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14 de março de 2021

Você me ensinou a Amar

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo Um

Brian entrou em Londres decidido a cobrar a dívida pendente com Harold Boyle, o comerciante da avenida Strand, que há meses não lhe pagava. Era um tipo complicado esse Boyle, e sua paciência já estava no limite, assim se dirigiu a rua apressado quando uma mão o parou. Brian agarrou o braço com força, procurou os olhos de seu dono com o cenho franzido, e sorriu imediatamente ao ver que era seu amigo Albert Fitzgerald.
— Albert, bastardo, quer que o mate?
— Sinto muito Dumboyne, o que faz por aqui?
— Trabalho e você?
— Algo assim, quer uma cerveja? O trabalho pode esperar e sua milagrosa aparição é uma maravilha. Venha, dê-me dez minutos!
— No que anda metido? — Brian sentou na banqueta de madeira do bar e esticou as longas pernas olhando Albert, que estava muito sério.
— O que ocorre? Está tudo bem?
— É um assunto de família, na verdade corresponde mais a minha esposa que a mim Brian, mas estou metido até o pescoço...
— Precisa de dinheiro?
— Não. Quando parte de Londres?
— Amanhã.
— E aonde vai?
— Amberes.
— Espanha?
— Dentro de algumas semanas, por quê? Diga-me de uma maldita vez o que está acontecendo.
— Uma prima espanhola da minha esposa está presa aqui, em Londres. Seu tutor a trouxe para comprometê-la pelo melhor dote, já sabe, a garota tem dezessete anos e vários títulos, terras, dinheiro... Enfim, o tutor não pode se casar porque é um religioso, mas pretende negociar sua virtude e suas posses... — Suspirou.
— A garota me pagou uma fortuna para liberá-la e ajudá-la a retornar a Espanha.
— O quê? — Soltou uma gargalhada grave e sincera
— Apenas você é capaz de entrar em algo assim, Albert.
— Esse sujeito conseguiu sua tutela de forma ilegal, Isabel apenas quer retornar a Madrid para fazer uma denúncia ao rei, desmascarar o indivíduo e se emancipar, é justo.
— E paga bem, é claro.
— Isso não tem nada a ver Brian, não podemos deixá-la sozinha. Minha esposa me pressionou além da loucura e acredito que poderei tirá-la esta noite da delegação espanhola, apenas faltava o transporte para mandá-la a Espanha e milagrosamente aparece você, patife. Caiu do céu.
— Delegação Espanhola? Está na Embaixada?
— Sim.
— Entrará em uma confusão.
— Pode levá-la com você? Por favor, pelos velhos tempos.
— Albert... — Brian Dumboyne olhou longamente para seu amigo inglês, que conhecia mais de uma década. O pai de Albert nasceu na Irlanda e fez um maravilhoso casamento com uma dama inglesa que o trouxe para viver na Inglaterra como um cavalheiro. Seu filho mais velho, Albert, estudou com ele em Oxford um curso inteiro de legislação e se tornaram amigos íntimos, viam-se pouco, mas o apreciava.
— Você quer embarcar uma fugitiva em um dos meus navios?
— Não é uma fugitiva, esse homem a raptou, tentou abusar dela, quer casá-la com quem pague mais... É um sequestrador, um criminoso amigo, apenas estamos tentando fazer justiça.
— Como disse que se chama? — Começou a refletir a questão com calma.
— Isabel. Isabel Hermoso de Mendoza, atual Duquesa de Estella, entre outros inúmeros títulos grandes na Espanha, uma moça doce e inocente Brian. Por Deus, eu te peço.
— Não sei, não sei.
— O tutor era o confessor de sua mãe, Teresa de Aguirre, uma santa, a mulher morreu faz seis meses vítima de um mal feminino, as más línguas dizem que o tipo a forçava... já sabe... a ter contato carnal com ele. A Condessa, viúva e mãe de uma apenas filha, era uma boneca nas mãos do sacerdote. Isabel estava trancada em um convento em Madrid quando sua mãe morreu, e o homem veio rapidamente com os documentos que o atestavam como seu tutor. Tirou-a do convento e antes de trazê-la a Inglaterra também a assediou, embora felizmente suas damas de companhia a protegeram. Depois do assédio, a maltratou e a trouxe aqui para fugir da família Hermoso de Mendoza que não entende o que aconteceu com sua sobrinha. Ela apenas precisa pisar na Espanha, assim terá ajuda e socorro Brian, apenas precisamos colocá-la em um navio de volta a sua casa.
— Sério? — O sangue começou a ferver nas veias, aquele degenerado... isso era difícil de ignorar.
— Pois bem, parto às cinco da manhã de Greenwich, poderão chegar a tempo?
— Tentarei. — Albert passou a mão pelo cabelo, certamente ele não era o típico herói e agia sozinho em todas essas coisas, assim esperava que seus contatos na embaixada e seus subornos bem pagos funcionassem. Olhou para o amigo e tentou forçar um sorriso.
— Tem um plano Albert?
— Paguei vários funcionários para que a deixassem sair assim que desse aviso.
— E o que mais?
— Nada mais.
— Pelo amor de Deus!