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14 de março de 2021

Você me ensinou a Amar

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo Um

Brian entrou em Londres decidido a cobrar a dívida pendente com Harold Boyle, o comerciante da avenida Strand, que há meses não lhe pagava. Era um tipo complicado esse Boyle, e sua paciência já estava no limite, assim se dirigiu a rua apressado quando uma mão o parou. Brian agarrou o braço com força, procurou os olhos de seu dono com o cenho franzido, e sorriu imediatamente ao ver que era seu amigo Albert Fitzgerald.
— Albert, bastardo, quer que o mate?
— Sinto muito Dumboyne, o que faz por aqui?
— Trabalho e você?
— Algo assim, quer uma cerveja? O trabalho pode esperar e sua milagrosa aparição é uma maravilha. Venha, dê-me dez minutos!
— No que anda metido? — Brian sentou na banqueta de madeira do bar e esticou as longas pernas olhando Albert, que estava muito sério.
— O que ocorre? Está tudo bem?
— É um assunto de família, na verdade corresponde mais a minha esposa que a mim Brian, mas estou metido até o pescoço...
— Precisa de dinheiro?
— Não. Quando parte de Londres?
— Amanhã.
— E aonde vai?
— Amberes.
— Espanha?
— Dentro de algumas semanas, por quê? Diga-me de uma maldita vez o que está acontecendo.
— Uma prima espanhola da minha esposa está presa aqui, em Londres. Seu tutor a trouxe para comprometê-la pelo melhor dote, já sabe, a garota tem dezessete anos e vários títulos, terras, dinheiro... Enfim, o tutor não pode se casar porque é um religioso, mas pretende negociar sua virtude e suas posses... — Suspirou.
— A garota me pagou uma fortuna para liberá-la e ajudá-la a retornar a Espanha.
— O quê? — Soltou uma gargalhada grave e sincera
— Apenas você é capaz de entrar em algo assim, Albert.
— Esse sujeito conseguiu sua tutela de forma ilegal, Isabel apenas quer retornar a Madrid para fazer uma denúncia ao rei, desmascarar o indivíduo e se emancipar, é justo.
— E paga bem, é claro.
— Isso não tem nada a ver Brian, não podemos deixá-la sozinha. Minha esposa me pressionou além da loucura e acredito que poderei tirá-la esta noite da delegação espanhola, apenas faltava o transporte para mandá-la a Espanha e milagrosamente aparece você, patife. Caiu do céu.
— Delegação Espanhola? Está na Embaixada?
— Sim.
— Entrará em uma confusão.
— Pode levá-la com você? Por favor, pelos velhos tempos.
— Albert... — Brian Dumboyne olhou longamente para seu amigo inglês, que conhecia mais de uma década. O pai de Albert nasceu na Irlanda e fez um maravilhoso casamento com uma dama inglesa que o trouxe para viver na Inglaterra como um cavalheiro. Seu filho mais velho, Albert, estudou com ele em Oxford um curso inteiro de legislação e se tornaram amigos íntimos, viam-se pouco, mas o apreciava.
— Você quer embarcar uma fugitiva em um dos meus navios?
— Não é uma fugitiva, esse homem a raptou, tentou abusar dela, quer casá-la com quem pague mais... É um sequestrador, um criminoso amigo, apenas estamos tentando fazer justiça.
— Como disse que se chama? — Começou a refletir a questão com calma.
— Isabel. Isabel Hermoso de Mendoza, atual Duquesa de Estella, entre outros inúmeros títulos grandes na Espanha, uma moça doce e inocente Brian. Por Deus, eu te peço.
— Não sei, não sei.
— O tutor era o confessor de sua mãe, Teresa de Aguirre, uma santa, a mulher morreu faz seis meses vítima de um mal feminino, as más línguas dizem que o tipo a forçava... já sabe... a ter contato carnal com ele. A Condessa, viúva e mãe de uma apenas filha, era uma boneca nas mãos do sacerdote. Isabel estava trancada em um convento em Madrid quando sua mãe morreu, e o homem veio rapidamente com os documentos que o atestavam como seu tutor. Tirou-a do convento e antes de trazê-la a Inglaterra também a assediou, embora felizmente suas damas de companhia a protegeram. Depois do assédio, a maltratou e a trouxe aqui para fugir da família Hermoso de Mendoza que não entende o que aconteceu com sua sobrinha. Ela apenas precisa pisar na Espanha, assim terá ajuda e socorro Brian, apenas precisamos colocá-la em um navio de volta a sua casa.
— Sério? — O sangue começou a ferver nas veias, aquele degenerado... isso era difícil de ignorar.
— Pois bem, parto às cinco da manhã de Greenwich, poderão chegar a tempo?
— Tentarei. — Albert passou a mão pelo cabelo, certamente ele não era o típico herói e agia sozinho em todas essas coisas, assim esperava que seus contatos na embaixada e seus subornos bem pagos funcionassem. Olhou para o amigo e tentou forçar um sorriso.
— Tem um plano Albert?
— Paguei vários funcionários para que a deixassem sair assim que desse aviso.
— E o que mais?
— Nada mais.
— Pelo amor de Deus!


