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5 de outubro de 2020

A Escrava e o Rei Bárbaro

 

Julia Livia Rufa fica horrorizada quando os bárbaros invadem Roma e roubam tudo que encontram à vista, mas ela não esperava estar entre os rendidos.

Como escrava de Wulfric, ela está condenada a manter a casa para os incivilizados saqueadores. Logo, porém, Julia percebe que é mais livre como uma escrava, do que foi, quando era uma virgem romana.
Seria muito fácil sucumbir à força tranquila de Wulfric, e Julia o quer, mais do que jamais quis alguma coisa. Mas Wulfric poderá um dia ser rei, e Julia é uma escrava romana. Que futuro pode existir para duas pessoas de mundos tão diferentes?

Capítulo Um

Roma, Dia 24 de agosto, DC 410  

O som era o terror tornado realidade. Entrava pelos ouvidos, e podia ser sentido através dos ossos. Era o som que seus antepassados ouviam, milhares de anos antes, quando se amontoavam na segurança duvidosa de uma caverna, com somente a proteção do fogo entre eles, e as coisas que os rondavam no escuro. As coisas que rosnavam. Julia parou de lutar contra as mãos ásperas que a seguravam.
Os três, agressores e vítima, viraram-se como se fossem um só, os olhos entreabertos contra a fumaça, que subia do estabelecimento em chamas. Um pilar caiu e quebrou atravessado no caminho, faíscas espalhavam-se. À distância, a partir da direção do Fórum, gritos podiam ser ouvidos. Aqui, agora, depois do rosnado baixo, havia apenas o som da madeira, que o fogo lambia.
Julia caiu nas garras de dois homens. Aterrorizada como estava teria imaginado aquilo? Mas os homens também ouviram. Fora ouvido através dos seus gritos frenéticos, através de suas ameaças e maldições e riso grosseiro. Em um mundo enlouquecido, onde os bárbaros saqueavam comerciantes respeitáveis da maior cidade do mundo, tentavam estuprar a filha de um senador, não era impossível de acreditar que um lobo estivesse cruzando as ruas. Com o canto do olho, ela pode ver o corpo inerte da escrava que sua mãe enviara com ela, naquela missão insana. Os homens a jogaram contra a parede com uma indiferença brutal, quando ela se agarrou ao braço de Julia. Não se moveu desde então.
Eu nem sequer sei o nome dela…
— Não há nada ali — o mais alto dos homens resmungou. — É só imaginação.
— Ela também ouviu, não foi, cadela rica? — Era aquele, cujo rosto ela havia aranhado, inutilmente.
— Sim. Sim, um lobo. É perigoso. Você deve correr. — Mesmo um lobo era melhor do que esses dois. Temerosos de fugir dos godos , e com medo de lutar, eles aproveitaram a chance de tomar o que só haviam sido capazes de cobiçar de longe. Muitas vezes ela, e as senhoras como ela, haviam passado ao lado deles nas ruas, andavam entre as bugigangas, em suas tendas, e nunca os notaram. Agora, uma dessas criaturas elegantes e mimadas caíra em suas mãos. No meio daquele caos eles poderiam ter prazer com ela, e entorpecer o terror do que estava acontecendo ao seu mundo.
Mas esta virgem protegida dera trabalho, lutara, rasgando suas mãos e rostos, chutando as canelas, mordendo onde ela podia. E a outra menina, a pequena escrava, estava provavelmente morta, e não proporcionaria nenhuma diversão.
O homem, com os arranhões sangrando em sua bochecha direita, feitos por quatro unhas requintadamente cuidadas, zombou de volta para ela.
— Apenas um cão, acorrentado atrás do pórtico. Nenhuma ajuda para você, querida. — Seus dedos agarraram o decote de sua túnica e a puxaram para baixo, a mão suada deslizou sobre a carne, nua.
— Por Hades.



25 de maio de 2018

A Ultrajante Lady Felsham

Série Ravenhurst
A saga dos Ravenhurst, uma família muito pouco convencional.

Belinda, lady Flesham, uma vez livre de seu desventurado e aborrecido matrimônio, queria desfrutar dos prazeres até então desconhecidos e descobriu que o comandante Ashe Reynard, um homem curtido na batalha e atraente como poucos, era exatamente o que necessitava.
A alta sociedade estava esperando que cometessem um deslize. Mesmo assim, o casal embarcou em uma aventura... e Belinda começou a se sentir cada vez mais desorientada. Não queria casar-se outra vez, mas tampouco podia viver sem Ashe...

