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4 de novembro de 2025

Coração do Capitão

Série Família Evans
Quem era Evangeline Evans? 
A resposta flutuou no ar de Londres como um boato que nunca sairia de moda: filha bastarda do Duque de Weymouth, segunda irmã do dono das lojas Evans e cunhada de Lady Daphne Webb. Como se isso não bastasse, ela também carregava a imagem social de solteirona.
Para o inferno com isso! Desde a véspera de Natal em que seus caminhos se cruzaram acidentalmente, o Capitão Charles Hobart, dono de uma renomada carreira militar, formou sua própria opinião sobre ela... Uma mulher cheia de sonhos, de aspirações tão simples, que se tornavam complexas, uma dama com maturidade suficiente para um homem como ele, que se esgotava facilmente com a tagarelice jovial das debutantes.
Mas quem era Evangeline Evans, realmente? Quando ele entendesse a realidade oculta por trás daquela garota de cabelos flamejantes, olhos cor de mar e espírito livre seria tarde demais para seu coração. Uma viagem para outro continente, um mal-entendido e um amor inesperado que emerge das profundezas de um mar turbulento e sábio...

Capítulo Um

Inglaterra, 1864.
Ela achava irônico amar tanto o Natal. Evangeline Evans culpava Charles Dickens de tamanha incoerência, ele e sua história de Natal que sempre a fizeram ansiar por um milagre nas pessoas.
De certa forma, ele conseguiu. Ela, pelo menos, sentia-se mais inclinada a perdoar, a rir, a aproveitar aqueles encontros. Devia isso ao tempo que passara em Nova York.
— Ah, vamos lá. — Lady Daphne, sua cunhada insistiu — vista o vermelho. — Ela estendeu um lindo vestido de cor granada na sua frente.
— De jeito nenhum, assim que eu puser os pés nas lojas, os funcionários vão jogar um balde de água gelada em mim achando que estou pegando fogo.
— Você é incorrigível.
Evangeline sorriu. Não adicionaria vermelho à sua roupa, não importa o quão natalina ela fosse. Seu cabelo ruivo era o suficiente para atrair atenção, uma solteirona de 29 anos vestindo granada? Ela olhou para o resto dos vestidos e escolheu o azul.
— Não, não. — Daphne interrompeu — você já usou azul no jantar na casa dos meus pais.
— Você não diz que uma solteirona deve recorrer ao escândalo se manter em evidência sobre as jovenzinhas?
Lady Daphne riu. A nobreza estava tão carente de escândalos, que repetir um mesmo traje significava uma condenação social perfeita para fofocas.
— Você conseguiria isso com o vermelho, mas se recusa. — Ela escolheu um verde e sorriu satisfeita.
— Nesse caso, vou competir com a grande árvore que o David colocou no meio da pista de patinação.
David Evans era seu irmão mais velho, dono das importantes e luxuosas lojas Evans. Era o primeiro Natal desde que abriram as portas em Londres, e o excêntrico proprietário, estava decidido a exibir o dinheiro que havia ganhado nos últimos meses. Seria um evento de alto nível, bem no estilo nova-iorquino, do qual Evangeline tanto sentia falta.
— E você vai ofuscá-la. — Decidiu Daphne, pronta para desempenhar o papel de aia. Ela amava a tarefa, a cumplicidade entre mulheres que elas haviam desenvolvido.
Lady Daphne era a única mulher da família Webb, e fora a sensação da temporada londrina até que o destino a jogou nos braços de David, o bastardo do Duque de Weymouth. Agora, os salões da nobreza a recebiam em meio a um tipo diferente de murmúrio, fofocas que a mulher adorava alimentar. Tanto que naquela noite ela apareceria no evento exibindo sua barriga saliente em público.
— Duvido, todos os olhos estarão voltados para meu sobrinho.
— Sobrinha. — Daphne a corrigiu.
— Sobrinho — argumentou Evangeline — acredite em mim, eu sei a diferença entre a barriga de um menino, e a barriga de uma menina, e você tem um diabinho Evans aí.
— Ah, mal posso esperar! — Ela ficou impaciente, e sua mão esquerda, na qual usava uma enorme aliança de casamento, descansou em sua grande barriga — Um diabinho ruivo.
— Ele pode nascer com cabelos loiros, como você.
—Impossível, e você sabe disso. — Daphne piscou para ela. Os Evans eram Spencer por parte de pai, e os Spencer sempre foram ruivos.
Evangeline concordou em usar verde, não porque gostasse de chamar atenção, mas porque o vestido era lindo e, até então, ela nunca o havia usado. Ela não tinha muita vida social, seu status ilegítimo somado à sua idade avançada, e não apenas isso, mas também, uma condição pulmonar de nascença que frequentemente a enfraquecia. Com exceção de alguns jantares e chás, ela raramente visitava salões e festas. Outra razão pela qual ela achava irônico o amor dela pelo Natal. O ar frio de Londres, e de Nova York não lhe fazia bem, e resultava, na melhor das hipóteses, em uma semana de cama.
Porém ela não perderia isso por nada no mundo. Estava tão animada quanto seus irmãos mais novos, os gêmeos Olivia e Oliver. Os ouvia correndo pela mansão, brigando e gritando em um estado de superexcitação que era difícil de conter.
Ela vestiu o vestido com uma saia tão ampla que precisou de um banquinho para sentar. O colarinho era alto, e se abria em uma renda bordada até a borda do maxilar. O tecido era aveludado e conseguia enganar os olhos dependendo da incidência da luz.
— Como vou patinar com isso? — lamentou ela.
— Como uma dama...


