Série Irmãos de de Armas
Um foragido com mais honra que a maioria dos cavaleiros salvou Lady Elizabeth D’Averette de um destino pior que a morte, e ela decidiu recompensar sua valorosa intervenção.
Entretanto, não pagaria um preço muito alto ao dormir em sua cama, embora fosse castamente? Finn apreciava a coragem, uma virtude que Lizette tinha em abundância. Seu caráter aventureiro parecia com o dela e estava disposta a acompanhá-lo em uma perigosa missão para resgatar ao Ryder, o irmão de Finn, e trazer à luz alguns segredos muito bem guardados da corte real. No entanto, era possível que uma nobre tão bela pudesse chegar a querer a um plebeu irlandês?
Capítulo Um
Midlands, 1204.
— Acreditava que ia enlouquecer se tivesse que seguir sentada nessa carroça. — Se queixou Lady Elizabeth de Averette, enquanto levantava a barra da saia e se dirigia para beira de um riacho.
— Não acha que deveríamos ficar com os homens? — Perguntou sua donzela que olhava nervosamente à escolta de soldados que também tinham desmontado.
Os homens brincavam e amaldiçoavam entre eles enquanto levavam os cavalos para água ou os deixavam pastando na erva abundante que havia ao lado da estrada. Alguns tinha tirado de seu alforje pedaços de pão ou davam goles de cerveja.
O líder do cortejo, Iain Mac Kendren, não fazia nenhuma coisa nem outra. Estava com braços nos quadris e com os pés bem plantados no chão, como se fosse uma estátua, apenas o ligeiro movimento de sua cabeça dava a entender que estava vivo e vigilante.
— Ontem à noite ouvi o hospedeiro falar sobre um ladrão que assalta aos viajantes por esta área. — Disse Keldra quase sem respirar pelo medo. — Um homem enorme, bárbaro e espantoso!
Lizette, como conheciam suas irmãs e o povo de Averette, a olhou com um sorriso condescendente. Keldra só tinha quinze anos e não estava acostumada a viajar. Não admirava que se assustasse com qualquer história de ladrões, por mais exagerada ou desatinada que fosse.
— Segundo uma das moças, é um ladrão muito bonito. Também disse que não rouba às mulheres se elas derem um beijo, mas me parece algo saído de canção de um menestrel. Mas, seja como for o ladrão, temos cinquenta homens para nos proteger, além do Iain Mac Kendren, e estou segura de que não nos acontecerá nada.
— Isso espero. — Sussurrou Keldra como temesse que o ladrão pudesse ouvi-la.
Lizette, sorridente e encantada de sair da fechada carroça, tirou a tiara de prata e o véu de seda e se agachou à beira do riacho.
— Se ele se contenta com um beijo em vez de minhas roupas e joias, acredito que até poderia me divertir conhecendo-o.
— Milady...! — Exclamou Keldra escandalizada, o qual demonstrou o pouco que conhecia a sua senhora.
Lizette pegou água com as mãos e a levou aos lábios.
— Você não gostaria de beijar um canalha bonito?
— Não se for um foragido!
— Eu preferiria beijar a um foragido bonito do que alguns cortesãos, que acham obviamente que eu quero casar com eles.
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17 de julho de 2019
7 de março de 2009
Série Família Sparhawks
1- INSENSATA PAIXÃO - COLUMBINE
Com palavras cruéis, ele a levou à condenação!
O mundo dourado de privilégios havia se esfacelado.
Revoltada, Dianna Grey olhava para suas companheiras de cela, presas por embriaguez, prostituição ou roubo.
Ela, a nobre dama inglesa, era a única acusada por tentativa de assassinato.Com tristeza, lembrou-se da farsa do julgamento, da implacável condenação.
Para escapar da forca, restava-lhe apenas a alternativa de embarcar num navio de degredados criminosos, rumo às colônias americanas, para trabalhar para algum fazendeiro que a comprasse.
Kit Sparhawk viu Dianna desembarcar sem lágrimas no Novo Mundo.Admirou sua coragem e sentiu-se terrivelmente atraído pela jovem encantadora.
Mas não iria suavizar a realidade de Dianna ... Para Kit Sparhawk, ela merecia mesmo ser castigada.
Capitulo Um
Londres, 1704
— Vinte passos até a margem do tapete vermelho turco, doze mais para percorrer a largura, então, outros vinte de volta à lareira...
Sem parar, Kit Sparhawk contava os passos a fim de conter a impaciência.
Eram quase nove horas da noite e uma lua pálida de inverno iluminava o alto das janelas da biblioteca na mansão de sir Henry Ashe. Somente a promessa feita a Jonathan o mantinha ali.
Ao pensar no irmão, delirando de lebre e dor, Kit contraiu os músculos da face.
Em lugar de Jonathan, ele linha viajado durante oito semanas e através de dez mil quilômetros. Quatro horas a mais na casa do barão não fariam a mínima diferença, ponderou. Além do mais, era um dever para com o irmão.
Mesmo assim, não deixava de ser exasperante esperar por sir Henry.
Nobre ou não, tratava-se de um homem malandro, gordo, espalhafatoso e dissimulado demais para ser sócio em negócios. Um grande velhaco, na verdade.
Dezoito, dezenove, vinte passos, virar...
Mais uma vez, Kit reprimiu a irritação contando as marcas feitas pelas botas no tapete macio. As ordens para saques bancários estavam na escrivaninha à espera da assinatura que sir Henry não achava tempo para dar.
Pois nessa noite, não sairia dali sem que o homem o fizesse.
Estava cansado das desculpas do barão. Com a mão direita cerrada, esmurrou a palma da esquerda ao lembrar-se de como sir Henry havia tentado, de todas as maneiras possíveis, evadir-se do pagamento das dívidas.
As colônias não estavam livres de salafrários, Deus era testemunha, porém nos três meses passados em Londres, Kit não tinha conhecido um único homem em quem confiasse além de um aperto de mão.
Atirou-se numa das poltronas de brocado e deixou o olhar prender-se nas chamas da lareira. Graças a Deus, estaria velejando novamente dentro de duas semanas.
Londres ficaria para trás. Saudoso, pensou nas irmãs, em Jonathan e em Plumstead.
Um grito de mulher, alto, estridente c apavorado, quebrou o silêncio da casa.
Sem refletir, Kit pôs-se em pé e, num segundo, saía pela porta da biblioteca.
O vestíbulo de entrada, onde não se via viva alma, estava imerso no maior silêncio. A chama azulada de uma lanterna lançava sombras lúgubres nos retratos a óleo nas paredes. Com os ouvidos atentos, Kit hesitou junto à escada.
Não fazendo idéia de onde viera o grito e nem como agir, maldisse a imensidão da casa. De repente, uma porta do lado oposto abriu-se e uma silhueta delicada, envolta em branco, atravessou-a correndo, indo em direção a Kit.
Num gesto automático, ele amparou a moça entre os braços.
Nessa fração de segundo, seus sentidos registraram o escorregadio da seda sobre a pele macia, o arredondado dos seios apertados de encontro a seu peito e o aroma de lavanda emanado da cabeleira escura e esvoaçante.
— Acalme-se, moça, e deixe-me ajudá-la — disse Kit com suavidade.
2- O NAÚFRAGO - SPINDRIFT
Desde o momento em que encontrou o naufrago na praia, Beatrice soube que sua vida mudaria para sempre.
Embora ele dissesse que havia perdido a memoria, cresciam os rumores de que piratas estavam infestando a costa de Rhode Island.
Beatrice nao podia evitar a terrivel suspeita de que o fascinante desconhecido, pelo qual sentia forte atraçao, fosse um sanguinario predador dos mares.
Ignorando seu proprio passado e no extremo de suas forças, Jonathan Sparhawk recebeu todos os cuidados de uma bela quaker vestida com trajes de luto.
Mas havia muito mais por tras da delicada aparencia de Beatrice Allyn, e Jonathan logo descobriu a mulhher ardente que se escondia sob suas maneiras serenas...
Prólogo
Oceano Atlântico ao largo da Nova Inglaterra
Março de 1708
Tratava-se de uma armadilha simples. Poderia funcionar. Ou não. Isso dependia da consciência de sua vítima.
A chalupa Leopard partira de Barbados havia vinte e sete dias.
Nos últimos três, a embarcação ficara à deriva, com a vela em frangalhos.
Uma tempestade violenta transformara o dia subitamente em noite, lavando o convés com ondas tão altas quanto as casas de uma metrópole.
O capitão da Leopard sentia o corpo enregelado.
Seus olhos ardiam devido às horas que passara insone.
Mas Jonathan Sparhawk estava contente. A medida que os ventos iam cessando com a chegada da noite, ele aspirava o ar salgado com imensa satisfação.
O sexto sentido de lobo do mar lhe dizia que em breve aportaria em sua terra natal.
— Terra à vista! — gritou o vigia da gávea. Jonathan, mais que depressa, trepou no mastro e foi ter com o marujo.
Era um homem de compleição robusta, mas muito ágil, e galgou facilmente os enfrechates que, à guisa de degraus, levavam ao cesto da gávea.
O vento agitava seus cabelos, longos e escuros, presos por uma fita preta.