Capítulo Um

Final de julho de 1815. 
Quero um herói. As palavras a olharam fixamente da página do livro. 
— Eu também, lorde Byron, eu também. Bel suspirou, afastou uma mecha de cabelo do rosto e continuou lendo a primeira estrofe de Dom Juan. Naturalmente, o poeta e ela não queriam um herói pelo mesmo motivo. O poeta procurava um herói idôneo para seu conto; Belinda, lady Felsham, simplesmente, desejava um idílio. Bom, isso tampouco era verdade. Ficou olhando ao infinito. 
Se não podia ser sincera consigo mesma, com quem seria? Seus desejos não eram singelos, tampouco eram puros e não tinham nada a ver com cavalheiros andantes e idílios. Deitou-se de costas sobre o tapete de pele branca e jogou o livro, que passou roçando o candelabro que a iluminava. 
Eram mais de duas da madrugada e as velas estavam acabando-se. Logo teria que levantar para se trocar e deitar-se. Esticou um pé, que roçou a borda de seda da camisola, e acariciou com os dedos as orelhas do urso polar que olhava para a porta de seu dormitório. 
- Não quero isso, Horace - comunicou ao urso. Não quero música suave e olhadas lânguidas à luz da lua. Quero um homem imponente que seja impetuoso na cama. Quero um amante. Um bom de verdade. Horace, imperturbável, não disse nada, como sempre quando ela fazia uma confidência a suas orelhas amareladas pela idade. Apaixonou-se por ele quando tinha nove anos, tirou-o com carinho do escritório de seu avô e o levou para seu dormitório. 
Acompanhava-a depois. Seu falecido marido, Henry, visconde de Felsham, queixou-se levemente pela presença dessa pele enorme e comida pela traça no chão dos aposentos de sua esposa, mas Bel, que agradava a seu marido em todos seus pedidos, se impôs e Horace ficou. Henry sempre suspirava e o rodeava ostensivamente quando, duas vezes por semana, visitava-a em seu quarto. Possivelmente tinha se dado conta de que para sua jovem esposa a conversa com Horace era mais apaixonante que suas atenções conjugais. 
Bel se sentou e olhou ao redor com satisfação. Gostava de seu dormitório, embora tivesse que ocupá-lo sozinha, sem o amante de seus sonhos. Na realidade, toda a casa era perfeita, felicitou a si mesma com certa vaidade. Era uma pequena joia na Half Moon Street, recém-comprada como parte de sua manobra para sair de dezoito meses de luto e divertir-se.








Série Ravenhurst
2 - A Ultrajante Lady Felsham

1 de fevereiro de 2015

Jóia Proibida da Índia


Anusha Laurens é um perigo. A filha de uma princesa indiana e de um nobre inglês é a pretendente perfeita na opulenta corte do Rajastão. 

Ainda assim, ela não retornará para o pai que a rejeitou. 
O arrogante major Nicholas Herriard é incumbido de levar a atraente princesa em segurança para sua nova vida em Calcutá. 
A missão dele é proteger e servir… mas sob o escaldante sol indiano nasce uma tentação proibida. 
A bela e impossível Anusha é um teste para a honra de Nick, especialmente quando resta apenas uma saída: casamento. Mas a forte correnteza do Ganges lhes reserva um destino diferente, e o dever pode separá-los para sempre…

