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31 de janeiro de 2021

A Senhora sempre vence

É tudo diversão e jogos. 

Ninguém jamais chegou perto de tomar o lugar que Virginia Barrett tinha no coração de Simon Davenant. Quando criança, Ginny era a sua melhor amiga e camarada de armas. Quando jovem, ela se tornou sua namorada. Mas quando seus pais descobriram sua crescente afeição, eles ameaçaram reduzir Simon a sem um centavo se ele se casasse com ela. E quando Simon planejou uma fuga, Ginny recusou: Ela não iria se casar com um homem
pobre.
Jamais. Até que alguém perdeu uma fortuna. Nos sete anos
desde a última vez que se viram, Ginny foi casada e depois viúva. Simon construiu um império como financiador de ferrovias. Quando eles se reencontram, ainda há a mesma atração deliciosa e divertida entre eles. Mas apenas Simon sabe o quão tênue é sua segunda chance. Todo mundo acredita que Simon é rico. Na verdade, sua empresa foi adquirida por um concorrente hostil e ele está arruinado. Ele sabe por amarga experiência que Ginny não se casará com um homem pobre. E assim ele tem três dias até que as notícias se tornem públicas - três dias para seduzir, cortejar e casar com a mulher que ele não pode esquecer, ou arriscar perdê-la ... e desta vez para sempre.

Capítulo Um

Uma pequena vila em Kent, Primavera de 1845.
Simon Davenant tinha apenas três dias para cortejar e casar com uma mulher.
Não apenas uma mulher – A mulher.
No momento, as únicas coisas entre ele e o objeto de suas afeições eram um campo exuberante de tulipas coloridas, uma passagem de pedras brancas, e sete anos de silêncio mordaz de sua parte.
Fazia tanto tempo desde a última vez que ele pôs os pés em Chester-on-Woolsey - sete longos anos em que se enterrou em seu trabalho, tentando esquecer os cabelos e olhos escuros, a sensação de sua pele, o som da risada dela. Não deu certo. Tudo o que ele havia feito o lembrava desse lugar.
Simon caminhou até Folly de Barrett - a pequena propriedade que ela herdara de sua tia - há cinco quilômetros de distância da estação ferroviária. Ele desviou-se de seu destino apenas o tempo suficiente para deixar sua mala na pousada da cidade. O homem que lhe designara seu quarto era novo na área; ele nem piscou em reconhecimento quando Simon deu o seu nome. Naquela hora, apenas a padaria estava aberta. Ele parou para comer um pão, mas a velha sra. Brandell não se lembrava dele também. Não havia razão para que a pequena vila o recordasse. Ele apenas passou as férias de infância aqui.
Contudo, parecia injusto que ele pensasse tantas vezes em Chester-on-Woolsey, enquanto seus habitantes mal lhe davam um olhar para trás. Ainda assim, ele lembrou a si mesmo enquanto observava as tulipas ondularem diante dele, ele veio aqui por uma razão, e uma razão apenas. E ela estava na casa agora em frente dele. Os primeiros reflexos da luz do sol brilhavam nas janelas que precisavam ser lavadas. Folly de Barrett nunca fora mais do que uma cabana, mas parecia ainda menor do que ele se lembrava. Tinha sido grande o suficiente para uma mulher idosa e sua sobrinha. Ele tinha estado ali apenas duas vezes durante a
Páscoa, mas nas duas vezes ficou impressionado com o efeito das tulipas: dois acres cheios, florescendo em uma profusão de cor de rosa, dourados e vermelhos. Não se pensava que as tulipas tivessem um aroma - não como rosas ou gardênias. Mas, reunidas às dezenas de milhares, ele podia respirar o perfume delas: sutil, verde e novo, um cheiro que o fez lembrar de uma época em que ele não tinha mais do que esperança para o mundo. Ele enrolou em torno de seu coração como um punho, aquela nostalgia desperta. Mas, mesmo que ele tivesse a tendência de se entregar a memórias que se tornaram mais amargas do que doces, ele não tinha paciência. Ele certamente não tinha tempo.
Simon ajeitou a gravata, que era de linho mais fino e puro, e arrumou os punhos, que eram mantidos juntos nos pulsos por elos de ouro cravados com pedras de ônix. Para mais rico ou mais pobre, para melhor ou para pior, Virginia Barrett - não, caramba, Virginia Croswell - finalmente seria dele. Ele agarrou sua determinação, ignorou os fracos protestos de sua consciência irrelevante, e avançou.


28 de janeiro de 2017

Fale Doce para Mim

Série Os Irmãos Sinitros
Ninguém sabe quem é Miss Rose Sweetly e ela prefere assim. 

Ela é uma mulher tímida, com uma mente matemática, filha de um lojista, e que sonha com as estrelas. 
Mulheres como ela só costumam chamar a atenção através de um escândalo. 
Ela prefere a obscuridade, muito obrigado.
Toda a Inglaterra sabe quem é Stephen Shaughnessy. 
Ele é um infame colunista de conselhos e só causa confusão. Quando ele se muda para a casa ao lado de Rose, ela descobre que ele também é perversamente engraçado, diabolicamente sedutor e lindo. Mas quando ele se interessa pelo seu trabalho de matemática, ela percebe que o Sr. Shaughnessy não é apenas um escândalo à espera de acontecer. Ele está à espera que ela se envolva em um escândalo com ele... e se ela não for cuidadosa, ela vai arruinar-se.

