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15 de setembro de 2015

Magnólia

Magnólia casou com um homem rico, muito mais velho do que ela, para tirar sua família da pobreza.

Uma tarde, o encontrou morto no porão, onde trabalhava como restaurador. Meses depois, decidiu descer ao porão para fazer um balanço, escorrega na escada e sua vela apaga.
Um estranho aparece assustando-a, exigindo uma lista do seu marido.
Ela não sabe do que ele está falando, e para sua surpresa, o estranho a beija.
Mark é um marquês a serviço da coroa da Inglaterra, tentando recuperar uma lista de agentes ingleses que o marido de Magnólia estava prestes a vender para os franceses. Sua carruagem colide contra a dela e Mark perde a memória no impacto. Magnólia leva-o para casa até que se recorde quem ele é.
A atração mútua é muito forte e, gradualmente, Mark ganha a sua confiança e ela acaba contando seus problemas. Juntos, eles encontram a lista, mas quando Magnólia descobre a verdade, desaparece sem dar mais detalhes.
Mark sai em sua busca por meses, mesmo sem saber se ele será perdoado por Magnólia.

Capítulo Um

Magnólia Desceu um degrau. Em seguida, outro. Um terceiro. A luz pulsante chama apenas mostrava as sombras, borrando ao invés de iluminar os contornos dos móveis no porão. Magnólia tinha a boca seca e uma dor aguda na boca do estômago. Não era medo. Ou sim? resistia a pensar que pudesse sê-lo; no fim de contas, tinha estado ali muitas vezes, tinha passado muitas horas naquele lugar. Mas sempre tinha sido de dia, quando a mortiça luz do sol se filtrava pelas janelas situadas no teto. Mesmo assim, não se tinha por uma pessoa temerosa, bem ao contrário.
Nunca entendeu porque seu defunto marido tinha elegido o porão do casarão para trabalhar, quando seria perfeito qualquer um dos quartos da casa, amplos e luminosos. Suas criações de ourives demandavam luz; entretanto, o homem com quem se casou, apressada pela fome de sua família e por uma perseguição desumana, preferia restaurar e criar naquela outra estadia que sempre lhe provocara calafrios. Por isso não tinha voltado ali, a aquela catacumba úmida e lúgubre, desde que… Ao pisar no último degrau, um de seus sapatos escorrega em uma pequena mancha de azeite e esteve a ponto de cair.
Escapou uma exclamação e afiançou a mão direita no carcomido corrimão, evitando o acidente em última instância, mas sem poder sujeitar o castiçal, que caiu com um golpe seco ao que seguiram ecos ao rodar pelo chão. Magnólia ficou ali imóvel, quase sem respiração.
A imagem de seu defunto marido ocupou mais uma vez seu pensamento. Foi ela quem o encontrou, já fazia dois meses, quando desceu para reunir-se com ele levando sob o braço sua caixa de costura. As cinco em ponto da tarde. Sempre à mesma hora e seguindo idêntico ritual cada dia. Não podia saltar uma norma estabelecida pelo Roger. Assim que terminava de comer, seu marido descia ao porão para trabalhar e ela devia unir-se a ele na hora do chá. Minutos depois, exatamente quando o relógio da sala dava à hora e quarto, a senhora Merritt aparecia com o chá e tortas de limão.
Ela tinha chegado a odiar esses doces com toda sua alma, mas eram os preferidos do Roger e em sua casa ninguém podia ir contra aos seus maníacos costumes. Na tarde em que o encontrou morto ao pé da escada tinha sido uma de tantas, uma mais em sua apática vida de casada.
Quando pôde reagir e mandar chamar Lionel Arkinson, o médico da família Hunt desde que Roger nasceu, o doutor ancião só pôde confirmar o que todos temiam: ao parecer, seu marido tinha escorregado e golpeou a cabeça em um dos braços de uma cruz que se encontrou ensangüentada a seu lado.
Para Magnólia resultou obsceno que Roger tivesse perecido por causa de um objeto que significava algo no que ele que nunca acreditou. Notando que lhe tremiam as pernas, deixou-se escorregar até ficar sentada em um dos degraus, com a escuridão rodeando-a como um manto frio.
Sem vela, com a única claridade da lua que atravessava as janelas pulverizando uma pátina leitosa justo sobre o lugar onde encontrou o corpo de seu marido, o porão resultava ainda mais tétrico. Inclusive lhe pareceu ouvir a risada chiada e desagradável do Roger quando se burlava dela e o coração começou a pulsar de forma errática.
Suas mãos umedeceram o suor desceu da têmpora ao queixo, perdendose no vale de seus seios. obrigou-se a relaxar. —Por Deus, não sou uma menina temerosa na escuridão!


16 de março de 2015

Magnólia





A Atlanta do inicio do século XX era uma cidade de contrastes, um ramo de atividades onde o comércio e a alta sociedade floresciam entre os fracos ritmos sulinos. 

Claire Lang adorava viver ali, mas a presença de um homem a perturbava no fundo da alma. Ela não estava disposta a admitir o quanto a cativava os olhos escuros e o belo rosto de 
John Hawthorn, mas o desespero causado por uma súbita tragédia a levou a casar-se com ele apesar de saber que o amor que lhe tinha não era recíproco.
Enquanto a brisa deixava em seu rastro o perfume das magnólias, Claire começava a despertar desejos inesperados e indescritíveis em seu marido... Depois de saborear seus beijos e suas carícias, teve a valentia de lutar por ele quando se abateu sobre eles um escândalo, um escândalo tão grande que poderia acabar com seu grande amor.