13 de outubro de 2020

A Princesa do milhão de dólares


A rica herdeira de Nova York, Virginia O'Callaghan, inesperadamente se tornou, aos dezoito anos, uma excelente candidata a "Princesa do Milhão de Dólares". 

Era um clube seleto de senhoras americanas ricas que se casaram com aristocratas britânicos arruinados no final dos anos 1800, nem sempre em troca de amor verdadeiro, mas por títulos de nobreza antigos e importantes. Virginia era a noiva ideal para o belo e charmoso Henry Chetwode-Talbot, herdeiro do prestigioso Ducado de Aylesbury. Henry desembarcou nos Estados Unidos em 1900 em busca do melhor partido de Manhattan para ajudá-lo a salvar sua herança maltratada. A aventura de Virginia e Henry começou no momento em que se conheceram e, desde então, seus caminhos estavam irremediavelmente ligados. Juntos, eles começaram uma aventura vital cheia de encontros e desentendimentos, amor e desgosto, onde um terceiro na disputa, Thomas Kavanagh, o melhor amigo de Henry Chetwode-Talbot, se tornará o principal protagonista desta peculiar e apaixonante história de amor.



1 de junho de 2018

Perdi-me em seu olhar



Rosslyn Caird, filha de um prestigioso nobre de Kirkwall*, chegou com doze anos ao condado de Caithness, no norte da Escócia, para ser educada pela família do seu futuro marido, Lord James Sinclair, terceiro filho do conde de Caithness, com a intenção de se tornar numa esposa digna, como parte do acordo entre as duas famílias para fortalecer a sua união e a férrea lealdade ao poderoso clã Sinclair.
Ambos os jovens são a moeda de troca perfeita para satisfazer os interesses políticos, famíliares e sociais dos que lhe são próximos, mas eles, duas personalidades muito fortes e muito opostas, não conseguirão harmonizar a sua vida, nem serenar o seu carácter, e só conseguirão precipitar o seu peculiar casamento até ao abismo.
Um grande equívoco cercado por conspirações, fraude, más decisões, falta de comunicação e um excessivo orgulho contribuirão para quebrar, ainda mais, o seu incerto futuro.