Capítulo um

Greenwich, novembro de 1882
Não era possível a senhorita Rose Sweetly colocar suavemente no chão os pacotes que carregava. Todos os seis estavam equilibrados precariamente sob um dos seus braços enquanto remexia o seu bolso com uma das suas mãos. Os seus dedos encontraram bocados de lápis usados e uma carta dobrada ao meio; o seu fardo se deslocou um pouco, deslizando para longe de si... Se aquele desgraçado chaveiro não estivesse neste bolso e estivesse no outro, ah!
O seu dedo polegar e o dedo indicador tocaram em frio metal. Rose estava a retirar as chaves em triunfo quando uma voz a interrompeu.
— Boa tarde, senhorita Sweetly.
O som da voz do Sr. Shaughnessy — aquele veludo cadenciado — colocou o inevitável em movimento. Primeiro, o livro embrulhado em papel escorregou; Depois, quando ela o agarrou, o seu caderno começou a cair. Ela conseguia calcular a física deste desastre em sua mente, uma avalanche em cascata de pacotes resultante de poucas mãos para os agarrar e muita gravidade. Rose só tinha tempo para tomar uma decisão: a régua de cálculo ou salvar as compras?
Optou pela sua régua de cálculo. Ela agarrou a bolsa em couro com a ponta dos dedos antes dela tocar no chão.
Os seus outros pacotes não foram tão sortudos. O livro caiu no chão fazendo pouco barulho ao bater na superfície dura. As compras caíram com um som mais alto — parecia que se estavam a partir ovos. Três laranjas escaparam do saco e rolaram pela calçada.
O Sr. Stephen Shaughnessy estava duas portas abaixo da dela. As suas sobrancelhas subiram com esta catástrofe, e Rose sentiu as bochechas aquecerem. Mas não havia nada a fazer agora a não ser manter um ar calmo e descontraído.
Ela deu-lhe o seu mais brilhante sorriso e acenou com a bolsa onde estava guardada a sua régua de cálculo — Boa tarde, Sr. Shaughnessy.
A bolsa se abriu um pouco, mas ela conseguiu apanhar a régua antes que acontecesse um desastre ainda maior.
Há três meses atrás, o Sr. Shaughnessy mudou-se para a casa ao lado da casa da irmã dela, onde Rose vivia. Em todo esse tempo, ela nunca conseguiu acalmar os nervos que ela sentia ao seu redor. Ele nunca tinha feito nada para merecer esse nervosismo, infelizmente; Era muito educado.
Como prova disso, ele não zombou dela por sua falta de jeito. Nem sequer disse nada sobre isso. Simplesmente veio em sua direção. Ele deu três passos para a frente — e ela andou para trás um — antes que ela percebesse que ele pretendia apenas apanhar as suas laranjas caídas.
Por que outro motivo ele poderia estar se aproximando dela? Ela tinha de parar de pensar em outras coisas.
Com cuidado, pousou a sua régua de cálculo e pegou a sua sacola de compras. Era de lona, e a maioria do conteúdo não tinha se derramado. 
A carne, embrulhada em papel encerado, ainda estava na parte inferior da sacola. Os ovos... bem, iria ver como estavam depois de entrar em casa, mas suspeitava que ela e a sua irmã iriam comer omeletes ao jantar. Apenas a fruta tinha ficado amassada. Ela pegou uma maçã, não olhando em sua direção. Mas ela não tinha que o olhar diretamente para estar ciente dele. O Sr. Shaughnessy era um jovem — apenas alguns anos mais velho que ela. Ele era alto e possuía umas linhas adoráveis, bem musculadas, o tipo que as jovens senhoras que pretendiam continuar inocentes não deveriam notar. 
Ele tinha um sorriso amigável, que fazia com que uma mulher quisesse sorrir em resposta, e um pequeno indício de um sotaque irlandês quando falava. Tinha cabelo escuro, olhos escuros e uma reputação muito mais escura. mMas ele pegou uma das frutas ofensivas e sorriu na sua direção.
— Por que é que as laranjas saltaram, mas as maçãs não?
Seu sorriso parecia uma flecha, que a atingiu direto no seu peito. Então, Rose ajustou os seus óculos no nariz e disse a primeira coisa que veio à mente.
Infelizmente, a primeira coisa que veio à mente foi...

Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
Série Concluída

13 de janeiro de 2017

O Escândalo da Sufragista

Série Os Irmãos Sinitros
Uma sufragista idealista ...

Miss Frederica "Free" Marshall colocou o coração e a alma em seu jornal, conhecido pelo apoio franco dos direitos das mulheres. 
Naturalmente, seus inimigos têm a intenção de destruir seu negócio e silenciá-la para sempre. Free se recusa a estar no final de sua linha... mas ela precisa de mais linha, e ela precisa agora.
Um patife cansado ...A família aristocrática de Edward Clark o abandonou para morrer em uma terra devastada pela guerra, de modo que ele sobreviveu da única maneira que poderia: transformando-se em um canalha e um falsificador de primeira classe. Quando a mesma família que o deixou por morto deseja arruinar Miss Marshall, ele oferece sua ajuda. 
Então e se tiver de mentir para ela? Ela é apenas um peão para usar em sua vingança...
E um escândalo de sete anos.
Mas a irreprimível Miss Marshall logo encanta Edward. Quando percebe que seu coração cínico é dela, é tarde demais. A única maneira de frustrar seus inimigos é revelar seu passado escandaloso... e quando a mulher que ama perceber o quanto ele mentiu para ela, vai perdê-la para sempre.

