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11 de dezembro de 2018

Em Uma Noite de Inverno

Série Guerreiros MacKinnon
Finalmente, depois de cinco longos anos, a guerra entre a Inglaterra e a França está chegando ao fim e os MacKinnons estão ansiosos para celebrar o seu primeiro Natal em tempos de paz. 

Entretanto, enquanto Iain e Annie descobrem que os prazeres do casamento ficam mais profundos com o tempo, Morgan e Amalie vivenciam um período de turbulência e Connor e Sarah têm um filho recém-nascido para cuidar.
Os preparativos para as festas em família são interrompidos quando Iain descobre que a Grã-Bretanha não pagou aos Guerreiros pelas campanhas vitoriosas do verão. Recusando-se a deixar, que os homens que lutaram sob o nome de MacKinnon sofressem privações na época do Natal, Iain, Morgan e Connor deixam o calor da sua fronteira e dirigem-se para Albany. Lá, eles se encontram em risco de perder o seu feliz Natal e até mesmo a sua liberdade, nas mãos de um implacável oficial britânico que lhes guarda rancor.
Com os homens fora, Annie, Amalie e Sarah fazem o melhor que podem para preparar as festividades, apesar das diferentes tradições e o temor de que os seus maridos não cheguem a casa a tempo do Yule. Os eventos começam no dia seguinte ao epílogo de Rebelde acabar. A história inclui Joseph, Killy e revelações sobre o destino de lorde William Wentworth.