Capítulo Um

Condado de Caithness, Escócia, outubro de 1610.
Rosslyn Sinclair levantou a vista e olhou a sua sogra de lado. Moira, com o cenho franzido, tirou-lhe de um puxão as roupinhas do bebê e a entregou a uma de suas mulheres para que se ocupasse dela. Mesmo tendo passado uma semana inteira lavando, passando e deixando-as perfeitas dentro de seu baú com sachês de lavanda para que cheirassem bem, a dama descartou seu esforço, como sempre ocorria, e mandou lavar e passar as valiosas peças da família outra vez, com gesto grosseiro e amaldiçoando baixo.
— Estão ruins, milady?
— Poderiam estar melhores, jovem, e agora sente-se, não quero que meu neto nasça de pé.
— Como disse?
— Sente-se, Rosslyn, ou vá para seus aposentos, faça o que lhe agradar, mas deixe de passear na minha frente como um fantasma!
Rosslyn ergueu os ombros e respirou fundo engolindo as lágrimas, olhou com o queixo bem alto para as criadas de sua sogra, que a observavam com cara de zombaria, engoliu a saliva, se virou e caminhou depressa para seu quarto, o único lugar daquele castelo onde ninguém entrava para lhe chamar a atenção. Ninguém salvo James, claro, James Sinclair, seu brilhante marido, que também não fazia grandes esforços para ser amável com ela.
— Malditos todos. — Murmurou subindo as escadas.
Entrou no dormitório e fechou a porta com um golpe seco antes de se virar e admirar como estava organizado; tudo em seu lugar sem a presença de James, que era igual um cavalo desembestado, sem cabeça nem sentido comum para respeitar o trabalho dos outros, ou a ordem. Caminhou para a grande cama e alisou a colcha de crochê que terminara de fazer. 
Era linda, estava muito orgulhosa dela porque lhe dera muito trabalho, mais de um ano de árdua tarefa, ainda que nem mesmo seu marido tivesse percebido. O que era lógico, em uma casa onde ninguém notava sua presença, pois não era uma Sinclair, não pelo menos uma de verdade.
Os Sinclair procediam da localidade luxuosa de Saint-Clair-sul-Elle, mas tinham chegado a Escócia no século XII, concretamente no ano de 1162, quando Henry de Saint-Clair de Roslin e sua mulher, se estabeleceram em Lothian ao conseguirem terras e feudos que lhes permitiram alcançar uma posição mais que desafogada na ilha, entre eles o condado de Orkney, que os próprios reis do mar do norte lhes cederam.
No ano 1455 Henry Sinclair, terceiro conde de Orkney, recebeu da coroa escocesa o condado de Caithness e fundou a capela de Rosslyn em 1456, e então era um dos senhores mais poderosos, ainda que em 1470 o conde foi obrigado a ceder Orkney ao rei Jacobo III em troca do castelo de Ravenscraig em Fife. Uma perda muito injusta e motivada, conforme tinham explicado a Rosslyn, pelos ciúmes que o rei sentia do poder de Sinclair no mar do norte.
Aquela questão política fora um desastre para a família Sinclair e o próprio conde, ainda que muitos anos depois provocasse também um drama para outra pessoa, a própria Rosslyn Caird, natural de Orkney, segunda filha de Ard Ghillean an-thighe, um nobre escocês do norte leal ao Clã Sinclair, que a dera em casamento, aos doze anos de idade, ao terceiro filho de Henry Sinclair, James, um rapaz forte, valente, briguento, incontrolável e muito bonito para ser um bom marido, diziam todos, com a intenção de afirmar a aliança com os Sinclair e de passagem satisfazer o conde de Caithness, que sonhava com seu antigo feudo e que pretendia através daquele casamento se perpetuar nas Ilhas.
Claro a ela ninguém perguntara sobre seus desejos a respeito, ninguém, e então se limitou a obedecer como correspondia a uma dama de sua classe, ainda que fosse apenas uma menina. Deste modo, aos doze anos, a arrancaram-na de sua casa e de sua família e a levaram até Caithness para viver e aprender com sua nova família, transformarem uma grande senhora e, sobre todas as coisas, satisfazer ao seu futuro marido, um esposo que a ignorava e a olhava de esgueiro e com desconfiança.
Desde que se comprometeram, há quatro anos, quando ele se apresentara em Kirkwall com um pequeno séquito para recolhê-la, mal se suportavam. Naquele momento se reuniram no salão principal de sua casa e James, com seus cabelos cor de cobre escuro, os enormes olhos cor de água-marinha e sua imponente estatura, mostrava tal desprezo, que Rosslyn prometeu a si mesma, que nunca, no tempo que lhe restasse de vida, mostraria fraqueza por aquele homem, ou apreço, e muito menos amor, e o cumpria rigorosamente, ainda que secretamente, seu ingrato coração se empenhava às vezes em contradizê-la.
Casaram-se quando James tinha dezoito anos e Rosslyn completara quatorze, seis meses depois de sua primeira menstruação, e lhes custara ainda outro ano inteiro, conceber seu primeiro filho. Sua sogra, Moira, que não a apreciava em absoluto, murmurava o desgosto diariamente, até o feliz dia em que o cirurgião da família lhes confirmou, com a graça de Deus, que a jovem esposa estava grávida e que o menino nasceria em princípios de janeiro.
Um mês frio, mas perfeito para um Caird, que eram rudes e resistentes às baixas temperaturas, pensava Rosslyn com ilusão, ainda que calasse o comentário para evitar reprimendas, porque cada vez que recordava sua terra ou a sua família, sua sogra e cunhadas lhe recordavam que ela era uma Sinclair e que tudo o mais sobrava.
— O que faz? — Gritou e se levantou de um salto ao ver James entrar como uma fúria no quarto. Às suas costas vinha Beth, sua donzela, e ele ignorou a pergunta lançando-se como um possesso a revirar seus baús e suas coisas com as duas mãos, jogando tudo pelo ar.
— James Sinclair! Que demônios está fazendo?
— Onde está? Onde a escondeu?
— Escondi o quê?
— A maldita espada!