Capítulo Um

Cambridgeshire, março 1877
Edward Clark, estava aborrecido consigo mesmo. Uma coisa era fazer um favor a um homem. Outra coisa inteiramente diferente era levar Edward para este lugar, atravessando a multidão, que gritava nas margens do rio, se acotovelando uns contra os outros. E qual era a finalidade? Ver os barcos correndo ao longo da curva do Rio Tâmisa? Ele nem sabia que estava familiarizado com um membro da tripulação de Cambridge até que ele olhou para um jornal esta manhã. E, no entanto, ali estava ele, esperando. 
Como todos em torno dele. Ele se inclinou para a frente, atentamente. Como eles, prendeu a respiração quando ele vislumbrou o primeiro barco. Mas a tripulação a bordo estava vestida em azul escuro, gritando "Oxford, Oxford!" Houve um rugido tumultuado em torno dele.
 Ele afundou-se nos calcanhares, mas antes que ele tivesse a chance de relaxar, outro barco apareceu, remando com homens vestidos em azul claro. Ecoaram gritos ao redor. Edward não se mexeu. Continuou concentrado atentamente no barco de Cambridge.
Tinha passado quase uma década desde que ele tinha visto Stephen Shaughnessy. Naquela época, Stephen era um menino. Ele era uma chateação que estava sempre ao redor, como um mosquito. Edward tinha esperado sentir uma onda de nostalgia quando o homem entrou na sua vista. Talvez a amargura da culpa.
Ele não sabia identificar os sentimentos que o deixavam sombrio — sentimentos conflitantes que saltaram para a sua mente, deixando seus músculos tensos e uma sensação estranha no seu dedo mindinho.
 Não eram de todo emoções normais. Ele tinha a sensação que uma tempestade estava prestes a cair e não havia uma nuvem no céu.
Pela documentação Edward sabia que ele era o terceiro homem no barco. Ele não era nada além de uma mancha indistinta de cabelo escuro e músculos em movimento. Era uma estranha razão para Edward deixar sua casa ampla em Toulouse e arriscar a vida confortável que ele tinha conseguido por si próprio.
Ele fez isso de qualquer maneira. Ele tentou erradicar todo o seu idealismo, mas, aparentemente, ele ainda possuía alguns princípios tolos.
Ao seu redor, a multidão ficou mais barulhenta e inquieta. A corrida estava se aproximando e os camisas azuis de Cambridge avançavam sobre os de Oxford. Edward sentia-se como uma rocha escura, sólida e imóvel no meio de toda a excitação.
Nada lembrava sua antiga bravura. Tudo parecia irrelevante diante do povo reunido ao longo das margens do rio. Todas as pessoas estavam concentradas no momento. Era a coisa mais importante do universo: os homens em seus barcos, lutando com a velocidade da água agitada. Aqui, não havia certeza de nada. E neste universo de incerteza, a corrida era acirrada. Havia apenas preto e branco, certo e errado, Cambridge e Oxford. E Oxford estava à frente por um quarto de comprimento.
Nem todo mundo estava empolgado. À sua direita, alguns passos para trás, uma mulher levantou-se, dissimulando o seu tédio. 

Ela estava usando um vestido rendado, elegante, que a fazia parecer um algodão doce. Bonita o suficiente para olhar, mas ele suspeitava que magoaria os seus dentes se tentasse participar. Ela se agarrou ao braço de um homem com a face corada, olhando para o rio a cada meia hora, fazendo parecer que tinha sido arrastada para esse local e estava fazendo o seu melhor, fingindo um interesse que não tinha.
A maioria das pessoas que estavam em volta na margem do rio, tentava esconder o tédio. A corrida acontecia, era o lugar certo para serem vistos e para verem as pessoas. Ele deveria se juntar a eles e deixar a vista privilegiada para quem estava interessado de fato.
Porém, seus olhos perpassaram com interesse por uma mulher em particular. Ela não estava atrás como a multidão com tédio. Estava empoleirada em um banquinho para poder enxergar melhor todo o processo. Ela usava uma saia escura e uma blusa branca. O casaco tinha um toque masculino, com linhas fortes, de aspecto militar nos punhos e dragonas nos ombros. Usava chapéu do tipo coco, de homem. O lenço de tecido de um estranho verde azulado, conhecido como Azul Cambridge, estava atado ao redor do pescoço, numa estranha imitação de uma gravata. Ela não fingia interesse na corrida. 

24 de dezembro de 2015

Um Beijo Durante o Solstício de Inverno

Série Os Irmãos Sinitros

A senhorita Lydia Charingford está sempre alegre, principalmente na época do Natal.

Mas não importa o quanto sorria, ela não consegue esquecer o erro juvenil, que quase arruinou sua reputação. 
Mesmo que o pior de sua indiscrição foi mantido em segredo, uma outra pessoa sabe a verdade daqueles dias sombrios: o sarcástico doutor Jonas Grantham. 
Ela não quer ter nada a ver com ele... ou com as borboletas que levantam vôo em seu estômago toda vez que ele a olha.
Jonas Grantham tem um segredo, também: ele tem estado apaixonado por Lydia por mais de um ano. 
Neste inverno, ele está determinado a ganhar sua simpatia e conquistá-la. Tudo começa com uma aposta e um beijo...

