A senhorita Jane Fairfield não podia fazer nada certo.
Quando tinha companhia, sempre dizia o que não devia...
Por mais caros que fossem seus vestidos, sempre eram horríveis.
Nem sequer seu imenso dote poderia salvá-la de ser ridicularizada.Isso era exatamente o que ela queria.
Ela estava pronta para qualquer coisa, até ser humilhada, contanto que permanecesse solteira para proteger a sua irmã.
O senhor Oliver Marshall tinha que fazer tudo certo. Era filho bastardo de um duque, criado em circunstâncias humildes, e pretendia dar voz e poder às pessoas pobres.
Se desse um passo em falso, nunca teria a oportunidade de fazer nada.
Não o ajudaria em nada salvar a mulher errada. E muito menos lhe ajudaria apaixonar-se por ela. Mas a valente e encantadora Jane tinha algo que ele não podia resistir... Embora isso pudesse implicar em um desastre para os dois.
Capítulo Um
Cambridgeshire, Inglaterra, janeiro de 1867.
A maioria dos números que a senhorita Jane Vitória Fairfield tinha encontrado em sua vida tinham sido inofensivos. Por exemplo, a costureira com quem ela estava provando um vestido a tinha furado sete vezes ao colocar quarenta e três alfinetes, mas a dor tinha desaparecido logo.
Os doze buracos de seu espartilho eram um inferno, sim, mas um inferno necessário; sem eles não conseguiria reduzir sua cintura de um contorno terrível de trinta e seis polegadas, para um também terrível, trinta e uma.
Os dois não eram números assustadores, nem sequer chegava ao número das irmãs Johnson, que estavam atrás dela vendo a costureira cravar com alfinetes o vestido no corpo pouco elegante de Jane.
Não aguentou as irmãs rindo dela pelo menos seis vezes na última meia hora. Não, esses números eram meramente irritantes... como mosquitos que podiam ser espantados com um leque banhado em ouro.
Não, todos os problemas de Jane podiam se resumir em dois números diferentes a esses. O primeiro era de cem mil, e era um veneno absoluto.
Respirou tão profundamente como lhe permitia o espartilho e saudou com uma inclinação de cabeça à senhorita Geraldine e à senhorita Genevieve Johnson. Aquelas jovens não faziam nada de errado aos olhos da sociedade. Estavam com vestidos quase idênticos; um de musselina azul e o outro verde pálido. Levavam leques idênticos, ambos com cenas bucólicas pintadas. As duas eram bonitas e pareciam bonecas de porcelana da China: olhos azuis e cabelos loiros claro que se frisavam formando cachos nos cabelos brilhantes. O contorno de suas cinturas era muito inferior a vinte polegadas. O único modo de distinguir às irmãs era que Geraldine Johnson tinha um sinal em forma de lua perfeito na bochecha direita e Genevieve tinha outro igual na esquerda.
As primeiras semanas depois de conhecer Jane tinham sido amáveis com ela.
Essa suspeitava que deviam ser bastante agradáveis enquanto fazia suas vontades. Mas Jane tinha um talento para que as garotas amáveis deixassem de ser.
A costureira colocou o último alfinete.
-Ai está – anunciou - Agora olhe-se no espelho e me diga se quer trocar algo, retirar um pouco da renda, talvez, ou utilizar menos.
Pobre senhora Sandeston! Pronunciava aquelas palavras igual falaria do tempo um homem que iria cavalgar essa tarde. Melancolicamente, como se a ideia de muita renda fosse horrível, algo que só saberia graças a um extraordinário e improvável ato explícito de clemência.
Jane caminhou para frente e observou o efeito de seu novo vestido. Nem sequer teve que fingir um sorriso, pois este se estendeu por seu rosto como manteiga derretida sobre pão quente. O vestido era horrível. Verdadeiramente horrível. Nunca antes se investiu tanto dinheiro em tanto mau gosto. Olhou sua imagem no espelho com prazer. A imagem lhe devolveu o olhar: cabelo e olhos escuros, charmosos e misteriosos.
-O que vocês acham? - perguntou, voltando-se - Deveria ter mais renda?
Atormentada a senhora Sandeston lançou um gemido a seus pés.
Tinha motivo. O vestido já tinha três tipos diferentes de renda. Metros e metros de azul rodeavam a cintura formando ondas grossas. Uma peça fina de renda belga marcava o decote e um chantilly negro com um desenho de flores criava manchas negras ao longo das mangas. O tecido era bonito de seda estampada, mas não se podia ver debaixo de tantas camadas de renda.
O vestido era uma abominação de rendas mais Jane amava.
Porém uma verdadeira amiga falaria para tirar toda a renda.
Genevieve assentiu.
-Mais rendas. Definitivamente, acredito que precise de mais. Um quarto tipo, provavelmente?
Santo Deus!
Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
Série Concluída