Série Família Evans
1-A Falsa Preceptora
2- Coração do Capitão

16 de setembro de 2025

A Falsa Preceptora

Série Família Evans

Na balança moral da nobreza britânica, o orgulho de um canalha pesa mais do que o bom nome de uma dama... e Lady Daphne Webb acaba de descobrir isso. 
A única filha do Conde de Sutcliff desfruta de maiores privilégios do que os comuns, entre eles o prazer de prolongar sua vida de solteirona até que o amor cruze seu caminho. Sua recusa em aceitar a proposta do Barão Cowrnell a torna alvo de sua vingança, mas ela não está disposta a ser manipulada nem a permitir que os planos de um homem rancoroso governem seu destino. Ela prefere tomar as rédeas de sua vida, mesmo que isso signifique, com pequenas e inofensivas artimanhas, assumir o cargo de preceptora. O que poderia dar errado? David Evans soube assim que a viu, aquela preceptora bonita, falante e pouco ortodoxa não era a melhor escolha para seus irmãos. Aquela mulher era um perigo para todos, especialmente para ele! Com ela, não só sua estabilidade mental estava em risco, mas também seu protegido coração.

Capítulo Um

Inglaterra, 1863.
—Ah, o ego masculino é tão frágil! — Lady Daphne Webb ficou furiosa, pretendendo se jogar dramaticamente na poltrona francesa por um capricho exagerado. Em vez disso, seu traseiro se acomodou graciosamente, suas costas permaneceram retas e seu rubor realçou sua beleza inata.
Afinal, ela era uma Webb, e os Webbs eram lendários por sua boa aparência.
—Você ouviu isso, minha querida? — Elliot Spencer, Lorde Bridport, não era tão gracioso quanto Daphne. — Traga meus sais, acho que vou desmaiar... — Ele arrancou o leque da esposa, Miranda, e o brandiu com abandono exagerado. — Ele nos chamou de frágeis! Frágeis!
Lady Bridport tentou conter o riso, era inapropriada dada à verdadeira angústia de Lady Daphne.
Lorde Colin Webb, irmão mais velho da vítima, entrou na brincadeira.
— Pior! Para os nossos egos. Acho que entendo nas entrelinhas que ela está questionando a nossa superioridade. Eu também vou desmaiar...
O único que não se juntou a encenação foi Lorde Thomas, o mais novo dos irmãos Webb.
—Daphne, minha querida — interrompeu Lady Emily, esposa de Colin. A americana era doce e equilibrada, ao contrário de sua compatriota, Lady Miranda — você deve considerar isso um golpe de sorte... Não só fez bem em recusar o casamento com Lorde Cowrnell, como agora não há dúvidas sobre sua sabedoria...
—Nunca duvidei do meu bom senso! — retrucou Daphne, ofendida. Lorde Thomas pigarreou e a irmã se virou para ele, com o olhar flamejante. — Nem pense nisso... —ela o repreendeu antecipadamente. Ele podia ser o herdeiro do condado, mas ela era sua irmã mais velha e o lembraria disso se necessário.
—Eu nem sonharia com isso, irmã. — Mas um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
—Tia Daphne, você está brava? — Davon, filho de Miranda e Elliot, aproximou-se dela. Daisy, a mais nova do casal, juntou-se a ele. Eles a examinaram atentamente.
—Acho que ela está triste — disse a menina.
—Não, não. Ela está furiosa, entende? — As mãos do garoto Spencer pousaram nas faces de Lady Daphne. — As bochechas dela estão queimando... — e ele as beliscou de leve. Daphne riu, e um pouco da fúria diminuiu. As crianças do casamento Bridport eram a luz dos seus olhos, sem parentes consanguíneos, ela se apropriou dos filhos dos viscondes para mimá-los.
