Mostrando postagens com marcador Liberdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Liberdade. Mostrar todas as postagens

20 de outubro de 2015

Liberdade




Gades é a escrava do romano que devastou sua cidade, o homem que assassinou seus amigos, familiares e conhecidos. 

Ela odeia seu dono, embora nunca tenha sofrido abuso, deixou-a aos cuidados do vilicus da vila, um ancião liberto chamado Orseis, que cuidava dela e da pequena Claudia, a quem Gades se sente obrigada a proteger.
Marco Valerio, de origem plebeia, volta para casa convertido em Pretor. 
Após inúmeras façanhas no campo de batalha, para conquistar novos territórios e um lugar entre a classe aristocrática, ele decide parar por um tempo em busca de um pouco de paz e sossego. 
Mas os deuses parecem divertir-se muito com ele, ao fazê-lo desejar com uma intensidade desconhecida a uma das escravas hispânicas que não se lembrava de ter em sua casa e que tinha tentado assassiná-lo.
Surge entre eles uma estranha relação de mestre e escravo, homem e mulher, inimigo contra inimigo. Desde o início, ele faz com que pareça que tem o poder absoluto sobre o seu corpo e sua pessoa, embora ela não se entregue facilmente, e apesar de ter de submeter-se a vontade do Romano, sempre consegue fazer algo que lhe dá uma pequena vitória entre a luta de vontades. 
Algo inesperado faz com que seja forçado a libertá-la, apesar de que seu coração se recuse a deixá-la ir.
Em pleno século II antes de Cristo, com a primeira revolta de escravos como pano de fundo, esta é a história de um pretor romano, uma escrava hispânica, um amor e um ódio, Marco e Gades. Destinados ao amor, condenados a enfrentar-se.

Capítulo Um

Sabínia, 134 a.C.
-Vamos moça, não te entretenha—gritava outra vez Orseis - O senhor está a ponto de retornar e a vila deve estar preparada, sobre tudo seu dormitório. Faz muito tempo que Marco está fora de casa e tudo deve estar impecável a sua volta.
Gades arrumou os lençóis na cama do amo ou, melhor dizendo, da besta, como mentalmente se dirigia a pessoa que as tinha rebaixado ao status de escravas, o que não significava outra coisa que ser um simples objeto, a mera propriedade de alguém, uma coisa sem outra finalidade do que o uso e desfrute de seu proprietário. Felizmente seu amo se esqueceu delas no primeiro momento, deixando-as ao cuidado do ancião Orseis, que se encontrava a cargo de tudo referente à vila com exceção da gestão dos vinhedos. 
O ancião tinha sido um escravo de origem grega, presente do pai da besta a este quando era um adolescente, e a quem, surpreendentemente, o amo tinha concedido à alforria. Suspirou com pesar, ansiando a liberdade. Poderiam alcançá-las algum dia? Duvidava-o. Seu dono nunca as libertaria e isso era algo do que estava bastante segura, embora não saberia dizer por que.
Por muito que tentasse não conseguia compreender o motivo pelo qual Orseis nunca havia querido abandonar o romano, ficando junto a ele uma vez adquirida a condição de liberto, em troca de um salário, depois de tudo se tratava de um assassino, por muito bem que pagasse seus serviços, e duvidava de que tratasse com justiça a seus trabalhadores, muito menos a seus escravos. 
Se ela algum dia alcançasse a liberdade, não duvidaria em retornar ao que fora seu lar na Hispânia, ajudaria a reconstruir sua cidade e procuraria a seu pai e a qualquer sobrevivente daquele funesto dia, no qual o romano apareceu em suas vidas para destruir tudo. 
Tentaria refazer sua vida, começar de novo… Já basta Gades! Recriminou-se apertando os lábios movida pela frustração. Melhor pensar no que está acontecendo agora. Esticou os lençóis com mais força do que a desejada, depois de tudo, para elas tinha sido um bote salva-vidas que o grego estivesse na casa quando as trouxeram e por isso estava agradecida aos deuses. 
Para que questionar os motivos do ancião em sua decisão de ficar junto à besta romana? A deusa Juno o tinha designado para que velasse por elas e aquilo não era a não ser um sinal dos deuses de que condenavam o ocorrido há alguns anos.
Só rezava para que Orseis também pudesse as manter a salvo dele.
Enquanto colocava o último almofadão as lembranças voltaram para ela como tantas vezes. Depois do massacre de Baelo-Claudia tinham sido levadas em um navio rumo a Lácio e, apesar de que em um primeiro momento acreditou que as venderiam em um leilão público, como a todos os outros, foram transportadas até Sabínia, a morada da besta, onde as deixaram aos cuidados de Orseis.