19 de fevereiro de 2011

A Noiva Francesa



Desejo e perigo se entrelaçam ameaçadoramente!

No alto dos escuros penhascos, dominando o mar revolto, o castelo de Escarpa Negra se erguia sombrio e silencioso.
Seu novo lar, pensou Christine, cheia de apreensão.

Pressentia algo de muito estranho naquele lugar, algo impalpável, perigoso.

Só agora conheceria o marido, lord Devlin, que com certeza estava tão infeliz quanto ela com o casamento arranjado e assinado à distância.


Por quê ele havia concordado com aquela farsa: era apertas um entre tantos mistérios que Christine teria de desvendar.
E ela seria levada às raias da loucura quando o belo e enigmático senhor do Castelo lhe despertasse uma tórrida e avassaladora paixão e insistisse em não consumar o
casamento!

Prólogo

A fisionomia de Gareth estava carregada quando seus olhos sombrios percorreram sem ver o jardim bem cuida­do.
Mais além, viam-se as margens das negras escarpas que delimitavam os domínios do castelo senhoril, construído ha­via mais de duzentos anos por seus antepassados.
Gerações de Devlins haviam se postado naquela mesma janela para apreciar o espetáculo das ramagens das árvores que se ver­gavam à fúria do vento marinho.
O eterno uivo do vento ressoava nas altas torres, ecoan­do incessantemente contra as pedras, envolvendo-os com seu canto a um tempo sinistro e doce.
Mesmo em dias claros como aquele, em que o sol brilhava entre as ameias, envolvendo-as em tons de dourado esmaecido, o uivo do vento prosseguia com seu canto de sereia e jamais cessava.
Era constante como a mudança de estação, variando apenas na intensidade.
Às vezes era suave como as manhãs de prima­vera, enchendo o castelo de alegres risadas; noutras, tornava-se cruel como tempestade de inverno e açoitava impiedosamente as torres escuras, silvando e bramindo com ferocida­de.
Ventos Satânicos — esse fora o nome do castelo durante muitos anos.
Mas o avô de Gareth, por achá-lo de maus eflúvios, trocara-o para Escarpa Negra.
— Então, meu velho — falou Robert Sinclair, batendo a cinza do cachimbo —, qual será sua resposta ao marquês?
Gareth olhou para a carta que amassara inconscientemente entre os dedos.
Seu maior desejo seria negar-se a atender ao marquês, mas achava-se de pés e mãos atados; a honra da família obrigava-o a concordar.
Virou-se devagar para o loiro primo, que o fitava com olhos azuis e aguados, lembrando-lhe vagamente a mãe. Robert puxara o lado dos Charmonts, enquanto Gareth era um puro Devlin, de tez trigueira e olhos tão negros quanto os cabelos.
— Diacho, Robert! Eu nunca tive a menor intenção de me casar! Essa agora! Mas o que eu posso fazer? Que esco­lha tenho? Não posso me recusar a cumprir uma promessa feita por meu pai, ainda que seja uma velha promessa.
— Você podia tentar explicar ao marquês. Talvez ele en­tenda sua posição.
— Beauvais? Duvido. Para começar, eu sou o primeiro a não entender como é que ele quer que sua única filha se case com alguém que ele nem conhece. Um homem desses jamais entenderia qualquer explicação que eu tentasse lhe dar. Pior ainda: não tenho uma boa razão para fugir do compromisso. Sou livre e desimpedido, e Bauvais sabe muito bem disso.
— Então vai dizer que sim? Vai se casar com a menina?
Gareth gemeu desgostoso.
— Não tenho alternativa, tenho? O marquês salvou a vi­da de papai, e agora cabe a mim fazer o mesmo pela filha dele. Ou seja: casando-se comigo, a moça estará sob minha proteção. Com isso, escapará da guilhotina. O marquês foi claro, primo. Como posso me negar?
— Bem, o remédio é encarar a coisa pelo lado bom. A garota pode dar uma ótima mulher, e, afinal, já estava na hora de você pensar em estabelecer família. Escarpa Negra precisa de herdeiros, meu velho.
As palavras de Robert deixaram Gareth mais sombrio ainda.
— Robert, você me surpreende. Sabe melhor do que eu que isso está totalmente fora de questão. Não quero saber de gerar crianças, para depois vê-las sofrer por causa do san­gue que trazem nas veias.
— Pois é você que me surpreende, Gareth. Como é que ainda não tirou essa bobagem da cabeça? É um homem in­teligente, pelo menos tem a aparência de um... Olhe à sua volta, primo. Este é seu castelo, sua herança de família. Não pode perder tudo só porque acredita nessa superstição.
A boca de Gareth curvou-se num simulacro de sorriso.
— Eu não chamaria a maldição dos Devlins de supersti­ção. Nem você, se tivesse crescido e vivido à sombra dela, como eu. Essa maldição me envenena desde que nasci, e não pretendo deixá-la como herança para ninguém. Só há uma maneira de proteger meus descendentes, Robert.
E essa ma­neira é, muito simplesmente, não ter descendentes.
Os De­vlins... a família Devlin terminará comigo.

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