17 de fevereiro de 2015

A Bailarina Misteriosa







De seu camarote forrado de veludo dourado, o príncipe Ivan Volkonski via a jovem dançarina mover-se com graça, ao som da música doce e romântica. 

Quando o espetáculo terminou, o pano desceu e os aplausos foram frenéticos.
A bailarina não voltou para agradecer os aplausos. 
Desapareceu pelos fundos do teatro, fugindo como fazia todas as noites. 
Inconformado, o príncipe decidiu descobrir onde se escondia a bela misteriosa. E, se a encontrasse, iria confessar-lhe seu grande amor!

Capítulo Um

1867
— Sua Alteza, o príncipe Ivan Volkonski! — um lacaio com a libré da embaixada britânica anunciou em voz bem alta.
Lorde Marston, que escrevia uma carta, levantou a cabeça, incrédulo; depois, pôs-se de pé num salto e exclamou:
— Ivan, meu caro amigo! Não tinha ideia de que você se encontrava em Paris.
— Acabei de chegar. Fiquei encantado quando soube que você estava aqui.
— Fui mandado a Paris para fazer a reportagem sobre a Exposição Internacional. Mas, agora que você chegou, vou negligenciar um pouco minhas obrigações, e podemos nos divertir.
— Sem dúvida. — O príncipe sentou-se numa das confortáveis poltronas da sala.
Lorde Marston e o príncipe ,— este primo do czar, eram amigos íntimos desde muito jovens, pois o pai de lorde Marston fora embaixador em São Petersburgo. Tinham os dois a mesma idade, e ambos estavam frequentemente envolvidos em orgias, tanto na Rússia como na França e Inglaterra. Eles escandalizaram a sociedade desses três países. Mas o príncipe era o maior culpado de tudo, porque lorde Marston, inglês de hábitos mais rígidos, jamais embarcaria nessas extravagâncias por si só.
Naquele instante, Marston sorria de prazer ao ver o amigo russo, e perguntou-lhe:
— Diga-me, Ivan, o que o traz aqui?
Os olhos do príncipe, sua principal atração, brilharam. Eram cor de violeta, com cílios escuros, e revelavam em sua profundeza todas as emoções. Talvez fossem aqueles olhos a causa de o príncipe ser tão assediado por mulheres, que ficavam de coração partido quando ele as deixava, o que acontecia em geral após curto tempo! 
Mas o príncipe tinha também feições clássicas, e um belo físico evidenciava sua vida passada em grande parte na sela de um cavalo. E até mesmo na corte da Rússia, em meio aos atraentes homens que frequentavam a sociedade do czar, Ivan se sobressaía.
— Quem desta vez o fez vir até aqui? — perguntou-lhe novamente lorde Marston.
— Ela era linda e tentadora! — O príncipe sorriu. — Mas tudo tem um fim, e quando o czar, a pedido da czarina, protestou contra meu procedimento, achei que minha ausência do país seria a melhor solução.
— Pensei que você tivesse vindo à procura das mulheres de Paris. De qualquer maneira, encontrará aqui os antigos flertes esperando por você, e muitas outras beldades que deliciarão sua vista. Como pode concluir, muitas delas vieram para a Exposição Internacional. Aliás, Paris está superlotada.
— Foi o que imaginei, Marston. Mas garanto que, como velhos habitués dos mais exóticos cabarés, nossa entrada não será impedida.
— Não mesmo — respondeu lorde Marston.
O príncipe não somente era muitíssimo rico mas extremamente pródigo no que dizia respeito ao seu dinheiro. Ninguém melhor que ele conseguiria obter uma boa frisa num teatro, a melhor mesa num restaurante e convites nas mansões da moda.
— Como está a Rússia? — indagou lorde Marston.
— Intolerável — foi a breve resposta.
— Que houve agora? Achei que tudo ia se transformar num mar de rosas após a emancipação dos escravos.
— Achamos também que teríamos uma permanente idade do ouro, mas os camponeses não entenderam bem a responsabilidade que caberia a eles com a posse dás terras.
— Eu estava presente naquele domingo, quando se leu a proclamação do fim da escravatura em todas as igrejas. O czar Alexander foi cognominado de “O Czar Libertador” — observou lorde Marston. — Ainda posso ouvir os aplausos da audiência.
— Não os esqueci tampouco — replicou o príncipe. — O êxtase do povo foi indescritível.
— Então, o que houve de errado?
— Os escravos libertos acreditaram que o czar lhes dera as terras de presente, sem ônus de espécie alguma. Depois, foram informados de que deveriam pagar impostos; e isso os fez mais pobres ainda, embora livres.
— É possível?!

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Sandra, tem de estar no grupo o face pra isso, se não está leia Ajuda. bjs e seja bem-vinda!

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Oiii você não vai sair sem comentar nada vai? Ou que tal indicar o que leu. Ou então uma resenha heheheheh...Todo mundo agradece, super beijo!