Capítulo Um 

18 de dezembro de 1760, Norte de Albany
Colônia de Sua Majestade de Nova Iorque

Connor MacKinnon caminhou em direção ao celeiro, a neve rangendo sob os seus mocassins, o ar gelado mordendo o seu nariz, o nascer do sol, um vislumbre de dourado a este.
— Madainn mhath. — ele disse para o seu irmão Morgan, que estava ocupado cortando madeira perto do monte de lenha. Bom Dia.
Com o machado na mão, Morgan olhou ameaçadoramente para ele e chutou um pedaço de lenha para o monte.
— O que há de tão malditamente bom nisso?
Oh, inferno!
Então era assim que as coisas estavam?
Connor não levou em consideração as palavras do seu irmão, pois, de acordo com o seu ponto de vista, havia muito sobre este dia que era bom e certo. A guerra tinha acabado. A fazenda MacKinnon estava a prosperar, rendendo uma colheita abundante que os manteria durante o frio e a escuridão do inverno. Acima de tudo, ele e os seus irmãos tinham cada um, tomado uma formosa moça como esposa e tinham cinco fortes crianças entre eles, quatro meninos e uma menina.
Sim, Deus tinha sido bom para eles.
Se no ano passado alguém lhe tivesse dito que neste momento, ele estaria felizmente casado com a sobrinha do seu maior inimigo, Connor teria pensado que eles eram doidos. Mas era verdade, e ele não poderia estar se sentido mais abençoado.
Você é um bastardo sortudo, MacKinnon.
Ele entrou no calor escuro do celeiro. As vacas mugiam, ansiosas para ser ordenhadas, o ar tinha um cheiro pungente de feno, couro e estrume. Ele passou pelos bem ordenados e oleados equipamentos de cavalos e ferramentas de cultivo e caminhou até à parte traseira, onde Iain já estava medindo a porção de aveia matinal para os cavalos.
Iain olhou para cima.
— Mhath Madainn.
— Dia dhuit. — Deus esteja com você.
Connor acariciou o focinho aveludado de Fríthe, a sua égua favorita.
— Morgan está zangado novamente.
— Sim. Eu notei. — Iain entregou a Connor um saco cheio. — Annie disse que Amalie abandonou completamente a cama dele.
Oh, isso seria suficiente para azedar o temperamento de qualquer homem.
Connor colocou o saco na cabeça de Fríthe, e a égua começou a se alimentar.
— Falta apenas uma semana para o Yule. Não é apropriado que ele e Amalie se encontrem ainda em conflito. Fale com ele, Iain. Você é o mais velho. Ele vai ouvir o seu conselho.
Iain entregou a Connor outro saco de aveia.
— Eu tentei falar com ele, mas ele não ouve. Está se deixando levar pela preocupação. Não tenho palavras para amenizar tais temores.
Nem tinha Connor.
Estes não eram medos infundados, mas medos nascidos da dura realidade. Mulheres morriam no parto todos os dias, morriam enquanto lutavam para trazer uma nova vida ao mundo. Apenas duas semanas se passaram desde que Sarah dera à luz ao pequeno William, e Connor nunca esqueceria as suas longas horas de sofrimento, o som arrepiante dos seus gritos ou o medo que o tinha corroído enquanto ele se perguntava se ela e a criança sobreviveriam.
E mesmo assim, era difícil ouvir Iain e Morgan falar que o parto de Sarah fora abençoadamente breve e fácil em comparação com o que Amalie tinha suportado. Em março passado, Amalie dera a Morgan filhos gêmeos e certamente teria perecido se Rebecca, uma parteira habilidosa, e irmã do moicano Joseph Aupauteunk, irmão de sangue deles, não estivesse aqui para ajudar com o nascimento.
Sim, Connor conseguia entender porque Morgan tinha se recusado a se deitar com a sua esposa da maneira habitual. Morgan não queria vê-la sofrer novamente nem queria arriscar perdê-la. Mas nove meses haviam se passado desde o nascimento dos gêmeos e a paciência de Amalie parecia estar chegando ao fim. Se Amalie tinha abandonado a cama de Morgan completamente, como Annie havia dito, não haveria como viver com qualquer um deles.
Connor levou o saco até à baia de Fiona, pendurando-o gentilmente sobre a cabeça da égua.
— Algo deve ser feito. Eu não quero ver Amalie chorando no Natal, e eu já estou cansado da língua afiada de Morgan.
— Assim como eu. — Iain começou a encher mais dois sacos.
Uma ideia veio à mente de Connor, mas a manteve para si.
— E Sarah, como está? — perguntou Iain, quebrando o silêncio momentâneo. — A noite passada não deve ter sido fácil pra ela.
Na noite passada, o lorde inglês que Connor uma vez jurou matar, tinha voltado dos mortos para visitá-los. Lord William Wentworth, o tio de Sarah, tinha se esgueirado até à porta deles no escuro da noite, deixando nos degraus da cabana deles, uma carta de Inglaterra e uma única peça, rachada de xadrez — um rei feito de mármore preto. Alertados da presença dele pelos cães, Connor e os seus irmãos tinham tentado, pelo bem de Sarah, encontrá-lo e convidá-lo a sair do frio. Mas o bastardo virara a cabeça do cavalo em direção a Albany e montara como se o próprio Satanás estivesse em seus calcanhares, recusando-se a vê-los ou se deixar ser visto por eles. Embora aliviada ao saber que o seu tio, que no verão passado, fora capturado pelos índios Wyandot, estava vivo, Sarah ficara arrasada pela sua recusa em vê-la.
— Ela está guardando a peça de xadrez no bolso do avental. Eu já a vi tirá-la e fechar a mão em torno dela. Mas não disse uma palavra sobre o tio hoje.
— E a carta?
Connor, realmente não desejava falar sobre isso, mas sabia que Iain iria pressioná-lo mais se ele não respondesse.
— Encontra-se em cima do cravo dela.
Maldita fosse aquela carta!










Série Guerreiros MacKinnon

26 de outubro de 2018

Rebelde

Série Guerreiros MacKinnon
Acusados de um crime que não cometeram, os irmãos MacKinnon enfrentam uma sentença de morte a menos que aceitem servir a Coroa Britânica e lutar contra os franceses.

