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13 de janeiro de 2011

O Despertar de Menfreya


Naquele castelo da Cornualha, amor e morte andam de mãos dadas
Diz a tradição que, quando o relógio da torre do Castelo de Menfreya pára, isso significa mau agouro.
Mas, para Harriet, não passa de mais uma das muitas crendices que cercam a propriedade de Bevil, seu marido.
No entanto, quando Jessica, a nova governanta, muda-se para Menfreya, a segurança de Harriet é abalada: haveria algo entre aquela bela mulher e seu marido?
As suspeitas adquirem proporções maiores quando Harriet recebe um misterioso aviso de morte, seguido da notícia de que o relógio da torre parou...

Capítulo Um

É pela manhã que melhor se pode apreciar Menfreya. Des­cobri isso pela primeira vez num nascer do sol na casa da Ilha de Ninguém, quando as nuvens manchadas de verme­lho projetavam brilhos rosados no mar, e a água que cir­cundava a ilha era como seda encrespada de cor cinza-pérola.
Depois do medo que senti durante a noite, a manhã me pareceu mais calma, e a paisagem, também, mais encan­tadora após os pesadelos.
Diante da janela aberta, com o mar e a ilha principal à minha frente e vendo Menfreya assentada no topo de um penhasco, me senti estimulada por toda aquela beleza e também pelo fato de que tinha conseguido atravessar, a salvo, a noite.
A casa parecia um castelo, com seus torreões, contra-fortes e torres de ameias, sendo também um ponto de re­ferência para os marinheiros, que podiam saber onde se achavam depois de avistarem aquele bloco de velhas pedras.
Ao entardecer, adquiria um tom cinza-prateado, com o sol fazendo suas pedras pontiagudas brilharem como diaman­tes.
Nunca, porém, Menfreya se mostrava em todo o es­plendor como quando era batida pela luz rosa do sol nas­cente.
Menfreya é, há séculos, a casa dos Menfrey. Intima­mente, eu os apelidei de Menfrey Fabulosos, porque assim me pareciam — fortes, viris, todos com impressionante apa­rência.
Já ouvira falar que eram também chamados de Menfrey Selvagens, e segundo A'Lee, o mordomo de Chough Towers — que tinha muitas histórias para contar do atual Sir Endelion — eles não só eram selvagens, mas também maus.
Os Menfrey tinham nomes que me pareciam estra­nhos, mas, aparentemente, assim não achavam os habitan­tes daquela região, já que se tratava de nomes que, há longo tempo, constavam da história do ducado.
A atual Lady Menfrey, contou-me A'Lee, quando era ainda uma mocinha de não mais de 15 anos, foi raptada por Sir Endelion, que a trouxe para Menfreya, onde a manteve, arruinando sua reputação, e, desse modo, a família dela nada mais tinha a fazer a não ser de bom grado concordar com o casamento dos dois.
— Não se iluda, senhorita, o casamento não foi por amor — disse A'Lee. — Ele andava era atrás do dinheiro dela, porque os Menfrey estavam precisando, e ela era uma das grandes herdeiras deste país.
Quando vi Sir Endelion cavalgando nas redondezas de Menfreystow, julguei que fosse um rapaz; muito parecido com o próprio filho, Bevil, era como se estivesse indo rap­tar a herdeira para trazê-la em seu cavalo para Menfreya; pobre moça, pouco mais do que uma criança, amedrontada e inteiramente fascinada por aquele selvagem.
O cabelo dele era alourado, e me fazia lembrar a juba de um leão.
Olhava ainda para mulheres, contou-me A'Lee — e este era o ponto fraco dos Menfrey; muitos deles, homens e mulheres, foram muito infelizes em seus amores.
Lady Menfrey, a herdeira, era inteiramente diferente do resto da família; loura e frágil, essa gentil senhora se dedicava aos pobres da região. Com resignação, aceitou seu destino quando passou a fortuna para as mãos do ma­rido...