Capítulo Um

Leicester, setembro de 1857.
— Em sua condição — O Doutor Parwine estava dizendo do outro lado da sala — ela deve particularmente ter cuidado com os miasmas nocivos.
A atmosfera na sala não estava nociva nem miasmática, Jonas Grantham pensou, apenas sombria e tensa. A menina — e, infelizmente, ela era uma menina, não importava a situação em que ela se encontrava — estava sentada rigidamente em uma cadeira no meio da sala. Seu cabelo era escuro e estava solto; seu corpo não mostrava sinal das mudanças que logo apareceriam. Ela não chorou, embora Jonas supunha que a maioria das garotas em sua situação iriam chorar. Ela simplesmente olhava para frente, com as mãos entrelaçadas. Talvez ela não tenha entendido o que tinha acontecido com ela.
Ele tinha visto ela uma ou duas vezes antes. Ele se lembrava dela brincando com outras garotas poucos anos atrás, rolando um aro na rua e gritando alegremente, fitas arrastando atrás dela.
Ela ainda parecia mais criança do que mulher, mas não havia indício de riso nela agora.
— Miasmas nocivos — a mãe da menina exalou. — O que são miasmas nocivos?
— Miasmas — Parwine entoou — são a causa de todas as doenças, e particularmente nocivos para... — Ele olhou para a menina, e então estreitou os olhos. — Para futuras mães — completou. — Há vários miasmas que se deve evitar. Há o miasma idio-kino, produzido por…
Jonas Grantham mal conteve-se de rolar os olhos. Em questão de semanas, estava previsto que ele iniciasse sua instrução médica no King’s College em Londres. Ele passou de estudante com pedigrees de Oxford e Cambridge para ganhar uma premiada bolsa de estudos de três anos em Warneford. 
Ele estava ansioso para a primeira palestra — prevista para primeiro de Outubro, às oito horas, meros seis dias e sete horas a partir deste momento — e ignorantes como Parwine faziam suas mãos coçarem mais que tudo.
Sério, miasmas? Nestes dias e época moderna? A teoria dos miasmas tinha sido conclusivamente descartada há três anos. Apenas tolos ignorantes jorravam esta asneira. Mas Jonas tinha pedido para passar o tempo com o Doutor Parwine. 
Ele tinha um acordo em vigor para assumir a prática do homem quando ele terminasse sua educação. Parwine tinha sido mais específico: Ele poderia vir junto, ver como as coisas funcionavam, mas como um ignorante (palavras do velho homem) jovem, ele deveria se manter em silêncio. Então ali estava Jonas, escutando um velho divagar sobre miasmas.
— Finalmente — Parwine estava dizendo — há o miasma perkoino, o causador da febre amarela, mas certamente vocês não irão expor sua filha a isso.
Os pais dela trocaram olhares. — Não, doutor, claro que não. Mas o que deve ser feito?

Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
Série Concluída



6 de setembro de 2015

A Conspiração da Condessa

Série Os Irmãos Sinitros
Sebastian Malheur é um sedutor dos mais perigosos, um sedutor educado. 

Quando não escandalizava as mulheres no quarto, escandalizava a boa sociedade com suas teorias científicas. 
Era um homem desejado, injuriado, aclamado e desprezado... E ria de tudo isso.
Violet Waterfield, a condessa viúva de Cambury, por sua vez, é muito respeitável e quer continuar assim. 
Mas tinha um segredo muito desonroso, um segredo que a ligava de um modo irrevogável a um dos canalhas mais famoso da Inglaterra. 
As teorias científicas de Sebastian não eram dele, e sim dela.
Então, quando Sebastian ameaçou dissolver sua conspiração de anos, ela tentou fazer o que pode para garantir sua colaboração... Mesmo que isso implicasse abrir seu vulnerável coração ao sedutor, e isso podia destruí-la para sempre.

Capítulo Um

Cambridge, maio de 1867
Violet Waterfiel, Condessa de Cambury, sempre se sentia muito confortável entre a multidão.
Outras mulheres de sua posição podiam sentir desprezo ao sentar-se em um auditório cotovelo com cotovelo com qualquer pessoa da rua sem que nada a diferenciasse do velho amigo que se sentava a sua esquerda ou do homem velho, que sem dúvida vivia com uma pensão magra, sentado a sua direita. 
Outras mulheres podiam murmurar entre elas sobre o aroma da humanidade que desprendia de uma multidão compacta. Mas Violet conseguia desaparecer em uma multidão. O aroma de fumaça rançosa de um charuto e a corpos sem banho significava que ninguém a notava. Ninguém a olhava procurando aprovação nem queria sua opinião sobre alguma tolice que ela não se importava. Em uma multidão, Violet podia deixar de fingimentos e se permitir a sua única paixão proibida: o senhor Sebastian Malheur.
Ou, para ser mais exato, seu trabalho.
Sebastian era seu amigo a muito tempo e nesse dia era ele que falava com a multidão. Tinha uma voz profunda e um sorriso travesso, e utilizava ambos muito bem para conseguir que as observações científicas mais anódinas fossem interessantes. Perversas, inclusive. O resto dele, seu cabelo escuro brilhante, o sorriso deslumbrante e malicioso que usava sempre, Violet o deixava para as damas enrubescidas da boa sociedade que desejavam conhecê-lo intimamente.
Não lhe interessavam em nada nem seus atrativos nem seus flertes. Já seu trabalho, em troca...
— Até o momento — dizia Sebastian, — minhas pesquisas têm se concentrado em recursos simples: as cores das flores, as formas das folhas... detalhei vários mecanismos de herança diferentes. O que vou apresentar hoje não é uma explicação muito clara, mais uma série de perguntas desconcertantes.
Violet já tinha ouvido aquelas palavras antes. Mais de uma vez. Naquela manhã as repetiram várias vezes, tentando que ficassem perfeitas.
Tinham conseguido.
Ele passou o olhar pelo público e, embora não olhasse em sua direção, Violet se surpreendeu sorrindo. Aproximava-se a parte interessante.
— O desconcerto — disse Sebastian — significa que fica algo por descobrir. Me permite dizer o que não sabemos.
Violet estava consciente de que não era a única que jogava o corpo para frente com ansiedade. Sebastian era um ímã. Atraía às pessoas sem nem sequer tentar. Alguns de seus ouvintes eram jovens cientistas que o adoravam, estavam ligados a todas suas palavras e sonhavam seguir seus passos. Outros eram seguidores de Darwin, como Huxley, que estava em um canto e observava o que acontecia com olhos vivos sob as sobrancelhas espessas. Havia também muitas mulheres presente. Sebastian sempre atraia as mulheres.
Mas havia também pessoas como as que estavam sentadas justo atrás de Violet. Não as via, mas, apesar de seus esforços para ignorá-las, estava muito consciente de suas presenças. Era o pior do público: pessoas que interrompiam.
— Vergonhoso — murmurou o homem sentado atrás dela o bastante alto para murchar até a resistente borbulha de prazer de Violet. — Realmente vergonhoso.

Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
Série Concluída




7 de junho de 2015

A Vantagem da Herdeira

Série Os Irmãos Sinitros
A senhorita Jane Fairfield não podia fazer nada certo.

Quando tinha companhia, sempre dizia o que não devia... 
Por mais caros que fossem seus vestidos, sempre eram horríveis. 
Nem sequer seu imenso dote poderia salvá-la de ser ridicularizada.Isso era exatamente o que ela queria. 
Ela estava pronta para qualquer coisa, até ser humilhada, contanto que permanecesse solteira para proteger a sua irmã.
O senhor Oliver Marshall tinha que fazer tudo certo. Era filho bastardo de um duque, criado em circunstâncias humildes, e pretendia dar voz e poder às pessoas pobres. 
Se desse um passo em falso, nunca teria a oportunidade de fazer nada. 
Não o ajudaria em nada salvar a mulher errada. E muito menos lhe ajudaria apaixonar-se por ela. Mas a valente e encantadora Jane tinha algo que ele não podia resistir... Embora isso pudesse implicar em um desastre para os dois.

Capítulo Um

Cambridgeshire, Inglaterra, janeiro de 1867.
A maioria dos números que a senhorita Jane Vitória Fairfield tinha encontrado em sua vida tinham sido inofensivos. Por exemplo, a costureira com quem ela estava provando um vestido a tinha furado sete vezes ao colocar quarenta e três alfinetes, mas a dor tinha desaparecido logo. 
Os doze buracos de seu espartilho eram um inferno, sim, mas um inferno necessário; sem eles não conseguiria reduzir sua cintura de um contorno terrível de trinta e seis polegadas, para um também terrível, trinta e uma.
Os dois não eram números assustadores, nem sequer chegava ao número das irmãs Johnson, que estavam atrás dela vendo a costureira cravar com alfinetes o vestido no corpo pouco elegante de Jane.
Não aguentou as irmãs rindo dela pelo menos seis vezes na última meia hora. Não, esses números eram meramente irritantes... como mosquitos que podiam ser espantados com um leque banhado em ouro.
Não, todos os problemas de Jane podiam se resumir em dois números diferentes a esses. O primeiro era de cem mil, e era um veneno absoluto.
Respirou tão profundamente como lhe permitia o espartilho e saudou com uma inclinação de cabeça à senhorita Geraldine e à senhorita Genevieve Johnson. Aquelas jovens não faziam nada de errado aos olhos da sociedade. Estavam com vestidos quase idênticos; um de musselina azul e o outro verde pálido. Levavam leques idênticos, ambos com cenas bucólicas pintadas. As duas eram bonitas e pareciam bonecas de porcelana da China: olhos azuis e cabelos loiros claro que se frisavam formando cachos nos cabelos brilhantes. O contorno de suas cinturas era muito inferior a vinte polegadas. O único modo de distinguir às irmãs era que Geraldine Johnson tinha um sinal em forma de lua perfeito na bochecha direita e Genevieve tinha outro igual na esquerda.
As primeiras semanas depois de conhecer Jane tinham sido amáveis com ela.
Essa suspeitava que deviam ser bastante agradáveis enquanto fazia suas vontades. Mas Jane tinha um talento para que as garotas amáveis deixassem de ser.
A costureira colocou o último alfinete.
-Ai está – anunciou - Agora olhe-se no espelho e me diga se quer trocar algo, retirar um pouco da renda, talvez, ou utilizar menos.
Pobre senhora Sandeston! Pronunciava aquelas palavras igual falaria do tempo um homem que iria cavalgar essa tarde. Melancolicamente, como se a ideia de muita renda fosse horrível, algo que só saberia graças a um extraordinário e improvável ato explícito de clemência.
Jane caminhou para frente e observou o efeito de seu novo vestido. Nem sequer teve que fingir um sorriso, pois este se estendeu por seu rosto como manteiga derretida sobre pão quente. O vestido era horrível. Verdadeiramente horrível. Nunca antes se investiu tanto dinheiro em tanto mau gosto. Olhou sua imagem no espelho com prazer. A imagem lhe devolveu o olhar: cabelo e olhos escuros, charmosos e misteriosos.
-O que vocês acham? - perguntou, voltando-se - Deveria ter mais renda?
Atormentada a senhora Sandeston lançou um gemido a seus pés.
Tinha motivo. O vestido já tinha três tipos diferentes de renda. Metros e metros de azul rodeavam a cintura formando ondas grossas. Uma peça fina de renda belga marcava o decote e um chantilly negro com um desenho de flores criava manchas negras ao longo das mangas. O tecido era bonito de seda estampada, mas não se podia ver debaixo de tantas camadas de renda.
O vestido era uma abominação de rendas mais Jane amava.
Porém uma verdadeira amiga falaria para tirar toda a renda.
Genevieve assentiu.
-Mais rendas. Definitivamente, acredito que precise de mais. Um quarto tipo, provavelmente?
Santo Deus!

Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
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26 de abril de 2015

A Guerra da Duquesa

Série Os Irmãos Sinitros
A Senhorita Minerva Lane era uma mulher retraída e calma que se escondia atrás de seus óculos!
Afinal a última  vez que tinha sido o centro das atenções tinha terminado muito mal.

