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28 de maio de 2024

A Rosa de Hereford

Às vezes é só na adversidade que descobrimos nossa verdadeira coragem.
No meio da campanha contra Napoleão e após a morte de seu irmão, Nicholas Hancock deixa o exército para se tornar o novo conde de Sedgwick. Com ele, traz uma promessa que será obrigado a quebrar quando a jovem Madeleine Radford cruzar seu caminho. Forçado a se casar com ela para evitar um escândalo, Nicholas decide bani-la para sua propriedade mais desolada e longe de Londres. Onze anos depois, após se encontrar em uma festa com o rei e ele expressar seu desejo de conhecer sua esposa Madeleine, Nicolas não terá escolha a não ser procurá-la novamente. Mas a mulher que encontra em Hereford não é mais a jovem assustada e tímida que deixou para trás. Nem mesmo aquela propriedade desmantelada é a mesma que legou a ela.
Pode o amor nascer das cinzas do ressentimento? E o tempo cura as feridas do despeito? Nicholas e Madeleine terão que enfrentar seu passado para descobrir.

Capítulo Um

Londres, Inglaterra, outono de 1813.
Nicholas Hancock estava entediado, e muito. Esta era a quarta festa que participava desde que, em uma reviravolta inesperada do destino, se tornou o novo conde de Sedgwick após a morte de seu irmão Robert, de gripe. Sentado na sala de estar com o resto dos cavalheiros com quem compartilhava a noite, assistia intrépido às conversas que aconteciam ao seu redor, totalmente alheio a elas. Nem mesmo interveio naqueles que diziam respeito à guerra que ainda se travava no continente contra Bonaparte. Ele havia decidido que não valia a pena expor esses aristocratas que pareciam saber tanto sobre uma luta da qual não haviam participado e nunca participariam. Apenas os pobres e sonhadores foram para a guerra; o resto ficou confortavelmente em casa opinando sobre isso e clamando aos céus pela escassez de vitórias decisivas.
Achou que nem valeria a pena contar a eles sobre sua própria experiência. Em La Coruña, sob forte fogo inimigo, havia levado o corpo de Arthur para longe da briga, e até os franceses, tão atordoados quanto seus próprios homens, fizeram um cessar-fogo para tirá-lo dali. Nem ajudaria, refletiu, se explicasse a eles que meses depois disso, ele e Julien se alistaram novamente. Nem teriam entendido que seus ossos doíam ao não poder se juntar ao amigo para continuar a luta, porque agora devia à sua família e seu título recém-adquirido.
Ele se recostou na cadeira, aquecendo um copo de conhaque nas mãos do qual mal tomara alguns goles, ao lado de um fogo que crepitava com uma alegria que ele achava quase ofensiva. Onde estaria Julien naquele momento? Ambos haviam lutado juntos na batalha de Vitória há apenas quatro meses, sob o comando do general Wellesley. Eles derrotaram os franceses e de alguma forma sentiram que estavam se vingando da morte de Arthur. No meio daquela confusão, uma bala de mosquete perfurou o ombro de Nicholas, quase tirando sua vida. Foi no hospital de campanha improvisado, cercado pelos gritos e sangue de seus compatriotas, que ele soube que seu irmão mais velho havia morrido e deveria retornar a Londres imediatamente. Ele não tinha visto seu amigo desde então, e só tinha recebido algumas cartas concisas. As tropas aliadas se preparavam para enfrentar mais uma vez aquele corso que devastara a Europa em seu caminho e que, pouco a pouco, parecia perder as forças.
Nicholas não era de rezar. Na verdade, nem estava convencido de que acreditava em Deus. Mas houve momentos em que queria ter uma fé ardente que lhe permitisse comunicar-se com seu Criador para pedir pela vida de Julien, seu irmão de sangue.