Aliados com as tribos indígenas que vivem no deserto, os guerreiros das Highlands escocesas compõem uma nova classe de soldados, Os Rangers MacKinnon.
O major Connor MacKinnon despreza o seu comandante, lorde William Wentworth, mais que a qualquer homem. Porém, quando Wentworth pede que vá resgatar sua sobrinha dos índios Shawnee, que a tomaram como prisioneira, Connor aceita, embora espere encontrar em lady Sarah Woodville um ser tão despresível quanto seu tio. Para sua surpresa, encontra uma garota valente e bonita, mas em perigo e desesperada. No entanto, a única maneira de libertar Sarah é Connor derrotando o guerreiro Shawnee que a sequestrou e a reclamando como sua esposa.
Devastada pela tragédia que assolou sua vida protegida em Londres, lady Sarah não está preparada para a dureza das colônias fronteiriças, nem para a atração que sente por Connor. Contudo, quando chegam a civilização, é ela quem deve protegê-lo. Se seu tio descobrir o que Connor teve que fazer para salvá-la, o matará. Mas, as chamas da paixão, uma vez acesas são difíceis de apagar. Quando o desejo se transforma em amor, Connor terá que desafiar todo um império para manter Sarah ao seu lado.

Capítulo Um

20 de março de 1760, a noroeste de Albany
Lady Sarah Woodville lutava para manter-se ao lado do seu captor, os pulmões doendo pela respiração e uma pontada, parecida a uma afiada adaga, nas costas. Implacável, ele puxou-a para frente, ajustando o cordão de couro que segurava seus pulsos. Os dedos dos pés estavam rígidos pelo frio e suas coxas ardiam pela estrada íngreme colina acima. Cada passo era uma agonia, com os pés cheios de bolhas e os calcanhares em carne viva pelo couro molhado de seus novos sapatos. E, no entanto, não se atrevia a pedir que a soltasse, nem sequer que fossem mais devagar.
Sabia que ele a mataria.
Ela estava navegando com a Sra. Price, sua acompanhante e Jane, a nova criada da senhora em Nova York, pelo rio Hudson em direção a Albany, onde tinha planejado implorar ao seu tio William que a ajudasse, quando o capitão tinha se encontrado com icebergs de gelo bloqueando o rio. Tentou abrir caminho, mas terminou com o navio encalhado em um banco de areia ao lado da colina ocidental. Desfazendo-se em desculpas por seu erro de julgamento, enviou imediatamente alguém em busca de ajuda, assegurando a Sarah que Albany não estava longe, rio acima.
Mas o estômago da Sra. Price não conseguiu tolerar o balanço do navio encalhado. Para ajudar a aliviar seu mal de mar, o capitão, Sarah e Jane haviam desembarcado, junto com outros passageiros que ficaram enjoados.
Mas, assim que puseram os pés na colina, ouviram um tiro de mosquete e o capitão caiu morto.
Então, os mais terríveis gritos que poderiam ser concebidos saíram da floresta, seguidos por homens pintados, segurando mosquetes, facas e machados. E, em questão de momentos, todos os que haviam deixado o navio, além de Sarah, Jane e um jovem, haviam sido mortos, seus cabelos ensanguentados pendurados nos cintos de contas.
Tio William enviaria soldados. Ele poderia até enviar seus Rangers.
Sarah tinha contado oito atacantes, mas só podia ver a três agora, seu captor e os dois que carregavam Jane e o menino. Só em raras ocasiões, os índios olhavam para os seus prisioneiros e nunca com preocupação, seus rostos terríveis à vista, pintados em tons de vermelho e preto, com a cabeça raspada, exceto uma só mecha de cabelo sobre o couro cabeludo como uma crista, seus corpos estavam cobertos de peles curtidas e pintadas.
E pensar que ontem ela havia dito a Jane que esperava ver um índio.
Por quanto tempo caminharam? Sarah não podia dizer. A dor em seus pés tornou-se insuportável e ainda assim não teve escolha senão suportá-la. Os índios seguiram um caminho através de pinheiros altos, evitando a neve sempre que podiam, com o solo inclinado para cima e a floresta escura em torno deles. E, de repente, na distância, Sara ouviu o som dos tambores militares.
Soldados!