3 de janeiro de 2018

Somos Você e Eu

Emily Gardiner, aliás Mary Taylor, como é conhecida nas ruas do East End londrino, sobrevive como pode com os "trabalhos" pouco legais que realiza pelo centro da cidade mais cosmopolita e colorida do mundo: Londres do final do século XIX.

Emily, que mal tem 18 anos em 1890, cresceu na casa de uma grande família inglesa, onde a sua mãe é costureira a tempo integral e onde as diferenças sociais, as injustiças e o recalcitrante classismo que deveria absorver desde que nasceu, forjam nela um caráter guerreiro e independente, forte e com tanto temperamento que a empurram, aos quatorze anos, a abandonar essa vida em busca de uma nova, longe de sua mãe e rodeada de inúmeros perigos.
No entanto, embora tudo esteja contra ela, Emily Gardiner luta e sobrevive, planeia um futuro estável e independente junto a seus sócios, Molly e Winston Everhard, que serão a sua nova família e caminha com passo firme e seguro pelas convulsas ruas do centro da cidade, até que a aparição de uma personagem, completamente inesperada, lorde George Connaught, médico militar recém-chegado da Índia e filho do poderoso duque de Stevenage, altera as suas prioridades, os seus princípios, a alma e enche a sua vida de uma sensação completamente nova: amor.
George e Emily estão unidos pelo destino e apesar do abismo social que os separa, os seus caminhos se cruzam, no meio de perigosas e apaixonantes aventuras que ambos deverão viver juntos e em separado, para conseguir que o seu amor triunfe e se sobreponha aos inimigos do presente e do passado, que farão todo o possível para separá-los.

