Julia Livia Rufa fica horrorizada quando os bárbaros invadem Roma e roubam tudo que encontram à vista, mas ela não esperava estar entre os rendidos.
Como escrava de Wulfric, ela está condenada a manter a casa para os incivilizados saqueadores. Logo, porém, Julia percebe que é mais livre como uma escrava, do que foi, quando era uma virgem romana.
Seria muito fácil sucumbir à força tranquila de Wulfric, e Julia o quer, mais do que jamais quis alguma coisa. Mas Wulfric poderá um dia ser rei, e Julia é uma escrava romana. Que futuro pode existir para duas pessoas de mundos tão diferentes?
Capítulo Um
Roma, Dia 24 de agosto, DC 410
O som era o terror tornado realidade. Entrava pelos ouvidos, e podia ser sentido através dos ossos. Era o som que seus antepassados ouviam, milhares de anos antes, quando se amontoavam na segurança duvidosa de uma caverna, com somente a proteção do fogo entre eles, e as coisas que os rondavam no escuro. As coisas que rosnavam. Julia parou de lutar contra as mãos ásperas que a seguravam.
Os três, agressores e vítima, viraram-se como se fossem um só, os olhos entreabertos contra a fumaça, que subia do estabelecimento em chamas. Um pilar caiu e quebrou atravessado no caminho, faíscas espalhavam-se. À distância, a partir da direção do Fórum, gritos podiam ser ouvidos. Aqui, agora, depois do rosnado baixo, havia apenas o som da madeira, que o fogo lambia.
Julia caiu nas garras de dois homens. Aterrorizada como estava teria imaginado aquilo? Mas os homens também ouviram. Fora ouvido através dos seus gritos frenéticos, através de suas ameaças e maldições e riso grosseiro. Em um mundo enlouquecido, onde os bárbaros saqueavam comerciantes respeitáveis da maior cidade do mundo, tentavam estuprar a filha de um senador, não era impossível de acreditar que um lobo estivesse cruzando as ruas. Com o canto do olho, ela pode ver o corpo inerte da escrava que sua mãe enviara com ela, naquela missão insana. Os homens a jogaram contra a parede com uma indiferença brutal, quando ela se agarrou ao braço de Julia. Não se moveu desde então.
Eu nem sequer sei o nome dela…
— Não há nada ali — o mais alto dos homens resmungou. — É só imaginação.
— Ela também ouviu, não foi, cadela rica? — Era aquele, cujo rosto ela havia aranhado, inutilmente.
— Sim. Sim, um lobo. É perigoso. Você deve correr. — Mesmo um lobo era melhor do que esses dois. Temerosos de fugir dos godos , e com medo de lutar, eles aproveitaram a chance de tomar o que só haviam sido capazes de cobiçar de longe. Muitas vezes ela, e as senhoras como ela, haviam passado ao lado deles nas ruas, andavam entre as bugigangas, em suas tendas, e nunca os notaram. Agora, uma dessas criaturas elegantes e mimadas caíra em suas mãos. No meio daquele caos eles poderiam ter prazer com ela, e entorpecer o terror do que estava acontecendo ao seu mundo.
Mas esta virgem protegida dera trabalho, lutara, rasgando suas mãos e rostos, chutando as canelas, mordendo onde ela podia. E a outra menina, a pequena escrava, estava provavelmente morta, e não proporcionaria nenhuma diversão.
O homem, com os arranhões sangrando em sua bochecha direita, feitos por quatro unhas requintadamente cuidadas, zombou de volta para ela.
— Apenas um cão, acorrentado atrás do pórtico. Nenhuma ajuda para você, querida. — Seus dedos agarraram o decote de sua túnica e a puxaram para baixo, a mão suada deslizou sobre a carne, nua.
— Por Hades.