Os índios também ouviram. Pararam, falaram um com o outro com palavras silenciosas que Sarah não conseguiu entender. Jane inclinou-se contra uma árvore, tentando recuperar o fôlego e seus espessos cabelos vermelhos, depois que caíram dos grampos, ficaram pendurados nas costas numa trança longa. O menino olhou para Sarah, com medo em seus olhos verdes, seu rosto polvilhado com sardas. Vestido de entrecasaca, tinha aspecto de morar na fronteira. Quantos anos ele teria? Nove? Dez? Sua família estava entre os mortos?
Pobre criança!
A mente de Sarah derivou até os pensamentos de sua própria família. O que eles fariam quando descobrissem que havia sido levada pelos índios? Será que os pais se arrependeriam de mandá-la para longe? Ou seria sua culpa ter deixado à segurança de Nova York? Se ela tivesse sido a filha que sua mãe queria que ela fosse e não tão envolvida em sua música, não haveria nenhum escândalo e ela estaria segura em sua casa em Londres, longe desse lugar selvagem e terrível.
O menino se aproximou dela, como se estivesse buscando o conforto de uma mãe.
Não pense apenas em si mesma, Sarah, que vergonha! Você tem dezoito anos e ele é apenas uma criança.
Ela sorriu e ofereceu encorajamento silencioso. Então seus captores voltaram e olharam para eles como se estivessem cientes deles pela primeira vez. Aquele que segurava sua corda estendeu a mão, pegou uma mecha de seus cabelos entre os dedos e esfregou, seus olhos escuros cravados nos dela. Ela sentiu seu coração encolher sob seu olhar frio, mas se forçou a sustentar seu olhar, recusando-se a deixá-lo ver o quanto a assustava.
Nunca revele seu verdadeiro eu aos que não te amam de verdade.
As palavras de lady Margaret vieram até ela, um eco longe no tempo.
Então, novamente, ouviu o toque do tambor. Tão abruptamente quanto pararam, os índios começaram a se mover de novo, arrastando Sarah e os outros mais rápido desta vez, primeiro colina acima, depois para baixo, até que a dor nos pés de Sarah fosse tão insuportável que ela teve que lutar para não gritar, com lágrimas nos olhos. Então, finalmente, os índios pararam, deixando-os descansar perto de um córrego congelado na base da colina, inclusive libertando-os de suas amarras, como se soubessem que seus prisioneiros estavam muito exaustos para escapar.
Um dos índios entregou a Sarah um odre de água e fez um gesto para que bebesse. Assim o fez e com gratidão. Mas quando quis dar o odre a Jane, o arrancou de suas mãos.
Seu captor ajoelhou-se diante dela, com um par de mocassins nas mãos e olhou atordoada, como ele descartava os sapatos e as meias rasgadas e lavava suas bolhas com a água do odre e depois deslizava os mocassins macios e quentes em seus pés. Mostrando em seu rosto uma máscara fria de indiferença, se levantou e se afastou para falar com os outros. E por um momento, Sarah ficou sozinha com Jane e o menino. Ela encontrou o olhar do menino.
—Você é um jovem muito corajoso, como se chama?
—Thomas Wilkins, senhorita. —Thomas deu um sorriso triste, seu olhar caindo para seus mocassins. —Acredito que vai te manter com vida, pelo menos.
Suas palavras a surpreenderam.
—O que você quer dizer?
—Eles lhe deram água e mocassins, mas não a nós. —Seu olhar caiu a seus pés de novo. —Eles pensam que nossos soldados não poderão te seguir se você tiver mocassins em seus pés.
—Mas e você, Thomas e minha doce Jane?
Não muito mais velha do que ela, Jane tinha sido uma fiel companheira de Sarah desde que tinha sido enviada a Nova York para ficar com o governador DeLancey. Jane não enrugou o nariz para Sarah como as outras, pelo contrário, ela mostrou simpatia e compreensão, apesar do escândalo. Desde a morte de Lady Margaret, que tinha sido a única amiga de Sarah.
Ela deu a Sarah um sorriso trêmulo.
—Você deve continuar, eu acho, minha senhora, mas tenho medo de que nós dois ficaremos neste lugar solitário.
Um arrepio que não tinha nada a ver com o frio deslizou pelas costas de Sarah.
—Não! Não diga tal coisa!