Capítulo Um

Londres, novembro de 1890
Mary Taylor e Molly Graham se embrenharam imediatamente pelas lotadas ruas do centro. Nenhuma das duas tinha ainda completado os vinte anos, eram amigas há seis e viviam juntas num quarto de uma miserável, mas limpa, pensão perto de Charing Cross, onde podiam dormir tranquilas e onde sonhavam, todo o tempo, que a vida lhes desse de presente, algum dia não muito longínquo, um pouco de fortuna.
Olhando para a sua querida amiga, Mary a agarrou pelo braço para andar mais depressa. 
Tinha sido muito má ideia brigar com Rogelia Hewitt, uma das queridas de Bob “O Carvalho”, o desgraçado pai de Fred “O Ruivo”. Aquele tipo controlava as ruas de Londres, de acordo com a sua vontade e enfrentar uma de suas amantes prediletas iria lhes custar caro; ela sabia, mas o preço valia a pena se recordasse a cara de espanto daquela mulher estúpida, depois de ter-lhe esvaziado um balde de água gelada na cabeça.
Rogelia acreditava ser uma senhora e não era mais que uma rameira com mau gosto, como dizia Molly, e ela não ia permitir que a dita cuja abusasse de ninguém, muito menos dela, que não lhe tinha feito nada, salvo nascer mais bonita e com mais classe. 
Rogelia Hewitt não podia perdoar-lhe isso e cada vez que tinha oportunidade, fazia alguma maldade. Mary já estava cansada e por fim, tinham acabado aos gritos e Hewitt empapada em plena rua. 
Mary não se arrependia de nada mas, sentia muito por Molly, que era uma vítima inocente da sua imprudência, porque o roubo daquela noite era só o princípio. Certamente Bob “O Carvalho” tinha mandado pessoalmente o seu filho para fazer-lhes mal e não parariam até enxotá-las da cidade.
Suspirou e pensou em sua mãe.
Mary Taylor na verdade se chamava Emily Gardiner. Sua mãe, Katie Gardiner, era irlandesa e costureira em um dos palácios mais elegantes da cidade. Tinha chegado a Londres pela mão de uma nobre senhora inglesa, lady Anne Shafterbury, quando tinha doze anos; tinha-a feito vir desde Cork como serviçal e desde o começo a decisão lhe tinha saído muito rentável, Katie era uma fada com a agulha e trabalhava de sol a sol, sem reclamar. 
No palácio havia, pelo menos, seis costureiras trabalhando o dia todo, que se ocupavam tanto da roupa, como dos habitantes da casa ― seis filhos, marido e mulher, e duas tias-avós ―, um trabalho incessante. Sempre havia o que fazer e as empregadas de costura só descansavam ao domingo, se não fosse temporada de bailes, claro, porque nesse caso nem sequer podiam sair para ir à igreja.
Mas Katie Gardiner não se queixava. Emily só recordava a sua muito bela mãe trabalhando, com a cabeça abaixada sobre o tecido, às vezes com uma vela diminuta como única iluminação, às vezes colada à janela para ver melhor um bordado, mas sem perder, nunca, o sorriso. 
Era uma costureira maravilhosa e, no entanto, ganhava uma miséria, e ninguém, jamais, reconhecia o seu trabalho, por isso Emily começou a odiar os Shafterbury desde muito pequena.
Ela tinha nascido dentro das quatro paredes do palácio. A sua mãe tinha dado a luz no miserável quartito onde vivia e nessa mesma noite tinha voltado para o trabalho, porque a senhora tinha um banquete real e precisava do seu vestido novo terminado a tempo. 
As companheiras de sua mãe, as faxineiras e até mesmo a governanta lhe tinham contado isso muitíssimas vezes, mas Katie Gardiner jamais tinha querido falar sobre o assunto. Sempre era assim; ela não falava, nem se queixava e quando Emily, aos dez anos, ousou perguntar quem era o seu pai, a resposta foi uma sonora bofetada que a calou para sempre. 
Foi a primeira e a penúltima vez que a sua mãe a golpeou, mas esse resultou ser um ato contundente o suficiente para que Emily jamais voltasse a interessar-se, de forma tão aberta, por semelhante segredo.