Sob suas botas, os enfrechates estavam escorregadios, cobertos de gelo. Por Deus, como faz frio aqui em cima!, ele pensou, enquanto o vento agitava as abas de seu casaco.
Ao atingir o cesto da gávea, Jonathan mirou o horizonte com uma luneta e avistou a linha mais escura que assinalava o continente.
As nuvens começavam a se dissipar por força do vento, deixando à mostra o brilho tímido do quarto crescente e retalhos de um céu estrelado.
Ele calculou que deviam estar nas cercanias de Point Judith.
A Leopard havia passado por Saybrook, era verdade, mas não se distanciara tanto a ponto de cruzar as águas de Vineyard Sound.
Jonathan ordenou à tripulação que manobrasse o navio rumo ao seu porto natal.
Com um pouco de sorte, pisariam em terra firme já no dia seguinte.
E ele estaria, finalmente, em casa. Depois de quatro meses em alto-mar. Jonathan sorriu consigo mesmo, imaginando a recepção que o aguardava em Plumstead.
Capítulo Um
Colônia da ilha de Aquidneck de Rhode hland e Providence Plantations
A meia-noite, quando a maré estava alta, os rochedos de Nantasket Point não ofereciam nenhum abrigo.
Beatrice Allyn puxou o capuz de sua capa e tentou proteger-se do vento e dos borrifos de água salgada que lhe salpicavam o rosto.
Estreitando os olhos, ela esquadrinhou a superfície turva do mar.
— A gente não vai ver os holandeses esta noite, senhora.
Pelo menos, não enquanto durar o mau tempo — disse Caleb Turner, enquanto Daniel e James Reed aquiesciam silenciosa¬mente. — Se o sr. Allyn estivesse aqui...
— Ocorre que ele já não está mais entre nós, Caleb. Sabe tanto quanto eu que o capitão De Vere pode chegar a qualquer momento. Com ou sem tempestade, é nossa obrigação esperá-lo
— Beatrice declarou, afastando uma mecha de cabelos louros do rosto.
Caleb segurou o chapéu encharcado, sentou-se em uma pedra e aproximou as mãos do lampião para aquecê-las.
— O sr. Allyn nunca esperou por nenhum holandês, ainda mais com um tipo desses — ele obstinou-se.
Beatrice achou melhor ignorar sua queixa.
Esperaria mais cinco minutos pelo capitão De Vere, e nem um segundo a mais.
O frio úmido penetrara em sua capa e em seu vestido acolchoado.
Seus pés, protegidos por meias grossas, estavam enregelados, bem como suas mãos.
Ela andou de um lado para o outro, sentindo-se extremamente desconfortável.
Era evidente que Caleb tinha razão quanto a seu marido.
Nem todo o conhaque de Amsterdã o teria feito deixar o cachimbo e o fogo acolhedor da lareira para se aventurar a sair numa noite como aquela.
Fora Beatrice que, receando ofender o capitão De Vere, insistira em ir esperá-lo na praia. Mas, se os fidalgos de Newport queriam tanto receber seus tonéis de conhaque e vinho francês sem pagar impostos, eles é que deveriam se plantar ali, debaixo da chuva, Beatrice pensou com azedume.
Ela curvou-se para apanhar o lampião. A chama da vela refletiu-se, incerta, nas feições toscas de Caleb.
— Vamos voltar. É evidente que ele não virá hoje. Já esperamos demais e, além disso, Ruth ficará furiosa comigo se descobrir que pegou friagem, Caleb.
— Ah, fique sossegada, ela nunca diz nada contra a senhora. Aliás, quem é que pode mandar no vento? — ele replicou, contente de regressar à casa. Deu a mão a Beatrice para ajudá-la a descer do rochedo e sorriu. Seus dentes muito brancos resplandeceram contra sua tez escura, da cor do chocolate.
3- A AMANTE DO PIRATA
Ondas de desejo envolviam Mariah...
E em seu rastro deixavam uma necessidade que só poderia ser satisfeita por um homem lendário: Capitão Gabriel Sparhawk... o mais temido e respeitado corsário que jamais comandara uma corveta de guerra.
Com os cabelos negros como a noite respingados de água salgada, Mariah West parecia uma ninfa do mar, forte como a coragem dos piratas.
E Gabriel maldizia o desejo que ameaçava fazê-lo sucumbir ao seu canto de sereia.
Capítulo Um
Crescent Hill, Aquidneck Island Colônia de Rhode Island
Junho de 1744.
― Aposto cinco guinéus como os espanhóis capturaram Newport!
Gabriel Sparhawk não respondeu.
Permaneceu junto à janela com as mãos cruzadas às costas, observando o brilho distante do fogo contra o crepúsculo cinzento e a fumaça que espalhava-se sobre a baía. Os homens raramente ignoravam Anjelike.
Impaciente, ela pressionou o corpo ao de Gabriel e deslizou as mãos por suas costas.
— Se os espanhóis estão aqui, então não poderei navegar amanhã. Mas estarei segura a seu lado, meu bravo capitão Sparhawk.
— Nenhum espanhol meteu o nariz por aqui, Anjelike, e não virão nem mesmo pela possibilidade de violentá-la.
Irritado, Gabriel afastou-se e foi servir-se de mais uma dose de bebida junto ao guarda-louças.
Mesmo com todas as janelas abertas para permitir a entrada da brisa marítima, a sala era quente e sua amante de cabelos loiros pouco contribuía para refrescar o ambiente.
Em Nova York, onde estivera como convidado de seu marido, estivera muito empolgado para notar quanto perfume ela usava, mas depois de uma semana desfrutando de sua companhia na própria casa, começava a enjoar dela e do aroma de rosas e sentia-se grato por estar prestes a livrar-se dos dois.
— Os espanhóis estão liquidados, como sua guerra.
— Não zombe dos espanhóis, Gabriel — Anjelike aconselhou, brincando com o colar de pérolas que usava no pescoço.
Com descuido estudado, deixou o vestido deslizar mais um pouco pelos ombros nus.
— Você fez sua fortuna através da guerra daquele povo.
Gabriel limitou-se a encolher os ombros.
Desde a cambraia holandesa de sua camisa, até as tábuas polidas sobre as quais pisava, cada centímetro de Crescent Hill era proveniente do sucesso que obtivera na guerra. Em três anos, vinte e seis navios mercantes espanhóis submeteram-se a ele, mais do que a qualquer outro corsário inglês no Caribe.
Fora exorbitantemente sortudo e sabia disso, e se existia alguma justiça no mundo, devia estar igualmente satisfeito.
Tinha quase trinta e três anos, e Deus sabia que não devia esperar muito mais da vida. Mas a paz que buscara dois anos antes, quando deixara o mar, ainda não havia sido alcançada, e nada, nem sua casa nova e confortável, nem a procissão de mulheres adoráveis e disponíveis! como Anjelike, conseguia aliviar o enorme vazio que ainda devorava sua alma.
— Não estou zombando dos espanhóis, querida, só da idéia de que eles estão aqui incendiando Newport.O fogo deve ser proveniente do cachimbo de algum viajante embriagado incendiando o colchão de sua hospedaria. Você partirá no vapor de amanhã como combinamos, e estará de volta a Hempstead no final da semana.
Mais um pouco, e seu marido pode decidir vir procurar aquela amiga doente que você veio visitar.
— Ah, Heihrick! — Anjelike exclamou com desprezo. — Aquele velho gordo não deixaria sua comarca nem que eu fosse a Paris usando apenas ceroulas!
Gabriel já ouvira a mesma história antes, e por isso preferiu aproximar-se novamente da janela para apreciar o brilho do fogo a distância. Estava certo!
Julgara ter ouvido o som de cascos na estrada e agora via o cavalo trilhando o caminho que levava à porta de sua casa.
Não esperava convidados, e Crescent Hill ficava muito longe da cidade para receber visitantes casuais.
Rodando o copo entre os dedos, considerou as possibilidades mais interessantes. Talvez os espanhóis estivessem mesmo em Newport, afinal.
O som de vozes pôde ser ouvido quando Ethan, o velho homem do mar que conservava como uma espécie de pajem, abriu a porta para o recém-chegado, trocou algumas palavras com ele e subiu a escada que levava aos aposentos do andar superior.
— Que homem é esse, Ethan? — Gabriel perguntou antes que o criado pudesse anunciar-se. — Alguém com notícias sobre o incêndio?
— Não exatamente, capitão. Já disse que é comprometido, mas...
— Comprometido! — Gabriel riu. — Pelo amor de Deus, Ethan, desde quando tornou-se tão delicado? Ofereça um trago ao viajante, e dobre a oferta se ele puder nos dar notícias sobre o incêndio.
— Não sou um viajante, capitão Sparhawk — uma voz feminina anunciou atrás de Ethan. — E não quero seu rum, mas você.
4- DESIRE MEU AMOR
Desire Sparhawk achava que um inglês decente só morto. A simples visão de um uniforme britânico congelava-lhe o sangue.
Mesmo assim, o capitão Jack Herendon fez o fogo correr em suas veias!