13 de setembro de 2018

Dia dos Namorados de 1760

Série Guerreiros MacKinnon

Esta pequena história apresenta Iain e Annie

de Rendição, primeiro livro dos Guerreiros MacKinnon e Morgan e Amalie de Indomável o segundo livro dos Guerreiros MacKinnon.
A fim de torná-lo apto a história, sem dar spoilers do livro do Connor, Defiant, colocado como como cenário o Dia dos Namorados, que ocorre entre o final de Indomável e o epílogo de Indomável.
Annie acabou de ter um bebê e Amalie estava apenas a um mês de dar à luz o seu primeiro filho.



Série Guerreiros MacKinnon
1 - Rendição
2 - Indomável
2.5 - Dia dos Namorados de 1760
3 - Rebelde
3.5 - Em Uma Noite de Inverno
Série Concluída

24 de julho de 2018

Indomável

Série Guerreiros MacKinnon
Guardas MacKinnon

Eles eram um bando de irmãos, sendo que a lealdade entre eles foi forjada através das dificuldades e batalhas. O vínculo entre esses guerreiros Highlands, as colônias acidentadas e os ferozes nativos americanos é mais forte do que os laços de sangue.
Apesar de ser forçado a lutar pelos odiados ingleses, Morgan MacKinnon não iria trair seus homens e levá-los a morte, nem mesmo quando foi capturado pelos franceses e ameaçado a sofrer uma morte agonizante, queimado vivo pelas mãos dos Abenaki.
 Somente o olhar inocente de uma moça francesa, criada em um convento, poderia fazê-lo questionar sua promessa de escapar e retornar aos Guardas.
Logo, a doce paixão que despertou em Amalie, fez com que ele amaldiçoasse a guerra, forçando-o a escolher entre defender sua honra ou comprometer-se com a mulher que ama.

