Toda pintada e vestida de vermelho, Yola sentiu medo pela primeira vez.
Talvez fosse mesmo loucura se fazer passar por mundana só paia enfeitiçar o marquês de Montereau.
Mas havia outro jeito de descobrir toda a verdade sobre ele? Ergueu a cabeça e começou a descer a escada, fazendo, como tinha planejado, sua entrada triunfal no mundo do pecado.
Capítulo Um
1867
A condessa Marie Teresa Madeleine de Beauharnais parou no terraço que dava para o gramado e olhou na direção do rio Indre.
Meu Tudo meu!
Disse para si mesma. Depois, recostou-se na balaustrada e levantou os olhos para o castelo onde estava.
Construído numa rocha, nos limites da floresta de Chinon, suas torres fortificadas, seus torreões, janelas e chaminés se elevavam acima das árvores. Parecia um castelo de contos de fadas.
Marie Teresa podia até ver escudeiros e cavaleiros, partindo a cavalo, para lutar contra os dragões da floresta. Lembrou quando era criança e o pai lhe contava histórias de guerreiros que moravam ali.
Era comum essas histórias se misturarem com as da França. Reviu o pai chegando em casa, depois se esperá-lo durante muito tempo na porta.
— Yola! Yola! Só ele a chamava por esse apelido.
Queria batizá-la com o nome de Yolande, nome de uma de suas antepassadas famosas, mas a mãe insistiu para que tivesse apenas nome de santas.
— Yola! Yola! Conseguia lembrar a voz dele, ecoando sob a bandeira dos Beauharnais que esvoaçava sobre milhares de telhados e podia ser vista ao longe, por todos os que serviam aquelas terras.
Agora, o pai estava morto e, como não tinha filhos homens, Yola era sua única herdeira. Durante um momento, sentiu orgulho de tudo aquilo, mas depois o peso da responsabilidade a fez sentir-se pequena.
Como administraria tantas terras sem o pai?
Como conseguiria fazer tudo que tinha que ser feito sem o riso dele, sem sua conversa, apreciada por todos que moravam por ali, sem os passeios que davam juntos pelo vale do Loire?
Foi o pai quem lhe mostrou como eram privilegiados por morarem naquele local que todos chamavam de Jardim da França. Tudo ali era lindo e o ar parecia ter certa magia, tornando os habitantes diferentes dos de outras regiões da França.
Yola tinha crescido, ouvindo as histórias de escudeiros e as lendas de Joana D’Arc. Mais de uma vez fez o pai repetir a visita ao delfim, no Castelo de Chinon.
Enquanto esperava para ser recebida pelo rei, ela passara dois dias numa hospedaria perto da cidade, jejuando e rezando. Apesar das vozes misteriosas que lhe diziam como o rei poderia se livrar dos conquistadores ingleses, a maioria dos cortesãos ria dela, achando que aquela camponesa não passava de uma impostora.
Quando finalmente a deixaram entrar no castelo, o salão principal estava iluminado com cinquenta tochas, e trezentos nobres ricamente vestidos a esperavam. Para testá-la, o rei se escondeu entre os convidados e fez um cortesão usar seu manto.
Joana caminhou, envergonhada, em meio à multidão, reconheceu o futuro rei e dirigiu-se diretamente a ele. Ajoelhou-se e disse:
— Gentil delfim, meu nome é Joana. O Rei dos Céus me mandou avisar que serás coroado na cidade de Rheims e serás seu escudeiro.
Entretanto, Charles continuava hesitante. Sempre havia duvidado de que Charles VI fosse realmente seu pai, pois a mãe, Isabel da Baviera, era uma mulher de muitos amantes. — Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo — Joana disse —, estou lhe dizendo que será o futuro rei da França, pois é filho e herdeiro real.
Deve ter sido tão dramático, Yola pensou.
E como agora Joana D’Arc lhe parecia uma figura muito verdadeira, rezou a ela, pedindo coragem, pois teria que reinar sobre sua herança, como Charles sobre a dele. Sentiu-se triste e olhou novamente para o rio Indre.
Era delicioso estar em casa, depois de passar um ano em Paris, após a morte do pai.
Estava com dezoito anos e havia terminado os estudos.
Por isso, tinha voltado ao castelo, acompanhada pela avó.
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