Capítulo Um

Leicester, novembro de 1863
Robert Blaisdell, novo Duque de Clermont, não se escondia. Era certo que tinha subido à biblioteca da Casa do Conselho, que tinha se afastado bastante da multidão embaixo, de modo que o ruído tinha se convertido em um retumbar distante. E era certo que não havia mais ninguém por ali. E que estava de pé atrás de grossas cortinas de veludo azul cinzento que o ocultavam da vista. Como também era certo que, para chegar ali, tinha tido que mover o velho sofá de couro marrom.
Mas não tinha feito tudo isso para se esconder, mas sim porque, e isso era um ponto chave em sua linha de pensamento lógico, naquela sala centenária de madeira e gesso apenas uma das folhas da janela se abria e, casualmente, era a que ficava escondida atrás do sofá.
Ali estava, cigarro em mãos, com a fumaça elevando-se no frio ar outonal. Não se escondia, só tentava preservar da fumaça os livros antigos.
Uma desculpa na qual possivelmente ele mesmo teria acreditado... Se fosse fumante.
Através do cristal velho podia distinguir a pedra escurecida da igreja situada justo em frente. A luz da rua lançava sombras imóveis sobre o pavimento. Alguém tinha empilhado um montão de folhetos contra a porta, mas a brisa outonal os tinha espalhado pela rua e os jogado nas poças d'água.
Aquilo era um desastre. Um condenado desastre. Robert sorriu e golpeou a ponta do cigarro contra a janela, lançando cinzas nas pedras embaixo.
O fraco rangido de uma porta se abrindo o sobressaltou. Voltou-se ao ouvir o ruído das tábuas de madeira do chão. Alguém tinha subido as escadas e tinha entrado na biblioteca. Os passos eram leves… de mulher, possivelmente, ou de um menino. Também eram estranhamente hesitantes. A maioria das pessoas que subia à biblioteca no meio de um sarau musical tinha um motivo
para fazê-lo. Um encontro clandestino, talvez, ou a busca por um parente perdido.
De seu lugar privilegiado atrás das cortinas, Robert podia ver apenas uma parte da sala. A pessoa em questão se aproximou mais, com passos ainda hesitantes. Não podia vê-la, mas a ouvia deter-se frequentemente para examinar o que a rodeava.
Não chamava a ninguém nem fazia uma busca decidida. Não parecia estar à procura um amante oculto. Mas seus passos davam volta em torno da sala.
Robert demorou meio minuto em dar-se conta de que tinha esperado muito para anunciar sua presença.
—Oh! —podia dizer—. Estava admirando o gesso. Está muito bem posto neste lado, não lhe parece?
A mulher, pois Robert estava seguro de que era uma mulher, o tomaria por louco. E até o momento, ninguém tinha chegado ainda a essa conclusão. Assim, em vez de falar, jogou o cigarro pela janela e este caiu com a ponta laranja brilhante para o chão até que aterrissou em uma poça e se apagou.
Quão único via do cômodo era meia estante de livros, a parte traseira do sofá e, ao lado, uma mesa com um jogo de xadrez em cima. O jogo estava iniciado. Pelo pouco que recordava Robert das regras, estavam ganhando as negras. A visitante se aproximou e Robert se encostou mais à janela.
Ela entrou em seu campo de visão.
Não era uma das jovens às quais tinha visto antes no salão. Essas eram todas belezas que esperavam que prestasse atenção nelas. E a visitante, quem quer que fosse, não era uma beleza. Levava o cabelo moreno recolhido em um coque sério na nuca. S
eus lábios eram finos; e seu nariz, afilado e um pouco grande. Usava um vestido azul escuro com cós de cor marfim, sem rendas nem laços, só de tecido singelo. Até o corte do vestido parecia severo: uma cintura tão apertada que Robert não sabia como podia respirar e umas mangas que caíam dos ombros até os pulsos sem nenhuma sobra de tecido de enfeite que suavizasse a imagem.
Não viu Robert atrás da cortina. Tinha inclinado a cabeça de lado e contemplava o jogo de xadrez com a mesma expressão com a qual um membro da Liga da Moderação olharia uma garrafa de brandy, como se fosse um diabo ao qual teria que espantar com orações e hinos. Ou, em sua falta, com a lei marcial.

Série Os Irmãos Sinitros
0.5 - A Paixão da Governanta
1 - A Guerra da Duquesa
1.5 - Um Beijo Durante o Solstício de Inverno
2 - A Vantagem da Herdeira
3 - A Conspiração da Condessa
4 - O Escândalo da Sufragista
4.5 - Fale Doce para Mim
Série Concluída


27 de fevereiro de 2015

Paixão da Governanta




Ela não se renderia… A governanta Serena Barton tinha sido despedida de seu posto três meses atrás. 

Como não podia encontrar outro emprego, optou por exigir compensação ao homem culpado de sua demissão, um duque mesquinho, egoísta e canalha. Mas não era ao duque ao que temia, a não ser a sua mão direita, o homem conhecido como o Lobo de Clermont. 
O temível ex-pugilista havia conseguido má fama resolvendo os assuntos sujos do duque e, embora Serena soubesse que não poderia nada contra ele, tinha que tentá-lo, pois estava em jogo todo seu futuro. 
Ele não podia ceder… Hugo Marshall era ambicioso e desumano, característica que lhe tinham servido para subir de filho de um mineiro de carvão a mão direita de um duque. 
O dia que seu chefe lhe ordenou que se livrasse da irritante governanta por bem ou por mal, para ele era só um dia mais de trabalho. 
Infelizmente, não conseguiu convencer Serena por bem e, à medida que foi conhecendo-a, descobriu que não era capaz de fazê-lo por mal. Mas só poderia satisfazer suas ambições se ela se fosse. Tinha que escolher entre a vida que procurava e a mulher a que tinha começado a amar.

