O amor é mais doce quando é inesperado...
Nell Anslowe e Julian Weston, o conde de Wyndham, são um casal improvável em todos os aspectos.
Ferida em uma queda de cavalo há dez anos, Nell foi abandonada pelo noivo e ficou com uma perna defeituosa e a convicção de que nunca se casaria.
Depois de um casamento infeliz, Julian toma a resolução de permanecer solteiro pelo resto da vida.
Mas quando sai em busca de sua irmã e é surpreendido por uma tempestade de verão, ele procura abrigo em uma cabana e a encontra ocupada por Nell, que está fugindo de um caça-dotes.
Ao serem descobertos sozinhos na cabana pela família de Nell, um casamento precipitado é a única maneira de salvar Nell de um escândalo.
Contudo, a união civilizada que ambos esperavam logo se transforma em algo bem mais poderoso e arrebatador...
Capítulo Um
O pesadelo surgiu das profundezas de seu sono sem sonhos.
Em um segundo Nell estava mergulhada num sono tranqüilo, e em outro estava presa naquele pesadelo.
Lutando contra as cobertas em sua cama, ela tentava escapar das horríveis imagens que atravessavam seu cérebro, porém era inútil, assim como nas outras noites.
Como acontecera antes, ela assistia indefesa aos terríveis atos praticados à sua frente.
O cenário era sempre o mesmo, um lugar escuro, parecido com uma masmorra escondida sob as fundações de uma antiga construção.
As paredes e o chão eram compostos por pedras cinzas e pesadas, a luz fraca que vinha das velas revelava os instrumentos de tortura de uma outra época, de uma Inglaterra mais selvagem, instrumentos que eram usados por ele de acordo com seu humor.
A vítima naquela noite, como das outras vezes, era uma mulher, jovem e amedrontada. Seus enormes olhos azuis estavam tomados pelo terror, um terror que parecia agradar seu carrasco.
A luz das velas sempre iluminava o rosto das mulheres, enquanto o homem permanecia nas sombras, a face oculta, embora cada ato seu sobre a jovem ficasse muito claro para Nell.
No fim, após ele ter feito o que havia de pior e jogar o corpo em um buraco na masmorra, a luz se apagava e Nell conseguia sair daquele pesadelo.
Dessa vez não foi diferente.
Livre daquelas imagens, um grito surgiu em sua garganta.
Nell levantou-se de repente, cornos olhos verdes brilhando por causa das lágrimas não derramadas e do horror.
Lutando para não gritar, ela olhou ao redor e sentiu-se aliviada ao perceber que tudo tinha sido apenas um pesadelo.
Estava segura na casa de seu pai em Londres, a mobília em seu quarto tomando forma com a luz que vinha do fogo na lareira e a claridade suave que se infiltrava pelas cortinas.
Do lado de fora das janelas vinham os sons familiares de Londres, o tropel de cavalos, o rodar de carruagens e os gritos distantes de vendedores, oferecendo produtos como vassouras, leite, legumes e flores.
Nell sentiu um arrepio e cobriu o rosto com as mãos, pensando se aqueles pesadelos nunca iriam terminar.
Respirou fundo, afastou para trás uma mecha do cabelo castanho-claro e inclinou-se para apanhar a jarra de água que sua criada havia deixado sobre a mesa de mármore perto de sua cama.
Derramou um pouco no copo ao lado e bebeu a água em um único gole.
Sentindo-se melhor, sentou-se na cama e, olhando para a agradável penumbra do quarto, tentou colocar os pensamentos em ordem e sentir algum conforto por saber que estava a salvo, ao contrário da pobre criatura em seu pesadelo.
Eleanor "Nell" Anslowe nunca fora incomodada na infância por pesadelos.
Sonhos ruins nunca haviam perturbado seu sono até aquele trágico acidente, no qual ela quase perdera a vida, quando tinha dezenove anos.
Era estranho como sua vida fora maravilhosa antes da tragédia e como isso mudara nos meses que se seguiram.
A primavera daquele ano horrível fora testemunha de seu triunfo na temporada em Londres e de seu noivado com o herdeiro de um ducado.
Nell retorceu os lábios. Tendo acabado de celebrar seu vigésimo nono aniversário em setembro, e olhando para trás, dez anos antes, parecia incrível que um dia ela fora uma jovem alegre e confiante, que tinha ficado noiva do melhor partido daquela temporada, o filho mais velho do duque de Bethune.