30 de novembro de 2009

Uma Mulher Misteriosa



Seus segredos estavam a um fio de ser descobertos...

Aparentemente, Fan Winslow era uma afetada e idônea governanta de Feversham Hall.

Mas, na verdade, Fan estava comandando um conhecido bando de contrabandistas baseado na inóspita costa dessa propriedade. 
E a chegada do novo proprietário de Feversham, o capitão George Claremont, ameaçava arruinar seu próspero negócio.
Tendo vivido na vergonha que seu dissoluto pai impusera a toda família, George vivia agora por sua honra e pelas leis do país. 
Cognominado Lorde de Prata por seus feitos heróicos em batalhas e também por sua reputação impecável, o célere herói da Marinha se achava determinado a acabar com qualquer atividade ilegal que houvesse em sua propriedade... mesmo que a vilã fosse uma bela e misteriosa mulher com olhos aos quais nenhum homem conseguiria resistir. Uma paixão turbulenta seria suficiente para unir para sempre os amantes que estavam em lados opostos da lei?

Capítulo Um

Feversham Downs, Kent Março de 1802
Havia muita neblina junto à costa, tão es­pessa e fria que até parecia ser uma ex­tensão do próprio mar, erguida dentro da noite apenas para aumentar o desespero de qualquer criatura que pu­desse envolver.
Essa neblina fez a lua e as estrelas desaparecerem, bem como qualquer marca que pudesse haver na terra firme, e até o grande estrondo das ondas contra as pedras parecia abafado agora. Era uma noite terrível em que nenhuma criatura, cristã ou não, humana ou não, deveria se arriscar. Muito menos uma mulher...
Mas, para Fan Winslow, aquele cenário era o mais per­feito que poderia haver.
— Mantenha a luz encoberta, Bob — ela orientou o homem que vinha a cavalo, próximo dela. — Mesmo neste nevoeiro, não quero arriscar que nos vejam.
Bob obedeceu de pronto, encobrindo a luz da lanterna de latão que estava na estaca, na praia. Seus movimentos evidenciavam os estranhos contornos sob suas vestes, que delineavam as pistolas enfiadas em seu cinto.
Quase nunca havia problemas, mas estavam sempre armados, naquele tipo de negócio, seria tolice arriscar agir de outra forma.
Satisfeita por ver que a lanterna se achava quase apa­gada, Fan assentiu e puxou mais a capa sobre sua cabeça. Porém, o frio era cortante. Aquela névoa era assim, como dedos gélidos penetrando pela pele, sem se importar com a barreira de meias ou corpetes, ou blusas de lã. O único calor de fato vinha do corpo do cavalo que Fan montava, visto que a capa que estava sobre ele fora feita exatamen­te para protegê-lo de um tempo inclemente como aquele.
Fan remexeu-se na sela, puxando o cachecol para seus lábios, tentando manter a postura de dama, apesar da maresia gélida, que fazia seu rosto queimar e seus olhos lacrimejarem, além de grudar os poucos fios de cabelo que escapavam para fora da touca.
No entanto, ela e Bob Forbert continuavam ali, na praia, determinados, fitando o mar quase invisível, estudando a direção em que o pequeno barco deveria estar, esfor­çando-se tanto para ver alguma coisa que seus olhos che­gavam a doer.
Com exceção dos poucos cuidadosos que conheciam a verdade, ninguém estava a par do posto que Fan ocupava em Feversham Hall, e muito menos poderia entender por que ela se arriscava dessa forma vindo até ali no meio daquela noite e de muitas outras.
Fan soprou para dentro do cachecol, esperando, dessa forma, aquecer-se um pouco mais, e apertou as rédeas entre as mãos, que lhe doíam devido ao frio. Era um mo­mento excelente para o tipo de comércio que faziam, um clima ideal, na realidade. Uma neblina assim tão espessa conseguia guardar segredos tão bem quanto um túmulo.
Contudo, não sabia ao certo desde quando estava ali, junto ao mar, sentindo aquela espécie de cerração mari­nha, que vinha até seu rosto, esfriando-o ainda mais. Po­deriam ser duas horas, três até. Desejava consultar o re­lógio de bolso que trazia preso às vestes, mas isso seria demonstrar fraqueza, preocupação, ansiedade, como se não tivesse planejado e participado de cada detalhe da­quela empreitada.
Não podia deixar que Bob suspeitasse de sua insegu­rança. Não iria permitir que ele, ou nenhum dos outros, a visse fraquejando, tinha de ser, para eles, de uma con­fiança absoluta.
"E não foi isso que seu pai lhe ensinou?", lembrava-se. Nunca deveria mostrar fraqueza diante daqueles que de­pendiam dela. Ele diria: "Essa gente é nosso povo. São sua responsabilidade, e deve estar pronta para colocá-los sempre em primeiro lugar. Porque é assim que sempre foi para os Winslow. Temos de ser corajosos, ter certeza do que fazemos e sermos francos. Porque, se não for as­sim, filha, jamais ganharemos o respeito deles, bem como sua lealdade. Aliás, nem os mereceremos".
Mas seu pai nunca poderia imaginá-la em seu lugar, ali, na praia, esperando com aquela lanterna escondida e usando armas, rezando para ter dito as coisas certas para que os homens pudessem seguir suas instruções.
— Pelo menos, não haverá casacas vermelhas atrás de nós, hoje, senhora — disse Bob, interrompendo os pensa­mentos de Fan. 
— E muito menos os casacas azuis. Ah, eles não iriam sair numa temperatura destas!

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