Capítulo Um

Londres, outubro de 1835
Acima a porta da Biblioteca se fechou com tal fúria que sacudiu até o marco. Uns passos ruidosos cruzaram a estadia e se aproximaram do escritório de Hugo. E punhos fortes golpearam a superfície de madeira. —Maldita seja, Marshall! Tem que arrumar isso.
Apesar do dramatismo dessas palavras, Hugo Marshall não levantou a vista de seus livros, mas sim esperou em silêncio, escutando o ruído das botas sobre o tapete. Não era um criado e se recusava ser tratado como tal. Sua paciência se viu recompensada um momento depois.
—Arruma-o, por favor — murmurou o duque de Clermont. Hugo elevou a cabeça. Um observador não treinado fixaria sua atenção no duque de Clermont, aparentemente no comando, resplandecente com um colete tão bordado em ouro que quase fazia mal à vista. 
Esse observador desdenharia ao apagado senhor Marshall, embelezado como ia com uma indumentária cujo leque de cores oscilava do marrom ao marrom mais escuro. A comparação não se deteria no vestuário. O duque era respeitavelmente volumoso sem chegar a ser gordo; tinha rasgos patrícios afiados e aristocráticos e uns olhos azuis vivazes aos que parecia que não lhes escapava nada. 
Um observador não treinado, que comparasse isso com a expressão anódina e o cabelo cor arenosa de Hugo, chegaria à conclusão de que o duque estava no comando. Esse observador não treinado seria, na opinião de Hugo, um idiota. Hugo deixou a pluma em seu lugar. 
—Não era consciente de que teria que arrumar nada — além do assunto de Sua Excelência a duquesa—. Quer dizer, nada que entre dentro de minhas atribuições. Clermont se encrespou visivelmente, com uma energia nervosa. Esfregou-se o nariz de um modo que tinha muito pouco de educado.
—Há algo mais. Surgiu esta manhã — olhou pela janela com o cenho franzido. A biblioteca da mansão de Clermont em Londres estava situada no segundo piso e não tinha uma vista chamativa. Pela janela se via somente a praça de Mayfair. 
O outono havia tornado marrons e amarelas as folhas verdes das árvores. Umas partes de ervas secas e uns quantos matagais opacos rodeavam um único banco de ferro forjado, no que se sentava uma mulher. 
Tinha o rosto oculto por um chapéu de asa larga decorada com uma fina fita rosa. Clermont apertou os punhos. Hugo quase pôde lhe ouvir chiar os dentes. Mas a voz do duque soou indiferente. 
—Se me negar a ceder às ridículas exigências da duquesa, te ocupará de arrumá-lo tudo, não é assim? — perguntou. Hugo o olhou com severidade. 
—Nem o sonhe, Excelência. Sabe o que há em jogo. O duque cruzou os braços com ar de desafio. Verdadeiramente, não compreendia a situação; aí estava o problema. 
Era um duque e os duques não sabiam o que era economizar. Se não fosse por Hugo, as grandes propriedades de Clermont teriam se arruinado anos atrás sob o peso das dívidas. 
Em qualquer caso, seguiam flutuando pelos cabelos… e isso só graças ao recente matrimônio do duque.
—Mas é tão pouco agradável! 



22 de fevereiro de 2015

A Paixão da Governanta

 Série Os Irmãos Sinitros
Ela não se renderia… 


A governanta Serena Barton tinha sido despedida de seu posto três meses atrás. 
Como não podia encontrar outro emprego, optou por exigir compensação ao homem culpado de sua demissão, um duque mesquinho, egoísta e canalha. 
Mas não era ao duque ao que temia, a não ser a sua mão direita, o homem conhecido como o Lobo de Clermont. 
O temível ex-pugilista havia conseguido má fama resolvendo os assuntos sujos do duque e, embora Serena soubesse que não poderia nada contra ele, tinha que tentá-lo, pois estava em jogo todo seu futuro. 
Ele não podia ceder… Hugo Marshall era ambicioso e desumano, característica que lhe tinham servido para subir de filho de um mineiro de carvão a mão direita de um duque. 
O dia que seu chefe lhe ordenou que se livrasse da irritante governanta por bem ou por mal, para ele era só um dia mais de trabalho. 
Infelizmente, não conseguiu convencer Serena por bem e, à medida que foi conhecendo-a, descobriu que não era capaz de fazê-lo por mal. Mas só poderia satisfazer suas ambições se ela se fosse. 
Tinha que escolher entre a vida que procurava e a mulher a que tinha começado a amar.

