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7 de janeiro de 2010

Paixão Perigosa








Quando a casa de seus ancestrais é atacada por um perigoso bando de saqueadores, lady Ebony Moffat teme pela segurança do seu filho pequeno.

Num momento de frenesi, a viúva faz um acordo com o líder dos homens: ela oferece seu corpo pela vida do menino.
Sem que ela saiba, sir Alex Somers invadiu o Castelo Kells em busca de traidores, por ordem do Rei da Escócia.
E embora jamais fosse fazer mal ao menino, não resiste à oferta tentadora daquela beldade. Mas sabe, instintivamente, que fazer amor com Ebony jamais bastará - a não ser que ela, além do corpo, lhe entregue também a própria alma!


Capítulo Um

Galloway, Escócia. 1319
O solo seco da floresta abafava qualquer ruído feito pelos pés que, durante a última hora, haviam descansado nos estribos para chegar ao Castelo Kells ao amanhecer.
Na noite anterior, sir Alex Somers e seus homens avistaram o castelo imponente, na margem oposta do lago, reluzindo cor-de-rosa e laranja, e contemplaram pelo íngreme penhasco a superfície espelhada do lago.
Era seguramente isolado em dois lados, enquanto, nos fundos, montanhas e florestas protegiam-no como um manto dos ventos do norte.
Mais além do vale, a terra declinava para verdes pastos onde perambulavam pôneis escuros, e uma fumaça azul subia reto de uma aglomeração de pequenas cabanas cobertas de colmo.
Agora o viam a uma distância considerável, ruas bem escondidas, com um riacho ao lado que caía em cascata entre os pedregulhos num profundo lago uns seis metros abaixo, rugindo baixinho em sintonia com os pinheiros.
— Podemos esperar aqui o momento adequado — disse sir Alex ao companheiro — se ficarmos bem atrás nas árvores. Não acredito que ele vá demorar muito a retornar.
Seu leve sotaque das planícies da Baixa Escócia fazia as palavras soarem mais como observação que ameaça.
O companheiro, Hugh de Leyland, nem tão alto, nem tão largo ou musculoso, mas ágil como uma doninha, retirou uma migalha do colete marrom desbotado e desprendeu uma botija de couro do cinturão.
Aceitou a estratégia sem questionar, mas alguns detalhes práticos precisavam ser esclarecidos antes que começasse a ação.
Ele tomou um gole de água e enxugou a boca com as costas da mão.
— Você disse que ele tem um filho?
— Tinha — respondeu Alex, enigmático — morto num ataque repentino alguns anos atrás. Mas tem um neto pequenino.
— Morando aqui, com sir Joseph?
— Creio que sim.
Enquanto ele falava os ávidos olhos azuis buscavam por qualquer sinal de movimento perto da casa fortificada acima do portal do castelo, ou pelo caminho que levava à distante mata.
A dupla formava uma visão impressionante, como um par de leões fulvos que conheciam o jeito um do outro, que não eram avessos a uma rixa amigável numa descarga de excesso de energia, mas que defenderiam um ao outro até a morte, como fariam os homens que esperavam silenciosamente atrás dos dois.
No auge de seu vigor, aos 31 anos, sir Alex Somers era robusto, de ombros largos, tórax profundo, além de ter um rosto que invadia os sonhos das mulheres em situações em que nenhum dos dois tinha quaisquer motivos para estar.
Cor de avelã-escuro, os cabelos volumosos saltavam em incontroláveis pontas que lhe tocavam a testa e enrolavam-se para cima em volta do pescoço musculoso.
Mas eram os olhos que enfraqueciam os joelhos femininos, pois tinham o mesmo e intenso azul de um céu límpido, porém menos inocentes.
— Isso talvez nos seja útil — disse Hugh de Leyland, seu segundo em comando.
— Pegamos o meninote e o usamos como isca, refém, ou qualquer coisa do gênero.
Um fedelho esganiçado vai sempre conseguir torcer a calça do avô. Ele tem mãe?
— Em geral, todos têm, Hugh.
— Eu vou descobrir. Deixe isso comigo.
Sir Alex não achava nada divertido a previsível eficiência de Hugh em encontrar uma mulher. Os dois eram habeis nisso. Mas alguns, como sir Joseph Moffat do Castelo Kells em Galloway, por exemplo, não dariam a menor importância em sacrificar os de sua própria família, se necessário.