—Você tem razão, Davon. — Sentou Daisy em seu colo. O menino já era “grande”, conforme ele alardeava, para aquele tipo de carinho com a tia. — Estou furiosa, e você... suas mãos estão pegajosas. E você comeu mais doce do que sua mãe permite?
—Não... —Daisy mentiu alisando uma ruga imaginária em seu vestido bufante.
—Ah, graças a Deus. Quase pensei que alguém tivesse descoberto meu estoque secreto de doces. É impossível imaginar que alguém jamais acreditaria que eu fui esperta o suficiente para escondê-lo no vaso azul do escritório do Conde de Sutcliff... Ops... — Ela cobriu a boca. Davon e Daisy correram imediatamente para o escritório para pegar os doces e irritar o conde, Lorde Arthur Webb que, assim como Daphne, compensava a falta de filhos Webb com os filhos Spencer.
—Eles são diabinhos lindos — comentou Emily.
— Diabinhos sim, lindos... — queixou se Miranda. — São uma dor de cabeça — Seu sorriso desmentia suas palavras, e o olhar mal disfarçado de Elliot na direção do espartilho não tão apertado da esposa, deixava claro que a raça dos diabinhos planejava se expandir nos próximos meses.
—Claro que são lindos, minha querida — Lorde Bridport era um pai orgulhoso demais para permitir tal insulto — graças a você, é claro. Caso contrário, o sangue Spencer não seria diluído...
Todos soltaram uma risadinha, não era apropriado participar da zombaria de uma das famílias mais poderosas da Inglaterra. O único capaz de fazê-lo era Lorde Bridport, porque ele pertencia a ela, até mesmo o Conde de Sutcliff, com seu dinheiro e conexões, teve o cuidado de não ofender o Duque de Weymouth, pai de Elliot. Uma tarefa difícil, porque o homem se ofendia com muita facilidade, nada parecia corresponder à sua linhagem, nem seu filho, muito menos sua nora americana, nem seus netos. Elliot estava parcialmente certo, o sangue Spencer era forte, tanto que se dizia que todos os ruivos da Inglaterra pertenciam à família, exceto pelo atual Lorde Bridport, os Spencers eram conhecidos por seus cabelos ruivos e seus casos extraconjugais que deixavam uma ninhada de bastardos por geração. Elliot tinha primos reconhecidos e não reconhecidos, tios com seu sobrenome e tios com sobrenomes da criadagem... até mesmo na sociedade, “certos filhos de certos nobres” ostentavam o inconfundível cabelo e sardas Spencer. O surpreendente era que, até então, os bastardos do Duque de Weymouth eram desconhecidos, e Daphne tinha certeza que existiam, aparentemente, Sua Graça aprendera com os erros do passado e mantinha seus pecados bem escondidos da Casa Hamilton, a principal mansão do ducado.
—De qualquer forma — continuou Emily — Davon está certo. Você está brava, não triste, porque sabe que fez a coisa certa. Lorde Cowrnell provou ser um idiota, um covarde e, acima de tudo, um péssimo perdedor.
—Sim, sim. Eu já conhecia todos os traços do caráter dele, mas... — Lady Daphne se deixou levar pela fúria — apostar dez mil libras em quem se casar comigo nesta temporada? Vão me deixar louca!
—Já estavam te deixando louca — comentou Miranda. — Você recebe cerca de cinco propostas de casamento por temporada, e duas fora dela. São cerca de sessenta e três propostas desde que você foi apresentada à sociedade... não deve haver muitos homens em Londres que você não tenha rejeitado.
—Não invoque a desgraça!









Série Família Evans
1-A Falsa Preceptora