Claire soube, pelo olhar que dedicou a ela, que Guillermo estava fora de si.
Não controlava a cólera nem o sentimento ferido de seu coração.
Ela o tinha desafiado ao limite. Havia provocado uma ferida mortal, sem embargo, necessitava, como o ar que respirava, a ação reprovável que ia receber dele graças a sua manipulação, e assim, a ansiada liberdade do jugo matrimonial.
À medida que avançava, Guillermo ia se despojando de sua roupa. Claire fechou os olhos e se encomendou a Deus frente a seu último sacrifício, ainda que ela ignorasse os desígnios da vida e sua forma de cobrar as ofensas cometidas.
Queria mais que nada no mundo sua liberdade. Acima dos filhos.
Acima do amor que lhe professava seu esposo. E ia encontrar-se com a liberdade tão ansiada.
Capítulo Um
Levantou o rosto e fechou os olhos. Entreabriu os lábios para receber o beijo ansiosamente desejado.
Percebeu as mãos fortes nos seus ombros e o coração ameaçou sair do peito. Apenas um roçar suave, efêmero, como se não fosse nada. Os lábios dele estavam mornos sobre os seus, e ela, em um impulso, esmagou a boca e introduziu a língua e a moveu como se buscasse algo. Notou com perfeita clareza o gemido de surpresa dele e o muro que levantou entre os dois, deixando-a desolada.
Entreabriu as pálpebras e o que viu encheu seus olhos de lágrimas.
Thomas estava horrorizado, como se na sua frente tivesse uma serpente a ponto de morder-lhe e não uma garota buscando um beijo. O rapaz recordou perfeitamente as advertências de sua mãe sobre Clara Luna. Sua inclinação pecaminosa, sua atitude indolente e, o mais preocupante, sua falta de moral. Ele acreditou que poderia trazê-la de volta ao caminho da virtude. Resgatá-la da lama do pecado em que estava enterrada, mas havia se equivocado completamente. A Eva tentadora que tinha na sua frente lhe oferecia sua maçã do pecado para contaminar sua alma e ele não podia permitir.
—Por que...? — O rapaz não pode continuar a pergunta — Estás maldita e perdida — assegurou com grave censura na voz. — Tenho que ir!
—Espera Thomas, não!
Mas nada pode fazer para impedir que se fosse. A garota tapou o rosto com as mãos enquanto cedia ao pranto mais humilhante. Lhe ardiam as bochechas pela vergonha. Sentia uma angústia no peito que apenas lhe permitia respirar. Escutou o galope do cavalo que já ia se perdendo na distância e deixando para trás uma nuvem de poeira.
Estava mortificada. Sumida em uma esmagadora autocompaixão.
«Como fui tão estúpida para permitir que me julgasse?», pensou ao mesmo tempo que varria as lágrimas de sua bochecha com os nós dos dedos. «Porque sou uma pecadora impenitente e me comporto como uma meretriz», se recriminou com dureza. «Por isto pode me julgar, porque mereço.»
E recordou vivamente quando anos atrás um grupo de rapazes zombou dela quando brincava no rio. Rasgaram suas roupas acusando-a de ser uma selvagem. Sua natureza sensível e forma de ver as coisas a aprisionaram com um estigma que não havia desaparecido com o tempo nem com seu esforço por parecer com sua mãe. Jamais a haviam aceitado entre eles e Thomaz acaba de demonstrar isto.
Apenas um deslize no rio e já não podia limpar a mancha sobre seu nome. Piscou várias vezes para clarear a visão e olhou adiante a nuvem de poeira que levantavam os cascos do cavalo no galope enquanto ele se afastava dela. Thomas Scott não girou a cabeça uma única vez para olhá-la. Logo seria apenas um ponto na distância e uma recordação constante de sua natural inclinação para o pecado.
—Te disse que era um pusilânime e um covarde, mas não me escutaste.
A garota girou sobre si mesma e olhou com tristeza o rosto do rapaz que lhe falava. Mike era franco, leal e o melhor amigo que tinha. —Não é um pusilânime
Série Família Beresford
1 - Me Ame, Canalha
2 - Me Beije, Canalha
3 - Seduzindo Um Canalha
Série Concluída