinou o queixo com determinação.