Iain Mackinnon e seus irmãos, Morgan e Connor, formam parte de um seleto esquadrão de guerreiros que reúnem a coragem de seus antepassados escoceses, o sigilo e a astúcia dos índios que vivem nas florestas das colônias americanas.
Chantageados pelo comandante Lorde William Wentworth, os três irmãos se veem forçados a servir à coroa inglesa na guerra contra os franceses e seus aliados índios se não quiserem ser acusados de traição.
Durante uma perigosa missão, Iain encontra uma mulher que está a ponto de cair nas mãos dos índios Abenaki, mas os enfrenta ferozmente. Impressionado pela beleza e coragem da jovem, Iain intervêm para salvá-la ignorando todos os perigos, descumprindo ordens e arriscando a vida de seus homens e seus irmãos.
Imediatamente o amor surge entre Iain e a desconhecida, mas o jovem guerreiro ignora que a mulher que resgatou havia sido vendida como serva por seu indesejável tio, além de formar parte de um dos clãs mais odiados por sua família.
Lady Anne Burnes Campbell não vê outra saída que ocultar sua verdadeira identidade se não quiser ser novamente vendida como escrava. À medida que o tempo passa e cresce o amor entre eles, Annie se vê forçada a decidir se continua ocultando sua identidade ou conta a verdade, arriscando-se a perdê-lo para sempre.
Capítulo Um
Inveraray, Escócia, 14 de setembro de 1757
Lady Anne Burness estava agachada em um canto úmido do calabouço. Não parava de tremer. As lágrimas desciam por seu rosto triste, ainda que não fosse consciente de seu aspecto. Seu olhar vagava perdido na escuridão, indiferente aos ratos que caminhavam entre as partes secas e escuras. Que importância tinham os ratos?
A qualquer momento, os agentes do xerife viriam buscá-la. A levariam à praça do povoado e lhe fariam uma marca no dedo. A marcariam para sempre como ladra. No fim, a devolveriam ao mar, ultrajada. Mas ela não tinha roubado nada. Nada.
— Mamãe! Mamãe!
Sua mãe já não podia ajudá-la. Estava morta há três semanas. Sua alma estava quebrada, sua respiração era débil. Tio Bain havia dito que tinha sido um acidente, uma terrível tragédia, mas Annie sabia toda a verdade. Tinha ouvido os rumores dos serventes, ouviu falar sobre seus estranhos gostos, sobre sua inclinação a infligir dor ao próximo. Lembrava perfeitamente a quantidade de moços e moças do serviço que tinham sido mortos nos últimos anos, e lembrava também, que as causas de tantas mortes permaneciam no esquecimento. E logo estava à advertência que sua mãe lhe fez um dia.
“Se algum dia me acontecer algo, oxalá que não, pegue minhas joias e todas as moedas que tenha e fuja deste lugar. Vá a Glasgow e busca ao procurador de seu pai, Argus Seton. Não acredite em seu tio Bain! Sei que lhe quer bem, mas não é de confiança. Entendeu, Annie?”
Annie não tinha entendido nada. Até esse momento. Se tivesse sabido antes… se sua mãe tivesse explicado a maneira de afastar-se dele…mas sua mãe não podia assumir a desonra de permitir que Annie soubesse. E agora era muito tarde. Sua mãe já não estava.
Annie tinha o coração quebrado por sua pesada carga de dor e se esforçava por não soluçar. Como gostaria de ouvir a voz de sua mãe naquele momento, sentir suas carícias em seu cabelo, voltar a ver seu lindo sorriso, sinais simples do amor de mãe. Annie nunca valorizou esses preciosos sinais até que os perdeu para sempre. Como poderia viver sem ela? Tinha ficado sozinha.
E iam marcá-la e enviá-la em um barco para uma terra desconhecida, uma manobra orquestrada por um homem que tinha querido como a um pai.
Era como estar presa em um grande pesadelo. O medo se estendia por seu ventre como um rápido veneno. Doeria muito a prancha de aço? Poderia aguentar a travessia? Que tipo de pessoas teria que servir?
“Seja valente, moça! Não deixe que o medo se apodere de seu corpo “.
A voz de seu pai, aquelas palavras que ouviu de sua boca fazia tanto tempo penetraram em sua mente em seguida. Annie tinha cinco anos e ele estava ensinando a montar seu pônei. Mas o pônei parecia tão alto… tinha medo. Ele murmurou com sua voz e seu sorriso tranquilo a acalmaram, então finalmente esteve cavalgando durante uma hora inteira. Quando Annie aprendeu a cavalgar com grande técnica, os elogios de seu pai iluminavam seus dias, foi o verão mais feliz de sua vida.
Nesse mesmo ano, seu pai morreu lutando pelo rei Jorge em Prestonpans, partido em dois por uma claymore[1] em plena luta jacobita, assim como seus filhos, os irmãos de Annie, Robert, William e Charles, junto a ele. Tio Bain os flanqueava e também estava na batalha. Apesar de estar ferido, protegeu seus corpos com sua própria claymore e assim se converteu em um herói renomado.