Indagando e fazendo perguntas discretas, soube que Katie só tinha dezesseis anos quando ela tinha nascido e que a senhora a tinha mantido no palácio por pura caridade, porque poderia tê-la jogado na rua como promíscua. Mas não, a dama tinha optado por perdoar o deslize da sua costureira e lhe tinha permitido ficar na casa com a menina e criá-la como uma mais de seu serviço. 
Desse modo, Emily Gardiner, que não se parecia em nada com a sua mãe, cresceu entre agulhas, tecidos e botões, acostumando-se a brincarem completo silêncio, sem levantar a voz, nem à vista aos senhores, e permanecendo quase invisível para não incomodar. 
Emily aprendeu a ler graças aos livros que a perceptora da família, a senhorita Wilkes, emprestava-lhe às escondidas e aos oito anos, quando a puseram a trabalhar como às demais, já sabia ler, escrever e fazer contas, algo que, evidentemente, se manteve em segredo.
Era esperta e ágil, muito vivaz e tinha uma perigosa tendência para rir às gargalhadas, algo que à sua discreta mãe irritava sobremaneira, que lhe rogava prudência e sobretudo, silêncio. 
Katie não queria incomodar, preferia passar inadvertida e às vezes pedia, por entre lágrimas, à sua filha que mostrasse mais sensatez em seu comportamento. 
Emily se rebelava ante tantos medos, mas sempre acabava obedecendo para não prejudicar a sua mãe, cuja conduta era irrepreensível. Embora às vezes ouvisse a proprietária da casa ou as suas filhas gritar-lhe e repreendê-la por algo, quando, na verdade, Katie era a perfeita servidora; para além de bonita e doce, um modelo de virtude. Não obstante, Emily nunca se sentiu muito próxima dela.
Quando fez doze anos teve a sua primeira menstruação e o seu corpo começou a adquirir formas arredondadas e desconhecidas até então, aí Emily foi confinada ao lugar mais escuro da sala de costura e das cozinhas. 
A sua mãe não queria que ninguém a visse, muito menos os membros da família; especialmente, os homens. Alertava-a continuamente para que não saísse da área de serviço, e quando viu um dos empregados das cavalariças segui-la com o olhar, deu ao pobre moço tal bofetão que ele não voltou a dirigir-lhe a palavra. Emily não entendia nada daquilo e tentava obedecer, embora sem compreender o porquê de tantos temores.
Naquela época foi quando conheceu Molly em Covent Garden, uma garota ruiva, filha de irlandeses também, que brincava às corridas e trapaceava perto do mercado com os seus irmãos e restantes parentes. Molly Graham era esperta e contava histórias divertidas. 
Ficaram logo amigas e quando deixavam Emily acompanhar as serviçais nas compras, sempre se encontravam para conversar. Molly era dois anos mais velha que Emily e aos quinze começou a trabalhar como camareira em um hotel da cidade. A jovem estava feliz porque conseguir um emprego em um lugar tão elegante tinha sido um favor feito especialmente a seu pai, mas entrar no Queen Hotel seria o começo da sua desgraça e a aproximação involuntária a Emily Gardiner.
Não estava nem há um ano trabalhando no hotel quando contou que tinha conhecido um homem, um cavalheiro que dizia estar apaixonado por ela. O homem, bem mais velho do que seu pai, era amável e muito generoso, um hóspede habitual, que logo começou a dar-lhe guloseimas e vestidos de presente e quando Molly contou à sua amiga, como confidência íntima, que tinha feito amor com ele, Emily abriu os olhos como pratos.
― E isso o que é?
― Não sabes?
Molly pôs-se a rir às gargalhadas, apesar de estar na igreja.
― Shiu!, que a minha mãe me mata. ― Emily olhou para a sua mãe, que rezava o terço de joelhos uns bancos mais adiante, e se benzeu ― Não, não sei.
― Amor físico, mulher. O homem coloca o seu..., já sabes, dentro de mim, por aqui. ― Fez um gesto que quase matou a sua amiga de susto ― E é delicioso... Não no início, mas depois, Deus bendito! É maravilhoso.
― O seu...? ― Não podia acreditar ― Que nojo!


