E se nem mesmo a morte dele a libertasse dele? Quando o Barão Hamilton morre inesperadamente, sua viúva, a jovem Marian Fillmore, acredita que finalmente se livrará de um marido abusivo e violento. No entanto, as condições estabelecidas no testamento a obrigarão a permanecer presa a um lugar que odeia e à cunhada, tão cruel e despótica quanto seu irmão. A chegada do filho do Barão, vindo da América, será a única luz de esperança no futuro de Marian. Só ele poderá mudar o seu destino e o da pessoa que ama, embora o preço a pagar seja muito alto. Porque, até que ponto é permitido sentir-se atraída pelo filho do seu falecido marido?
Capítulo Um
Inglaterra, 1820
“Tomara que caia do cavalo e quebre o pescoço”, pensou Marian. “Espero que um raio o atinja e o divida ao meio”. Ela se odiava por ter esse tipo de pensamento, o que certamente a levaria direto para o inferno assim que seus dias na Terra terminassem. No ritmo que avançava, não demoraria muito para isso acontecer.
Tirou a camisola e a deixou na cama bagunçada. Então se virou e olhou para seu corpo magro refletido na superfície do espelho. O hematoma em sua coxa havia começado a adquirir um tom amarelado, igual ao que adornava seu lado direito. No braço esquerdo, destacava-se a mais recente, quase como uma ofensa, que vinha acompanhado de outro da mesma cor no pulso. Ela odiava aquela maldita vara que o Barão sempre carregava consigo. Já havia perdido a conta de todas as marcas que adornaram seu corpo nos últimos seis anos. No final, todos acabavam desaparecendo, exceto aqueles que perfuraram sua pele até sangrar. Essas sempre estariam ali: uma cicatriz embaixo da sobrancelha esquerda, outra no queixo, mais uma no dorso da mão direita e outra que cruzava as costas de um lado ao outro, a mais dolorida de todas e também a mais antiga. Essa havia recebido na primeira vez que tentara escapar daquela casa.
Percebeu que havia passado muito tempo olhando seu corpo pálido no espelho. Se não se apressasse, logo estaria recebendo outro tipo de castigo, e os golpes que recebera na noite anterior ainda doíam demais. Rapidamente vestiu suas roupas simples e penteou o cabelo rapidamente. Há muito desistira de ter uma donzela; o fato de uma estranha testemunhar seu sofrimento lhe produzia dor no estomago. Não tinha escolha a não ser suportar. Devia fazê-lo por Richard. Desceu as escadas correndo e no corredor foi recebida por sua cunhada, Lady Hamilton, que lhe lançou um olhar de desdém que conhecia muito bem. O tom de sua voz, tão aguda e estridente que fazia sua pele se arrepiar, varreu de repente o sol que entrava pelas janelas.
— Já é tarde, Marian. Muito tarde. Por sua causa, o café da manhã vai esfriar e isso é algo que não pode ser permitido. Nesta casa existem regras e elas devem ser seguidas. — Sua voz caiu uma oitava. — Já sabes.
— Sim, Lady Hamilton, — ela respondeu, de cabeça baixa. Nunca, nos seis anos desde que se casou com o Barão de Hartford, ousara chamar a cunhada pelo primeiro nome. Essa mulher podia ser sua mãe, até mesmo sua avó, e em outras circunstâncias teria sido um alívio ter uma aliada em casa. Mas Ellen Hamilton era tão cruel e despótica quanto seu irmão. Na verdade, o hematoma que marcava seu lado foi obra dela, por não ter supervisionado o jantar com o cuidado necessário na quinta-feira anterior.
— Meu irmão já saiu a cavalo, — anunciou, erguendo-se e antecedendo-a até a sala de jantar. — Teve que inspecionar um terreno ao norte da propriedade e decidiu não esperar por nós.
— Está bem, minha senhora — concordou Marian, feliz por não ter que olhar para o rosto de seu marido naquela manhã.
Ambas comeram em silêncio. Marian mal tocou em um dos pães, que beliscou pensativa.
— Que maneira de desperdiçar comida! — Sua cunhada estalou amargamente. — Nota-se que você não precisa pagá-la!
— Desculpe-me, minha senhora, — a jovem sussurrou, tentando se concentrar em seu prato.
Na verdade, teria gostado de responder-lhe, de lhe dizer que preferia morrer de fome a dividir um pedaço de pão com ela; que, certamente não havia pagado um centavo pela comida que entrava naquela casa, mas que, por outro lado, havia pago com juros pelo seu direito de esfarelar um pãozinho na hora do café da manhã. Ela pensou em Richard novamente e se perguntou o que ele estaria fazendo e se pelo menos era feliz.
Ela balançou a cabeça contra as lágrimas que ameaçavam subir por sua garganta, como se pudesse afastá-las. Lady Hamilton lançou-lhe um olhar de desaprovação enquanto tomava um gole de chá, seus lábios pálidos e rígidos franzidos em um beicinho que fez Marian sentir náuseas.
Estavam prestes a terminar quando se ouviu uma batida na porta exterior e uma série de vozes raivosas. Se perguntou o que estava acontecendo e temeu que um dos servos tivesse sofrido a ira do mestre. No ritmo que iam, logo não haveria pessoal na Inglaterra disponível para o Barão de Hartford. No tempo que estava ali conheceu sete mordomos, cinco cozinheiros, quatro cavalariços e um número infinito de serventes e criados. Ninguém aguentava muito ao comando do Barão e todos acabavam fugindo. Até ela havia tentado, duas vezes.
