2 de dezembro de 2011

A Mulher de Gabriel

Série Os Anjos
Desamparada e aterrorizada por um obscuro perseguidor, aos trinta e quatro anos de idade, Victoria Childers possui apenas uma coisa de valor na vida, sua inocência. O seu preço comprará sua segurança. Mas Gabriel, um homem perigosamente lindo, compra a virgindade dela, mas o que realmente quer, é o homem que a persegue, o responsável por destruir seus sonhos inocentes. Aprisionados em um lugar onde todos os desejos podem ser cumpridos, Victoria e Gabriel vão mergulhar em um jogo de paixão onde a maior ameaça é o desejo carnal e desfrutá-lo, é a única regra de sobrevivência.

Capítulo Um

Gabriel reconheceu a mulher da capa gasta. Conhecia-a porque uma vez havia sido como ela. Com frio. Com fome. A presa perfeita para um predador preparado. Ela tinha vindo matar um anjo. Não viveria para ver o alvorecer. Vozes misturadas sobressaiam como a fumaça amarela e do fumo cinzento.   Homens com casacos negros e coletes brancos e mulheres com trajes brilhantes e jóias reluzentes se moviam entre um labirinto de mesas iluminadas por velas: de pé, sentados, recostados em cadeiras de mogno de Honduras, inclinando-se sobre toalhas de seda branca... Não sabiam que era a caça: a flor e nata da alta sociedade inglesa em busca de prazer, e os prostitutos e prostitutas de Londres que ambicionavam sua riqueza. Não sabiam que uma mulher os espreitava; o corpo de Gabriel palpitava diante aquele conhecimento. De prazer; de riqueza. De vida; de morte. Para a reinauguração da Casa de Gabriel - um local aonde era possível satisfazer qualquer desejo carnal, havia convidado tanto os clientes quanto as prostitutas.
Sexo e morte.
Uma labareda branca chispou em uma vela. Uns metros mais abaixo, um homem o olhou diretamente nos olhos. Um homem de cabelo escuro como a noite, em contraste com o loiro dele. Um homem com olhos de cor violeta, em vez de prateados.
E a face direita escurecida por cicatrizes. Vinte e sete anos de lembranças os uniam. Imagens de uma França faminta por causa da guerra em vez de uma Inglaterra inundada no inverno. Eram então dois jovens de treze anos meio mortos de fome. Tinha passado muito tempo. “Meus dois anjos”, havia dito  madame que os tinha recolhido em uma rua de Paris. “O moreno, para as mulheres; o loiro, para os homens”. Tinha-os instruído para exercer a prostituição e se transformarem em autênticos peritos; tinha lhes ensinado o oitavo pecado capital, e o tinham cometido. O brilho da vela enfraqueceu, recordando bruscamente  Gabriel da pistola que segurava em sua mão esquerda. Michael, o anjo marcado de cicatrizes, tinha vindo  proteger  Gabriel, o anjo intocável.
A vingança não seria possível sem ele. Sem ele não haveria necessidade de vingança. A mulher morreria porque um anjo de cabelos escuro vivia. E amava. Seu pulso marcava um ritmo implacável contra a culatra da arma: homens, mulheres; dor, prazer; vida, morte. O revólver Adams tinha um dispositivo de segurança: disparando manual para um disparo de precisão, disparando automático para ganhar rapidez. Podia disparar manualmente o revólver. Podia soltar o gatilho e efetuar um único disparo certeiro.
Uma bala mataria  Michael, e pararia aquele ciclo letal que já durava vinte e nove anos. Gabriel não destravou o revólver.
Não podia matar  Michael. O segundo homem tinha enviado uma mulher para que fizesse o trabalho que Gabriel não tinha feito seis meses antes. Uma pontada aguda percorreu suas costas. A mulher se interpôs entre a luz que projetavam as velas, com o Michael em seu campo visual. Pela extremidade do olho direito, Gabriel viu um garçom com jaqueta negra e colete branco inclinar-se e levantar um guardanapo de seda branca. Debaixo de Gabriel, dois garçons se aproximaram de Michael. Suas mãos permaneciam ao lado; não iam matar uma mulher. Quatro mesas mais à frente, outro garçom servia champanha de uma garrafa recém aberta. Pôde ver o brilho do vidro e até seu líquido faiscante. Do segundo homem ainda não havia nem rastro. Mas estava ali em baixo, um camaleão vestido com jaqueta negra e colete branco, disfarçado de cliente ou de prostituto, recostado em uma cadeira de mogno de Honduras ou inclinado sobre uma toalha de seda branca. Duro. Ereto. Excitado pelo calor do sexo e a expectativa do assassinato. O tempo pareceu sincronizar-se com os batimentos do coração de Gabriel. A mulher da capa espichou os braços e segurou com firmeza um objeto escuro e opaco entre as mãos. Uma pistola de metal azul não refletia a luz. Gabriel sabia por que a sua tinha essa particularidade. O ensurdecedor bulício da troca sexual se atenuou. A cabeça da mulher permanecia oculta depois de um escuro capuz, impedindo Gabriel de ver suas feições. A tristeza o transpassou como uma faca. Pelos homens e mulheres que tinham morrido; pelos homens e mulheres que morreriam. Pela mulher que estava ali abaixo, e que dentro de um instante estaria morta. Presa perfeita de um predador preparado. Gabriel apontou para a mancha clara que se adivinhava como o rosto da mulher. Nesse mesmo instante, uma clara voz feminina proclamou:
—Cavalheiros, ofereço-lhes minha virgindade. Gabriel ficou petrificado. A mulher se vestia como uma prostituta  de ruas, mas falava como uma dama distinta Uma a uma, foi parando as risadas refinadas dos homens e as afogadas risadinhas fingidas das prostitutas. O som da seda se transformou em um sussurro. As velas piscaram. O estupor deixou os garçons petrificados.

Série Os Anjos
1 - O Amante
2 - A Mulher de Gabriel
Série Concluída

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