Mostrando postagens com marcador Susanna K.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Susanna K.. Mostrar todas as postagens

9 de julho de 2017

Um Amor Contra o Vento

Uma assombrosa reflexão sobre o amor, a família, o verdadeiro significado de lar e sobre os laços que nos unem.

Depois da morte de sua irmã Katrina, Eva Ward regressa ao único sítio a que verdadeiramente pertence, à velha casa na costa da Cornualha, à procura das memórias felizes dos verões de sua infância.
A manutenção de Trelowarth, com seus magníficos jardins e admiráveis rosais, constitui um problema constante para Mark Hallett, o atual proprietário e paixão adolescente de Katrina. A fim de combater a tristeza e para ajudar Mark e sua irmã, Susan, Eva colabora em seu projeto de abrir um salão de chá na mansão. Aí encontra vozes misteriosas e passagens secretas que a levam a viajar para o passado e a tropeçar nos irmãos contrabandistas Jack e Daniel Butler, e a participar cada vez mais de suas vidas.
Viajando inverificada entre o presente e o passado, Eva tem de confrontar não só os seus próprios fantasmas, como também os de outrora. À medida que começa a questionar o seu lugar no presente, percebe que tem de decidir o seu futuro.

Capítulo Um

Perdi a minha única irmã nos últimos dias de novembro.
É uma época terrível para perder alguém, quando o mundo inteiro está a morrer e a escuridão chega antes, e quando cai a chuva gelada parece que o mesmíssimo céu está chorando. Não é que haja um bom momento para perder a sua melhor amiga, mas, por algum motivo era mais difícil esperar ali, sentada no quarto de hospital, com os especialistas de bata branca, entrando e saindo, e vendo somente nuvens cinzentas por trás das espessas janelas, as quais não ofereciam nem calor, nem esperança.
No início, quando a minha irmã ficou doente, às vezes, saíamos para o jardim e nos sentávamos juntas no banco, ao lado do arbusto florido. Ficávamos ali um bom pedaço, sem falar, simplesmente sentindo o sol na cara e contemplando a dança das borboletas.
A doença parecia insignificante então, algo que podia combater, tal como tinha superado tudo quanto o destino tinha posto em seu caminho. Era conhecida por isso, por sua coragem. Os diretores lhe davam papéis para os quais estavam acostumados a escolher mais homens que mulheres, o papel do herói solitário, e ela sempre saía graciosa, com sua elegância do costume, e o público adorava. Adoravam-na. Os jornalistas acampavam nas imediações de sua casa durante o verão, e quando ingressou no hospital também foram para lá, montar guarda diante da entrada principal.
Mas no fim, no quarto só estávamos três: minha irmã Katrina, Bill, seu marido, e eu.
Seguravamos-lhe as mãos - Bill e eu - com os olhos cravados na cara de Katrina, porque nenhum dos dois foi capaz de olhar o outro. E, com o tempo, só ficamos dois, mas eu não podia soltar a mão de minha irmã, por que uma parte de mim era incapaz de acreditar que, de verdade, se tinha ido e fiquei ali sentada, no meio do silêncio desangelado1, vazio, até que Bill se levantou lentamente e pousou, com cuidado, a mão que ainda não tinha soltado, sobre o coração de Katrina. Apertou com doçura a sua mão contra a dela uma última vez, tirou um pequeno objeto do dedo de Katrina e mo deu: um anel de ouro, um anel de Claddagh2, que tinha sido de nossa mãe.
Entregou-mo silenciosamente, e silenciosamente o agarrei, continuando sem olhar-nos. E depois vi que apalpava um bolso, procurando os cigarros; deu a volta, saiu, e eu fiquei sozinha. Completamente sozinha.
E pelo vidro da janela deslizava a fria chuva de novembro, a qual projetava suas cambiantes sombras sobre um quarto que já não podia reter a luz.
Não assisti ao funeral. Ajudei a prepará-lo e me assegurei de que se cantassem as suas canções favoritas e se lessem os seus poemas preferidos, mas quando apareceram os amigos e admiradores para render-lhe a última homenagem, eu não estava ali para cumprimentá-los, nem escutar suas bem-intencionadas palavras de simpatia. Sei que algumas pessoas me consideraram uma covarde por isso, mas não me senti capaz. Minha dor era íntima, muito profunda para compartilhá-la com alguém. E além disso, sabia que não importava se eu não fosse à igreja, Katrina não estaria lá.
Não estava em parte alguma.
Parecia-me incrível que uma luz tão potente, como a sua, pudesse extinguir-se, sem deixar sequer um pequeno fulgor, como quando ao desligar um candeeiro, às vezes, sua silhueta continua brilhando fracamente contra a escuridão. Eu estava convencida de que sentiria a sua presença em algum lugar... mas não foi assim.
Em redor do arbusto florido do jardim só havia folhas mortas, e junto ao alpendre, com o balanço de descanso vazio, matas sem flores, e quando comecei a tirar as suas coisas dos armários, no corredor não se sentia nem uma ligeira brisa, que me fizesse acreditar que minha irmã continuava ali comigo, de alguma maneira.
E assim fui embora. Dediquei-me às pequenas coisas que requeriam a minha atenção e tentei continuar com a minha vida, como todos diziam que devia fazer, enquanto dentro de mim ia crescendo uma oca solidão. Chegou a primavera, e também chegou Bill; apareceu em minha porta, um sábado pela manhã, sem ter avisado, com as cinzas de Katrina. Parecia desconfortável.
Eu não o vira desde novembro, não pessoalmente, mas, como acabava de estrear um filme com ele, tinha-o visto com frequência nas notícias de entretenimento.
Não quis entrar. Clareou a garganta, um pouco violento.
— Tinha pensado que...










Veja vídeo do lançamento.