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4 de julho de 2018

Deirdre

Série As Feias Também os Conquistam
Depois de muitos anos solteirona, o pai de Deirdre faz algo detestável: obriga-a a contrair matrimônio. 

Por ele, deve abandonar sua Inglaterra natal para trasladar-se à Escócia, onde acabará casada com Liam McDougall, um bonito escocês que não suporta sua aparência. 
Acostumada a não agradar, Deirdre fingirá que isso não a afeta… Perceberá, enfim, que a aparência não é tão vital quando o amor entra em jogo?
Capítulo Um

Londres, 1870 
- Decididamente, você não me ama. Robert Doyle, conde de Millent, enrugou a testa ao escutar essa contundente afirmação. Coçou a cabeça, numa tentativa de se acalmar, enquanto evitava o olhar reprovador de sua única filha solteira. 
- Vamos, Deirdre, não seja assim… 
-  E o que queria? Duvido muito que esperasse uma rápida e agradecida aceitação de minha parte. A jovem levantou-se do divã atapetado em cinza perolado e passeou enfurecida para cima e para baixo pelo tapete de lã que protegia seus delicados sapatos do chão frio. 
- Se pensar por um momento… - O pai tentou de novo fazê-la compreender. 
- Não preciso. - Deteve-se e lançou um olhar zangado. – Não vou deixar que me case como se fosse uma velha vaca para a qual não tem outro jeito além de presentear, porque já nem leite dá. 
- Não seja melodramática, filha. Deirdre Doyle podia ser qualquer coisa menos melodramática. Nos seus vinte e oito anos, sua característica principal era ser uma jovem tolerante e nada dada a grandes exageros. Também sabia que era graciosa, culta, feia e solteira. Uma total tragédia, segundo seu pai. 
- Melodramática? – Repetiu. – Sinto-me enganada por meu pai, genitor, amor de meus amores, o homem mais importante de mi… 
- Basta, basta – cortou-a. – Não nego que estou fazendo algo possivelmente reprovável… 
- Possivelmente? – Ofegou a aludida, ultrajada. - Mas estou fazendo com a melhor das intenções. É pelo seu bem. 
- Ah, a frase do ano. – Deirdre retirou um lenço da manga e fingiu secar algumas lágrimas, não porque fosse incapaz de chorar, mas sim porque sentia tanta raiva que não podia derramá-las. A única coisa que necessitava era comover um pouco esse pedaço de bruto que chamava de “pai”. 
– O que mais dói é ser traída por minha própria família. 
- Bom… quanto a isso… - hesitou ao se explicar – tenho que dizer que ninguém me apoiou. Isso tampouco era novidade para Deirdre, mas ao conde de Millent não faria mal sentir-se embaraçado pelo que estava fazendo. - Nem sequer Sharon? – Perguntou-lhe, já sabendo a resposta. Nem mesmo sua madrasta via com bons olhos essa heresia. 
- Ela é a que mais está contra todo esse assunto. – Ainda lhe amargurava a discussão que haviam tido na noite anterior. E na outra, e na outra… - Sharon a ama. Deirdre sorriu em seu interior. Também sabia disso, como sabia que, em todo esse despropósito, seu pai era o único culpado. Sua madrasta e o resto de seus irmãos, assim como seus cônjuges, haviam—lhe dado seu apoio. Em vão. 
- Pois isso me confirma que você não. – Fez seus melhores bicos e se aproximou dele, mimosa. – Vamos, papai; na realidade não quer fazê-lo. O conde não se deixou comover, por mais que lhe fosse conveniente. Era um assunto resolvido. 
- Engana-se – respondeu-lhe. – Quero fazê-lo e o farei. - Argggggggg!!! – Deirdre se afastou dele, furiosa. – Se me casa contra minha vontade, nunca o perdoarei – ameaçou. Seu pai se levantou e a fitou com tristeza. 
- Espero de todo coração que isso não seja verdade, porque estou decidido. – Saiu do salão, deixando-a sozinha. Quase imediatamente, a porta se abriu novamente, dando passagem à sua madrasta. A esbelta e madura mulher rondava já os cinquenta anos, mas nem sua magreza, nem a suavidade de sua pele, nem sua vivacidade, e agora preocupados olhos verdes, o testemunhavam.
Apesar de não ser a mulher que lhe deu à luz, a queria como se fosse. Deirdre se lembrava perfeitamente de sua mãe e, ainda no dia de hoje, sentia saudades. Lesley Millent, anteriormente conhecida como Porterfield, morreu de uma febre quando ela era jovem. 
Por isso, depois de treze anos compartilhando a vida com seu pai, a ternura dessa mulher e o profundo afeto que sentia por cada um dos filhos de seu marido havia conquistado para ela um lugar em seus corações. Era uma mulher muito especial. 
- Deirdre, filha, acabo de ver seu pai sair. Conseguiu fazê-lo mudar de ideia? – Sentou-se e deu palmadinhas a seu lado para que ela fizesse o mesmo. - Não. – Seu humor era terrível e seu futuro um negro borrão. 
– Querendo ou não, me casarei. 
- Oh, minha menina. – Pegou-lhe as mãos para dar-lhe consolo. – Sinto tanto…








Série As Feias Também os Conquistam
1 - Camile
2 - Deirdre
3 - Edith