Ouviram bastante sobre o sujeito para fazê-los pensar assim, juiz de paz local, proprietário de terras, criador de cavalos, líder de ataques surpresas, libertino e ladrão, e estes eram os aspectos mais honráveis de sua personalidade.
Sir Joseph não ficava acordado à noite por problema de consciência.
— Mas é melhor não contar com isso — ele avisou. — Será necessário muito para assustar um homem como Moffat. Ele já teve mais anos de prática do que a maioria nessas partes.
Hugh encostou-se numa árvore e observou o amigo avançando furtivamente como um grande felino, tão à vontade ao ar livre quanto nos mais elegantes salões da Europa. Acompanhava-o há nove anos, assim como qualquer outro homem do contingente de cem. Era dois anos mais moço, de cabelos encaracolados castanhos mais claros, o corpo de um atleta magro e rijo, olhos alegres e despudoradamente grato pelas mulheres que se lançavam aos seus pés com tanta boa vontade quando aos pés de Alex.
Sir Alex acocorou-se nas coxas e examinou do alto o íngreme precipício defronte, chamando Hugh com um aceno de mão para que viesse, se agachasse e fizesse silêncio.
Hugh avançou rastejando, intrigado.
— Que é? — sussurrou.
O riacho precipitava-se e esparrinhava-se nos pedregulhos musgosos e saltava sobre um filão marrom brilhante para um lago isolado, espumando dentro de um círculo escuro. Uma pilha de roupas bem-arrumada estendia-se nas pedras secas, e uma risada estridente elevou-se acima do barulho da água, arrancando sorrisos radiantes dos dois homens.
— Uma mocinha. Escute... veja! Estamos com sorte.
Enquanto ele falava, dois pares de braços róseos brilhantes surgiram no campo visual numa das pedras planas, e depois às duas cabeças com capacetes de negros cabelos molhados seguiram-se reluzentes ombros, costas e coxas.
Impulsionando-se para cima da pedra, elas derramavam água como lontras, contorcendo-se para se sentar na pedra e chutar as leves ondulações que rodopiavam em volta dos tornozelos. Torciam com as mãos as cordas de cabelos pingando para escorrer a água, lançando punhados sobre os ombros, que revelavam cada curva de seus torsos agora realçados pelo novo sol.
Douradas, róseas, macias e lustrosas, enfeitavam-se como sereias em suas grutas.
— Olhe só isso — exclamou Alex —, valeu a pena cavalgar toda essa estirada. Acha que são moças do castelo?
— Claro que devem ser — disse Hugh. — Droga, Alex. Temos tempo para isso?
— Pobre idiota. Você sabe que não temos. E precisamos ficar escondidos. Vai dar uma olhada naquela de cabelos pretos, mesmo assim? Ela é estonteante, Hugh. Fiuuu-iuuu!
— soprou entre os dentes, baixinho. — Que corpo. E um rosto também para acompanhar.
— Prefiro a mais baixa, parece uma ameixinha madura. São boas demais para serem mocinhas de aldeia e felizes demais para serem lavadeiras. Devem ser costureiras, é isso.
Caíram num silêncio aturdido, observando da conveniente cobertura de um frondoso escolopêndrio, cada perfeito detalhe daquela cena gloriosa.
E quando sentiram um movimento atrás, descobriram que um pequeno grupo de seguidores também avançara de rastos, contemplando com os olhos atentos a visão.
As mulheres levantaram-se para juntar as roupas, deslocando-se para uma posição de onde, com uma olhada acima da superfície da rocha, a platéia silenciosa seria revelada. Com grande rapidez, Alex, Hugh e cada homem retiraram-se como uma sombra coletiva, retornando aos cavalos, quase sucumbidos demais para falar.
— Bem — acabou dizendo Alex, afinal —, foi um início interessante para o dia. Suponho que terão condições de manter a mente no trabalho, não?
Hugh deu um largo sorriso.
— Talvez tenhamos condições de arrancá-las de lá quando entrarmos no castelo.
— Não haverá tempo para isso, rapaz. Os homens provavelmente isolarão as mulheres. Mesmo assim, eu gostaria de dar mais uma olhadinha naquela de cabelos escuros, vestida ou despida. Veremos.
— Ele percebeu as faixas de luz que haviam começado a filtrar-se pelas árvores onde se escondiam. — Desloque os homens de volta para as sombras agora. E mantenha um deles postado ali para vigiar a trilha e a casa do portal. É melhor que o resto de nós monte. Sabemos o que fazer, não?
— Oh, sim — disse Hugh, pondo um dos pés no estribo. — Mas que linda manhã para se atacar um castelo.