7 de fevereiro de 2017

Coração de Templário

Inglaterra, ano do Senhor de 1191.

Catherine Rumsfield, filha do Conde de Rumsfield recebe a terrível notícia da morte de seu irmão mais velho, Michael, na Terra Santa.
Muitos habitantes da Europa Ocidental haviam partido para as Cruzadas, desejosos de conquistar Jerusalém e provar com sangue e fogo seu fervor religioso, e Michael, um mais nas centenas de nobres que atenderam a uma chamada do Rei Ricardo Coração de Leão, caiu em Limassol, deixando a sua família uma dívida milionária contraída com a Ordem do Templo...
Catherine deve se tornar responsável pelos tremendos problemas que sufocam sua família, e em meio de uma Inglaterra assolada pelo príncipe João, parte para a Terra Santa à procura de uma solução para os seus e no caminho vive a maior aventura de sua vida.
Aventura que a levará diretamente a Jerusalém, e também a percorrer a Europa e voltar à Inglaterra com uma salvação para sua família, ainda que o mais importante seja conhecer o grande amor de sua vida, Lorde Evrard de Clerc, Cavaleiro Templário, militar de alta categoria, primo do rei Ricardo, e o homem que mudará sua vida para sempre.

Prólogo

Terra Santa, ano de 1187.
As moedas de ouro pesavam e dificultavam o avanço, mas Zara não queria abandoná-las. Em um dos recantos do bairro dos comerciantes, Michael parou e se apoiou contra a parede de estuque para respirar e recuperar o fôlego; o peito explodindo, as pernas apenas lhe respondendo, mas deviam continuar fugindo; virou a cabeça e viu Zara, completamente vestida de negro, os cabelos e o rosto ocultos sob o hiyab1, decidida a cruzar o bairro muçulmano para sair da cidade. Ajustou o lenço e lhe fez um gesto com a cabeça para que continuassem; era de madrugada e eles deveriam sair de Jaffa2 antes do sol despontar.
Uma hora depois continuavam correndo pela paisagem do deserto a caminho de Raruim, sem conversar, somente fugindo para Jerusalém, com a intenção de escapar para o Egito e não se deixarem ver no porto de Jaffa onde certamente os estariam procurando nesse momento.
— Você está bem? — lhe perguntou em francês.
— E você meu amor? — respondeu ela dando-lhe um formoso sorriso com seus lindos olhos dourados — Se estamos juntos, nada pode ser ruim...
Chegar a Terra Santa, recentemente reconquistada pelo sultão Saladino, não sendo o lugar certo para um cruzado inglês como ele, mas precisamente por isso lhe parecendo ser uma opção certa, porque ninguém o procuraria ali. Entraram na cidade ocultos entre as centenas de árabes que se encontravam pelas ruas aglomeradas de comerciantes, militares, mercenários e aventureiros vários... com os alforges cheios de ouro e pedras preciosas, juntos, mas sem se tocar, até que encontraram o antigo templo de Salomão, e ao seu lado, a casa certa que seu contato conseguira para ele e sua jovem esposa.
— Conseguimos meu amor... — disse tirando o turbante e deixando a vista seus cabelos ruivos e longos, os olhos verdes faiscantes e o coração cheio de amor por ela. Havia chegado à Terra Santa para lutar pelos lugares santos, mas encontrara algo muito mais valioso, o amor nessa bela, misteriosa e única mulher de olhos ambarinos que não somente lhe salvara a vida, como agora fugia com ele dando as costas a sua família, suas crenças e seu país... somente para estar ao seu lado — Zara?
— Ainda não conseguimos nada, Michael... — deixou os alforges no chão e apareceu a janela com a angústia ainda colada ao peito — meu pai nos perseguirá até o fim do mundo se for preciso... ainda nos resta muito caminho...
— Sim, saímos de Jaffa e o pior já passou.
— Não acredito...
A bela Zara não acabou a frase, se virou para seu novo marido e tentou gritar, mas foi impossível. Michael Rumsfield conseguiu ver o brilho da adaga cruzando diante de seus olhos sem poder fazer nada para detê-la; a arma voou para sua mulher e cravou no seu peito de forma limpa. Deu um grito de terror e imediatamente desembainhou a espada em direção do agressor, um muçulmano enorme e de pele muito escura, que se deixou ver por um segundo antes de lançar-se contra ele gritando.
O jovem inglês se moveu para a esquerda e o esperou em guarda; o sarraceno avançou rápido demais e se pôs à frente com a direita desprotegida; Michael levantou com calma a espada e a cravou-lhe no pescoço, tirando-lhe a vida de forma instantânea; o sarraceno caiu de joelhos sangrando e então ele pode correr para atender sua esposa.
— Vai embora Michael! Saia daqui virão mais dois... vá embora!
— Não a deixarei, meu amor, não a deixarei... — as lágrimas apenas o deixavam ver o rosto pálido de sua amada — não a deixarei, você vai ficar bem...
— Estou morrendo... pegue as jóias e vá embora, volte à Inglaterra, fuja de meu pai... se me ama, vá embora! Pelo amor de Deus... Michael olhe-me... — ele vislumbrou seus olhos que perdiam o brilho pouco a pouco — deve fugir, quero morrer sabendo que se salvou. Prometa-me e leve nosso tesouro, leve-o, meu amado esposo, prometa-me!
— Prometo...