Ele ergueu os olhos de seu copo e examinou os homens espalhados pela sala. Fumavam ou conversavam em pequenos grupos, com suas roupas bem passadas e os sapatos engraxados, as mãos tão limpas que poderiam ter comido com eles. Era difícil para ele se identificar como um deles. Não tinham absolutamente nada em comum, nada além de terem nascido em uma das famílias mais privilegiadas da Inglaterra. Isso era tudo.
De repente sentiu frio em seus pés, como se estivessem submersos na neve novamente, e ele teve que resistir à vontade de tirar as botas e verificar se todos os dedos ainda estavam lá, pelo menos os que ele ainda tinha. Na estrada de Lugo para La Coruña, quase tão infernal quanto a travessia da montanha, ele finalmente perdeu uma de suas botas e foi forçado a terminar a marcha com o pé esquerdo envolto no cobertor de campanha. Como resultado, sofreu a amputação de dois dedos. Ninguém sabia. Não era perceptível e ele nunca andava descalço. As poucas mulheres com quem ele dormiu desde então também não tinham notado. Quem olha para os pés do homem com quem compartilha o leito? Incapaz de afastar aquela sensação, ele se levantou. Como se ele tivesse dado a ordem de sair, os cavalheiros seguiram o exemplo e começaram a sair da sala para se juntar às damas na sala de estar. Lá estava sua mãe, Maud Hancock, na companhia da anfitriã, Lady Chapman. As duas mulheres tinham sido amigas de infância e, quando jovem, Nicholas passou quase tanto tempo lá quanto em sua própria casa. Na verdade, o segundo filho da condessa tinha sido um bom amigo: Anthony. E Anthony estava nesse momento em lua de mel com Candance, irmã de Arthur Chestney. Retornando da guerra, ele descobriu que a mulher que deveria ter se tornado sua esposa era a noiva de um de seus melhores amigos. O destino a havia levado para longe dele.
Ao lado de sua mãe e Lady Chapman estava a Baronesa Radford, uma mulher de origem francesa cujo sotaque o deixava louco toda vez que ouvia, o que acontecia com mais frequência do que queria. Ela e sua mãe eram quase amigas, ou pelo menos suas respectivas mães haviam sido, o que as tornava mais do que apenas conhecidas. Nicholas lembrou-se de ouvir uma vez que as damas francesas eram as mais elegantes de todas as cortes européias. Aquela senhora devia estar há muitos anos fora de Paris, a julgar pelas cores berrantes e os adereços ostensivos com que se adornava. O pior, porém, foi que ela forçava a filha a imitá-la. Nicholas nem sabia o nome dessa jovem tímida, magra como um suspiro, com olhos esverdeados grandes e bonitos, mas tão cheios de laços, cachos e enfeites que era impossível notar qualquer coisa além de suas muitas bijuterias. Já havia sido apresentado a ela em duas ocasiões queria se lembrar, mas não conseguiu reter seu nome. As matronas estavam sozinhas agora, e se perguntou onde aquela pobre criatura estaria escondida.
Nicholas cumprimentou sua mãe e suas acompanhantes e ficou com elas por alguns minutos, conforme exigido pelas regras mais elementares de cortesia. A noite mal havia chegado à metade e ele já estava ansioso para sair dali.
— Me faria um favor, milorde? — Disse a baronesa naquele momento, arrastando os erres.
— Como disse? — Se desculpou. Ele se amaldiçoou por não prestar atenção na conversa.
— Eu queria saber se você faria a gentileza de buscar meu xale? — Disse a mulher com um sorriso bobo. — Acho que esqueci no quarto de inverno.
— Você está com frio, Suzanne? — Perguntou Lady Chapman.
— A uma certa idade, minha querida, a gente está sempre com frio. — Respondeu a Baronesa.
— Querido, você nos faria um favor...?