Annie tinha então seis anos. Durante um tempo, Annie viveu com sua mãe. Seu pai, apesar de ser conde, não tinha riqueza alguma. Pressionada pelos credores e sumida no desespero, sua mãe se viu forçada a vender a fazenda e ir viver com o tio, irmão de seu marido. Bain, um marquês viúvo com um único filho que vivia em Londres, abriu-lhes as portas de sua casa. Somente depois da morte de sua mãe, Annie se deu conta que ele não tinha atuado por bondade ou gentileza.
Se seu pai ou seus irmãos vivessem... tudo seria muito diferente. Se apenas seu pai estivesse vivo…
“Ruído de passos”.
Annie tentava engolir saliva, mas tinha a boca seca. O coração batia descompassado. Se tivesse algo no estômago, teria vomitado ali mesmo.
“Seja valente, moça!”
Obrigou-se a ficar de pé e alisou a saia longa. As pernas tremiam. Secou as lágrimas. Passasse o que passasse, seguia sendo lady Burness Campbell.
Tilintar de chaves. Movimento de ferrolhos e dobradiças.
Uma leve réstia de luz penetrou na cela, iluminando os ratos, então a porta se abriu e apareceram os torturadores. Levava três semanas sendo vítima de seus olhares lascivos, escutando seus toscos murmúrios. Tinha feito todo o possível para escapar de suas mãos.
— Não tem ficado por menos, bonita? — Fergus, o mais alto dos dois, deu-lhe um sorriso repulsivo e soltou uma gargalhada. — Vamos, venha conosco.
Wat, o mais baixo, agarrou bruscamente seu braço. — Veio um senhor para vê-la.
— Um senhor? — Annie sentiu uma repentina brisa de esperança. Pelo visto o xerife tinha enviado sua carta a Argus Seton. O melhor amigo de seu pai tinha chegado para dar fé de que ela era lady Anne Campbell e não uma pobre criada ladra, como dizia seu tio. — Quero vê-lo.
— Quero vê-lo — burlou Fergus. Puxou umas algemas. — Fala como se estivesse dirigindo seus servos.
— Não podemos humilhá-la um pouco mais, aqui, em cima da palha? Podemos fazer por trás, não poderá dizer nada de nós.
Annie reagiu com falsa frieza ante suas palavras para que desistissem de suas intenções. Tinha aprendido que a pose de moça virgem amedrontada só alimentava a crueldade dos homens. Estendeu os pulsos e sentiu em seguida a crua frieza do ferro contra sua pele enquanto Fergus colocava as algemas.
— Não temos tempo para isso agora, Wat. — Fergus olhou seu rosto e sorriu abertamente. — Sinto decepcioná-la, moça.
Os dois homens a empurraram para que saísse da cela e a seguiram por um corredor estreito repleto de candeeiros de ferro que se penduravam da imunda parede cinza com velas grossas e amareladas. Dúzias de portas fechadas que escondiam celas de onde vinham ruídos humanos de desgraça: murmúrios, gemidos, soluços de mulher, impropérios e até o riso de um homem. Annie queria fugir desse lugar, do fedor, do terror e da solidão que dele emanava.
Talvez estivesse perto de sua libertação. Tinha rezado muito. Tentava imaginar o cavalheiro e sentia um grande alívio. Tinha que ser o senhor Seton. Era o único para quem tinha escrito. Não tinha ninguém mais. Não podia ser ninguém mais.
Era um homem bondoso e respeitado por seus anos de trabalho na área da contabilidade e estava segura que conseguiria liberá-la, ainda ajudaria na devolução de suas joias e de todos os pertences que tinha deixado na mansão de seu tio quando se viu forçada a fugir. E longe de Inveraray, a primeira coisa que pediria seria um banho quente e uma cama. Levava três longas semanas privada de tudo isso.
Entraram em outro corredor, mas, em lugar de subir como quando a levaram à frente do tribunal, desceram umas escadas escuras e dobraram num canto para a esquerda. Annie parou e olhou a escuridão dessas escadarias de pedra, o medo percorria sua espinha dorsal.
— Onde estão me levando?
Fergus lhe deu um empurrão que quase a mandou ao chão.
— Logo saberá, mulher.
A cada passo, a incerteza e o pavor de Annie iam aumentando. As repartições públicas dos calabouços estavam acima, não abaixo. Se o procurador de seu pai tinha chegado a tempo, seguramente estaria esperando acima.
“Seja Valente, moça!”
1 - Rendição
2 - Indomável
2.5 - Dia dos Namorados de 1760
3 - Rebelde
3.5 - Em Uma Noite de Inverno
Série Concluída
Livro maravilhoso.Que venha o restante da série.
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