Série Irlanda
Morgana chegara a Benburg e se deparara com uma armadilha inesperada.
Não havia santuário para ir quando se fugia de uma igreja. Mas Morgana não cometeria o mesmo erro duas vezes. De agora em diante, não confiaria em Ninguém.
— Morgana de Kildare, eu lhe disse meu nome: Hugh O'Neill. Aqui é o meu lar, o castelo de Dungannon.
Não posso entrar no castelo! Não posso!
O desespero em sua voz fez Hugh virar-se para os lados e analisar as portas abertas do salão principal. Encheu-se de orgulho. Ali sempre aconteciam festas memoráveis, cheias mulheres bem vestidas e bem penteadas. Sabia que tinha um lar elegante e aconchegante.
A melodia da harpa, acompanhada pela voz suave de um tenor, entretinha um grupo de convidados nobres.
— Você acha que eu gostaria de ser vista neste estado deplorável? Não existe uma porta lateral por onde possa entrar? — indagou Morgana. — Que diferença faz? Ninguém a conhece.Com quem a comparariam? Não agradece por estar viva?
Mesmo imunda e descabelada, Morgana era uma mulher atraente. Ao contrário das belezas da corte da rainha Elizabeth, ela não fazia a sobrancelha, o que a deixava mais linda ainda.
Eram grossas o suficiente para deixá-lo louco de vontade de percorrer os dedos sobre os arcos naturais. Tinha a cútis alva. O nariz era fino. A boca... bem poderia ficar horas e horas compondo poesias e mais poesias sobre os lábios que se abriam com tanta delicadeza
Você é lady Morgana Fitzgerald, filha mais velha do exilado conde de Kildare, James FitzMaurice Fitzgerald.
Capítulo Um
Além das traiçoeiras correntes do rio Abhainn Mor, o mais temperamental da Irlanda, ficava o seio de Ulster.
A fronteira setentrional impetuosa e unida, formada por vales estreitos, montanhas com vegetação abundante e invencíveis rochedos íngremes à beira-mar tinha resistido à submissão inglesa desde a conquista normanda.
As terras margosas de Ulster haviam criado gerações de heróis; gigantes de outrora, santos de fé mística, guerreiros de reputação duradoura e mulheres de grande coração.
Uma lenda ligava as ravinas, as correntes e as repentinas mudanças de humor do Abhainn Mor ao rei dos reis do clã dos O'Neill.
Ao cair da noite do dia cinco de maio de 1575, a enchente causada por um dilúvio de primavera expôs o rio ao pior de seus humores.
Águas impetuosas chicoteavam a ravina em Benburg com ferocidade; o Abhainn Mor libertou-se de seu antigo leito e ameaçou lanhar mais um caminho através da Irlanda. O furioso estrondo da corrente de água se misturava ao rumor dos trovões e aos ventos uivantes.
Se a lenda fosse considerada verdadeira, o temperamento sombrio do rio se asseme-lhava à perfeição ao do herdeiro de Dungannon.
Montado em seu cavalo de batalha predileto, Boru, um animal pardo de belo porte, o conde favorito de Sua Majestade, Hugh 0'Neill, observava sete soldados ingleses saírem de Benburg, seguindo a trilha de mais uma vítima.
A rainha Elizabeth desaprovaria a indumentária do conde de Tyrone se o visse agora. O lorde Hugh não vestia as elegantes roupas de um cortesão inglês, mas as de um escocês: xadrez e couro.
O semblante jovem de Hugh refletia todo o dissabor com a cena na ravina.
Através de um acordo particular entre a rainha e ele, o direito de administrar Ulster lhe pertencia, bem como o de matar os malfeitores.
Os soldados britânicos não deveriam entrar ou patrulhar as terras do falecido mártir Shane O'Neill.
Série Irlanda
1 - O Guerreiro da Ilha
2 - Tormenta de Paixões
Série Concluída