1 de fevereiro de 2015

Da Magia á Sedução

Hippolyta afirmava que simplesmente buscava “a sabedoria oculta do universo” a fim de usá-la para fazer o bem. 

Para todas as outras pessoas, no entanto, ela era uma bruxa. 
Ela era também uma jovem viúva, condessa de Trevalyen e senhora da misteriosa e encantada Rookeshaven, determinada a continuar se dedicando aos seus estudos de magia... 
Até que o amor surgiu de repente para complicar a sua vida.
Julian St. Ives foi a Rookeshaven para aprender com Hippolyta a arte da cura. A atração entre os dois foi imediata e irresistível. Mas quando uma intriga de família e um insidioso perigo começaram a rondá-los e ameaçá-los, só restava a Julian e Hippolyta provar que o amor de ambos não era fruto de feitiçaria, e sim de outro tipo de encantamento...

Capítulo Um

Diana Neysmith deitou-se sobre uma pilha de travesseiros macios e arrumou com capricho as madeixas escuras sobre as fronhas alvas. Estava acordada havia algum tempo e terminara de passar uma camada generosa de pó de arroz nas faces redondas e róseas, além de uma sombra escura sob os olhos. 
Era preciso empregar qualquer recurso disponível para ocultar a coloração saudável do rosto que não traduzia os sofrimentos de um destino que considerava tão injusto.
Admitiu que a visão da fisionomia pálida no espelho fora convincente e que o espetáculo de seu sofrimento enterneceria o mais empedernido dos corações. Atuaria como uma pobrezinha sem vontade própria, se fosse para esmagar os ditames da má sorte que a perseguia. Para tanto executaria sua parte à perfeição. No momento, só lhe restava esperar Jane que traria a bandeja com o café da manhã.
Não demorou muito e a paciência de Diana foi recompensada. Na verdade, ela encarou como um bom presságio cantarolar uma melodia triste pouco antes de a criada entrar.
Ele cavalgou, cavalgou.
Até encontrar seis jovens que carregavam um cadáver vestido de branco.
Deixem-na aqui, deixem-na aqui perto de mim para que eu possa beijar-lhe os lábios brancos como gesso, antes que ela seja levada para sempre.
Diana foi forçada a limpar uma pequena lágrima que ameaçava fazer uma trilha reveladora na face empoada e destruir seu trabalho, quando Jane empurrou a porta com um dos lados do quadril grande. Se não tivesse boa saúde, Diana julgou, com uma fungadela, a canção poderia muito bem ter sido inspirada nela.
— Ai de mim, minha filha — Jane queixou-se, pesarosa, e carregou a bandeja pesada até a cama de sua jovem patroa. — O céu está azul, mas acredito que não demora a escurecer. Estou sentido muita dor nos ossos, um prenúncio de tempo ruim. Ah, minha filha, não desperdicemos minutos preciosos com minhas agruras. Eu lhe trouxe o desjejum, não sem antes ter repreendido a cozinheira por causa do aspecto do bacon. Se a carne lhe fizer mal, a culpa recairá sobre ela. Srta. Diana, não se incomode comigo. Sente-se e coma. A senhorita tem de se aprontar o mais rápido possível para a viagem de hoje.
Diana não se preparou para comer com a animação costumeira. Gemeu e virou a cabeça, refletindo que teria sido sensato devorar uma lauta refeição a noite anterior.
— Jane — ela falou com fraqueza fingida —, nada me apetece.
— Por que, srta. Diana? — Jane exclamou, preocupada. — Não quer chocolate? Nem ovos quentes? Nem um bolinho delicioso? Santo Deus, misericórdia! — O fato de sua jovem patroa não ter apetite era preocupante.
Em vez de responder, Diana suspirou dramaticamente e fitou o teto.
— A senhorita não vai sarar a tempo! — Jane exclamou, atirando as mãos para cima. — Oh, meu Deus! E a família está se aprontando com intuito de ir para Brighton hoje. Que transtorno! Nem posso imaginar o que o patrão vai dizer!
Diana exagerou um gemido de cortar o coração.
— Por mais que eu deteste a tarefa, acho melhor chamar lady Ann! Creio que ela não vai gostar nada disso, srta. Diana. Sabe muito bem que não será possível desmarcar a viagem de férias que ela tem aguardado com muita ansiedade. Milady se sentirá frustrada. A senhorita não acha que poderia melhorar um pouco e ficar doente em Brighton?
Determinada, Diana pôs um braço sobre a testa e tornou a gemer, dessa vez com energia renovada. Não viajaria para Brighton! Seu coração não suportaria. Nenhum poder no mundo a forçaria a enfrentar Brighton, um local nocivo, com amantes indecorosos que infestavam ruas e parques...
— Srta. Diana, eu não gostaria nem um pouco de dar essa notícia para lady Ann — Jane continuou a se lamentar —, pois ela fará um espalhafato. Tenho certeza de que a causa foi a reunião absurda da noite passada. Tenho dito mais de uma vez que o ar úmido da noite não é salubre. Muitas jovens morreram por causa disso. Ah, por favor, srta. Diana, por favor — ela quase gritou e levou as mãos ao peito —, por favor, tente não morrer! Se tal fato ocorresse, tenho certeza de que seria ainda mais chocante para lady Ann do que não ir para Brighton!
Diante da última tolice, Diana soltou-se das garras do sinistro anjo da morte e apoiou-se nos cotovelos, irritada.
— Pelo amor de Deus, Jane, vá de uma vez chamar minha mãe! Preciso falar com ela e não tenho o dia inteiro disponível!




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