30 de novembro de 2023

O futuro tem o seu nome

E se seu marido fosse seu pior inimigo? 

E se nem mesmo a morte dele a libertasse dele? Quando o Barão Hamilton morre inesperadamente, sua viúva, a jovem Marian Fillmore, acredita que finalmente se livrará de um marido abusivo e violento. No entanto, as condições estabelecidas no testamento a obrigarão a permanecer presa a um lugar que odeia e à cunhada, tão cruel e despótica quanto seu irmão. A chegada do filho do Barão, vindo da América, será a única luz de esperança no futuro de Marian. Só ele poderá mudar o seu destino e o da pessoa que ama, embora o preço a pagar seja muito alto. Porque, até que ponto é permitido sentir-se atraída pelo filho do seu falecido marido?

Capítulo Um

Inglaterra, 1820
“Tomara que caia do cavalo e quebre o pescoço”, pensou Marian. “Espero que um raio o atinja e o divida ao meio”. Ela se odiava por ter esse tipo de pensamento, o que certamente a levaria direto para o inferno assim que seus dias na Terra terminassem. No ritmo que avançava, não demoraria muito para isso acontecer.
Tirou a camisola e a deixou na cama bagunçada. Então se virou e olhou para seu corpo magro refletido na superfície do espelho. O hematoma em sua coxa havia começado a adquirir um tom amarelado, igual ao que adornava seu lado direito. No braço esquerdo, destacava-se a mais recente, quase como uma ofensa, que vinha acompanhado de outro da mesma cor no pulso. Ela odiava aquela maldita vara que o Barão sempre carregava consigo. Já havia perdido a conta de todas as marcas que adornaram seu corpo nos últimos seis anos. No final, todos acabavam desaparecendo, exceto aqueles que perfuraram sua pele até sangrar. Essas sempre estariam ali: uma cicatriz embaixo da sobrancelha esquerda, outra no queixo, mais uma no dorso da mão direita e outra que cruzava as costas de um lado ao outro, a mais dolorida de todas e também a mais antiga. Essa havia recebido na primeira vez que tentara escapar daquela casa.
Percebeu que havia passado muito tempo olhando seu corpo pálido no espelho. Se não se apressasse, logo estaria recebendo outro tipo de castigo, e os golpes que recebera na noite anterior ainda doíam demais. Rapidamente vestiu suas roupas simples e penteou o cabelo rapidamente. Há muito desistira de ter uma donzela; o fato de uma estranha testemunhar seu sofrimento lhe produzia dor no estomago. Não tinha escolha a não ser suportar. Devia fazê-lo por Richard. Desceu as escadas correndo e no corredor foi recebida por sua cunhada, Lady Hamilton, que lhe lançou um olhar de desdém que conhecia muito bem. O tom de sua voz, tão aguda e estridente que fazia sua pele se arrepiar, varreu de repente o sol que entrava pelas janelas.
— Já é tarde, Marian. Muito tarde. Por sua causa, o café da manhã vai esfriar e isso é algo que não pode ser permitido. Nesta casa existem regras e elas devem ser seguidas. — Sua voz caiu uma oitava. — Já sabes.
— Sim, Lady Hamilton, — ela respondeu, de cabeça baixa. Nunca, nos seis anos desde que se casou com o Barão de Hartford, ousara chamar a cunhada pelo primeiro nome. Essa mulher podia ser sua mãe, até mesmo sua avó, e em outras circunstâncias teria sido um alívio ter uma aliada em casa. Mas Ellen Hamilton era tão cruel e despótica quanto seu irmão. Na verdade, o hematoma que marcava seu lado foi obra dela, por não ter supervisionado o jantar com o cuidado necessário na quinta-feira anterior.
— Meu irmão já saiu a cavalo, — anunciou, erguendo-se e antecedendo-a até a sala de jantar. — Teve que inspecionar um terreno ao norte da propriedade e decidiu não esperar por nós.
— Está bem, minha senhora — concordou Marian, feliz por não ter que olhar para o rosto de seu marido naquela manhã.
Ambas comeram em silêncio. Marian mal tocou em um dos pães, que beliscou pensativa.
— Que maneira de desperdiçar comida! — Sua cunhada estalou amargamente. — Nota-se que você não precisa pagá-la!
— Desculpe-me, minha senhora, — a jovem sussurrou, tentando se concentrar em seu prato.
Na verdade, teria gostado de responder-lhe, de lhe dizer que preferia morrer de fome a dividir um pedaço de pão com ela; que, certamente não havia pagado um centavo pela comida que entrava naquela casa, mas que, por outro lado, havia pago com juros pelo seu direito de esfarelar um pãozinho na hora do café da manhã. Ela pensou em Richard novamente e se perguntou o que ele estaria fazendo e se pelo menos era feliz.
Ela balançou a cabeça contra as lágrimas que ameaçavam subir por sua garganta, como se pudesse afastá-las. Lady Hamilton lançou-lhe um olhar de desaprovação enquanto tomava um gole de chá, seus lábios pálidos e rígidos franzidos em um beicinho que fez Marian sentir náuseas.
Estavam prestes a terminar quando se ouviu uma batida na porta exterior e uma série de vozes raivosas. Se perguntou o que estava acontecendo e temeu que um dos servos tivesse sofrido a ira do mestre. No ritmo que iam, logo não haveria pessoal na Inglaterra disponível para o Barão de Hartford. No tempo que estava ali conheceu sete mordomos, cinco cozinheiros, quatro cavalariços e um número infinito de serventes e criados. Ninguém aguentava muito ao comando do Barão e todos acabavam fugindo. Até ela havia tentado, duas vezes.
Lady Hamilton se endireitou e dirigiu seu olhar para a porta da sala de jantar, como se com isso pudesse perfurar a madeira grossa e derrubar quem quer que estivesse interrompendo o café da manhã. Marian olhou por um momento para o coque rígido que sempre enfeitava a cabeça de sua cunhada, obra de sua criada. Se perguntou se sua cabeça não doía por ter o cabelo puxado para trás. Seus pensamentos foram interrompidos quando a porta se abriu e o cavalariço apareceu na soleira.
— Mas como se atreve?!