Jack Herendon jamais imaginara que sua inimiga americana fosse uma mescla de beleza, coragem e paixão. Na verdade, Desire era a mulher de seus sonhos... e a mulher a quem, por dever, ele deveria trair!
Capítulo Um
Providence, Rhode Island
Janeiro de 1798
É claro que um cavalheiro deseja me ver, Zeb — disse Desire, ao assinar seu nome na última nota de carregamentos. — Sempre há um, não é mesmo?
— Ah, sim, senhorita. Mas este é diferente. — Constrangido, Zeb apoiou o peso do corpo na perna de pau que, quinze anos antes, o obrigara a deixar de ser um marinheiro nos navios da família Sparhawk, para ser mordomo em sua casa. — Muito diferente.
— Não pode pedir-lhe que volte amanhã? — ela perguntou cansada, levantando-se do banco alto, atrás da escrivaninha.
Havia revisado a contabilidade da companhia desde o amanhecer, parando apenas para uma refeição rápida. Tudo o que queria agora era uma xícara de chocolate quente e o conforto de sua cama.
— Já não pude jantar com minha avó — continuou, fechando os livros —, e você sabe que ela não aprova visitas de negócios a esta hora. A menos que se trate de um assunto muito urgente, ou que seja alguém trazendo notícias de meu irmão.
Não foi capaz de disfarçar a esperança em sua voz. Esperança que Zeb logo destruiu:
— Não, senhorita. Não acredito que ele traga qualquer notícia esperada — afirmou, apontando com o polegar para a porta de entrada. — E, se recebermos notícias do capitão Obadiah, não será de um estrangeiro elegante como aquele.
— Suponho que não — ela concordou.
Seu irmão mais novo partira há seis meses e, até então, não mandara notícias. Era tempo demais para uma simples viagem de Boulogne. Desire tentava convencer-se de que milagres aconteciam todos os dias no mar, que Obadiah não tardaria a atravessar a porta com alguma desculpa alegre para sua demora. Porém, no fundo de sua alma, sabia que as tempestades e os naufrágios eram mais comuns que os milagres. Assim como sabia que ela e a avó eram as únicas pessoas em Providence, que ainda não haviam perdido as esperanças com relação ao retorno do jovem capitão Sparhawk.
Com um suspiro, forçou-se a concentrar a atenção em Zeb e no homem à sua espera.
— Ele disse como se chama?
— Não, senhorita. É pomposo demais para isso. — Zeb não disfarçou o desprezo. Por mais que a avó de Desire se esforçasse para transformá-lo num mordomo apresentável, ele jamais perderia a independência de marinheiro ianque, para guardar suas opiniões para si. — Mas ele disse que viajou de longe e pediu para falar-lhe em particular. Tenho certeza de que não é da Nova Inglaterra.
— Disse que é um cavalheiro?
Por uma vez, Desire desejou que Zeb houvesse se enganado em seu julgamento. Cavalheiros eram proprietários de navios, capitães ou empresários, que esperavam mais hospitalidade do que ela se sentia disposta a oferecer, naquela noite. Distraída, esfregou as mãos nos braços gelados e, só então, notou que nevava lá fora.
— Sim — Zeb confirmou com segurança. — Terá de recebê-lo na sala, sem dúvida.
— Nesse caso, é melhor não fazê-lo esperar mais tempo. "Leve-o até a sala, Zeb, e ponha mais lenha na lareira. Sirva-lhe licor, ou rum, se ele preferir. Irei num instante.
Assim que Zeb se afastou, Desire olhou para sua imagem refletida no espelho e suspirou desolada. Embora possuísse os cabelos negros, a pele clara e os olhos verdes dos Sparhawk, suas faces apresentavam-se pálidas de cansaço, e havia sombras escuras sob seus olhos.
Aparentava o cansaço acumulado de seus vinte e seis anos e era o retrato vivo da solteirona que sua avó temia que viesse a ser.
5- A PRINCESA E O PLEBEU
Nos braços deste homem, ela esquecia que era casada...
Inglaterra, Itália, África, 1787.
Disposto a lutar pelo impossível.
Só um homem assim para ajudar a condessa Caroline Moncrief em sua hora de desesperada necessidade.
Ele era o capitão Jeremiah Sparhawk ― um herói que arrombaria as portas do inferno a um pedido seu!
Caroline era o verdadeiro destino de Jeremiah.
Não importava que ela pertencesse a outro: desde o início, ele sabia que suas vidas estavam ligadas.
E Jeremiah desafiaria todos os perigos para satisfazer os desejos de Caroline.
Mesmo aquele que iria dilacerar seu coração apaixonado...
Prólogo
Portsmouth, Inglaterra, maio de 1787
Cada vez mais em pânico, Caroline Harris olhou-se no espelho enquanto a criada amarrava-lhe a faixa na cintura. Logo deixariam o quarto de toalete das damas e seria tarde demais. Por que jamais havia dinheiro suficiente?
― Não posso fazer isso, mamãe. A senhora disse que não temos escolha, mas não posso!
― Pode sim e o fará. Você é a única coisa que me resta e eu não morrerei na miséria ― respondeu a mãe no tom irritado que Caroline se habituara nas duas últimas semanas.
Não confiando na voz, ela assentiu com um gesto de cabeça. Caso chorasse, os olhos ficariam vermelhos e nenhum cavalheiro haveria de querê-la.
Mas que cavalheiro se interessaria por ela vestida dessa forma? O vestido de seda estampada, um dos velhos da mãe e reformado para ela, deixava-lhe ex¬postos os seios mal formados ainda. Apenas uma estola de gaze disfarçava o rosado escuro dos mamilos. O espartilho apertado dificultava a respiração e os pés doíam apertados nos sapatos bicudos e de salto alto que deveriam emprestar graciosidade aos passos.
O cabelo loiro, liso e sedoso, estava preso em caracóis ajeitados à custa de água açucarada. Caroline tinha proibição de tocar o penteado rígido. As jóias, reluzen-tes de encontro à pele alva, eram tão falsas quanto o resto, especialmente o rosado das faces à base de car¬mim e os círculos de kohl preto à volta dos olhos. Teve de lutar contra a vontade renovada de chorar. Ela lem¬brava uma boneca barata de cera a quem ninguém daria valor e, muito menos, amor e carinho.
Nem mesmo a mãe se lembrava de que ela, hoje, completava quatorze anos.
Capítulo Um
Abril de 1803
Ele não sentiria medo.
Jeremiah respirou fundo e fechou o topo da manga da lamparina com a mão, isolando a chama sob a palma.
Enquanto o ar se extinguia, esta começou a bruxulear e as sombras do quarto, mais densas, o envolveram.
Sentindo o acelerar do coração e a tensão muscular, ele lutou para fugir do pânico irracional. A pequena chama desapareceu deixando apenas uma fagulha no pavio.
Com um gemido profundo, ele levantou a mão e concentrou a atenção no pontinho reluzente, a única maneira de vencer o terror cego que lhe estragaria a vida, se permitisse.
― Volte, maldita! Volte! Não morra me deixando sozinho na noite escura!
Por Deus, como a situação chegara a tal ponto? Vagarosamente, a fagulha foi se dilatando até trans¬formar-se em chama outra vez.
Incapaz de desviar o olhar, Jeremiah continuou a fitá-la.
Com as sombras afastadas, os demónios tinham sido vencidos.
Mas por quanto tempo? Quando encontraria paz novamente? Com outro gemido, ele tornou a deitar-se. Que diabos estaria acontecendo com ele? Não fora sempre assim.
Era um ianque, nascido em Rhode Island, capitão de mar aberto, criado em Narragansett.
Contava apenas onze anos quando, pela primeira vez, lutara para salvar a vida.
Havia sido ao lado do pai corsário, na Guerra de Independência.
Tinha tomado parte em duas outras guerras sem jamais virar as costas, com ou sem espadas, pistolas, ou apenas os punhos cerrados.
Havia enfrentado furacões em alto mar e bandidos em terra.
Seu temperamento era famoso, a coragem, indubitável.
Com um metro e noventa de altura e ombros largos, desenvolvera os músculos através dos anos de trabalho pesado.
Ninguém que o conhecesse o classificaria de covarde, mas ele não ignorava a verdade.
O capitão Jeremiah Sparhawk tinha medo do escuro.
6- O RAPTO DA NOIVA
Ela foi levada para uma aventura cheia de perigos e... desejo!
Rhode Island e Martinica, 1771.
Raptar Jerusa Sparhawk, minutos antes de seu casamento, foi a vingança pela qual Michel Géricault esperara a vida toda!
Vingança contra a família da noiva, responsável pela morte do pai de Michel, antigo pirata do Caribe.
Mas ele jamais imaginara que a deslumbrante Jerusa iria roubar seu coração...
Capítulo Um
Newport,
Colônia de Rhode Island e Plantações de Providence,
Ele não havia planejado estar naquela casa, não na noite do casamento.
Se fosse reconhecido, estaria pendurado na ponta de uma corda antes que pudesse fazer qualquer coisa.
E, se isso acontecesse, quem se encarregaria de fazer justiça?
Outra carruagem parou na frente da casa e Michel Géricault se encolheu mais nas sombras da alta cerca-viva.