Capítulo Um

Palácio de Kalatwah, Rajastão, Índia — março de 1788
Formas projetadas pela luz do sol e pelas sombras que incidiam dos orifícios das paredes de pedra sobre o chão de mármore provocavam o efeito de um bálsamo calmante nos olhos castigados por milhas de estradas empoeiradas. 
O estresse físico da longa jornada começava a se dissipar. Um banho, uma massagem, uma troca de roupas e ele se sentiria humano outra vez.
Passos apressados, o raspar indistinto e afiado de garras sobre o mármore. O cabo da faca que trazia na bota foi empunhado com a familiaridade adquirida pelos longos anos de prática enquanto ele girava de frente para uma passagem lateral e se acocorava antecipando o ataque.
Um mangusto se materializou na abertura, estacou de repente e chiou para ele. Todos os pelos do corpo eriçados diante da ameaça, a cauda empinada lembrava a floração da escova-de-garrafa.
— Animal idiota. — Nick disse em hindi, à medida que o som de passos apressados se tornava mais nítido e uma menina surgia no encalço do mangusto. A saia rodada escarlate girando em torno dela quando recobrou o equilíbrio e parou. 
Não era uma menina, mas, sim, uma jovem, sem a proteção do véu e desacompanhada. A parte do cérebro de Nick, que ainda se concentrava no ataque, analisou o som das passadas da jovem: ela havia mudado a direção duas vezes, antes de emergir na abertura, o que significava que aquela era uma das entradas alternativas para a zanana.
Aquela moça não deveria estar ali, fora dos aposentos femininos. Ele não deveria estar ali, observando-a enquanto todo o sangue do seu cérebro rumava para os pés, o corpo se posicionava para a violência e a mão empunhava uma faca.
— Pode guardar sua adaga — disse ela. Levou alguns instantes para Nick perceber que a jovem falava em um inglês com sotaque. — Tavi e eu estamos desarmados. Exceto pelos dentes — acrescentou, mostrando os dela, brancos e regulares, entre os lábios levemente curvados por um sorriso irônico. O que lhe mascarava o choque, Nick tinha certeza. O mangusto se enroscou nos pés descalços pintados com hena, ainda chiando consigo mesmo. O animal usava uma coleira cravejada de pedras preciosas.
Nick se recompôs e enfiou a faca de volta na bainha enquanto se erguia e unia as mãos.
— Namaste.
— Namaste. — Por sobre as mãos que ela também unira, os olhos cinza-escuros o estudavam. O choque parecia ter se dissolvido em uma desconfiança mesclada com hostilidade, e a jovem se esforçava para disfarçar os dois sentimentos.
Olhos cinza? E uma pele com a tonalidade dourada do mel. Mechas cor de mogno se alternavam nos cabelos castanho-escuros, presos em um trança grossa que lhe caía pelas costas. Ao que tudo indicava, sua caça o encontrara.
A jovem não parecia desconcertada por estar sozinha, sem a proteção do véu, na presença de um desconhecido. Apenas permanecia parada no mesmo lugar, observando-o. A saia ampla escarlate, pesada devido ao excessivo bordado prateado, chegava-lhe à altura dos tornozelos, permitindo um vislumbre da calça justa por baixo. A choli apertada revelava não apenas curvas deliciosas e braços elegantemente torneados, ornados com pulseiras de prata, como também uma desconcertante faixa do abdome aveludado e dourado.
— Devo me retirar. Desculpe-me por incomodá-la. — Nick disse em inglês, imaginando se talvez não fosse o mais desconcertado dos dois.
— Não deve — retrucou ela com uma simplicidade esmagadora no mesmo idioma. Em seguida, virou-se e transpôs a mesma abertura pela qual surgira. — Mere pichhe aye, Tavi — chamou enquanto a saia da lehenga desaparecia de vista. O mangusto a seguiu obediente.
O som das garras contra o assoalho fenecendo, juntamente com os passos leves da jovem.
— Diabos! — Nick disse diante da passagem vazia. — Essa é definitivamente a filha dele. De repente, um simples dever se tornou algo complemente diferente. Ele aprumou os ombros e marchou na direção de seus aposentos. Um homem não se tornava major da Companhia Britânica das Índias Orientais se deixando afetar por uma mulher de língua afiada, não importava o quanto fosse bela. Tinha de tomar um banho e procurar ter uma audiência com o rajá, o tio daquela jovem. Depois disso, tudo o que tinha a fazer era transportar a srta. Anusha Laurens em segurança para o outro lado da Índia, até o pai.
— Paravi! Rápido!
— Fale em hindi. — Paravi repreendeu quando Anusha entrou em seu quarto em uma revoada de saias e lenços.
— Maf kijiye. — Anusha se desculpou.
— Acabei de conversar com o homem inglês e minha mente ainda está traduzindo.
— Angrezi? 


30 de setembro de 2013

Questão De Desejo

Série Irmãs Shelley
De certinha e respeitada... a seduzida pelo Visconde! 

Seduzida, abandonada e grávida, Arabella Shelley está certa de que o pai de seu bebê irá ampará-los. 
Horrorizada ao descobrir que ele morreu, ela se choca ainda mais com a exigência do irmão dele, o belo e misterioso Visconde Hadleigh. 
Para que o filho que carrega na barriga seja reconhecido, ela deve se casar com ele! 
Bella sofre para aprender a lidar com seu novo e luxuoso estilo de vida, e com o alarmante desejo por seu marido desconhecido. 
Será que ela encontrará um amor tão intenso quanto a paixão que os une no leito matrimonial?

