Capítulo Um
1820
—Leona! Leona!
A voz forte de homem ressoou pelo hall, pela escadaria e chegou ao quarto, no fundo do corredor do primeiro andar, onde uma mocinha arrumava num vaso os botões de rosa recém-colhidos.
Com uma exclamação de alegria, ela saiu correndo da sala, mas antes de chegar ao alto da escada ouviu o chamado novamente.
— Leona! Onde, diabos, está essa garota?
— Estou aqui, Hughie! — ela gritou do patamar no alto da larga escada de carvalho.
Hugh olhou para cima e a viu, tendo o corpo delineado contra o painel de madeira escura que revestia a parede.
Os cachos loiros emoldurando-lhe o rosto oval, como uma auréola, emprestando-lhe um ar etéreo, quase de fada, e o vestido cinzento confundindo-se com as sombras davam a impressão, a quem a visse, de que era antes um ser espiritual do que uma pessoa.
— Por favor, Leona, gritei por você a ponto de acordar um morto! — reclamou Hugh.
— Oh, Hughie, que maravilha! Você voltou! — Leona alegrou-se.
— Eu não o esperava.
— É claro que não. Eu não disse que viria — Hugh falou rispidamente.
O tom de voz do irmão, a ruga profunda na testa e o modo agitado como ele batia o chicote de montaria nas botas hessianas revelaram a Leona que algo estava errado. Ela desceu a escada e correu para Hugh.
— O que aconteceu, Hughie? O que há de errado? Por um momento, o irmão fitou Leona como se as palavras o tivessem surpreendido.
Depois, respondeu em tom cortante:
— Tudo está errado, mas não há tempo para tagarelice. Reúna Bramwell e as criadas. Quero a casa toda bem arrumada!
— Arrumada?! Para quê?
— Sem perguntas! Faça o que eu mandei — ordenou sir Hugh Ruckley, zangado.
No mesmo instante, envergonhou-se de tratar a irmã daquela forma e desculpou-se:
— Perdoe-me, Leona. Estou numa grande encrenca, e só você pode me ajudar.
— Hughie, o que houve? — Leona levou instintivamente a mão ao peito ao fazer a pergunta; sabia que a situação era grave.
— Mais tarde, eu lhe direi — Hugh respondeu depressa.
— Vamos, toque chamando Bramwell ou grite, caso a campainha não esteja funcionando, como sempre.
— Você perdeu no jogo novamente? Oh, Hughie, não perdeu todo aquele dinheiro!
— Não, não. Acontece que ganhei. E ganharia muito mais, não fosse Chard ter-me interrompido. Maldito seja!
— Quem é Chard? — Não me diga que nunca ouviu falar de Chard.
O que vocês fazem neste lugar fora da civilização? Mas pare de me perseguir com suas perguntas, Leona, e faça o que mandei.
Sem dizer mais nada, a irmã afastou-se depressa, seus passos eram abafados pelo tapete gasto.
Atravessou o hall com graça e leveza dignas da admiração de quem a observasse, exceto da do irmão de cenho franzido. Passou sob a escadaria e parou junto da porta dupla que levava à área de serviço.
— Bramwell! — ela chamou, tendo afastado as cortinas de tecido grosso.
— Bramwell! Está aí? Ao contrário da voz ríspida do irmão, a de Leona era clara e musical.
Mas observando-se o rosto de ambos, notava-se a semelhança entre os dois.
Os cabelos claros, loiro-prateados, eram os mesmos.
Os mesmos olhos cinzentos, como um mar tempestuoso e as mesmas sobrancelhas erguidas, as quais faziam lembrar um pássaro alçando voo.
A semelhança terminava aí.
Leona era a figura de uma lanugem de cardo; Hugh era forte, tinha mais de um metro e oitenta e corpo atlético, robusto, resultado dos anos que servira como soldado na França.
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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!