Mais convidados para o casamento, mais cavalheiros ingleses de rosto vermelho, vestidos a rigor e acompanhados de suas deselegantes mulheres.
Sempre falando muito alto, aquelas pessoas tentavam imitar os modos da alta sociedade londrina, no que fracassavam fragorosamente.
Ah, bonDieu, como aqueles ingleses eram idiotas, todos eles, e como Michel os detestava!
A porta de entrada da casa se abriu e a luz de incontáveis velas chegou até perto da rua. Em vez do criado que Michel esperava ver, apareceu a inconfundível figura do capitão Gabriel Sparhawk em pessoa, a silhueta de ombros largos desenhando-se contra a luz enquanto ele dava as boas-vindas aos convidados para o casamento da filha. Depois de ter passado uma semana observando aquele homem, seguindo-o por todos os cantos, da casa ao escritório de administração e aos navios, Michel agora conseguia olhar para Sparhawk quase com impassibilidade, sem o ódio que sentira nas primeiras vezes. Era melhor assim, muito melhor.
Há muito tempo Michel havia aprendido que a paixão, fosse de que espécie fosse, levava a pessoa a imprudências que naquela noite ele não podia se dar ao luxo de cometer. Ouvindo o riso de uma mulher que vinha caminhando pela rua na companhia de alguém, Michel se abaixou para não ser visto.
A cerca-viva estabelecia o limite do jardim, à esquerda do qual havia um canteiro de rosas. À direita via-se uma florida madressilva.
No mais o jardim se compunha de um bem cuidado gramado e um bonito arvoredo. Do interior da casa vinha o riso dos convidados, ao qual se misturava o som mais distante dos músicos afinando seus instrumentos.
De algum lugar do andar de cima vieram as batidas de um relógio de parede: oito horas. Michel percebeu que precisava sair dali imediatamente, antes que fosse tarde demais. Só um idiota continuaria se expondo daquele jeito.
No entanto, do lugar onde estava ele podia ver pelas janelas abertas o interior da casa, até mesmo a sala de visitas.
Era como se estivesse num teatro cujas cortinas acabassem de se abrir e a cena o convidasse a permanecer, a observar.
Numa espaçosa mesa arrumada no centro da sala estava o alto bolo de casamento, em cima de uma estrutura prateada toda enfeitada com tiras de papel branco e finas correntes também prateadas.
Numa outra mesa, ainda maior e com vários candelabros de bronze com velas acesas, acumulavam-se os presentes de casamento.
Havia também uma outra sala, vazia de pessoas mas fartamente iluminada por velas da mais fina cera branca. Era uma extravagância inimaginável.
Uma exibição vulgar de riqueza, com o mau gosto muito próprio dos ingleses.
Falava-se que o capitão Sparhawk não havia poupado despesas para comemorar o casamento da filha preferida.
Assim sendo, o que ele não estaria disposto a pagar quando a jovem desaparecesse sem deixar vestígio?
8- PRESENTE DO CORAÇÃO
Prólogo
Tryon County, Nova Iorque Novembro de 1778
Ele não queria morrer só.
Não assim, oculto pelas sombras das árvores mais altas, sem ter quem o pranteasse, insepulto, coberto apenas pela neve, até que os lobos o encontrassem.
Ou os índios sênecas. Seria melhor que fossem os lobos.
Com esforço, deu outro passo... Mais um.
As pegadas impressas na neve eram sinuosas como as de um bêbado.
Se os soldados do coronel Butler o perseguissem, conseguiriam pegá-lo com facilidade; Jamie não tinha como detê-los.
A bala da pistola do sargento Herrick atingira em cheio seu ombro esquerdo, e a ferida, aparentemente, ficara bem limpa.
No terceiro dia, entretanto, o ferimento infeccionara e Jamie tivera febre logo depois de a nevasca começar.
Agora, olhando para o rifle em sua mão, o tambor coberto de uma camada fina de gelo, ele não sabia dizer se as mãos tremiam de frio ou por causa da febre.Sua mãe teria o remédio para fazer baixar a febre. Causado pela bala.
Ela escolheria nos feixes de ervas e cascas, os quais mantinha pendurados nas vigas do teto, exatamente o que precisava.
Colocaria a seguir as folhas na panelinha de ferro e prepararia uma poção.
Ou, talvez, achasse melhor fazer uma cataplasma.
O que quer que fosse, ele teria de aceitar sem medo e sem careta, para dar exemplo de coragem ao irmãozinho, Sam.
Por fim, estando o braço bem limpo e enfaixado, a mãe o premiaria com uma generosa porção de torta de abóbora servida com creme de ovos, no prato vermelho, de louça.
Jamie era um homem alto, forte e sobrevivera a coisas muito piores do que aquele ferimento no ombro. Por ter estado na mata com os outros soldados tories.
Capítulo Um
Segure-se bem, Billy!
Impaciente, Rachel deixou o bal¬de vazio no chão coberto de neve e ergueu mais o menino risonho que trazia às costas.
Por que o garoto teimava em carregar Blackie, o cavalinho de pano, aonde quer que fosse? Por que não o largava, nem mesmo para ir até o estábulo, que ficava a pouco mais de doze metros da casa?
Para Billy, naturalmente, agarrar-se ao brinquedo parecia mais importante e muito mais divertido do que se manter firme nas costas da mãe.— Billy Lindsey, você é mesmo irrequieto como um serelepe — Rachel ralhou com o filho afavelmente, ao curvar-se para pegar o balde.
— Não escorregue de novo, ouviu bem?
Na verdade, ela reconhecia que o pequeno William tinha razão de não querer andar a cavalo nas costas da mãe, como um bebê.
No final do verão Billy seria capaz de correr mais do que ela para ir ao pomar.
Em outubro ele completara três anos e ela havia cortado e costurado para o filho as primeiras calças, apesar de o garoto, até o momento pedir-lhe ajuda para abotoar às roupas.
Agora, no inverno, Billy precisava realmente de botinas ou sapatos de couro, reforçados, iguais aos que ela se lembrava de ter visto nos pés dos meninos em Providence ou Newport, e não esses Mocassins de pele de cervo que ele estava calçando.
Sim, eles moravam bem longe da cidade, mas nem por isso, o pequeno William teria de crescer como um selvagem.
O problema era que sapatos e botinas custavam dinheiro; muito mais do que ela poderia obter, estando o marido na guerra.
Não que houvesse muito dinheiro no tempo em que William ainda estava na fazenda. Desde que eles saíram de Providence o marido estivera tão parcimonioso com o dinheiro quanto desprovido de afeição; e muito mais predisposto a censuras e a tapas.
Com um profundo suspiro, Rachel seguiu para o estábulo, a saia longa arrastando-se na neve recente, os pés escorregando dentro das botas do marido, grandes demais para seus pés, embora as tivesse enchido parcialmente com lã.
Reconheceu que não devia queixar-se, nem mesmo em pensamento.
O inverno anterior fora difícil por ter sido o primeiro passado na fazenda e ela havia estado sozinha, apenas com Billy.
Este ano seria melhor, pois sabia o que a esperava e achava-se preparada para enfrentar as dificuldades.
Não era mais a recém-casada inexperiente e tola, com a mente povoada de sonhos românticos.
9- UM SEGREDO DE MULHER
“Parece que a conheço de algum lugar...”
Newport, 1779
Catie Hazard não esperava rever o belo oficial que lhe roubara a inocência havia quase uma década.
Pensou que nunca mais encontraria Anthony Falcon. Menos ainda vestindo o uniforme do exército invasor.
Seria terrível se ele a reconhecesse!
Catie, uma bela e respeitada viúva de Newport, em nada se parecia com aquela garota indefesa que servia bebidas entre mesas de tabernas. Além de não querer ver seu passado revelado, ela guardava um segredo a sete chaves... que Anthony jamais poderia descobrir!
Capítulo Um
Newport
Colônia de Rhode Island
Junho de 1767
Durante toda a noite o cavalheiro de longos cabelos loiros perseguiu Catie com o olhar. Era como a águia em busca de sua presa.
Ele conversava e ria com amigos, levantando copos, cumprimentando aos gritos os frequentadores da taverna. No entanto, Catie percebia aquela energia lasciva sobre si, procurando-a, ansiosa, por entre as mesas.
Em seu trabalho como garçonete, Catie às vezes se via às voltas com homens abusados. Nesse instante, porém, apesar de tanto atrevimento, sentia-se muito atraída. No entanto, não estava acostumada a dar atenções especiais à clientela. Não bebia nem aceitava convites para passeios ao longo do cais.
Catie trabalhava duro para ajudar a manter a mãe e a pequena propriedade no campo. Todos a consideravam uma boa moça. Nenhum dos frequentadores da taverna tinha o menor motivo para acusá-la de comportamento leviano.
Catie procurava concentrar-se no atendimento. Equilibrava pratos e canecas na bandeja, evitando se aproximar da mesa junto à lareira.
Em seus dezessete anos de vida, Catie jamais vira homem tão atraente e sedutor como o cavalheiro sentado junto ao fogo. Os cabelos longos e loiros, os olhos azuis, o porte e a elegância exerciam incrível impacto. Catie estava fascinada.