Capítulo Um

23 de maio de 1814
Bella percorreu o longo caminho para carruagens sob a chuva fina, o que deu a ela muito mais tempo para pensar no que precisava. 
Rafe tem de me ouvir, disse a si mesma com energia. Pode ignorar minhas cartas, mas não pode se recusar a me ajudar, não quando conversarmos pessoalmente.
Fazia três meses que se deitara com ele no celeiro, numa cama de feno, e que sentira o coração dele bater sobre o seu. 
Agora, estava apavorada, com náuseas, o corpo cansado, irritada e amargurada, tanto consigo mesma como com ele. 
Acreditara nele. Estivera tão desesperada para ser amada, tão segura do que queria que, quando o amor parecera surgir bem diante dela e lhe estendera a mão, ela se deixara levar completamente pela atração de um libertino experiente e sem consciência. 
E agora estava grávida. Uma mulher decaída. Arruinada.
Não, por favor, rezou enquanto caminhava. Não permita que ele seja totalmente sem consciência. 
Por favor, que tudo fique bem. Oh, bebê, me perdoe. Estou tão envergonhada. 
E, a menos que ele me ajude, não sei o que fazer, não sei como cuidarei de você. Mas cuidarei. De qualquer maneira.
E estava exausta, pela gravidez, a viagem, o medo. Não encontrara Rafe em Londres; sua linda casa em Mayfair estava trancada e escura, sem a aldraba na porta, mas agora estava ali, na enorme propriedade que ele descrevera para ela, tonta com as imagens de sua vida lá como esposa dele. Sua viscondessa.
Perguntara no chalé do portão e lhe disseram que milorde estava em residência. 
Evocou sua imagem enquanto caminhava. Por alguns dias abençoados, ele a fizera brilhar de felicidade. 
Rafe Calne, o visconde de Hadleigh. Alto, bonito, cabelos castanhos, elegante, olhos azuis que haviam encontrado o caminho para seu coração e sua alma. Rafe Calne, seu amor e seu sedutor. 
Deixara-se envolver pelo amor e por seus braços com tanta facilidade, cada princípio de virtude e modéstia esquecido no turbilhão de emoções. 
Sonhara um conto de fadas, estivera desesperada por um conto de fadas e, quando ,se vira dentro de um, acreditara implicitamente nele. E agora era punida por ter sonhado.
Mulheres arruinadas como Bella deveriam se atirar no rio, levadas pela profundeza de sua vergonha. 
Andara até as margens do Tâmisa quando encontrara vazia a casa de Rafe em Londres. Observara a água escura, a correnteza forte. Mas não podia, não iria se desesperar.
Era a irmã sensata, lembrou a si mesma com amargura. Pensaria em alguma solução. 
Estava carregando um bebê, e nada, se pudesse evitar, poderia machucar aquele bebê. Não importava o que acontecesse a ela, não importava quanta crítica e desprezo receberia, o bebê precisava ser defendido, abrigado, cuidado.
Seus pés estavam molhados e frios. Rafe não mantinha seu caminho para carruagens em bom estado. 
Bella puxou o capuz um pouco mais sobre o rosto e balançou o pé que havia acabado de mergulhar num buraco cheio de água. Mas era um homem ocupado, havia lhe contado.
Sem dúvida os empregados da propriedade não receberam boa orientação e supervisão, como precisavam. Sem dúvida, Rafe estivera ocupado seduzindo outra inocente tola ou flertando com alguma grande dama.

Série Irmãs Shelley
1 - Questão de Prática
2 - Questão de Ternura
3 - Questão de Desejo
4 - Questão de Inocência
Série Concluída

30 de junho de 2013

Questão De Prática

Série Irmãs Shelley 
Da: Ala dos empregados. 
Para: O quarto do patrão. 

