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4 de dezembro de 2011

Adorável Aventureira

Ao aguardar a travessia do Canal, Sheldon Harcourt sabia que tinha tido sorte, a maioria dos ingleses fugiam da França e voltavam para seu país, com a maior pressa possível.
Na França, para os turistas significava perigo de prisão.
Era óbvio, até mesmo para o mais obtuso dos viajantes, que a Inglaterra ia declarar guerra à França.
Durante a espera foi surpreendido por uma jovem viuva que pediu sua ajuda e propôs um trato,
— Vamos fazer um trato... oui? Você me ajuda e eu o ajudo. Casarei com um homem rico... e dividiremos o dinheiro dele! Quero ser rica. Quero ter posição e ninguém impedirá que isso aconteça.
Sheldon atirou a cabeça para trás e riu.
— Você é sensacional! Se existe alguém que possa conseguir o que pretende na vida, esse alguém é você!

Capítulo Um
1793

O vento sacudia as venezianas e entrava sob as portas da estalagem. Na saleta particular, o homem sentado diante da lareira estremeceu.
Era natural que houvesse tempestade no Canal, em janeiro, e qualquer possibilidade de fazer a travessia para a Inglaterra era improvável, pelo menos nas vinte e quatro horas seguintes.
Sheldon Harcourt sabia que tinha tido sorte em obter acomodações confortáveis e uma saleta particular no Hotel d'Angleterre, em Calais.
Monsieur Dessin, o proprietário, era assediado por visitantes, a maioria composta de ingleses que fugiam da França e voltavam para seu país, com a maior pressa possível. A notícia da execução do Rei francês, Luís XVI, caiu sobre os ingleses como uma bomba.
Em Londres, as notícias foram recebidas, a princípio, com descrença e estupefação, depois, com horror, finalmente, com cólera.
Na França, para os turistas que começavam a acreditar que o país ia se acalmar sob a Convenção, isso significava perigo de prisão. Era óbvio, até mesmo para o mais obtuso dos viajantes, que a Inglaterra ia declarar guerra à França.
Mas Sheldon Harcourt sentia uma grande relutância em aceitar o inevitável e, usando suas próprias palavras, em "atravessar o Canal na disparada".
Porém, seus amigos franceses disseram que não havia alternativa. O massacre de aristocratas, bispos e padres, no mês de agosto anterior, assim como as atrocidades dos septembriseurs transformaram Paris num lugar de horror.
Às vezes, Sheldon Harcourt achava que nunca esqueceria os gritos de pessoas que ele conhecia e amava sendo arrastadas de suas casas, para as prisões que se esvaziavam rapidamente, para fornecer novas vítimas à multidão.
Mesmo assim, por mais que desejasse sair do país onde passara os últimos cinco anos e que considerava como seu lar, Sheldon tinha um jeito inconfundivelmente inglês, ali sentado na poltrona, sentindo o calor da lareira, as chamas iluminando-lhe o rosto.
Era difícil pensar que houvesse um homem mais belo e vestido com maior elegância.
Embora tivesse viajado durante três dias exaustivos, por estradas ruins e lamacentas, dava a impressão de estar pronto para ir a uma festa. Suas roupas assentavam perfeitamente, e as usava com uma elegância natural, essencialmente inglesa.
Fitando as chamas, seus olhos azuis tinham uma expressão séria, mas muitas vezes brilhavam, como que zombando da vida. Quando seu sorriso cínico torcia os lábios, acentuava as rugas entre o nariz e a boca.
Seus pensamentos foram perturbados quando a porta se abriu e Monsieur Dessin entrou, trazendo uma bandeja com uma garrafa de vinho e um copo.
— Espero que esteja bem acomodado, Milorde.
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