Quando Esmeralda morre, confessa toda a verdade, quem ela é, de onde vem e lhe faz prometer que voltará para junto de sua família para reparar o dano que fez tantos anos atrás.
Marian se encontra em uma encruzilhada, não quer partir da Inglaterra porque está apaixonada por Eric Darlington, herdeiro do Ducado, mas quando ele se compromete com Lady Barbara Stanton, ela decide se afastar do único homem que ama.
Marian não viajará sozinha, Sofia sua melhor amiga a acompanhará. O que ocorrerá ao chegar a Eilean Doam? Poderá esquecer Eric?
Capítulo Um
Sul da Inglaterra, 1500.
A última pá de areia é colocada no túmulo de Marcus, o homem que me criou, mas não é meu pai. O que sinto é tristeza, pois nunca foi um homem feliz, não era o melhor homem, mas me criou e protegeu sempre que Esmeralda embriagada pelo vinho ficava violenta comigo. Esmeralda... Devo voltar depressa para casa, ela está doente do mesmo mal que morreu seu marido, devo cuidá-la até que o Senhor decida levar-lhe.
Olho pela última vez donde repousa para sempre Marcus, despedindo-me dele, porque quando Esmeralda também parta para sempre, finalmente serei livre para seguir meu caminho, para encontrar o que tenho sonhado há anos. Corro todo o curto caminho que separa o cemitério da aldeia de nossa pequena cabana, ao abrir a porta o fedor da morte me golpeia, até receio que esteja morta, aproximo-me do catre e posso observar como a enfermidade consumiu à mulher que tenho diante de mim. Sua pele branca e suada, seus gemidos de dor.
— Esmeralda? — sussurro me sentando a seu lado, ela mal respira com facilidade, entreabre os olhos e me fita. — Já está feito, certo? — sua voz rouca pela febre já não me surpreende. — Parece mentira, nunca o amei e agora a morte nos leva juntos. Fecha os olhos novamente, e pela primeira vez em toda minha vida vejo como as lágrimas fluem por seus olhos fechados. — Finalmente estará livre — sussurra sem abrir os olhos, como se assim pudesse controlar as lágrimas que banham seu rosto emaciado.
— Marian. — O que? — pergunto temendo que esteja delirando de novo.
— Seu verdadeiro nome é Marian, é o nome que escolheu sua mãe ao dar a luz, você é filha de Valentina e Sebastien Mackenzie. Não dou crédito a suas palavras, desde muito pequena soube que não eram meus pais, mas Esmeralda dizia ser minha tia e que minha mãe morreu quando nasci. Agora entendo tudo, toda minha vida sonhei com terras longínquas, selvagens, mas bonitas, e sonhava com uma mulher linda, mas que sempre tinha seus belos olhos nublados pela tristeza, e o homem que a protege, em minhas visões, muitas vezes o vi chorar. Eles são meus verdadeiros pais...
— Por que você fez isso? — pergunto sem compreender. — Eu amava-o mais que a mim mesma. Mas Sebastien tinha entregado seu coração a sua mãe e nada do que eu fizesse mudaria esse fato, assim obtive minha vingança através de você.
— Roubou-me? — ainda não dou crédito a tudo o que ela me conta... — Com ajuda do Marcus sequestramos sua mãe, eu ajudei a trazê-la ao mundo, e quando você nasceu deixei sua mãe sangrando e partimos te levando conosco.
— Mas minha mãe vive, eu já a vi! — digo confundida. — Seu cabelo é negro como a noite, e seus olhos azuis como um céu do verão. — Sobreviveu para passar seus dias suportando a dor por te haver perdido, consegui o que queria, mas não fui feliz por isso, ao contrário, ver-te todos os dias é como ver Sebastien, e recordar que perdi algo que nunca cheguei a possuir. Eu passei os primeiros dezoito anos da minha vida longe da minha família, minha terra — um profundo ódio cresce dentro de mim, mas tento dominar esse sentimento, porque Esmeralda está morrendo.
— Você é neta do Laird Alexander e Brianna Mackenzie, o Laird mais temido das Terras Altas, você pertence a essas terras, selvagens e bonitas ao mesmo tempo, oxalá eu pudesse vê-las mais uma vez antes de morrer, mas temo que minha hora chegou.
— Por que me conta só agora? — Insisto com os dentes apertados, controlando a vontade que tenho de lhe gritar toda a dor que sinto, controlando a vontade que sinto de feri-la, de destroçá-la como ela fez com meus pais.
— Nunca acreditei em Deus, mas agora que minha hora se aproxima, quero saldar minhas contas — ofega em busca de ar, cada vez lhe custa mais poder respirar. — Pedir que me perdoe é inútil, tentar reparar o que fiz há tantos anos é impossível, mas dizendo-lhe a verdade te permito que escape daqui.