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24 de novembro de 2013

Madawaska O Vale Do Sol


O colonizador inglês avança com varocidade sobre a Acádia.

Seu objetivo: exterminar um povo que luta até a morte por sua terra e suas tradições.
Homens e mulheres que jamais desistirão da liberdade.
1755 — Soleil e Remie Michaud passam um verão dourado numa lua-de-mel inesquecível em plena floresta na Nova Escócia.
Mas seu sonho de amor é interrompido.
Suas vidas que se iniciam e a de todos os acadianos estão prestes a sucumbir a um golpe trágico e irreversível: são expulsos de suas terras e deportados para um destino desconhecido.
Arrastados pelo turbilhão, Soleil e Remie não escapam à angústia.
Separados, iniciam uma longa jornada onde apenas a tênue esperança de um reencontro os mantêm vivos!

Capítulo Um

Verão de 1754
O verão se despedia de Grand-Pré. Quase todo colhido, o feno repousava sobre a relva que se tingia de vermelho. Por toda parte, surgiam os primeiros sinais do outono. Uma única árvore já exibia sua folhagem cor de fogo, uma labareda solitária no meio da floresta ainda verde.
Logo a geada chegaria, sorrateira, colorindo a paisagem em tons de dourado, escarlate e vinho. A natureza viveria um breve momento de rubro esplendor e então a neve desceria sobre campos e bosques, cobrindo-se com a monotonia do branco.
Mas ainda restavam algumas semanas de calor. Embora as manhãs já fossem frias, o meio do dia continuava agradável. Soleil Cyr sentia a carícia do sol em sua pele enquanto atravessava os prados sem a menor pressa. Fora levar o almoço do pai e dos irmãos, ocupados na colheita do feno, e pretendia aproveitar cada segundo de solidão.
Soleil estava deliberadamente desrespeitando as ordens maternas. Devia voltar correndo para ajudar no preparo da refeição noturna, mais substancial porque os homens não tinham almoçado em casa. 
Mas Barbe Cyr vivia apressada e impaciente, portanto seu atraso seria apenas uma pequena contrariedade a mais no dia atarefado da mãe. 
Aquele passeio solitário era uma das raras oportunidades de ficar a sós com seus pensamentos. 
A rotina de uma casa tão cheia como a sua impedia qualquer possibilidade de isolamento.
E Soleil precisava de solidão para pensar em seu futuro. Estava com quinze anos e meio e todas as suas amigas já tinham se casado, com exceção de Celeste Dubay, seis meses mais nova do que ela. 
As pessoas começavam a fazer comentários e perguntas maliciosas, insistindo em saber o motivo dessa demora excessiva para escolher um marido. 
Como explicar uma relutância que a tornava diferente das outras jovens?
Certamente não permanecia solteira por falta de pretendentes. Pelo menos quatro rapazes de Grand-Pré ficariam felizes de pedir ao padre Castin que anunciasse seu casamento com Soleil Cyr em uma missa de domingo. E não eram apenas os companheiros de infância que gostariam de casar-se com ela.
Garneau, que morava em Beaubassin, não saíra de seu lado um só minuto quando viera para a festa de casamento da prima. Um outro, recém-chegado de Annapolis Royal, tentara conquistá-la de todos os modos, mas sem sucesso. 
Jamais se prenderia a um homem que não conseguia tomar dois copos de cerveja sem ficar embriagado.
A verdade é que nenhum deles despertara a menor fagulha de interesse em Soleil.
Como se considerava plenamente feliz na casa dos pais, não sentia nenhuma urgência em encontrar um marido, tomar conta de seu próprio lar ou rodear-se de filhos.
Soleil era romântica como qualquer adolescente. Sonhava com alguém muito especial, um homem onde beleza, força e sedução se combinariam nas proporções exatas para roubar seu coração. Essa figura fascinante e vaga provocaria uma paixão tão intensa que, sem pensar duas vezes, aceitaria entusiasticamente o pedido de casamento.