Lady Hamilton se endireitou e dirigiu seu olhar para a porta da sala de jantar, como se com isso pudesse perfurar a madeira grossa e derrubar quem quer que estivesse interrompendo o café da manhã. Marian olhou por um momento para o coque rígido que sempre enfeitava a cabeça de sua cunhada, obra de sua criada. Se perguntou se sua cabeça não doía por ter o cabelo puxado para trás. Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e o cavalariço apareceu na soleira.
— Mas como se atreve?!
Capítulo Um
Inglaterra, 1820
“Tomara que caia do cavalo e quebre o pescoço”, pensou Marian. “Espero que um raio o atinja e o divida ao meio”. Ela se odiava por ter esse tipo de pensamento, o que certamente a levaria direto para o inferno assim que seus dias na Terra terminassem. No ritmo que avançava, não demoraria muito para isso acontecer.
Tirou a camisola e a deixou na cama bagunçada. Então se virou e olhou para seu corpo magro refletido na superfície do espelho. O hematoma em sua coxa havia começado a adquirir um tom amarelado, igual ao que adornava seu lado direito. No braço esquerdo, destacava-se a mais recente, quase como uma ofensa, que vinha acompanhado de outro da mesma cor no pulso. Ela odiava aquela maldita vara que o Barão sempre carregava consigo. Já havia perdido a conta de todas as marcas que adornaram seu corpo nos últimos seis anos. No final, todos acabavam desaparecendo, exceto aqueles que perfuraram sua pele até sangrar. Essas sempre estariam ali: uma cicatriz embaixo da sobrancelha esquerda, outra no queixo, mais uma no dorso da mão direita e outra que cruzava as costas de um lado ao outro, a mais dolorida de todas e também a mais antiga. Essa havia recebido na primeira vez que tentara escapar daquela casa.
Percebeu que havia passado muito tempo olhando seu corpo pálido no espelho. Se não se apressasse, logo estaria recebendo outro tipo de castigo, e os golpes que recebera na noite anterior ainda doíam demais. Rapidamente vestiu suas roupas simples e penteou o cabelo rapidamente. Há muito desistira de ter uma donzela; o fato de uma estranha testemunhar seu sofrimento lhe produzia dor no estomago. Não tinha escolha a não ser suportar. Devia fazê-lo por Richard. Desceu as escadas correndo e no corredor foi recebida por sua cunhada, Lady Hamilton, que lhe lançou um olhar de desdém que conhecia muito bem. O tom de sua voz, tão aguda e estridente que fazia sua pele se arrepiar, varreu de repente o sol que entrava pelas janelas.
— Já é tarde, Marian. Muito tarde. Por sua causa, o café da manhã vai esfriar e isso é algo que não pode ser permitido. Nesta casa existem regras e elas devem ser seguidas. — Sua voz caiu uma oitava. — Já sabes.
— Sim, Lady Hamilton, — ela respondeu, de cabeça baixa. Nunca, nos seis anos desde que se casou com o Barão de Hartford, ousara chamar a cunhada pelo primeiro nome. Essa mulher podia ser sua mãe, até mesmo sua avó, e em outras circunstâncias teria sido um alívio ter uma aliada em casa. Mas Ellen Hamilton era tão cruel e despótica quanto seu irmão. Na verdade, o hematoma que marcava seu lado foi obra dela, por não ter supervisionado o jantar com o cuidado necessário na quinta-feira anterior.
— Meu irmão já saiu a cavalo, — anunciou, erguendo-se e antecedendo-a até a sala de jantar. — Teve que inspecionar um terreno ao norte da propriedade e decidiu não esperar por nós.
— Está bem, minha senhora — concordou Marian, feliz por não ter que olhar para o rosto de seu marido naquela manhã.
Ambas comeram em silêncio. Marian mal tocou em um dos pães, que beliscou pensativa.
— Que maneira de desperdiçar comida! — Sua cunhada estalou amargamente. — Nota-se que você não precisa pagá-la!
— Desculpe-me, minha senhora, — a jovem sussurrou, tentando se concentrar em seu prato.
Na verdade, teria gostado de responder-lhe, de lhe dizer que preferia morrer de fome a dividir um pedaço de pão com ela; que, certamente não havia pagado um centavo pela comida que entrava naquela casa, mas que, por outro lado, havia pago com juros pelo seu direito de esfarelar um pãozinho na hora do café da manhã. Ela pensou em Richard novamente e se perguntou o que ele estaria fazendo e se pelo menos era feliz.
Ela balançou a cabeça contra as lágrimas que ameaçavam subir por sua garganta, como se pudesse afastá-las. Lady Hamilton lançou-lhe um olhar de desaprovação enquanto tomava um gole de chá, seus lábios pálidos e rígidos franzidos em um beicinho que fez Marian sentir náuseas.
Estavam prestes a terminar quando se ouviu uma batida na porta exterior e uma série de vozes raivosas. Se perguntou o que estava acontecendo e temeu que um dos servos tivesse sofrido a ira do mestre. No ritmo que iam, logo não haveria pessoal na Inglaterra disponível para o Barão de Hartford. No tempo que estava ali conheceu sete mordomos, cinco cozinheiros, quatro cavalariços e um número infinito de serventes e criados. Ninguém aguentava muito ao comando do Barão e todos acabavam fugindo. Até ela havia tentado, duas vezes.
Lady Hamilton se endireitou e dirigiu seu olhar para a porta da sala de jantar, como se com isso pudesse perfurar a madeira grossa e derrubar quem quer que estivesse interrompendo o café da manhã. Marian olhou por um momento para o coque rígido que sempre enfeitava a cabeça de sua cunhada, obra de sua criada. Se perguntou se sua cabeça não doía por ter o cabelo puxado para trás. Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e o cavalariço apareceu na soleira.
— Mas como se atreve?!
Quero ler....interessante. 0brigada
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