- Cuide do serviço, Catie Willman. Homens finos e gentis como aquele não são para moças como você - disse Rebecca, entregando à companheira mais uma bandeja com canecas de bebida.
Catie ajeitou o avental e o lenço da cabeça e respondeu:
- Não vejo nada de mais em admirar um homem bonito.
- Bonito? Eu queria saber quantas moedas de ouro esse fidalgo senhor traz em seu bolso. - Rebecca deixou escapar uma risada de deboche, advertindo a seguir: - Cuidado, Catie: falcões dourados são certeiros e impiedosos.
- Falcões dourados - repetiu Catie ao recordar que a família Falcon, tradicional em Newport, era conhecida por possuir magníficas casas na cidade e a frota de navios que atravessava o Atlântico.
O homem loiro sorria e gesticulava com os amigos. Discretamente, ele fazia sinais para Catie, indicando o pátio, na direção do poço. Parecia que pretendia marcar um encontro.
Catie não resistiu. Correspondeu ao insistente olhar do cavalheiro. Corou e, atrapalhada, quase deixou cair a bandeja.
- Cuidado, Catie! Preste atenção ao serviço!
- Está vendo, Rebecca? É ele quem está olhando para mim. Está fazendo sinais.
- Sinais? Um Falcon jamais se interessaria por uma lebre assustada como você, Catie.
Série Família Sparhawks
1 - Insensata Paixão
2 - O Náufrago
3 - A Amante do Pirata
4 - Desire, Meu Amor
5 - A Princesa e o Plebeu
6 - O Rapto da Noiva
7 - Sparhawk's Angel (não lançado no Brasil)
8 - Presente do Coração
9 - Segredo de Mulher
Com palavras cruéis, ele a levou à condenação!
O mundo dourado de privilégios havia se esfacelado.
Revoltada, Dianna Grey olhava para suas companheiras de cela, presas por embriaguez, prostituição ou roubo.
Ela, a nobre dama inglesa, era a única acusada por tentativa de assassinato.Com tristeza, lembrou-se da farsa do julgamento, da implacável condenação.
Para escapar da forca, restava-lhe apenas a alternativa de embarcar num navio de degredados criminosos, rumo às colônias americanas, para trabalhar para algum fazendeiro que a comprasse.
Kit Sparhawk viu Dianna desembarcar sem lágrimas no Novo Mundo.Admirou sua coragem e sentiu-se terrivelmente atraído pela jovem encantadora.
Mas não iria suavizar a realidade de Dianna ... Para Kit Sparhawk, ela merecia mesmo ser castigada.
Capitulo Um
Londres, 1704
— Vinte passos até a margem do tapete vermelho turco, doze mais para percorrer a largura, então, outros vinte de volta à lareira...
Sem parar, Kit Sparhawk contava os passos a fim de conter a impaciência.
Eram quase nove horas da noite e uma lua pálida de inverno iluminava o alto das janelas da biblioteca na mansão de sir Henry Ashe. Somente a promessa feita a Jonathan o mantinha ali.
Ao pensar no irmão, delirando de lebre e dor, Kit contraiu os músculos da face.
Em lugar de Jonathan, ele linha viajado durante oito semanas e através de dez mil quilômetros. Quatro horas a mais na casa do barão não fariam a mínima diferença, ponderou. Além do mais, era um dever para com o irmão.
Mesmo assim, não deixava de ser exasperante esperar por sir Henry.
Nobre ou não, tratava-se de um homem malandro, gordo, espalhafatoso e dissimulado demais para ser sócio em negócios. Um grande velhaco, na verdade.
Dezoito, dezenove, vinte passos, virar...
Mais uma vez, Kit reprimiu a irritação contando as marcas feitas pelas botas no tapete macio. As ordens para saques bancários estavam na escrivaninha à espera da assinatura que sir Henry não achava tempo para dar.
Pois nessa noite, não sairia dali sem que o homem o fizesse.
Estava cansado das desculpas do barão. Com a mão direita cerrada, esmurrou a palma da esquerda ao lembrar-se de como sir Henry havia tentado, de todas as maneiras possíveis, evadir-se do pagamento das dívidas.
As colônias não estavam livres de salafrários, Deus era testemunha, porém nos três meses passados em Londres, Kit não tinha conhecido um único homem em quem confiasse além de um aperto de mão.
Atirou-se numa das poltronas de brocado e deixou o olhar prender-se nas chamas da lareira. Graças a Deus, estaria velejando novamente dentro de duas semanas.
Londres ficaria para trás. Saudoso, pensou nas irmãs, em Jonathan e em Plumstead.
Um grito de mulher, alto, estridente c apavorado, quebrou o silêncio da casa.
Sem refletir, Kit pôs-se em pé e, num segundo, saía pela porta da biblioteca.
O vestíbulo de entrada, onde não se via viva alma, estava imerso no maior silêncio. A chama azulada de uma lanterna lançava sombras lúgubres nos retratos a óleo nas paredes. Com os ouvidos atentos, Kit hesitou junto à escada.
Não fazendo idéia de onde viera o grito e nem como agir, maldisse a imensidão da casa. De repente, uma porta do lado oposto abriu-se e uma silhueta delicada, envolta em branco, atravessou-a correndo, indo em direção a Kit.
Num gesto automático, ele amparou a moça entre os braços.
Nessa fração de segundo, seus sentidos registraram o escorregadio da seda sobre a pele macia, o arredondado dos seios apertados de encontro a seu peito e o aroma de lavanda emanado da cabeleira escura e esvoaçante.
— Acalme-se, moça, e deixe-me ajudá-la — disse Kit com suavidade.
2- O NAÚFRAGO - SPINDRIFT
Desde o momento em que encontrou o naufrago na praia, Beatrice soube que sua vida mudaria para sempre.
Embora ele dissesse que havia perdido a memoria, cresciam os rumores de que piratas estavam infestando a costa de Rhode Island.
Beatrice nao podia evitar a terrivel suspeita de que o fascinante desconhecido, pelo qual sentia forte atraçao, fosse um sanguinario predador dos mares.
Ignorando seu proprio passado e no extremo de suas forças, Jonathan Sparhawk recebeu todos os cuidados de uma bela quaker vestida com trajes de luto.
Mas havia muito mais por tras da delicada aparencia de Beatrice Allyn, e Jonathan logo descobriu a mulhher ardente que se escondia sob suas maneiras serenas...
Prólogo
Oceano Atlântico ao largo da Nova Inglaterra
Março de 1708
Tratava-se de uma armadilha simples. Poderia funcionar. Ou não. Isso dependia da consciência de sua vítima.
A chalupa Leopard partira de Barbados havia vinte e sete dias.
Nos últimos três, a embarcação ficara à deriva, com a vela em frangalhos.
Uma tempestade violenta transformara o dia subitamente em noite, lavando o convés com ondas tão altas quanto as casas de uma metrópole.
O capitão da Leopard sentia o corpo enregelado.
Seus olhos ardiam devido às horas que passara insone.
Mas Jonathan Sparhawk estava contente. A medida que os ventos iam cessando com a chegada da noite, ele aspirava o ar salgado com imensa satisfação.
O sexto sentido de lobo do mar lhe dizia que em breve aportaria em sua terra natal.
— Terra à vista! — gritou o vigia da gávea. Jonathan, mais que depressa, trepou no mastro e foi ter com o marujo.
Era um homem de compleição robusta, mas muito ágil, e galgou facilmente os enfrechates que, à guisa de degraus, levavam ao cesto da gávea.
O vento agitava seus cabelos, longos e escuros, presos por uma fita preta.
Sob suas botas, os enfrechates estavam escorregadios, cobertos de gelo. Por Deus, como faz frio aqui em cima!, ele pensou, enquanto o vento agitava as abas de seu casaco.
Ao atingir o cesto da gávea, Jonathan mirou o horizonte com uma luneta e avistou a linha mais escura que assinalava o continente.
As nuvens começavam a se dissipar por força do vento, deixando à mostra o brilho tímido do quarto crescente e retalhos de um céu estrelado.
Ele calculou que deviam estar nas cercanias de Point Judith.
A Leopard havia passado por Saybrook, era verdade, mas não se distanciara tanto a ponto de cruzar as águas de Vineyard Sound.
Jonathan ordenou à tripulação que manobrasse o navio rumo ao seu porto natal.
Com um pouco de sorte, pisariam em terra firme já no dia seguinte.
E ele estaria, finalmente, em casa. Depois de quatro meses em alto-mar. Jonathan sorriu consigo mesmo, imaginando a recepção que o aguardava em Plumstead.
Capítulo Um
Colônia da ilha de Aquidneck de Rhode hland e Providence Plantations
A meia-noite, quando a maré estava alta, os rochedos de Nantasket Point não ofereciam nenhum abrigo.
Beatrice Allyn puxou o capuz de sua capa e tentou proteger-se do vento e dos borrifos de água salgada que lhe salpicavam o rosto.
Estreitando os olhos, ela esquadrinhou a superfície turva do mar.
— A gente não vai ver os holandeses esta noite, senhora.
Pelo menos, não enquanto durar o mau tempo — disse Caleb Turner, enquanto Daniel e James Reed aquiesciam silenciosa¬mente. — Se o sr. Allyn estivesse aqui...
