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19 de novembro de 2023

O Sonhador e a Debutante

Série Os Escândalos de Somerton
Esta história de amor mostra a dificuldade de ter um relacionamento além das fronteiras de classe social na Inglaterra do século XIX.
Lady Heloise é irmã de um visconde, e o jovem por quem ela se apaixona é o filho da governanta que atualmente é cavalariço.
Este livro é definitivamente uma prequela para essa série, pois prepara o cenário para a premissa dela. Detalha a história de quando ela volta da escola para casa, nas férias de verão de seus estudos, antes do início de sua temporada em Londres.


Capítulo Um

A primeira governanta tinha sido um erro.
Essa era a verdade, mesmo que, até hoje, ninguém acreditasse nela. Como uma menina criada no campo, por uma mãe que amava tanto seu jardim, saberia que havia mulheres no mundo com tanto medo de cobras? Era uma noção tão absurda que é claro que ela riu! Não foi uma risada de malícia, apenas surpresa.
Ela não tinha jogado a cobra, além disso, apenas a empurrou para fora de seu caminho enquanto caminhava através das roseiras. Por todo o problema que causou, ela desejou tê-la jogado. Pelo menos assim, a punição teria sido justificada.
Aquela governanta estúpida havia insistido, mesmo aceitando sua indenização e fazendo as malas, que Heloise pretendia matá-la!
Mesmo aos treze anos, Heloise se ofendeu com isso. Não a suspeita de que ela pudesse ser capaz de matar, oh não, mas sim a implicação de que ela poderia ser tão estupidamente ineficaz nisso. Todo idiota em Yorkshire sabia que cobras de grama eram inofensivas. Por que não a Srta. Sutherland, que deveria estar lá para a educar, afinal? Coitadinha boba.
Claro, era lógico que dar a uma jovem o poder de banir qualquer governanta que ela não gostasse com um susto oportuno poderia ter consequências. Seu irmão deveria ter previsto isso. Não deveria?
Não que ela odiasse as governantas, ou nem todas elas. Ela simplesmente se ressentiu da raison d´être[1]. Isso era francês. Viu? Ela tinha aprendido apesar de tudo.
Se apenas seu irmão Alex fosse o mais velho, as coisas seriam diferentes. Ele a entendia! Ele até lhe deu ideias – em segredo, naturalmente – quando estava em casa de Eton. O resto do tempo, ela tinha ficado presa com papai e Gideon, que insistiam em substituir todos os inimigos que ela derrotava, um por um.
No entanto, só depois que papai morreu que Gideon pareceu realmente zangado com o assunto. E quando a Escola para Moças da Sra. Arlington foi sugerida. Ela nunca quis deixar Somerton, ela simplesmente queria ser deixada sozinha enquanto estava lá. Infelizmente, as jovens não têm a palavra final sobre esses assuntos, e quase três anos atrás, ela foi despachada para Bath-Spa para uma educação da qual ela não conseguia escapar.
Ou assim eles pensaram.
Ela não pôde deixar de sorrir para si mesma, uma verdadeira senhorita de quase dezenove anos, forçada a usar espartilhos, fitas e um gorro, com certeza, mas ainda assim voltando para casa em Somerton. Seu irmão Gideon poderia estar olhando para ela do outro lado da carruagem de uma forma que faria qualquer outra garota tremer, mas Heloise não se intimidaria. Não por ele, de qualquer maneira.
Ela finalmente estava indo para casa! Era para ser um castigo, algum tempo para pensar em como ela havia comprometido a felicidade e as perspectivas futuras daquelas garotas estúpidas com seu golpe de misericórdia em sua guerra em andamento. Mal sabiam eles que isso era tudo o que ela queria o tempo todo.
—Você pode parar de parecer tão satisfeita consigo mesma. — Gideon disse, sua voz com aquela calma mortal que sempre falava em raiva latente. —Você poderia já ter debutado este ano se você tivesse parado com essas loucuras. Do jeito que está, você também terá sorte de se juntar à temporada no próximo ano.
—No entanto, vou ter de lidar com isso? — Heloise respondeu com uma vibração sarcástica de seus cílios. Afinal, ela não conseguia pensar em nada que quisesse menos.
Ele a encarou de uma forma que ela tinha certeza de que era para fazê-la se encolher e retrair. Em vez disso, ela fixou calmamente os olhos verdes nos dele, que brilhavam com raiva refletida. Talvez Gideon tivesse esquecido quem era sua irmã desde que a mandara embora.
—Você não me escreveu. — disse ela, levantando o queixo em desafio.
—Você também não me escreveu. — respondeu ele, ainda como uma estátua em uma gravata engomada.
Ela sorriu, mais para si mesma.
—Tive a impressão de que a diretora estava escrevendo em meu nome.
Gideon não respondeu, mas um músculo em sua mandíbula começou a se contrair. Não deveria diverti-la fazer isso com ele, mas ela não podia evitar que a vingança tivesse um gosto tão satisfatório.
Ela adoraria ler essas cartas, verdade seja dita. Havia uma pequena quantidade de orgulho em suas façanhas. Cada incidente merecia sua própria carta, ou a Sra. Arlington havia enviado uma compilação trimestral? Talvez apenas algumas brincadeiras merecessem cartas e outras foram descartadas como incidentais?
Heloise se perguntou como eles compararam. O sapo na chaleira superou a pimenta indiana nas anáguas? Ela não devia rir de novo, mas era difícil não rir quando as lembranças eram tão divertidas.
—Mamãe escreveu uma vez. — Ela disse, observando seu irmão irritada —e Alex escreveu muitas vezes, mas apenas para reclamar.
Gideon suspirou.
—Eu não suponho que você tenha recebido uma de suas queixas nos últimos dias? As marcas de postagem pelo menos me diriam para onde o patife foi parar desta vez.




Série Os Escândalos de Somerton
0,5- O Sonhador e a Debutante
Série concluída