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3 de abril de 2010
Meu Querido Guerreiro
Inglaterra, 1086
Em silêncio, o cavaleiro preparou-se para a batalha.
Sentou-se em um banco de macieira,
estendeu as pernas longas e musculosas de cada lado, diante de si, e pediu ao servo que lhe pusesse a calça de malha de aço.
Depois, de pé, permitiu que outro servo lhe prendesse a túnica de malha pesada sobre a camisa de baixo de algodão almofadado.
Finalmente, ergueu os braços bronzeados ao sol para que sua espada, um presente extremamente valorizado por ter sido dado pelo próprio rei Guilherme,
pudesse ser-lhe pendurada a uma alça de metal à altura da cintura.
Seus pensamentos não estavam em seus trajes nem no que o cercava, mas na batalha que iria travar, e ele metodicamente revisou a estratégia que empregaria para obter a vitória.
O trovão lhe atrapalhou a concentração.
Com a testa franzida, o cavaleiro ergueu a aba da tenda e olhou para cima a fim de analisar a pesada formação de nuvens, inconscientemente roçando os pêlos negros que lhe espreitavam da gola enquanto ele observava o céu.
Capítulo Um
Longos e delgados dedos de luz começaram sua ascensão ritual, penetrando nas trevas, sem se deixarem inibir pelos tufos de nuvens alvas e ralas, na incontestada tentativa de introduzir a aurora no mundo.
Elizabeth encostou-se na ombreira lascada da porta aberta da choupana, contemplando detidamente o nascer do sol, durante vários minutos, antes de deixar seu apoio e entrar na habitação.
Um poderoso falcão, pairando com facilidade em círculos largos acima das árvores, viu a silhueta esguia sair da cabana e acelerou, descendo até uma pedra salpicada de lama ao lado da moça.
Com um estridente piado, batendo de modo vigoroso as asas marrons e cinzentas, anunciou sua chegada.
— Aí estás, meu majestoso — cumprimentou Elizabeth. — Chegaste cedo hoje. Também não lograste repousar? — indagou baixinho.
Contemplou seu bicho de estimação com um sorriso terno e depois er¬gueu devagar o braço direito até ele estar totalmente estendido, com os músculos contraídos pouco acima de sua cintura delgada.
— Vem — ordenou com voz firme, porém suave.
O falcão inclinou a cabeça de um lado para o outro, o olhar pe¬netrante jamais se desviando do rosto dela, e começou a emitir um gorgolejar gutural.
Seus olhos eram da cor de cravos-de-defunto, e embora houvesse neles algo de selvagem, ela não sentiu medo.
Pelo contrário, retribuiu o olhar com total confiança e voltou a lhe pedir que viesse até ela.
Dentro de uma fração de segundo, o falcão pousou no braço desprotegido da moça, todavia ela não se encolheu em razão do peso nem do toque da ave. Suas garras irregulares eram afiadas como lâminas, mas ela não estava de luvas.
Seu braço macio e imaculado provava que o falcão era capaz de ser delicado com sua dona. — O que hei de fazer de ti?
— perguntou Elizabeth. Seus olhos azuis cintilaram de alegria enquanto ela contemplava o animal. — Estás ficando gordo e preguiçoso, meu amigo, e embora eu tenha lhe dado liberdade, recusas-te a aceitá-la. Ah, meu fiel bichinho, se ao menos os homens fossem leais como és. — A alegria lhe fugiu do olhar, substituída por uma imensa mágoa.
O som de um cavaleiro aproximando-se assustou Elizabeth.
— Vai-te embora — disse ela ao falcão, e ele imediatamente alçou vôo.
Sua voz deixava transparecer o pânico quando ela chamou seus dois enormes mastins e correu para a segurança da floresta
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