Capítulo Um

Ticonderoga, Fronteira com Nova Iorque
19 de abril, 1759
O Major Morgan MacKinnon jazia sobre seu estômago, olhando para baixo na cúpula da Montanha Rattlesnake, diretamente para o forte francês na Ticonderoga. Ele ergueu o binóculo de seu irmão Iain, que agora era dele e observou enquanto os soldados franceses descarregavam barris de pólvora de um pequeno navio. Claramente, Bourlamaque estava se preparando para defender o forte novamente. Mas se Morgan e seus Guardas se saíssem bem-sucedidos em sua missão desta noite, essa pólvora nunca veria o interior de um mosquete francês.
Connor estirou-se ao lado dele e falou em um sussurro.
― Não posso ver este lugar sem pensar nesse bastardo do Abercrombie e nos bons homens que perdemos. ― Morgan baixou o binóculo e encontrou o olhar de seu irmão mais novo.
― Eu tampouco posso, mas não viemos aqui para nos lamentar.
― Não. ― o olhar do Connor se endureceu. ― Viemos por vingança.
Amalie beliscou sua comida, seu apetite se perdeu ao falar da guerra.
Ela fez o seu melhor para ouvir educadamente, sem se importar com o quão assustada ela estava, ao pensar em outro ataque britânico. Monsieur de Bourlamaque era comandante de uma guarnição no meio do conflito. Era certo que ele e seus oficiais mais confiáveis deveriam discutir sobre a guerra enquanto comiam. Ela não queria distraí-los com sentimentos infantis, nem era tão egoísta a ponto de exigir diversão. É só que, às vezes, desejava que seu tutor pedisse para ouvir seus pensamentos...
Seu pai era a única pessoa que já havia feito isso e agora ele se foi.
E foi assim que Amalie passou a refeição, em silêncio, como sempre fazia na abadia.
― Não devemos permitir que a vitória do verão passado nos cegue a ponto de termos excesso de confiança. ― Bourlamaque limpava seus lábios com um guardanapo branco de linho. Seu uniforme azul, com suas condecorações e a faixa vermelha diferenciava-o de seus oficiais, que levavam cinza. ― Amherst não é um idiota como Abercrombie, ele nunca teria atacado sem artilharia.
O tenente Rillieux recostou-se em sua cadeira, o rosto sorridente. Somente ele, dentre os oficiais mais jovens, que eram favorecidos pelos seus cabelos naturais, usava uma peruca empoeirada, o branco fazendo grande contraste com a sua pele oliva e as sobrancelhas escuras.
― Deixem-no fazer seu pior esforço.
Amalie sufocou um suspiro. Como ele poderia tentar o destino de tal maneira, quando isso poderia significar a morte de seus próprios homens? Ele faria melhor se rezasse pela paz!
Mas o tenente Rillieux não parecia dar-se conta que havia dito algo sem pensar.
― Devemos dirigir Amherst de volta à floresta, assim como fizemos com o seu antecessor. Meus homens estão prontos.
― Estavam prontos quando MacKinnon e seus homens assaltaram as últimas provisões do trem de abastecimento? ― Bourlamaque elevou uma sobrancelha em desaprovação. ― Perdemos uma fortuna em mosquetes, sem mencionar várias caixas com meu vinho favorito, não importa o quão bem você se prepare, parece que a Guarda sempre está um passo à sua frente.
O estômago de Amalie se retorceu, como o fazia cada vez que mencionavam à Guarda dos MacKinnon. Estes homens que tinham matado seu pai pareciam estar em todos os lugares e em lugar nenhum, embora papai tivesse assegurado que não existia tal coisa como oschi bai, começou a se perguntar se seus primos tinham razão. Talvez os Guardas não fossem homens depois de tudo, o Tenente Rillieux soprou e inclinou a cabeça como desculpa.
― Meus mais sinceros pêsames de novo por sua perda, senhor. Os irmãos MacKinnon são adversários formidáveis, mas os faremos cair.
― Esperemos que sim. Talvez agora que o mais velho dos MacKinnon foi liberado do serviço, os Guardas cairão sob as ordens de um líder incompetente.
― Duvido-o, senhor. Morgan MacKinnon é todo um homem das florestas, arqueiro e líder, assim como Iain MacKinnon foi. Seria uma tolice subestimá-lo. Mas foram feitos arranjos. Como eu disse anteriormente, meus homens estão prontos.
Mas Amalie não estava pronta. Ainda não tinha esquecido a batalha do verão passado e temia à possibilidade de um renovado derramamento de sangue. A dor pela morte de seu pai ainda era evidente, seus sonhos cheios de disparos de mosquetes e dos gritos de homens moribundos.
Se apenas essa guerra maldita acabasse! A vida seria livre para florescer novamente na Nova França. Marinheiros encheriam o porto, trazendo, não soldados, mas homens e mulheres desejosos de construir lares e criar famílias ali.
E o que você fará Amalie?

 


Série Guerreiros MacKinnon

17 de março de 2018

Rendição

Série Guerreiros MacKinnon
Iain Mackinnon e seus irmãos, Morgan e Connor, formam parte de um seleto esquadrão de guerreiros que reúnem a coragem de seus antepassados escoceses, o sigilo e a astúcia dos índios que vivem nas florestas das colônias americanas. 

Chantageados pelo comandante Lorde William Wentworth, os três irmãos se veem forçados a servir à coroa inglesa na guerra contra os franceses e seus aliados índios se não quiserem ser acusados de traição. 
Durante uma perigosa missão, Iain encontra uma mulher que está a ponto de cair nas mãos dos índios Abenaki, mas os enfrenta ferozmente. Impressionado pela beleza e coragem da jovem, Iain intervêm para salvá-la ignorando todos os perigos, descumprindo ordens e arriscando a vida de seus homens e seus irmãos.
Imediatamente o amor surge entre Iain e a desconhecida, mas o jovem guerreiro ignora que a mulher que resgatou havia sido vendida como serva por seu indesejável tio, além de formar parte de um dos clãs mais odiados por sua família. 
Lady Anne Burnes Campbell não vê outra saída que ocultar sua verdadeira identidade se não quiser ser novamente vendida como escrava. À medida que o tempo passa e cresce o amor entre eles, Annie se vê forçada a decidir se continua ocultando sua identidade ou conta a verdade, arriscando-se a perdê-lo para sempre.

