Aos vinte e seis anos, Samantha Briggeham sabia que suas perspectivas de casamento iam desaparecendo lentamente, e ficou satisfeita com isso.
Não tinha a intenção de se comprometer com um homem que não amasse. Tinha um plano… que não incluía ser raptada por um cavaleiro mascarado.
A notícia do resgate heróico de Sammie, de um casamento indesejado, a converteu no tema de conversação de toda a elite social e daí em diante não parou de ser assediada por todos os tipos de pretendentes. No entanto, ela não podia esquecer o bandido atraente que a tinha sequestrado por engano.
Havia nele algo que a intrigava profundamente… Quem era o famoso ladrão, autor de feitos lendários? Eric Landsdowne, o sedutor conde de Wesley, tinha suas próprias razões para ajudar as mulheres a fugir do triste destino de um casamento arranjado e para manter sua identidade secreta. Mas a partir do momento em que ele resgatou Sammie soube que não poderia perde-la uma segunda vez…
Capítulo Um
Kent, 1820
Samantha Briggeham se retirou da janela pela qual entrava na sala a fresca brisa noturna e olhou para seu querido e senil pai.
― Não posso acreditar que me sugira isso, papai. Por que acredita que deveria considerar a possibilidade de me casar com o major Wilshire? Apenas o conheço.
― Bom, é amigo da família há anos ― respondeu Charles Briggeham enquanto cruzava a sala para se reunir com Samantha junto à janela.
― Sim, mas passou a maior parte desses anos no exército ― assinalou ela, se esforçando por conservar o tom calmo e conter um estremecimento.
Não imaginava que alguma mulher pudesse albergar pensamentos românticos a respeito do austero major Wilshire. Céus, aquele homem tinha um cenho que lhe dava a aparência de acabar de morder um limão. Aquela conversa era provavelmente o resultado das maquinações casamenteiras, bem-intencionadas mas inoportunas, de sua mãe.
O pai acariciou o queixo.
― Já tem quase vinte e seis anos, Sammie. É hora de casar.
Sammie lutou contra o impulso de elevar os olhos ao teto. Seu pai era o homem mais carinhoso e doce do mundo, mas apesar de ter uma esposa e quatro filhas era mais burro que uma porta para entender as mulheres, sobretudo a ela.
― Papai, já passei em muito a idade de casar. Estou perfeitamente bem tal como estou.
― Bobagem. Todas as jovens desejam se casar. Foi o que me disse a sua mãe. Aquelas palavras confirmaram suas suspeitas de que sua mãe estava por trás daquilo.
― Nem todas, papai.
O estremecimento que já não podia reprimir mais fez com que ela baixasse os ombros ao pensar em se ver presa com grilhões a algum dos homens que conhecia. Todos eram uns gordos e torpes, e se limitavam a olhá-la fixamente com uma mescla de pena, confusão e, em alguns casos, claro horror, quando ousava falar com eles sobre equações matemáticas ou temas científicos. A maioria a chamava por Sammie A Excêntrica, um nome que ela aceitava filosoficamente, já que sabia que era excêntrica, ao menos aos olhos dos demais.
― Obviamente que todas as jovens desejam se casar ― insistiu seu pai, voltando a atrair sua atenção ao assunto que tinha entre mãos. ― Veja as suas irmãs.
― Já as vi. Todos os dias de minha vida. Amo-as muito mas já sabe que não sou em absoluto como elas. Minhas irmãs são bonitas, doces e femininas, perfeitamente dotadas para ser esposas. Durante os últimos dez anos não fizemos outra coisa que tropeçar com uma grande quantidade de pretendentes. Mas o fato de que Lucille, Hermione e Emily estejam já casadas não significa que eu deva me casar.
― Não deseja ter uma familiar própria, querida?
Um silêncio encheu o ar, e Samantha fez caso omisso da pontada de ânsia que lhe feriu as entranhas. Fazia muito tempo que havia enterrado aquelas fantasias.
― Papai, os dois sabemos que não sou dessas mulheres que atraem os homens para o casamento, nem por meu aspecto nem por meu temperamento. Alem do mais, sou muito velha…