— Ocorre que ele já não está mais entre nós, Caleb. Sabe tanto quanto eu que o capitão De Vere pode chegar a qualquer momento. Com ou sem tempestade, é nossa obrigação esperá-lo
— Beatrice declarou, afastando uma mecha de cabelos louros do rosto.
Caleb segurou o chapéu encharcado, sentou-se em uma pedra e aproximou as mãos do lampião para aquecê-las.
— O sr. Allyn nunca esperou por nenhum holandês, ainda mais com um tipo desses — ele obstinou-se.
Beatrice achou melhor ignorar sua queixa.
Esperaria mais cinco minutos pelo capitão De Vere, e nem um segundo a mais.
O frio úmido penetrara em sua capa e em seu vestido acolchoado.
Seus pés, protegidos por meias grossas, estavam enregelados, bem como suas mãos.
Ela andou de um lado para o outro, sentindo-se extremamente desconfortável.
Era evidente que Caleb tinha razão quanto a seu marido.
Nem todo o conhaque de Amsterdã o teria feito deixar o cachimbo e o fogo acolhedor da lareira para se aventurar a sair numa noite como aquela.
Fora Beatrice que, receando ofender o capitão De Vere, insistira em ir esperá-lo na praia. Mas, se os fidalgos de Newport queriam tanto receber seus tonéis de conhaque e vinho francês sem pagar impostos, eles é que deveriam se plantar ali, debaixo da chuva, Beatrice pensou com azedume.
Ela curvou-se para apanhar o lampião. A chama da vela refletiu-se, incerta, nas feições toscas de Caleb.
— Vamos voltar. É evidente que ele não virá hoje. Já esperamos demais e, além disso, Ruth ficará furiosa comigo se descobrir que pegou friagem, Caleb.
— Ah, fique sossegada, ela nunca diz nada contra a senhora. Aliás, quem é que pode mandar no vento? — ele replicou, contente de regressar à casa. Deu a mão a Beatrice para ajudá-la a descer do rochedo e sorriu. Seus dentes muito brancos resplandeceram contra sua tez escura, da cor do chocolate.
3- A AMANTE DO PIRATA
Ondas de desejo envolviam Mariah...
E em seu rastro deixavam uma necessidade que só poderia ser satisfeita por um homem lendário: Capitão Gabriel Sparhawk... o mais temido e respeitado corsário que jamais comandara uma corveta de guerra.
Com os cabelos negros como a noite respingados de água salgada, Mariah West parecia uma ninfa do mar, forte como a coragem dos piratas.
E Gabriel maldizia o desejo que ameaçava fazê-lo sucumbir ao seu canto de sereia.
Capítulo Um
Crescent Hill, Aquidneck Island Colônia de Rhode Island
Junho de 1744.
― Aposto cinco guinéus como os espanhóis capturaram Newport!
Gabriel Sparhawk não respondeu.
Permaneceu junto à janela com as mãos cruzadas às costas, observando o brilho distante do fogo contra o crepúsculo cinzento e a fumaça que espalhava-se sobre a baía. Os homens raramente ignoravam Anjelike.
Impaciente, ela pressionou o corpo ao de Gabriel e deslizou as mãos por suas costas.
— Se os espanhóis estão aqui, então não poderei navegar amanhã. Mas estarei segura a seu lado, meu bravo capitão Sparhawk.
— Nenhum espanhol meteu o nariz por aqui, Anjelike, e não virão nem mesmo pela possibilidade de violentá-la.
Irritado, Gabriel afastou-se e foi servir-se de mais uma dose de bebida junto ao guarda-louças.
Mesmo com todas as janelas abertas para permitir a entrada da brisa marítima, a sala era quente e sua amante de cabelos loiros pouco contribuía para refrescar o ambiente.
Em Nova York, onde estivera como convidado de seu marido, estivera muito empolgado para notar quanto perfume ela usava, mas depois de uma semana desfrutando de sua companhia na própria casa, começava a enjoar dela e do aroma de rosas e sentia-se grato por estar prestes a livrar-se dos dois.
— Os espanhóis estão liquidados, como sua guerra.
— Não zombe dos espanhóis, Gabriel — Anjelike aconselhou, brincando com o colar de pérolas que usava no pescoço.
Com descuido estudado, deixou o vestido deslizar mais um pouco pelos ombros nus.
— Você fez sua fortuna através da guerra daquele povo.
Gabriel limitou-se a encolher os ombros.
Desde a cambraia holandesa de sua camisa, até as tábuas polidas sobre as quais pisava, cada centímetro de Crescent Hill era proveniente do sucesso que obtivera na guerra. Em três anos, vinte e seis navios mercantes espanhóis submeteram-se a ele, mais do que a qualquer outro corsário inglês no Caribe.
Fora exorbitantemente sortudo e sabia disso, e se existia alguma justiça no mundo, devia estar igualmente satisfeito.
Tinha quase trinta e três anos, e Deus sabia que não devia esperar muito mais da vida. Mas a paz que buscara dois anos antes, quando deixara o mar, ainda não havia sido alcançada, e nada, nem sua casa nova e confortável, nem a procissão de mulheres adoráveis e disponíveis! como Anjelike, conseguia aliviar o enorme vazio que ainda devorava sua alma.
— Não estou zombando dos espanhóis, querida, só da idéia de que eles estão aqui incendiando Newport.O fogo deve ser proveniente do cachimbo de algum viajante embriagado incendiando o colchão de sua hospedaria. Você partirá no vapor de amanhã como combinamos, e estará de volta a Hempstead no final da semana.
Mais um pouco, e seu marido pode decidir vir procurar aquela amiga doente que você veio visitar.
— Ah, Heihrick! — Anjelike exclamou com desprezo. — Aquele velho gordo não deixaria sua comarca nem que eu fosse a Paris usando apenas ceroulas!
Gabriel já ouvira a mesma história antes, e por isso preferiu aproximar-se novamente da janela para apreciar o brilho do fogo a distância. Estava certo!
Julgara ter ouvido o som de cascos na estrada e agora via o cavalo trilhando o caminho que levava à porta de sua casa.
Não esperava convidados, e Crescent Hill ficava muito longe da cidade para receber visitantes casuais.
Rodando o copo entre os dedos, considerou as possibilidades mais interessantes. Talvez os espanhóis estivessem mesmo em Newport, afinal.
O som de vozes pôde ser ouvido quando Ethan, o velho homem do mar que conservava como uma espécie de pajem, abriu a porta para o recém-chegado, trocou algumas palavras com ele e subiu a escada que levava aos aposentos do andar superior.
— Que homem é esse, Ethan? — Gabriel perguntou antes que o criado pudesse anunciar-se. — Alguém com notícias sobre o incêndio?
— Não exatamente, capitão. Já disse que é comprometido, mas...
— Comprometido! — Gabriel riu. — Pelo amor de Deus, Ethan, desde quando tornou-se tão delicado? Ofereça um trago ao viajante, e dobre a oferta se ele puder nos dar notícias sobre o incêndio.
— Não sou um viajante, capitão Sparhawk — uma voz feminina anunciou atrás de Ethan. — E não quero seu rum, mas você.
4- DESIRE MEU AMOR
Desire Sparhawk achava que um inglês decente só morto. A simples visão de um uniforme britânico congelava-lhe o sangue.
Mesmo assim, o capitão Jack Herendon fez o fogo correr em suas veias!
Jack Herendon jamais imaginara que sua inimiga americana fosse uma mescla de beleza, coragem e paixão. Na verdade, Desire era a mulher de seus sonhos... e a mulher a quem, por dever, ele deveria trair!
Capítulo Um
Providence, Rhode Island
Janeiro de 1798
É claro que um cavalheiro deseja me ver, Zeb — disse Desire, ao assinar seu nome na última nota de carregamentos. — Sempre há um, não é mesmo?
— Ah, sim, senhorita. Mas este é diferente. — Constrangido, Zeb apoiou o peso do corpo na perna de pau que, quinze anos antes, o obrigara a deixar de ser um marinheiro nos navios da família Sparhawk, para ser mordomo em sua casa. — Muito diferente.
— Não pode pedir-lhe que volte amanhã? — ela perguntou cansada, levantando-se do banco alto, atrás da escrivaninha.
Havia revisado a contabilidade da companhia desde o amanhecer, parando apenas para uma refeição rápida. Tudo o que queria agora era uma xícara de chocolate quente e o conforto de sua cama.
— Já não pude jantar com minha avó — continuou, fechando os livros —, e você sabe que ela não aprova visitas de negócios a esta hora. A menos que se trate de um assunto muito urgente, ou que seja alguém trazendo notícias de meu irmão.
Não foi capaz de disfarçar a esperança em sua voz. Esperança que Zeb logo destruiu:
— Não, senhorita. Não acredito que ele traga qualquer notícia esperada — afirmou, apontando com o polegar para a porta de entrada. — E, se recebermos notícias do capitão Obadiah, não será de um estrangeiro elegante como aquele.
— Suponho que não — ela concordou.
