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12 de novembro de 2017

Sonhos do Deserto

Lorde Winter é um homem frio, obstinado e solitário que vaga sem descanso pelo mundo em busca de aventura, mantendo as paixões de seu coração bem ocultas.
Mas agora, durante a busca de uma legendária égua árabe, descobre sob o disfarce de um mendigo beduíno uma jovem extraordinariamente bela: Zenia Stanhope, a filha de uma aventureira inglesa conhecida como a Rainha do Deserto.
Zenia não quer para si uma vida como a que leva este perigoso aventureiro.
O que ela deseja é viajar para a Inglaterra para afastar-se do sangue e da areia do deserto. Mas quando são condenados à morte, suas vidas ficam irrevogavelmente unidas depois de compartilhar a paixão nos braços um do outro durante a noite. Graças ao acaso, conseguem escapar para o deserto onde, depois de uma batalha, Lorde Winter é dado por morto.
Zenia escapa para a Inglaterra confundida como sua esposa, para um mundo de elegância e comodidade, abandonada pelo homem valente e solitário que mudou sua vida e conquistou seu coração… até que ele retorna para invadir seu santuário e exigir que pague o preço da paixão.

Capítulo Um

Síria, 25 de junho de 1839
O reverendo Thomson se sentia compreensivelmente transtornado. De fato, demorou uns momentos para recuperar a compostura ante a visão do montão de ossos humanos empilhados no exterior da cripta, com a caveira sorridente no alto.
A horripilante cena estava iluminada unicamente por dois círios introduzidos nas cavidades oculares daquela coisa.
Estranhas sombras piscavam sobre o ataúde de pranchas, rodeado pelos tenebrosos e ferozes rostos da multidão de serventes muçulmanos.
Não tinha sido sua intenção perder-se no labiríntico jardim localizado no interior das muralhas da fortaleza de Dar Joon. Mas passavam duas horas da meia-noite e, quando os serventes, com seus turbantes e seus curvados bigodes, levantaram o ataúde para levar lady Hester Stanhope a seu lugar de repouso definitivo, o senhor Thomson ficou atrás uns momentos para familiarizar-se com os ritos funerários da Igreja da Inglaterra e pronunciá-los sem nenhuma vacilação desrespeitosa, nem ter que rebuscar nas páginas pelas palavras corretas.
Coisa que resultou ser do mais imprudente. Assim que o cortejo funerário, com suas tochas e lanternas, abandonou o pátio e desapareceu nas escuras folhagens do jardim de lady Hester, uma desafortunada rajada de vento quente deixou o missionário norte-americano em uma total escuridão.
Teve que tatear o caminho através de um matagal de atalhos tortuosos, guiando-se pelas suaves vozes, e, de vez em quando, por um brilho de luz que sempre parecia ficar detrás da espessura das sebes ou de alguma nova curva que não levava a nenhuma parte. Durante um momento o homem esteve perambulando, tropeçando em raízes, apartando ramos de jasmins, até que finalmente chegou ao caramanchão.
A macabra visão provocou-lhe uma considerável agitação. Mas o cônsul inglês, o senhor Moore, aproximou-se e, assinalando com gesto impreciso os ossos, murmurou: — Não se preocupe com ele. É apenas um francês.
O senhor Thomson voltou os olhos para o cônsul como um cavalo nervoso.
— Entendo.
— O capitão Loustenau. Tiraram-no para fazer lugar a lady Hester. O pobre tipo veio aqui de visita, deu-lhe uma dor de barriga e morreu repentinamente. Faz anos. Ela desejava-o. — Encolheu-se de ombros. — Um descarado vagabundo e abusado, conforme contam. Mas muito no estilo da dama. Não sei se me entende.
O senhor Thomson se esclareceu garganta em um sutil gesto de interrogação.
— Jovem, arrumado — disse o senhor Moore ampliando a informação.
— Ah — disse o senhor Thomson com tom vacilante.
— O velho Barker era o cônsul nos melhores tempos da senhora — acrescentou o senhor Moore com tom sugestivo, — e estava acostumado a dizer que Michael Bruce era o diabo mais bonito que caminhou sobre duas pernas.
— Seriamente? — disse o missionário.
O senhor Moore lhe dedicou um olhar divertido.
— Era seu amante.