Meg fugiu para casar, e assim se livrou das regras rígidas de seu pai, um reverendo. 
Ao enviuvar, tudo o que ela mais desejava era voltar a viver com as irmãs. 
Porém, não dispunha de recursos para pagar uma passagem de navio. 
Ao encontrar o major Brandon inconsciente no porto de Bordeaux, aproveitou a chance para fingir ser sua esposa e embarcar com ele para a Inglaterra. 
Meg havia conseguido o que queria; porém precisava ser tão mandona? E irresistível também? 
O tempo passado em guerras pesava na alma de Brandon, de modo que ele não teria serventia como marido. 
Mas poderia aproveitar Meg como sua empregada! 
E, é claro, dar-lhe total acesso ao seu quarto de patrão... 

Capítulo Um 

20 de abril de 1814, Bordeaux
A brisa afunilada pelo estuário do rio Gironde, vinda do mar, era gelada, e Meg se encolheu no xale em tomo dos ombros. 

Havia muito tempo que não comia, e sua mala, onde guardara a pelissa, estava perdida em algum lugar no campo de batalha de Toulouse, numa carroça abandonada. 
Era por isto que tremia, não de medo.
Um grupo de pessoas se aproximava pelo cais, em direção ao navio, ancorado um pouco mais adiante e que iria para a Inglaterra. 
Ela endireitou os ombros e ergueu o queixo. 
Era importante que parecesse respeitável, competente e de modo algum necessitada.
Uma daquelas pessoas, certamente, gostaria de ter um par de mãos disposto a ajudar na viagem de volta em troca de uma passagem. 

Não parecia um plano muito bom, mas era o único que tinha agora.
Um cavalheiro alto de braços dados com uma dama, acompanhados por um valete, uma criada e uma enorme pilha de bagagem... certamente não teriam necessidade dela. 

Um homem de meia-idade, vestido mais modestamente, com uma valise na mão e um secretário ao lado. Um homem de negócios, sem dúvida.
Então mais bagagem. Os porteiros afastaram para o lado uma carroça carregada de bagagem, deixando à vista outro passageiro que se chocou com ela e a fez dar um passo para trás, com um medo supersticioso.
A Morte estava caminhando... não, mancando... pelo cais à luz brilhante do sol de primavera.
Pelo amor de Deus! Meg controlou os nervos. Era um ser humano de carne e osso, claro que era. 
Apenas um homem. Mas um homem muito másculo. Parecia dominar o cais até que ela não conseguiu olhar para mais nada a não ser ele.
Alto e com uma constituição forte, vestido com o uniforme verde-escuro da Rifle Brigade, tinha a cabeça descoberta, a espada no cinto. 
A faixa vermelha de oficial estava manchada e escura e, o que era incomum para um oficial, um rifle pendia de um dos ombros.
A perna esquerda da calça tinha sido cortada para dar espaço ao volumoso curativo bem acima do joelho e batia em tomo da bota preta e alta a cada passo que dava.
Os cabelos eram negros como as penas de um corvo, uma barba nascente escurecia sua mandíbula, e os olhos escuros, sob sobrancelhas pesadas, estavam entrecerrados para se proteger do sol enquanto ele observava o cais com a intensidade de um homem que esperava o fogo inimigo de um franco-atirador.
Seu escrutínio envolveu Meg. Ela se obrigou a devolver o olhar com indiferença e o deixou passar por ela. A experiência lhe ensinara a avaliar rapidamente os homens, um hábito, que não era mais um caso de vida ou morte e o qual talvez devesse abandonar. 
Não que jamais tivesse tido a necessidade de avaliar um homem que parecia tão perigoso.

Série Irmãs Shelley
1 - Questão de Prática
2 - Questão de Ternura
3 - Questão de Desejo
4 - Questão de Inocência
Série Concluída

Questão De Ternura

Série Irmãs Shelley 
A inocente Laurel Vernon passou a viver um terrível pesadelo ao ser seqüestrada e leiloada em um nos bordéis mais famosos de Londres. 

Apenas a lembrança do investigador Patrick Jago lhe dá forças pára suportar tamanha provação. 
Apesar de tê-lo conhecido por poucos dias, ele a fez se sentir protegida e apaixonada. 
Porém, quando Laurel vê Patrick entre os clientes do prostíbulo, fica sem saber se ele viera salvá-la ou apenas satisfazer desejos luxuriosos. 
Somente há uma certeza: Patrick irá arrrematá-la! 

Capítulo Um 

Templo de Vênus, King’s Place, St James’s, Londres, maio de 1814.
O relógio badalou, marcando a hora cheia. Onze horas. Laurel torceu as mãos unidas, sentindo as unhas se enterrarem em suas palmas. Iria acontecer agora.