Capítulo Um

1900
As ruas de Atlanta estavam cheias de lama depois das chuvas recentes, e os pobres cavalos pareciam apáticos puxando com esforço as carruagens por Peachtree Street. Claire Lang desejou ter dinheiro suficiente para retornar em um veículo de aluguel para casa que estava a uns oito quilômetros dali.
Sua carruagem tinha quebrado um eixo ao se chocar contra uma rocha, de modo que as preocupações financeiras que tinham sido traumáticas por meses tinham aumentado ainda mais. 
Seu tio, Will Lang, estava tão ansioso para ter em suas mãos a pequena peça de seu automóvel que tinha encomendado em Detroit que ela tinha ido pegar na estação ferroviária de Atlanta na carruagem. 
O veículo estava velho e em mal estado, mas em vez de se concentrar no caminho resolveu olhar a chegada prematura do outono na preciosa imagem que criavam os pinheiros e as árvores.
Teria que inventar alguma coisa para chegar à loja de roupas de seu amigo Kenny e ver se ele teria como levá-la a casa de seu tio, que ficava em Colbyville. Baixou o olhar, e soltou um suspiro ao ver suas botas de cano longo, enlameadas e a barra de sua saia toda suja. 
Acabava de estrear aquele vestido azul marinho com corpo e pescoço de renda, e embora a capa e o guarda-chuva a tivesse protegido da chuva e o chapéu tivesse resguardado seu cabelo castanho, não conseguiu salvar a saia por mais que a levantasse.
Era muito fácil imaginar o que Gertie diria sobre isso, na verdade ela sempre estava toda bagunçada ao fim do dia, passava grande parte do tempo no galpão de seu tio, ajudando ele a manter em bom estado seu novo automóvel. 
Nenhum outro habitante de Colbyville tinha um daqueles exóticos inventos novos; de fato, só umas poucas pessoas em todo o país possuíam um automóvel, e a maioria eram elétricos ou com motores a vapor. 
O do tio Will estava propulsado com gasolina, e por sorte a gasolina era vendida nas lojas da região.
Os automóveis eram tão escassos, que quando passava um pela rua, às pessoas saiam para vê-lo. Eram objetos de fascínio e de medo, porque o forte ruído que geravam assustava aos cavalos. 
A grande maioria pensava que era uma moda passageira que não demoraria a desaparecer, mas ela estava convencida de que era o meio de transporte do futuro e adorava ser a mecânica de seu tio.
Ela sorriu ao pensar o quão sortuda tinha sido desde que foi viver com ele. Era filha única, e depois do falecimento de seus pais causado pela cólera há dez anos, a única família que tinha restado em todo mundo era seu tio Will. Estava solteiro, e para cuidar da enorme casa onde vivia contava com a única ajuda de empregados formada por Gertie, sua governanta, e Harry, um trabalhador que se encarregava da manutenção geral.
Ela também tinha começado a cozinhar e a encarregar-se das tarefas domésticas à medida que ia crescendo, mas o que mais gostava era de ajudar seu tio com o automóvel. Era um Oldsmobile Curved Dash, e só de olhar para ele sua pele arrepiava. Tio Will o tinha encomendado em Michigan no final do ano passado, e o tinham enviado a Colbyville pela ferrovia assim que ficou pronto. 
Como a maioria dos carros, às vezes balançava, soltava fumaça e estralava, e como os caminhos de terra dos arredores de Colbyville eram bastante irregulares e estavam cheios de enormes buracos, seus pneus de borracha fina estouravam em uma ou outra ocasião.
Os moradores rezavam para livrar-se do que para eles era um invento do diabo, e os cavalos punham-se a correr campo afora como se os fantasmas o perseguissem. 
O conselho local tinha ido ver seu tio no dia seguinte à chegada do automóvel, ele tinha sorrido com paciência e tinha prometido que o pequeno e elegante veículo não atrapalharia a circulação dos carros e as carruagens.
Tio Will adorava aquele novo brinquedo que lhe tinha deixado um pouco menos que em ruínas, e lhe dedicava todo seu tempo livre. Ela compartilhava sua fascinação, e quando ele tinha deixado-a trabalhar na garagem, foi aprendendo pouco a pouco sobre carburadores, alavancas de direção, rolamentos, velas, e pinhões de engrenagem.
A essas alturas já sabia quase tanto quanto ele, tinha mãos finas e ágeis e não tinha medo das «chicotadas» que recebia de vez em quando ao tocar a parte errada do pequeno motor de combustão. A única coisa ruim era a graxa. Tinha que manter engordurados os rolamentos para que funcionassem bem, e tudo acabava manchado… inclusive ela.
Uma carruagem apareceu nesse momento no caminho e foi aproximando-se, mas justo quando estava chegando perto passou por cima de um atoleiro e lhe salpicou a saia de lama. Ela soltou um gemido, e o desânimo que apareceu em seu rosto bastou para que o ocupante do veículo decidisse parar.
A porta se abriu, e uns olhos escuros e penetrantes a olharam cheios de impaciência.
–Pelo amor de Deus!