4 de julho de 2013

O Medalhão dos Lancaster

Série Lancaster
Um corcel negro galopa através do tempo para os sonhos de uma jovem nova-iorquina que anseia a época dos cavalheiros e dos torneios medievais. Um homem guia o cavalo e crava seu olhar na jovem.
A realidade parece sacudir Elizabeth Butler de seu mundo de sonhos. O despertador soa e lhe revela que chegará atrasada para a reunião com um nobre inglês que quer contratar seus serviços como historiadora. Na universidade, seus colegas estão encantados de poder enviar uma representante para que passe alguns meses em um castelo na Inglaterra e com a generosa retribuição que o nobre promete lhes dar. Tudo está preparado para que Ellie viaje de Nova Iorque a Londres: um avião privado, sua equipe de trabalho, seus aposentos no castelo. Só falta que ela firme o contrato. Com inocência e frescura, Ellie aceita a proposta, decidida a mudar de ares; em especial, quando conhece seu novo chefe, lorde Forterque-Hamilton, um homem que lembra o cavaleiro de seus sonhos.
William Forterque-Hamilton não se agrada com o século: nem a roupa, nem as sofisticadas máquinas, nem Internet. William gosta dos cavalos e da guerra. E das mulheres. Um feitiço de seu inimigo, Marian Lancaster, enviou-o ao futuro para tirá-lo do cenário político do século XVI.
Só com o medalhão de Marian ele poderá retornar, uma jóia que encerra o segredo da viagem no tempo. Ellie ignora que ela também é uma Lancaster, e que aquilo que em sua família sempre considerara uma bagatela é uma valiosa pedra. Será suficiente para William lhe roubar o medalhão dos Lancaster para retornar no tempo? E se algo falhasse depois de tudo? Talvez, então, deverá reconhecer que o amor que sente por Ellie é um feitiço muito mais poderoso.

Capítulo Um

—É muito bonita — disse Robert Wilson ao Forterque assim que ela adormeceu.
—É obvio — respondeu o elegante Lorde esticando as pernas em seu amplíssimo jato privado, — é descendente de lady Marian Lancaster. Não podia ser de outra maneira, Robert.
E Robert Wilson sorriu, faiscaram-lhe os olhos pensando que lady Marian Lancaster teria matado a sua própria mãe para ter a frescura e a doçura de Elizabeth Butler. Não, a jovem americana era de longe muito mais formosa que sua famosa parenta inglesa. Ellie era bela e inteligente, e olhava com uma inocência poucas vezes conhecida por Robert Wilson em seu mundo, um mundo em que as mulheres abandonavam a inocência muito cedo, empurradas a um destino implacável, esboçado, muitas vezes cruelmente, por sua própria família.
William Forterque observou então a garota. Ela dormia em uma das poltronas próxima a janela do avião. Tinha aparecido no aeroporto vestindo uns jeans justos e uma camisa rosada que marcava deliciosamente suas generosas formas. Tinha a pele impecável, a cútis de uma menina, o cabelo escuro marcava um rosto perfeito e doce, com esses enormes olhos negros que pareciam observar com uma curiosidade insaciável tudo o que lhe rodeava. Era preciosa e inteligente.
Eles haviam trocado apenas uma palavra, William não queria ter intimidades com ela: era uma Lancaster. Entretanto, não podia evitar olhá-la, agora ela dormia tranquilamente com os óculos em uma mão e seus apontamentos na outra. A suave curva do peito se elevava sutilmente com uma respiração compassada e relaxada que surpreendia a William: ele levava muito tempo sem poder dormir. Observou-a com certa inveja.
Ellie então se moveu um pouco e deixou cair os papéis no chão, a camisa se ajustou sobre seus peitos e William teve uma espetada de desejo imediato. A jovem Lancaster deixava ver através da abertura de sua camiseta um coquete sutiã branco, de renda, que William poderia ter arrancado um bocado com gosto, o peito parecia transbordar a peça de lingerie, e o Lorde teve que ficar de pé para não saltar sobre ela e possuí-la ali mesmo, diante de Robert e Mary Anne Harrington Clark, que não lhe tirava o olho de cima e que nesse momento brincava, coquete, com sua corrente de ouro, enquanto lhe lançava olhadas convidativas.
—Necessita algo, milorde? —perguntou a investigadora observando de rabo de olho para a jovem adormecida.
—Não, obrigado — respondeu bruscamente, nada salvo daquela maravilhosa mulher a que jamais na vida se atreveria a tocar, pensou. Elizabeth Butler estava proibida, ao menos por agora.
William sorriu à dama do museu e se foi a sua dependência privada seguido pelo Robert.
—Me deixe em paz, Robert — lhe disse ao fechar a porta do compartimento para evitar que ele a transpassasse, — eu odeio que me olhe assim.

Série Lancaster
1 - O Medalhão dos Lancaster