Seu irmão mais novo partira há seis meses e, até então, não mandara notícias. Era tempo demais para uma simples viagem de Boulogne. Desire tentava convencer-se de que milagres aconteciam todos os dias no mar, que Obadiah não tardaria a atravessar a porta com alguma desculpa alegre para sua demora. Porém, no fundo de sua alma, sabia que as tempestades e os naufrágios eram mais comuns que os milagres. Assim como sabia que ela e a avó eram as únicas pessoas em Providence, que ainda não haviam perdido as esperanças com relação ao retorno do jovem capitão Sparhawk.
Com um suspiro, forçou-se a concentrar a atenção em Zeb e no homem à sua espera.
— Ele disse como se chama?
— Não, senhorita. É pomposo demais para isso. — Zeb não disfarçou o desprezo. Por mais que a avó de Desire se esforçasse para transformá-lo num mordomo apresentável, ele jamais perderia a independência de marinheiro ianque, para guardar suas opiniões para si. — Mas ele disse que viajou de longe e pediu para falar-lhe em particular. Tenho certeza de que não é da Nova Inglaterra.
— Disse que é um cavalheiro?
Por uma vez, Desire desejou que Zeb houvesse se enganado em seu julgamento. Cavalheiros eram proprietários de navios, capitães ou empresários, que esperavam mais hospitalidade do que ela se sentia disposta a oferecer, naquela noite. Distraída, esfregou as mãos nos braços gelados e, só então, notou que nevava lá fora.
— Sim — Zeb confirmou com segurança. — Terá de recebê-lo na sala, sem dúvida.
— Nesse caso, é melhor não fazê-lo esperar mais tempo. "Leve-o até a sala, Zeb, e ponha mais lenha na lareira. Sirva-lhe licor, ou rum, se ele preferir. Irei num instante.
Assim que Zeb se afastou, Desire olhou para sua imagem refletida no espelho e suspirou desolada. Embora possuísse os cabelos negros, a pele clara e os olhos verdes dos Sparhawk, suas faces apresentavam-se pálidas de cansaço, e havia sombras escuras sob seus olhos.
Aparentava o cansaço acumulado de seus vinte e seis anos e era o retrato vivo da solteirona que sua avó temia que viesse a ser.
5- A PRINCESA E O PLEBEU
Nos braços deste homem, ela esquecia que era casada...
Inglaterra, Itália, África, 1787.
Disposto a lutar pelo impossível.
Só um homem assim para ajudar a condessa Caroline Moncrief em sua hora de desesperada necessidade.
Ele era o capitão Jeremiah Sparhawk ― um herói que arrombaria as portas do inferno a um pedido seu!
Caroline era o verdadeiro destino de Jeremiah.
Não importava que ela pertencesse a outro: desde o início, ele sabia que suas vidas estavam ligadas.
E Jeremiah desafiaria todos os perigos para satisfazer os desejos de Caroline.
Mesmo aquele que iria dilacerar seu coração apaixonado...
Prólogo
Portsmouth, Inglaterra, maio de 1787
Cada vez mais em pânico, Caroline Harris olhou-se no espelho enquanto a criada amarrava-lhe a faixa na cintura. Logo deixariam o quarto de toalete das damas e seria tarde demais. Por que jamais havia dinheiro suficiente?
― Não posso fazer isso, mamãe. A senhora disse que não temos escolha, mas não posso!
― Pode sim e o fará. Você é a única coisa que me resta e eu não morrerei na miséria ― respondeu a mãe no tom irritado que Caroline se habituara nas duas últimas semanas.
Não confiando na voz, ela assentiu com um gesto de cabeça. Caso chorasse, os olhos ficariam vermelhos e nenhum cavalheiro haveria de querê-la.
Mas que cavalheiro se interessaria por ela vestida dessa forma? O vestido de seda estampada, um dos velhos da mãe e reformado para ela, deixava-lhe ex¬postos os seios mal formados ainda. Apenas uma estola de gaze disfarçava o rosado escuro dos mamilos. O espartilho apertado dificultava a respiração e os pés doíam apertados nos sapatos bicudos e de salto alto que deveriam emprestar graciosidade aos passos.
O cabelo loiro, liso e sedoso, estava preso em caracóis ajeitados à custa de água açucarada. Caroline tinha proibição de tocar o penteado rígido. As jóias, reluzen-tes de encontro à pele alva, eram tão falsas quanto o resto, especialmente o rosado das faces à base de car¬mim e os círculos de kohl preto à volta dos olhos. Teve de lutar contra a vontade renovada de chorar. Ela lem¬brava uma boneca barata de cera a quem ninguém daria valor e, muito menos, amor e carinho.
Nem mesmo a mãe se lembrava de que ela, hoje, completava quatorze anos.
Capítulo Um
Abril de 1803
Ele não sentiria medo.
Jeremiah respirou fundo e fechou o topo da manga da lamparina com a mão, isolando a chama sob a palma.
Enquanto o ar se extinguia, esta começou a bruxulear e as sombras do quarto, mais densas, o envolveram.
Sentindo o acelerar do coração e a tensão muscular, ele lutou para fugir do pânico irracional. A pequena chama desapareceu deixando apenas uma fagulha no pavio.
Com um gemido profundo, ele levantou a mão e concentrou a atenção no pontinho reluzente, a única maneira de vencer o terror cego que lhe estragaria a vida, se permitisse.
― Volte, maldita! Volte! Não morra me deixando sozinho na noite escura!
Por Deus, como a situação chegara a tal ponto? Vagarosamente, a fagulha foi se dilatando até trans¬formar-se em chama outra vez.
Incapaz de desviar o olhar, Jeremiah continuou a fitá-la.
Com as sombras afastadas, os demónios tinham sido vencidos.
Mas por quanto tempo? Quando encontraria paz novamente? Com outro gemido, ele tornou a deitar-se. Que diabos estaria acontecendo com ele? Não fora sempre assim.
Era um ianque, nascido em Rhode Island, capitão de mar aberto, criado em Narragansett.
Contava apenas onze anos quando, pela primeira vez, lutara para salvar a vida.
Havia sido ao lado do pai corsário, na Guerra de Independência.
Tinha tomado parte em duas outras guerras sem jamais virar as costas, com ou sem espadas, pistolas, ou apenas os punhos cerrados.
Havia enfrentado furacões em alto mar e bandidos em terra.
Seu temperamento era famoso, a coragem, indubitável.
Com um metro e noventa de altura e ombros largos, desenvolvera os músculos através dos anos de trabalho pesado.
Ninguém que o conhecesse o classificaria de covarde, mas ele não ignorava a verdade.
O capitão Jeremiah Sparhawk tinha medo do escuro.
6- O RAPTO DA NOIVA
Ela foi levada para uma aventura cheia de perigos e... desejo!
Rhode Island e Martinica, 1771.
Raptar Jerusa Sparhawk, minutos antes de seu casamento, foi a vingança pela qual Michel Géricault esperara a vida toda!
Vingança contra a família da noiva, responsável pela morte do pai de Michel, antigo pirata do Caribe.
Mas ele jamais imaginara que a deslumbrante Jerusa iria roubar seu coração...
Capítulo Um
Newport,
Colônia de Rhode Island e Plantações de Providence,
Ele não havia planejado estar naquela casa, não na noite do casamento.
Se fosse reconhecido, estaria pendurado na ponta de uma corda antes que pudesse fazer qualquer coisa.
E, se isso acontecesse, quem se encarregaria de fazer justiça?
Outra carruagem parou na frente da casa e Michel Géricault se encolheu mais nas sombras da alta cerca-viva.
Mais convidados para o casamento, mais cavalheiros ingleses de rosto vermelho, vestidos a rigor e acompanhados de suas deselegantes mulheres.
Sempre falando muito alto, aquelas pessoas tentavam imitar os modos da alta sociedade londrina, no que fracassavam fragorosamente.
Ah, bonDieu, como aqueles ingleses eram idiotas, todos eles, e como Michel os detestava!
A porta de entrada da casa se abriu e a luz de incontáveis velas chegou até perto da rua. Em vez do criado que Michel esperava ver, apareceu a inconfundível figura do capitão Gabriel Sparhawk em pessoa, a silhueta de ombros largos desenhando-se contra a luz enquanto ele dava as boas-vindas aos convidados para o casamento da filha. Depois de ter passado uma semana observando aquele homem, seguindo-o por todos os cantos, da casa ao escritório de administração e aos navios, Michel agora conseguia olhar para Sparhawk quase com impassibilidade, sem o ódio que sentira nas primeiras vezes. Era melhor assim, muito melhor.
Há muito tempo Michel havia aprendido que a paixão, fosse de que espécie fosse, levava a pessoa a imprudências que naquela noite ele não podia se dar ao luxo de cometer. Ouvindo o riso de uma mulher que vinha caminhando pela rua na companhia de alguém, Michel se abaixou para não ser visto.
A cerca-viva estabelecia o limite do jardim, à esquerda do qual havia um canteiro de rosas. À direita via-se uma florida madressilva.
No mais o jardim se compunha de um bem cuidado gramado e um bonito arvoredo. Do interior da casa vinha o riso dos convidados, ao qual se misturava o som mais distante dos músicos afinando seus instrumentos.