Realista, Soleil via poucas chances de realizar suas fantasias românticas. Não havia ninguém em Grand-Pré que se comparasse a essa imagem ideal e nenhum dos frequentes visitantes chegava à altura do homem de seus sonhos. Como ela dificilmente teria a oportunidade de viajar, duvidava que conseguisse encontrar o príncipe encantado.
Soleil não tinha medo de esperar demais e acabar ficando solteira. Sabia que o grande problema seria a atitude dos pais. Mais cedo ou mais tarde, perderiam a paciência e escolheriam um marido para ela sem ao menos consultá-la.
— Ei, Soleil! Espere por mim!
 

13 de outubro de 2010

As Bruxas de Kenwood








Megan, Cristina, Roxane.
Mulheres com o estígma da maldição!

No final do século dezessete, a caça ás bruxas estende suas negras asas sobre o mundo.
Desesperadas, acossadas e acusadas de feitiçaria, as três irmãs Kenwood deixam a Inglaterra e fogem para o Novo mundo.
A América é a salvação, a esperança.
E Massachusetts é a terra da aventura e do romance, a chance de mudar o destino. Grandes paixões despertam e amadurecem á sombra de preconceitos e ódio.
Mas a perseguição ás bruxas continua implacável.

Capítulo Um

Em se tratando de castelos, Kenwood era pequeno. Mesmo assim, aos olhos de Christina, ele se destacava imponente na beleza da costa irregular da Cornualha, onde fora construído havia quase quatro séculos.
Esguio e solitário, ele se delineava de encontro ao céu sem outras edificações à vista na vizinhança, já que a vila, ao norte, escondia-se por detrás das colinas. As muralhas externas, de grandes blocos de granito, encobriam tudo, exceto as quatro torres. Numa delas, esvoaçava a flâmula vermelha, sinal de que o conde de Kenwood encontrava-se na residência. Christina, que havia ca¬minhado distraída pela trilha no topo do penhasco, trazia o semblante preocupado ao voltar para casa.
No início desse verão de 1691, ela completara dezesseis anos e, na sua opinião, não era mais uma criança, e sim uma adulta, o que, na verdade, não lhe mudara a vida.
A brisa do mar agitou-lhe os cabelos vermelho-dourados, e ela os prendeu com as mãos enquanto erguia a cabeça. Nesse momento, viu, lá embaixo na nesga de praia à volta da enseada, uma silhueta escura movendo-se na areia. Apertou os lábios numa expressão de desagrado.
Sem ser vista, observou Roxanne, a meia irmã, dirigindo-se à trilha que a traria até ali em cima do penhasco. Como não desejasse encontrá-la, passou a andar mais depressa, na esperança de al¬cançar o castelo antes de Roxanne terminar a escalada.
Os movimentos harmoniosos e leves revelaram a sua familiaridade com o campo e a vegetação. As horas que passava ao ar livre constituíam a parte mais preciosa de seu dia. Amava profundamente essa região onde nascera e vivera os dezesseis anos de vida, imaginando-a ser a mais bonita da Inglaterra. Certa vez, tinha expressado essa idéia a Megan, sua outra meia irmã, na presença de Roxanne, que rira ao lhe perguntar:
— Como pode pensar tal coisa se nunca esteve em outro lugar? Isso não deixava de ser verdade, porém o pai lhe havia descrito
regiões distantes, até mesmo Londres, e todas elas, na sua opinião, não se igualavam à Cornualha.
O conde só se ausentava de casa quando a necessidade o obrigava a viajar. Ao retornar, atirava-se, com um suspiro de alívio, à poltrona predileta em frente da enorme lareira, no salão principal do castelo.
— Ah, Christina, por Deus, sirva-me uma bebida para comemorar minha volta ao lar! Roxanne, traga meus sapatos e me ajude a tirar estas botas de montaria! Megan, veja se consegue algo para este velho comer enquanto espera pelo jantar!