Cabel Rawson nunca precisou pagar para receber a atenção de uma mulher. Por isso, ao ver a jovem frágil e bela se oferecendo no cais, odiou-se pelo súbito desejo que o consumiu.
A moça era Maggie McNair, fugindo de um passado que quase a destruíra. Assim, quando um bondoso viúvo pediu-a em casamento, Maggie aceitou cheia de gratidão. Como poderia adivinhar que o irrascível capitão de profundos olhos castanhos, que a aterrorizara e a atraíra na noite que antecedera a grande mudança de sua vida, era Cabel Rawson, filho de seu marido?
Antes do casamento, uma ligação entre ela e Cabel já teria sido difícil. Agora tornava-se impossível!
Capítulo Um
Cabo Hatteras, 1718
Cabel não sabia se ria ou chorava. Não fosse a frustração, principalmente a física, podia até achar graça. O contraste entre a exuberante Letícia e o marido era qualquer coisa de hilariante. Com aquela compleição, o pobre Gcorge teria de engolir um litro de afrodisíaco por dia se esperava satisfazer a noiva, pensou com cinismo enquanto ganhava a rua. Amenos que sua examante tivesse mudado muito desde a última vez. Pelo que se lembrava, Letícia era capaz de esgotar um homem antes mesmo que ele tirasse os sapatos.
O Gato do Mato, um cabaré barulhento que fazia as vezes de restaurante, pub, salão de jogos e foro de debates políticos estava, como sempre, superlotado. A fumaça pairava sob o teto baixo, envolvendo o salão com seu manto sufocante. O cheiro de rum misturado ao dos corpos suados penetroulhe as narinas e Cabel Rawson, mais afeito ao ar puro do alto-mar, fez uma careta de desgosto. Recusou a série de convites para sentar-se à mesa de amigos, preferindo o balcão do bar. Não estava disposto a jogar conversa fora, embora conhecesse a grande maioria dos presentes — marinheiros e prostitutas, além de um ou dois políticos locais. Desses, em especial, queria distância. Qualquer um que fosse visto bebendo em companhia de políticos era olhado com total desconfiança, e não sem razão.
Enxugando o suor da testa com a manga da camisa, Cabe jogou uma moeda de cobre no balcão e pediu uma dose dupla de rum. Talvez não fosse má idéia se embriagar naquela noite… Maldição. Letícia podia ao menos ter tido a decência de avisar que havia se casado!
Correu os olhos pela taverna enfumaçada. Nada naquela cidade o atraía, exceto os baixos impostos que lhe permitiam fechar negócios de vulto num abrir e piscar de olhos. Não fosse por isso, há muito teria deixado Bath Tovvne.
Ao menos o Bridget achava-se no porto, pronto para zarpar para as Antilhas na primeira maré, os porões carregados até o teto. E, graças ao bom Deus, dessa vez o pai dele ficaria em casa para cuidar dos pequenos, tarefa na qual se revezavam regularmente.
Nem mesmo a idéia do embarque, porém, melhorou o mau humor de Cabel. Era uma viagem longa e mais do que nunca precisava aliviar a tensão…
A medida que a caneca se esvaziava, sentia a raiva aumentar. Por que diabos Letícia não esperara pelo menos até que ele partisse? Poderia até tê-la pedido em casamento, se ela houvesse tido o mínimo de paciência.
Uma voz inoportuna se fez ouvir dentro dele. Mentira. Jamais se casaria com Letícia. Definitivamente, ela não era o tipo capaz de aceitar de bom grado uma família já formada, composta de um velho birrento, um rapazola desengonçado de dezessete anos, um moleque de oito e um bebe de colo.
Ainda assim, ruminou Cabe, ela poderia ter ao menos lhe dado tempo de encontrar outra… Sobretudo, uma que não sonhasse com matrimônio.
Série Cabo Hatteras
1 - Feitiço Branco
2 - Anjo Apaixonado
3 - Mar de Desejo
Série Concluída
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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!