23 de setembro de 2012

Dívida de Honra

A única maneira para o irmão de Leona liquidar a dívida que contraíra com o detestável Lew Quayle era dar a irmã em casamento. Quayle não fazia segredo do desejo que sentia por ela. Contudo, quando Lorde Chard chegou ao castelo, Leona soube que jamais poderia amar outro homem que não fosse ele. Mas era tarde demais: ela já estava prometida a Lew Quayle. Lorde Chard nunca, em toda sua vida, vira uma jovem tão bonita e interessante como Leona, achando, pela primeira vez, que poderia ficar para sempre ao lado de uma mulher. 



Capítulo Um 

1820 

—Leona! Leona! 
A voz forte de homem ressoou pelo hall, pela escadaria e chegou ao quarto, no fundo do corredor do primeiro andar, onde uma mocinha arrumava num vaso os botões de rosa recém-colhidos. 
Com uma exclamação de alegria, ela saiu correndo da sala, mas antes de chegar ao alto da escada ouviu o chamado novamente. 
— Leona! Onde, diabos, está essa garota? 
— Estou aqui, Hughie! — ela gritou do patamar no alto da larga escada de carvalho. 
Hugh olhou para cima e a viu, tendo o corpo delineado contra o painel de madeira escura que revestia a parede. 
Os cachos loiros emoldurando-lhe o rosto oval, como uma auréola, emprestando-lhe um ar etéreo, quase de fada, e o vestido cinzento confundindo-se com as sombras davam a impressão, a quem a visse, de que era antes um ser espiritual do que uma pessoa.
— Por favor, Leona, gritei por você a ponto de acordar um morto! — reclamou Hugh. 
— Oh, Hughie, que maravilha! Você voltou! — Leona alegrou-se. 
— Eu não o esperava. 
— É claro que não. Eu não disse que viria — Hugh falou rispidamente. 
O tom de voz do irmão, a ruga profunda na testa e o modo agitado como ele batia o chicote de montaria nas botas hessianas revelaram a Leona que algo estava errado. Ela desceu a escada e correu para Hugh. 
— O que aconteceu, Hughie? O que há de errado? Por um momento, o irmão fitou Leona como se as palavras o tivessem surpreendido.
Depois, respondeu em tom cortante: 
— Tudo está errado, mas não há tempo para tagarelice. Reúna Bramwell e as criadas. Quero a casa toda bem arrumada! 
— Arrumada?! Para quê? 
— Sem perguntas! Faça o que eu mandei — ordenou sir Hugh Ruckley, zangado. 
No mesmo instante, envergonhou-se de tratar a irmã daquela forma e desculpou-se: 
— Perdoe-me, Leona. Estou numa grande encrenca, e só você pode me ajudar. 
— Hughie, o que houve? — Leona levou instintivamente a mão ao peito ao fazer a pergunta; sabia que a situação era grave. 
— Mais tarde, eu lhe direi — Hugh respondeu depressa.
— Vamos, toque chamando Bramwell ou grite, caso a campainha não esteja funcionando, como sempre. 
— Você perdeu no jogo novamente? Oh, Hughie, não perdeu todo aquele dinheiro! 
— Não, não. Acontece que ganhei. E ganharia muito mais, não fosse Chard ter-me interrompido. Maldito seja! 
— Quem é Chard? — Não me diga que nunca ouviu falar de Chard. 
O que vocês fazem neste lugar fora da civilização? Mas pare de me perseguir com suas perguntas, Leona, e faça o que mandei. 
Sem dizer mais nada, a irmã afastou-se depressa, seus passos eram abafados pelo tapete gasto. 
Atravessou o hall com graça e leveza dignas da admiração de quem a observasse, exceto da do irmão de cenho franzido. Passou sob a escadaria e parou junto da porta dupla que levava à área de serviço. 
— Bramwell! — ela chamou, tendo afastado as cortinas de tecido grosso. 
— Bramwell! Está aí? Ao contrário da voz ríspida do irmão, a de Leona era clara e musical. 
Mas observando-se o rosto de ambos, notava-se a semelhança entre os dois. 
Os cabelos claros, loiro-prateados, eram os mesmos.
Os mesmos olhos cinzentos, como um mar tempestuoso e as mesmas sobrancelhas erguidas, as quais faziam lembrar um pássaro alçando voo.
A semelhança terminava aí. 
Leona era a figura de uma lanugem de cardo; Hugh era forte, tinha mais de um metro e oitenta e corpo atlético, robusto, resultado dos anos que servira como soldado na França.
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