Ninguém diria que, sob aquela aparência controlada, se escondia um coração revoltado e opresso.
Estava ali para ficar noiva do odioso duque de Mountaired.
Tentara resistir, mas o pai, o prepotente conde de Ledgebourne, lhe batera de forma cruel; para ele, sentimentos não contavam, se estava em jogo uma fabulosa fortuna.
No auge do desespero, Salema se perguntava como poderia desposar o duque, quando quem amava era Charles, seu filho!
Capítulo Um
Capítulo Um
1830
Salema não sabia mais o que fazer para retirar seu cãozinho do imenso buraco em que caíra, quando ouviu uma voz atrás de si.
— O que houve? O que está fazendo?
— O que pensa que estou fazendo? — respondeu com maus modos. — Estou tentando tirar meu cachorro daqui!
O homem que lhe falara prontamente apeou do cavalo e se colocou a seu lado.
— Deixe-me tentar.
— Talvez você consiga, pois seus braços são maiores do que os meus — Salema comentou. — O buraco é muito profundo. Como pode existir alguém tão cruel para cavá-lo? Considero isto um ato criminoso!
O homem ajoelhou-se e em seguida se deitou para tentar apanhar o cachorrinho, com um grande esforço conseguiu puxar o animal assustado pela nuca.
A garota deu um grito de felicidade. — Você conseguiu! Você conseguiu! — ela exclamou. , muito obrigada!
Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, o cachorro, que era da raça cocker spaniel, se sacudiu com violência.
A lama e a sujeira que o envolviam passou rapidamente para o rosto de sua dona e para a elegante gravata de seu salvador.
Salema ficou momentaneamente cega devido à lama.
O homem mal conseguiu sufocar uma imprecação.
O spaniel continuou a se sacudir.
Salema limpou os olhos e imediatamente notou as manchas na gravata do desconhecido.
— Eu... sinto muito — ela se desculpou, enquanto procurava um lenço.
O cavalheiro imediatamente lhe estendeu o seu, branco e limpo, o qual hesitou em aceitar.
— Desculpe-me — tornou a dizer -, mas a culpa é toda do proprietário destas terras.
O cavalheiro, que ainda estava sentado no chão, sorriu ao notar a sujeira se espalhar ainda mais no rosto da garota.
— Deixe-me ajudá-la.
Como uma criança obediente, Salema inclinou-se para ele e fechou os olhos. O homem gentilmente retirou a lama de seus olhos e face.
— Está bem melhor agora! — ele exclamou. Pensava naquele instante que ela era a garota mais linda que já tivera a oportunidade de conhecer.
Os raios do sol, que se infiltravam por entre as folhas das árvores, produziam reflexos dourados em seus cabelos.
Os olhos grandes e expressivos dominavam os traços perfeitos de seu rosto. Não eram azuis, como seria de se esperar em uma beldade inglesa, mas verdes com toques dourados.
— Acho que estraguei seu lenço — ela conseguiu dizer.
— Por uma boa causa! — ele replicou, enquanto se colocava em pé e a ajudava a se levantar.
Notou que o traje de montaria dela era de um atraente tom azulado e que a blusa de musseline branca também estava levemente salpicada de lama.
Ela não estava usando chapéu, o que o fez pensar que deveria morar nas proximidades.
Como se Salema lhe adivinhasse os pensamentos, interrompeu-o naquele instante.
— Gostaria de agradecer novamente por sua gentileza. Nunca teria conseguido salvar Rufus do proprietário destas terras, não fosse sua providencial aproximação. O homem deve matar cachorros por esporte, ou então não cavaria armadilhas para apanhá-los!
— Imagina que ele seja tão mau assim? — o cavalheiro perguntou, com uma expressão estranha nos olhos.
— Ainda pior!