De algum lugar do andar de cima vieram as batidas de um relógio de parede: oito horas. Michel percebeu que precisava sair dali imediatamente, antes que fosse tarde demais. Só um idiota continuaria se expondo daquele jeito.
No entanto, do lugar onde estava ele podia ver pelas janelas abertas o interior da casa, até mesmo a sala de visitas.
Era como se estivesse num teatro cujas cortinas acabassem de se abrir e a cena o convidasse a permanecer, a observar.
Numa espaçosa mesa arrumada no centro da sala estava o alto bolo de casamento, em cima de uma estrutura prateada toda enfeitada com tiras de papel branco e finas correntes também prateadas.
Numa outra mesa, ainda maior e com vários candelabros de bronze com velas acesas, acumulavam-se os presentes de casamento.
Havia também uma outra sala, vazia de pessoas mas fartamente iluminada por velas da mais fina cera branca. Era uma extravagância inimaginável.
Uma exibição vulgar de riqueza, com o mau gosto muito próprio dos ingleses.
Falava-se que o capitão Sparhawk não havia poupado despesas para comemorar o casamento da filha preferida.
Assim sendo, o que ele não estaria disposto a pagar quando a jovem desaparecesse sem deixar vestígio?
8- PRESENTE DO CORAÇÃO
Prólogo
Tryon County, Nova Iorque Novembro de 1778
Ele não queria morrer só.
Não assim, oculto pelas sombras das árvores mais altas, sem ter quem o pranteasse, insepulto, coberto apenas pela neve, até que os lobos o encontrassem.
Ou os índios sênecas. Seria melhor que fossem os lobos.
Com esforço, deu outro passo... Mais um.
As pegadas impressas na neve eram sinuosas como as de um bêbado.
Se os soldados do coronel Butler o perseguissem, conseguiriam pegá-lo com facilidade; Jamie não tinha como detê-los.
A bala da pistola do sargento Herrick atingira em cheio seu ombro esquerdo, e a ferida, aparentemente, ficara bem limpa.
No terceiro dia, entretanto, o ferimento infeccionara e Jamie tivera febre logo depois de a nevasca começar.
Agora, olhando para o rifle em sua mão, o tambor coberto de uma camada fina de gelo, ele não sabia dizer se as mãos tremiam de frio ou por causa da febre.Sua mãe teria o remédio para fazer baixar a febre. Causado pela bala.
Ela escolheria nos feixes de ervas e cascas, os quais mantinha pendurados nas vigas do teto, exatamente o que precisava.
Colocaria a seguir as folhas na panelinha de ferro e prepararia uma poção.
Ou, talvez, achasse melhor fazer uma cataplasma.
O que quer que fosse, ele teria de aceitar sem medo e sem careta, para dar exemplo de coragem ao irmãozinho, Sam.
Por fim, estando o braço bem limpo e enfaixado, a mãe o premiaria com uma generosa porção de torta de abóbora servida com creme de ovos, no prato vermelho, de louça.
Jamie era um homem alto, forte e sobrevivera a coisas muito piores do que aquele ferimento no ombro. Por ter estado na mata com os outros soldados tories.
Capítulo Um
Segure-se bem, Billy!
Impaciente, Rachel deixou o bal¬de vazio no chão coberto de neve e ergueu mais o menino risonho que trazia às costas.
Por que o garoto teimava em carregar Blackie, o cavalinho de pano, aonde quer que fosse? Por que não o largava, nem mesmo para ir até o estábulo, que ficava a pouco mais de doze metros da casa?
Para Billy, naturalmente, agarrar-se ao brinquedo parecia mais importante e muito mais divertido do que se manter firme nas costas da mãe.— Billy Lindsey, você é mesmo irrequieto como um serelepe — Rachel ralhou com o filho afavelmente, ao curvar-se para pegar o balde.
— Não escorregue de novo, ouviu bem?
Na verdade, ela reconhecia que o pequeno William tinha razão de não querer andar a cavalo nas costas da mãe, como um bebê.
No final do verão Billy seria capaz de correr mais do que ela para ir ao pomar.
Em outubro ele completara três anos e ela havia cortado e costurado para o filho as primeiras calças, apesar de o garoto, até o momento pedir-lhe ajuda para abotoar às roupas.
Agora, no inverno, Billy precisava realmente de botinas ou sapatos de couro, reforçados, iguais aos que ela se lembrava de ter visto nos pés dos meninos em Providence ou Newport, e não esses Mocassins de pele de cervo que ele estava calçando.
Sim, eles moravam bem longe da cidade, mas nem por isso, o pequeno William teria de crescer como um selvagem.
O problema era que sapatos e botinas custavam dinheiro; muito mais do que ela poderia obter, estando o marido na guerra.
Não que houvesse muito dinheiro no tempo em que William ainda estava na fazenda. Desde que eles saíram de Providence o marido estivera tão parcimonioso com o dinheiro quanto desprovido de afeição; e muito mais predisposto a censuras e a tapas.
Com um profundo suspiro, Rachel seguiu para o estábulo, a saia longa arrastando-se na neve recente, os pés escorregando dentro das botas do marido, grandes demais para seus pés, embora as tivesse enchido parcialmente com lã.
Reconheceu que não devia queixar-se, nem mesmo em pensamento.
O inverno anterior fora difícil por ter sido o primeiro passado na fazenda e ela havia estado sozinha, apenas com Billy.
Este ano seria melhor, pois sabia o que a esperava e achava-se preparada para enfrentar as dificuldades.
Não era mais a recém-casada inexperiente e tola, com a mente povoada de sonhos românticos.
9- UM SEGREDO DE MULHER
“Parece que a conheço de algum lugar...”
Newport, 1779
Catie Hazard não esperava rever o belo oficial que lhe roubara a inocência havia quase uma década.
Pensou que nunca mais encontraria Anthony Falcon. Menos ainda vestindo o uniforme do exército invasor.
Seria terrível se ele a reconhecesse!
Catie, uma bela e respeitada viúva de Newport, em nada se parecia com aquela garota indefesa que servia bebidas entre mesas de tabernas. Além de não querer ver seu passado revelado, ela guardava um segredo a sete chaves... que Anthony jamais poderia descobrir!
Capítulo Um
Newport
Colônia de Rhode Island
Junho de 1767
Durante toda a noite o cavalheiro de longos cabelos loiros perseguiu Catie com o olhar. Era como a águia em busca de sua presa.
Ele conversava e ria com amigos, levantando copos, cumprimentando aos gritos os frequentadores da taverna. No entanto, Catie percebia aquela energia lasciva sobre si, procurando-a, ansiosa, por entre as mesas.
Em seu trabalho como garçonete, Catie às vezes se via às voltas com homens abusados. Nesse instante, porém, apesar de tanto atrevimento, sentia-se muito atraída. No entanto, não estava acostumada a dar atenções especiais à clientela. Não bebia nem aceitava convites para passeios ao longo do cais.
Catie trabalhava duro para ajudar a manter a mãe e a pequena propriedade no campo. Todos a consideravam uma boa moça. Nenhum dos frequentadores da taverna tinha o menor motivo para acusá-la de comportamento leviano.
Catie procurava concentrar-se no atendimento. Equilibrava pratos e canecas na bandeja, evitando se aproximar da mesa junto à lareira.
Em seus dezessete anos de vida, Catie jamais vira homem tão atraente e sedutor como o cavalheiro sentado junto ao fogo. Os cabelos longos e loiros, os olhos azuis, o porte e a elegância exerciam incrível impacto. Catie estava fascinada.
- Cuide do serviço, Catie Willman. Homens finos e gentis como aquele não são para moças como você - disse Rebecca, entregando à companheira mais uma bandeja com canecas de bebida.
Catie ajeitou o avental e o lenço da cabeça e respondeu:
- Não vejo nada de mais em admirar um homem bonito.
- Bonito? Eu queria saber quantas moedas de ouro esse fidalgo senhor traz em seu bolso. - Rebecca deixou escapar uma risada de deboche, advertindo a seguir: - Cuidado, Catie: falcões dourados são certeiros e impiedosos.
- Falcões dourados - repetiu Catie ao recordar que a família Falcon, tradicional em Newport, era conhecida por possuir magníficas casas na cidade e a frota de navios que atravessava o Atlântico.
O homem loiro sorria e gesticulava com os amigos. Discretamente, ele fazia sinais para Catie, indicando o pátio, na direção do poço. Parecia que pretendia marcar um encontro.
Catie não resistiu. Correspondeu ao insistente olhar do cavalheiro. Corou e, atrapalhada, quase deixou cair a bandeja.
- Cuidado, Catie! Preste atenção ao serviço!
- Está vendo, Rebecca? É ele quem está olhando para mim. Está fazendo sinais.
- Sinais? Um Falcon jamais se interessaria por uma lebre assustada como você, Catie.
Série Família Sparhawks
1 - Insensata Paixão
2 - O Náufrago
3 - A Amante do Pirata
4 - Desire, Meu Amor
5 - A Princesa e o Plebeu
6 - O Rapto da Noiva
7 - Sparhawk's Angel (não lançado no Brasil)
8 - Presente do Coração
9 - Segredo de Mulher
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