 Era inevitável, mas ela não se renderia facilmente. Lutaria, e feriria qualquer homem nojento a quem fosse vendida, embora soubesse que aquilo não fosse ajudar em nada.
Desejou ter unhas mais longas. Desejou ter uma faca. E rezou para não chorar.
Laurel se forçou a ficar ereta, não iria se encolher como se fosse uma coisinha estúpida e medrosa. Estava aterrorizada, e admitia isso, mas não ia dar a eles a satisfação de demonstrar. 
Suas mãos tremiam e seu coração estava disparado, mas ela não era uma vítima sem vontade própria, ainda que sua concentração estivesse aos pedaços e que sua imaginação construísse um cenário apavorante atrás do outro. Ficou parada na antecâmara sombria, descalça em sua longa túnica de linho branco, os cabelos soltos e espalhados pelos ombros. 
Patrick, pensou ela, enquanto as duas jovens que a acompanhavam, maquiadas e vestidas em seda escarlate em contraste com o branco virginal, levavam-na pelos braços.
Como era possível que o nome de um homem que conhecera havia apenas alguns dias lhe desse forças? E ainda não conseguira tirá-lo da cabeça.
Patrick, repetia ela incansavelmente, enquanto atravessava uma porta e era levada até uma explosão súbita de barulho e calor, e sentia o cheiro de álcool e fumaça, perfume e comida.
Sua respiração estava entrecortada e seus joelhos tremiam, mas Laurel manteve a cabeça erguida. Patrick. Ele fora um sonho impossível desde o momento em que Laurel o vira pela primeira vez, no quarto da estalagem em Martinsdene. 
Tão alto, sério, um investigador particular, que viera da Cornualha com a missão de encontrar duas mulheres desaparecidas que haviam sido amigas dela um dia. 
Um homem que, sem perceber, a enfraquecera fazendo com que fosse invadida por um desejo que não compreendia.
Laurel passara três dias tentando ajudá-lo em sua busca por Lina e Bella Shelley, mas ele lhe dera a chave para o futuro com notícias sobre sua velha amiga, a irmã delas, Meg, que o contratara.
Enquanto se forçava a manter o queixo erguido e tentava convencer as pernas trêmulas a caminhar, ela se lembrou das ondas repletas de sentimentos que a percorreram ao encarar os olhos dele, naquela terceira tarde, quando ele se preparava para partir. 
Algo no olhar de Patrick falara ao âmago de seu ser, em uma linguagem da qual Laurel não estivera consciente antes. E então, ela percebeu que algo nele a atraíra desde o primeiro momento.
Patrick Jago era calmo, inteligente, e, por alguma alquimia incompreensível, fazia com que ela se sentisse ao mesmo tempo protegida e vulnerável. 
Quando os olhos dele se fixaram nos dela, aquele olhar lhe dissera que ele era um homem, ela era uma mulher, e aquilo era tudo que precisavam saber. 
Ele vai me beijar agora, pensara Laurel quando ele se aproximara. E nada acontecera. 
Talvez estivesse errada e ele não sentisse coisa alguma por ela. 
Talvez ele fosse cavalheiro de mais para se aproveitar de uma jovem inocente que compartilhava uma aventura com ele.
E então Laurel tivera o bom-senso de partir, de fugir, não dele, mas de sua própria fantasia tola de que ali estava o homem por quem esperara a vida inteira.
Porque só poderia tre sido isso... Uma fantasia.

Série Irmãs Shelley
1 - Questão de Prática
2 - Questão de Ternura
3 - Questão de Desejo
4 - Questão de Inocência
Série Concluída

17 de fevereiro de 2013

Seduzida Pelo Risco







Naufrágio e escândalo!

Náufraga em uma ilha, Averil Heydon está aterrorizada. Mas ser resgatada pelo capitão Luc d'Aunay não a acalma nem um pouco!
Averil, embora virgem, sabe que apaixonar-se por Luc é perigoso, mas não pode negar a atração que os rodeia... Depois de provar pela primeira vez o sabor do desejo selvagem nos braços de Luc, Averil é obrigada a voltar para á sociedade e seguir os costumes.
Porém, talvez ela seja surpreendida pela audácia de Luc ao fazer uma proposta escandalosa, mas que lhe dará o direito de viver intensamente a sensualidade recém-despertada...