Capítulo Um

Inveraray, Escócia, 14 de setembro de 1757
Lady Anne Burness estava agachada em um canto úmido do calabouço. Não parava de tremer. As lágrimas desciam por seu rosto triste, ainda que não fosse consciente de seu aspecto. Seu olhar vagava perdido na escuridão, indiferente aos ratos que caminhavam entre as partes secas e escuras. Que importância tinham os ratos?
A qualquer momento, os agentes do xerife viriam buscá-la. A levariam à praça do povoado e lhe fariam uma marca no dedo. A marcariam para sempre como ladra. No fim, a devolveriam ao mar, ultrajada. Mas ela não tinha roubado nada. Nada.
— Mamãe! Mamãe!
Sua mãe já não podia ajudá-la. Estava morta há três semanas. Sua alma estava quebrada, sua respiração era débil. Tio Bain havia dito que tinha sido um acidente, uma terrível tragédia, mas Annie sabia toda a verdade. Tinha ouvido os rumores dos serventes, ouviu falar sobre seus estranhos gostos, sobre sua inclinação a infligir dor ao próximo. Lembrava perfeitamente a quantidade de moços e moças do serviço que tinham sido mortos nos últimos anos, e lembrava também, que as causas de tantas mortes permaneciam no esquecimento. E logo estava à advertência que sua mãe lhe fez um dia.
“Se algum dia me acontecer algo, oxalá que não, pegue minhas joias e todas as moedas que tenha e fuja deste lugar. Vá a Glasgow e busca ao procurador de seu pai, Argus Seton. Não acredite em seu tio Bain! Sei que lhe quer bem, mas não é de confiança. Entendeu, Annie?”
Annie não tinha entendido nada. Até esse momento. Se tivesse sabido antes… se sua mãe tivesse explicado a maneira de afastar-se dele…mas sua mãe não podia assumir a desonra de permitir que Annie soubesse. E agora era muito tarde. Sua mãe já não estava.
Annie tinha o coração quebrado por sua pesada carga de dor e se esforçava por não soluçar. Como gostaria de ouvir a voz de sua mãe naquele momento, sentir suas carícias em seu cabelo, voltar a ver seu lindo sorriso, sinais simples do amor de mãe. Annie nunca valorizou esses preciosos sinais até que os perdeu para sempre. Como poderia viver sem ela? Tinha ficado sozinha.
E iam marcá-la e enviá-la em um barco para uma terra desconhecida, uma manobra orquestrada por um homem que tinha querido como a um pai.
Era como estar presa em um grande pesadelo. O medo se estendia por seu ventre como um rápido veneno. Doeria muito a prancha de aço? Poderia aguentar a travessia? Que tipo de pessoas teria que servir?
“Seja valente, moça! Não deixe que o medo se apodere de seu corpo “.
A voz de seu pai, aquelas palavras que ouviu de sua boca fazia tanto tempo penetraram em sua mente em seguida. Annie tinha cinco anos e ele estava ensinando a montar seu pônei. Mas o pônei parecia tão alto… tinha medo. Ele murmurou com sua voz e seu sorriso tranquilo a acalmaram, então finalmente esteve cavalgando durante uma hora inteira. Quando Annie aprendeu a cavalgar com grande técnica, os elogios de seu pai iluminavam seus dias, foi o verão mais feliz de sua vida.
Nesse mesmo ano, seu pai morreu lutando pelo rei Jorge em Prestonpans, partido em dois por uma claymore[1] em plena luta jacobita, assim como seus filhos, os irmãos de Annie, Robert, William e Charles, junto a ele. Tio Bain os flanqueava e também estava na batalha. Apesar de estar ferido, protegeu seus corpos com sua própria claymore e assim se converteu em um herói renomado.
Annie tinha então seis anos. Durante um tempo, Annie viveu com sua mãe. Seu pai, apesar de ser conde, não tinha riqueza alguma. Pressionada pelos credores e sumida no desespero, sua mãe se viu forçada a vender a fazenda e ir viver com o tio, irmão de seu marido. Bain, um marquês viúvo com um único filho que vivia em Londres, abriu-lhes as portas de sua casa. Somente depois da morte de sua mãe, Annie se deu conta que ele não tinha atuado por bondade ou gentileza.
