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10 de junho de 2019

O Sonho de uma Bruxa

Elisa Mallo é uma órfã que vive em uma pequena casa no bispado e vive do conhecimento de uma curandeira, que sua avó legou a ela antes de morrer. 

Isso lhe dá uma renda estável para pagar o aluguel, além de poupar para realizar seu maior sonho: comprar a terra e a casa onde nasceu. Tudo está bem canalizado até que o prefeito contrate um médico de renome, que faz Elisa temer pelo futuro.
Andrés de la Vera passou anos tentando evitar o destino que sua família aristocrática tem para ele: casar com uma jovem de alta linhagem com quem estabelecer uma aliança familiar. É por isso que ele não pensa nisso quando aceita o posto de médico tão longe de Madri. No entanto, lá ele vai entender que seus diplomas universitários são de pouca utilidade, já que todas as pessoas confiam nas artes mágicas de cura de uma bruxa. Mas ele não acredita em magia, muito menos em bruxas.

Capítulo Um

Norte da Espanha, 1868
Elisa Mallo voltou ao início para se certificar que tinha lido corretamente “Dois dentes de alho”, pronunciou em voz alta, enquanto passava seu dedo pela intrincada caligrafia de sua avó.
Esticou o marcador de páginas de seda ao longo da amarelada folha e fechou o livro para, após virá-lo e ler na capa: Feitiços de amor, verificar que não se equivocara com o volume.
— Alho? — repetiu, retornando à página marcada e se perguntando em que demônios pensaria sua avó quando escreveu o feitiço. 
Como teria lhe ocorrido usar um ingrediente tão mal cheiroso para um feitiço de amor. Toda boa feiticeira sabia que não existia nada melhor para afastar o mal olhado, as invejas e outras simpatias. Mas, qual homem voltaria com uma amante que cheirasse a alho?
Estalou a língua e negou com a cabeça, decidida a mudá-lo. 
Depois de comprovar que o pequeno armário onde guardava os ingredientes de seus remédios estava bem sortido, Elisa molhou a grande pena de ave no tinteiro e copiou o feitiço em uma pequena folha. 
Substituiria o alho por umas folhinhas de alecrim, dotadas igualmente de poderes contra as antipatias, ainda que com mais garantias de êxito para sua cliente que o bulbo mal cheiroso. E a cliente em questão precisaria de todas as ajudas possíveis. Pois o caso de Justina de Olegário, a bela esposa de Olegário Sánchez, o lojista, levava várias semanas protagonizando todas as fofocas do povoado.
De uma palidez e finura quase impróprias para a filha de um camponês, Justina era uma jovem que chamava a atenção por sua extraordinária beleza. Seus longos cabelos loiros brilhavam em intermináveis cascatas até o meio das pernas e possuía uma figura voluptuosa plena de curvas, das quais os homens mal conseguiam afastar os olhos.
Seus velhos pais, que tiveram Justina quando já tinham perdido a esperança de que Deus os abençoasse com um segundo filho, pensavam que jamais se recuperariam da perda de seu primogênito, um vigoroso jovem nascido para herdar o trabalho e a renda da granja, falecido por causa de uma gripe muitos anos atrás. No entanto, a beleza de Justina fora ainda mais proveitosa para eles. 
Logo averiguaram que o bonachão Olegário Sánchez bebia os ventos por sua filha. Aquilo era o melhor que acontecera à família em gerações, pois, mesmo que Olegário ultrapassasse os cinquenta, era o proprietário de várias terras arrendadas e gerenciava a maior parte dos negócios do povoado.
Elisa apertou os olhos devido a redução da luz exterior. Depois de um longo suspiro pegou o livro e foi para o escritório, na mesa sob a janela em frente ao fogo. 
Ali ardia um bom fogo cujo clarão lhe permitiria terminar a cópia da receita do feitiço. Devia finalizar logo a modificação e a cópia do material, porque Justina passaria em poucas horas para realizarem a invocação.
Fazia dois dias que a pobre jovem se apresentara em sua casa com o rosto desfeito e os olhos inchados de tanto chorar. 
Após quatro anos de matrimônio, e apesar de seu esposo se portar bem com ela e com sua família, fazia tempo que sabia que nunca conseguiria amá-lo. E o tentara com todas suas forças, ou pelo menos, fora o que Justina lhe afirmara entre soluços. Mas nada adiantou toda a força de vontade dela, quando um elegante vendedor de sabão apareceu um dia na loja de Olegário. Um bom rapaz de caráter cordial, que conquistou a jovem Justina desde o primeiro momento.