Belinda, lady Flesham, uma vez livre de seu desventurado e aborrecido matrimônio, queria desfrutar dos prazeres até então desconhecidos e descobriu que o comandante Ashe Reynard, um homem curtido na batalha e atraente como poucos, era exatamente o que necessitava.
A alta sociedade estava esperando que cometessem um deslize. Mesmo assim, o casal embarcou em uma aventura... e Belinda começou a se sentir cada vez mais desorientada. Não queria casar-se outra vez, mas tampouco podia viver sem Ashe...
Capítulo Um
Quero um herói. As palavras a olharam fixamente da página do livro.
— Eu também, lorde Byron, eu também. Bel suspirou, afastou uma mecha de cabelo do rosto e continuou lendo a primeira estrofe de Dom Juan. Naturalmente, o poeta e ela não queriam um herói pelo mesmo motivo. O poeta procurava um herói idôneo para seu conto; Belinda, lady Felsham, simplesmente, desejava um idílio. Bom, isso tampouco era verdade. Ficou olhando ao infinito.
Se não podia ser sincera consigo mesma, com quem seria? Seus desejos não eram singelos, tampouco eram puros e não tinham nada a ver com cavalheiros andantes e idílios. Deitou-se de costas sobre o tapete de pele branca e jogou o livro, que passou roçando o candelabro que a iluminava.
Eram mais de duas da madrugada e as velas estavam acabando-se. Logo teria que levantar para se trocar e deitar-se. Esticou um pé, que roçou a borda de seda da camisola, e acariciou com os dedos as orelhas do urso polar que olhava para a porta de seu dormitório.
- Não quero isso, Horace - comunicou ao urso. Não quero música suave e olhadas lânguidas à luz da lua. Quero um homem imponente que seja impetuoso na cama. Quero um amante. Um bom de verdade. Horace, imperturbável, não disse nada, como sempre quando ela fazia uma confidência a suas orelhas amareladas pela idade. Apaixonou-se por ele quando tinha nove anos, tirou-o com carinho do escritório de seu avô e o levou para seu dormitório.
Acompanhava-a depois. Seu falecido marido, Henry, visconde de Felsham, queixou-se levemente pela presença dessa pele enorme e comida pela traça no chão dos aposentos de sua esposa, mas Bel, que agradava a seu marido em todos seus pedidos, se impôs e Horace ficou. Henry sempre suspirava e o rodeava ostensivamente quando, duas vezes por semana, visitava-a em seu quarto. Possivelmente tinha se dado conta de que para sua jovem esposa a conversa com Horace era mais apaixonante que suas atenções conjugais.
Bel se sentou e olhou ao redor com satisfação. Gostava de seu dormitório, embora tivesse que ocupá-lo sozinha, sem o amante de seus sonhos. Na realidade, toda a casa era perfeita, felicitou a si mesma com certa vaidade. Era uma pequena joia na Half Moon Street, recém-comprada como parte de sua manobra para sair de dezoito meses de luto e divertir-se.
Série Ravenhurst
2 - A Ultrajante Lady Felsham