Se seu pai ou seus irmãos vivessem... tudo seria muito diferente. Se apenas seu pai estivesse vivo…
“Ruído de passos”.
Annie tentava engolir saliva, mas tinha a boca seca. O coração batia descompassado. Se tivesse algo no estômago, teria vomitado ali mesmo.
“Seja valente, moça!”
Obrigou-se a ficar de pé e alisou a saia longa. As pernas tremiam. Secou as lágrimas. Passasse o que passasse, seguia sendo lady Burness Campbell.
Tilintar de chaves. Movimento de ferrolhos e dobradiças.
Uma leve réstia de luz penetrou na cela, iluminando os ratos, então a porta se abriu e apareceram os torturadores. Levava três semanas sendo vítima de seus olhares lascivos, escutando seus toscos murmúrios. Tinha feito todo o possível para escapar de suas mãos.
— Não tem ficado por menos, bonita? — Fergus, o mais alto dos dois, deu-lhe um sorriso repulsivo e soltou uma gargalhada. — Vamos, venha conosco.
Wat, o mais baixo, agarrou bruscamente seu braço. — Veio um senhor para vê-la.
— Um senhor? — Annie sentiu uma repentina brisa de esperança. Pelo visto o xerife tinha enviado sua carta a Argus Seton. O melhor amigo de seu pai tinha chegado para dar fé de que ela era lady Anne Campbell e não uma pobre criada ladra, como dizia seu tio. — Quero vê-lo.
— Quero vê-lo — burlou Fergus. Puxou umas algemas. — Fala como se estivesse dirigindo seus servos.
— Não podemos humilhá-la um pouco mais, aqui, em cima da palha? Podemos fazer por trás, não poderá dizer nada de nós.
Annie reagiu com falsa frieza ante suas palavras para que desistissem de suas intenções. Tinha aprendido que a pose de moça virgem amedrontada só alimentava a crueldade dos homens. Estendeu os pulsos e sentiu em seguida a crua frieza do ferro contra sua pele enquanto Fergus colocava as algemas.
— Não temos tempo para isso agora, Wat. — Fergus olhou seu rosto e sorriu abertamente. — Sinto decepcioná-la, moça.
Os dois homens a empurraram para que saísse da cela e a seguiram por um corredor estreito repleto de candeeiros de ferro que se penduravam da imunda parede cinza com velas grossas e amareladas. Dúzias de portas fechadas que escondiam celas de onde vinham ruídos humanos de desgraça: murmúrios, gemidos, soluços de mulher, impropérios e até o riso de um homem. Annie queria fugir desse lugar, do fedor, do terror e da solidão que dele emanava.
Talvez estivesse perto de sua libertação. Tinha rezado muito. Tentava imaginar o cavalheiro e sentia um grande alívio. Tinha que ser o senhor Seton. Era o único para quem tinha escrito. Não tinha ninguém mais. Não podia ser ninguém mais.
Era um homem bondoso e respeitado por seus anos de trabalho na área da contabilidade e estava segura que conseguiria liberá-la, ainda ajudaria na devolução de suas joias e de todos os pertences que tinha deixado na mansão de seu tio quando se viu forçada a fugir. E longe de Inveraray, a primeira coisa que pediria seria um banho quente e uma cama. Levava três longas semanas privada de tudo isso.
Entraram em outro corredor, mas, em lugar de subir como quando a levaram à frente do tribunal, desceram umas escadas escuras e dobraram num canto para a esquerda. Annie parou e olhou a escuridão dessas escadarias de pedra, o medo percorria sua espinha dorsal.
— Onde estão me levando?
Fergus lhe deu um empurrão que quase a mandou ao chão.
— Logo saberá, mulher.
A cada passo, a incerteza e o pavor de Annie iam aumentando. As repartições públicas dos calabouços estavam acima, não abaixo. Se o procurador de seu pai tinha chegado a tempo, seguramente estaria esperando acima.
“Seja Valente, moça!”



Série Guerreiros MacKinnon
1 - Rendição
2 - Indomável
2.5 - Dia dos Namorados de 1760
3 - Rebelde
3.5 - Em Uma Noite de Inverno
Série Concluída