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20 de maio de 2012

A Farsa da Condessa



Quero deixar bem claro que não foi minha a ideia de criar uma armadilha para o melhor partido da Inglaterra, o conde de Greystone, se casar comigo.


Meu tio, lorde Charlwood, é que estava por trás dessa pequena tramoia. 
Se meu pai não tivesse sido morto e me deixado aos cuidados de Charlwood, nada disso teria acontecido... De repente, eu era lady Greystone, uma condessa e uma senhora casada. 
Aprender a ser condessa não foi tão difícil. 
Aprender a ser casada teria sido bem mais fácil se eu não corresse o risco de me apaixonar perdidamente pela única pessoa que estava além do meu alcance... meu marido! 
Bem, se eu não podia conquistar o amor de Adrian, pelo menos eu estava determinada a me vingar, pelo meu pai. Eu jurei desmascarar o assassino dele, e não me importava de correr perigo para alcançar meu objetivo. Portanto, se você, caríssima leitora, está curiosa para saber como eu me saí dessa, leia esta história... 


Capítulo Um 


Tudo começou com a morte de meu pai. Mesmo que eu vivesse cem anos, nunca me esqueceria daquele dia. 
O céu estava cinza-chumbo, e os ramos desfolhados das árvores, escuros de umidade. 
Os homens carregaram-no para dentro de nosso alojamento, e seu rosto estava cinzento como o céu. 
— Algum maldito tolo estava caçando no bosque, srta. Cathleen — disse Paddy, com a face marcada pelo tempo vermelha de emoção e frio. 
— Ele não deve ter visto o sr. Daniel cavalgando. Freddie foi chamar o médico. 
— Papai. — Ajoelhei-me ao lado da cama. O tecido que havia sido a camisa de Paddy fora embolado e apertado sobre a ferida em seu peito, e encontrava-se ensopado de sangue. 
Seus olhos se agitaram ante o som da minha voz. Os cílios se ergueram e, pela última vez, fitei aquele azul brilhante e familiar. 
— Kate... Jesus... Estou liquidado. — Ele fechou os olhos. — Papai! — Eu estava o mais perto que já havia chegado da histeria. Porém, obriguei-me a manter a voz firme. 
— O médico está vindo. O senhor ficará bem. 
— Eu não... achei que ele... suspeitasse... que eu sabia — meu pai murmurou. 
— Não achou que quem suspeitasse, papai? — Minha voz soou aguda. — O senhor sabe quem atirou? Ele não respondeu de imediato. 
— Papai? 
— Não sei... quem... — Ele abriu os olhos de novo e fitou Paddy. 
— Mande chamar... Charlwood. O irmão de Lizzie. — Houve um silêncio enquanto ele recuperava o fôlego. — Para tomar conta de Kate. 
— Ninguém vai tomar conta de mim — falei. — Apenas fique quieto e espere o médico. O senhor ficará bem, papai. 
Os olhos azuis mantiveram-se fixos no velho criado, que o acompanhava desde a infância. 
— Paddy? — Estou bem aqui, sr. Daniel. 
— Prometa... — Houve mais um instante de silêncio enquanto ele respirava com dificuldade. 
O esforço agonizante fez-me cravar as unhas nas palmas. — Prometa que vai buscar... Charlwood. 
— Vou, sim, fazer isso, sr. Daniel. — A suave voz do irlandês foi firme. — Não se preocupe. Vou assegurar que tomem conta da srta. Kate. 
O peito manchado de sangue arfava. Olhei freneticamente na direção da janela do pequeno e gasto alojamento. 
Não havia som de cavalos indicando a chegada do médico. O único ruído no aposento era o da agourenta respiração de meu pai. 
— Não fale, papai — eu disse. — O médico chegará logo. Ele me fitou mais uma vez. 
— Fui um mau pai, Kate — ele murmurou. — Mas... eu amo você. Seus olhos se fecharam, e nunca mais se abriram. 
Minha primeira reação foi de raiva cegante e absoluta. 
Na verdade, criei tamanha comoção que o magistrado local instituiu uma busca pelo assassino de meu pai. Porém, a procura foi infrutífera. Então o pesar se estabeleceu. Eu não chorei. 
Havia pranteado a morte de minha mãe, mas tinha apenas dez anos na época; era jovem demais para perceber a futilidade das lágrimas. 
Isso foi algo que aprendi ao longo dos anos. 
Chorar não a trouxera de volta, e tampouco traria meu pai. 
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