Capítulo Um

Londres, outubro de 1835 
Acima a porta da biblioteca se fechou com tal fúria que sacudiu até o marco. Uns passos ruidosos cruzaram a estadia e se aproximaram do escritório de Hugo. E punhos fortes golpearam a superfície de madeira. —Maldita seja, Marshall! Tem que arrumar isso. 
Apesar do dramatismo dessas palavras, Hugo Marshall não levantou a vista de seus livros, mas sim esperou em silêncio, escutando o ruído das botas sobre o tapete. Não era um criado e se recusava ser tratado como tal. Sua paciência se viu recompensada um momento depois. 
—Arruma-o, por favor — murmurou o duque de Clermont. Hugo elevou a cabeça. Um observador não treinado fixaria sua atenção no duque de Clermont, aparentemente no comando, resplandecente com um colete tão bordado em ouro que quase fazia mal à vista. Esse observador desdenharia ao apagado senhor Marshall, embelezado como ia com uma indumentária cujo leque de cores oscilava do marrom ao marrom mais escuro. 
A comparação não se deteria no vestuário. O duque era respeitavelmente volumoso sem chegar a ser gordo; tinha rasgos patrícios afiados e aristocráticos e uns olhos azuis vivazes aos que parecia que não lhes escapava nada. Um observador não treinado, que comparasse isso com a expressão anódina e o cabelo cor arenosa de Hugo, chegaria à conclusão de que o duque estava no comando. 
Esse observador não treinado seria, na opinião de Hugo, um idiota. Hugo deixou a pluma em seu lugar. —Não era consciente de que teria que arrumar nada — além do assunto de Sua Excelência a duquesa—. Quer dizer, nada que entre dentro de minhas atribuições. Clermont se encrespou visivelmente, com uma energia nervosa. Esfregou-se o nariz de um modo que tinha muito pouco de educado.
—Há algo mais. Surgiu esta manhã — olhou pela janela com o cenho franzido. A biblioteca da mansão de Clermont em Londres estava situada no segundo piso e não tinha uma vista chamativa. Pela janela se via somente a praça de Mayfair.
 O outono havia tornado marrons e amarelas as folhas verdes das árvores. Umas partes de ervas secas e uns quantos matagais opacos rodeavam um único banco de ferro forjado, no que se sentava uma mulher. Tinha o rosto oculto por um chapéu de asa larga decorada com uma fina fita rosa. Clermont apertou os punhos. Hugo quase pôde lhe ouvir chiar os dentes. 
Mas a voz do duque soou indiferente. 
—Se me negar a ceder às ridículas exigências da duquesa, te ocupará de arrumá-lo tudo, não é assim? — perguntou. Hugo o olhou com severidade. 
—Nem o sonhe, Excelência. Sabe o que há em jogo. 

9 de dezembro de 2012

Um Presente Duvidoso

Série Os Carharts
Lavinia Spencer esteve economizando para presentear sua família com uma verdadeira ceia de Natal. 

Dias antes das festas, seu irmão é vítima de uma fraude que os deixou individados e a beira da falência. Até que um misterioso benfeitor se oferece para saldar a dívida.
A inocente Lavinia fica atônita ao saber o que deseja em troca o atraente William White. 
Estaria disposta a aceitar aquele presente pelo bem de sua família? 

Comentário revisora Ana Catarina: A história me surpreendeu imensamente, por tratar-se de um casal pobre de marré... Não estamos acostumadas a ler historias de mocinhos tão pobres assim. É um florzinha curto, mas vale a pena ler.


Capítulo Um

Londres, 1822 

Faltavam quatro dias para o Natal e quatro minutos para que a livraria de empréstimo familiar fechasse. Lavinia Spencer se sentou com o livro de contas aberto ante ela e esperou que acabasse a jornada e pudesse retirar oficialmente seus cinco piniques da caixa. 
Todos os dias do verão tinha passado separando uma moeda dos lucros da família. 
Tinha guardado suas economias em uma saca que escondia na gaveta do escritório, onde ninguém a encontraria, nem sentiria a tentação de gastá-lo. 
Com o passar das semanas, a bolsa tinha começado a engordar. Tinha já quase duas libras. 
Duas libras em moedas pequenas e frias para o resto do mundo. 
Para ela, o dinheiro equivalia a empanadas. E a especiarias, açúcar e vinho para acompanhá-las. 
E possivelmente um ganso, um pequeno, assado com seus nabos de sempre. 
Suas duas libras significavam uma celebração natalina que faria papai se levantar e sorrir. 
Seis meses de planejamento, mas o esforço tinha valido a pena, porque Lavinia ia preparar uma ceia de Natal como as que antigamente sua mãe preparava. Esse dia tinha havido muita agitação na loja. 
Lavinia acabou de preencher as colunas do livro de contas e assentiu para si. 
Os lucros, segundo suas contas, tinham sido excelentes. 
Se não tinha calculado mal, esse dia poderia tirar seis piniques da caixa: meio xelim que a aproximava muito mais do ganso, em lugar de um simples guisado. Respirou fundo. 
Por cima do aroma dos volumes encadernados em coro e da tinta da índia, quase já detectava o aroma do assado. 
E imaginava seu pai erguido em sua poltrona, com a cor voltando por fim a suas faces. Pegou a caixa e começou a contar. 
A campainha de cima da porta soou quando faltava um minuto para o fechamento. 
Entrou uma rajada de vento. Lavinia levantou o olhar, pronta para zangar-se. Mas quando viu quem tinha entrado conteve o fôlego. Era ele. 
O senhor William Q. White, que não se atreveu a lhe perguntar o que significava o 
“Q” no dia em que pagou sua assinatura. O sobrenome, entretanto, desfazia-se na língua. 
William Q. White. Lavinia não podia pensar nele como em um simples sobrenome monossílabo. 
Esse ano, o nome lhe tinha desfeito na língua mais vezes das que lhe convinham. O senhor William Q. White tirou o chapéu e as luvas na soleira e sacudiu as gotas de chuva do capote cinza e empapado. Era muito alto e levava o cabelo escuro cortado quase na raiz do crânio.
Não se entreteve na porta, deixando que entrasse a chuva, como faziam muitos outros clientes. 
Avançou rapidamente com decisão, mas sem aparente pressa. 
Não passou nem um segundo antes que fechasse a porta ao ar gelado e entrasse no local. Apesar de sua presteza, não deixou manchas de barro no chão. 
 Seus olhos, de uma formosa cor mogno, encontraram-se com os dela. Lavinia mordeu o lábio e enganchou os pés ao redor das pernas de seu tamborete. 
Ele falava pouco, mas o que dizia… 

Série Os Carharts
1 - Um Presente Duvidoso
2 - Proof by Seduction
3 - Trial by Desire