Capítulo Um


16 de março de 1809, ilhas Scilly
Parecia um sonho. O tipo de sonho que se tem pouco antes de acordar. Ela estava encharcada e gelada. 
A escotilha devia ter se aberto durante a noite, pois ela sentia um grande desconforto.
— Olhe, Jack, é uma sereia.
— Que nada. Ela tem pernas, não tem? E nenhuma cauda. Como é que se faz amor com uma sereia se ela não tem pernas?
Não era sonho, era um pesadelo. Acorde. Os olhos não abriam. Sentia frio, dor, medo. Pavor.
— Acha que a mulher está morta?
Um terror inexplicável percorreu seu corpo. Será que eu morri? Será que estou no inferno? Parecem demônios à minha volta. Acho melhor não me mexer.
— Ela me parece bem fresca. Acho que vai servir, mesmo não estando muito acordada. Não me deito com uma mulher há cinco semanas.
— Nenhum de nós, estúpido — A voz grossa parecia estar mais perto.
Não! Será que ela gritou em voz alta? Averil estava bem consciente, e logo as lembranças voltaram, e ela compreendeu o terror que estava vivendo: o naufrágio do navio seguido de uma grande onda de água gelada e a certeza de que ia morrer.
Mas ela não estava morta. Podia sentir que estava sobre areia fria e úmida, sentia vento na sua pele e pequenas marolas batendo nos seus pés. Seus olhos cheios de sal estavam fechados para esse pesadelo, e o corpo todo doía, como se tivesse rolado dentro de um barril. Com o vento batendo na sua pele... Foi então que ela se deu conta de que estava nua e que as vozes eram de homens de verdade que se aproximavam e que pretendiam... Melhor não se mexer.
Alguma coisa a cutucou com força nas costelas, fazendo-a se encolher, morta de medo, querendo gritar, mas algo lhe dizia que devia ficar calada.
— Ela está viva! Isto é que é sorte — Era a voz do primeiro homem, todo feliz.
Ela se encolheu toda, como um ouriço sem espinhos.
— Acha que podemos levá-la para trás das rochas antes que os outros a vejam? Não quero ter de dividir com eles, pelo menos, não até usá-la bastante.
— Não! — Ela se sentou rapidamente na areia e, com os braços, tentou esconder sua nudez.
O pior de tudo era que ela não conseguia enxergar nada. Então fez um esforço para abrir os olhos, apesar de todo o sal.
Os seus algozes estavam a dois metros de distância, olhando para ela com expressão de cobiça. Averil se apavorou. Um dos homens era grande, com uma barriga protuberante de quem bebia muita cerveja, braços musculosos e pernas que pareciam dois troncos de árvore. O outro, mais magro, devia ser o tal que a chutou.
— Vem para cá, belezinha — disse o menor dos dois com uma voz que a deixou aterrorizada. 
— Nós vamos aquecê-la, não é, Harry?
— Prefiro morrer
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12 de dezembro de 2012

Vidas Em Jogo


Ruínas, escândalos e casamentos na alta sociedade.

Uma relação muito perigosa!
A vibrante lady Perdita Brooke orgulha-se de sua posição social... Exceto quando é obrigada a suportar a presença de Alistair Lyndon com seu charme devastador.
O jovem sonhador que Dita conhecera se tornara um libertino egoísta; ele claramente não se lembrava da noite apaixonante que tiveram juntos...
Contudo, muita coisa ainda está gravada na memória dela! 

Agora, Dita tem a oportunidade perfeita de fazê-lo se lembrar daquela ardente química entre eles, mas está prestes a perder a cabeça...
Com todos os naipes que tem na mão, provocá-lo pode ser um jogo deliciosamente perigoso... até Alistair revelar sua carta na manga!

Capítulo Um 

7 de dezembro de 1808 Calcutá, Índia
Está bem mais fresco, Dita garantiu a si mesma, abanando seu leque furiosamente. 
O inverno chegara, o que queria dizer, na prática, que às 8h da noite fazia o mesmo calor que em uma tarde de verão na Inglaterra. Pelo menos, não estava chovendo, graças aos céus. Quanto tempo alguém tinha que viver na Índia para se acostumar com o calor? Uma gota de suor percorreu as costas dela enquanto Dita se lembrava de como fora o clima de março a setembro daquele ano. 
Mas algo precisava ser dito sobre a temperatura daquele país: ela fazia com que você se sentisse calmo e relaxado. Na verdade, era impossível sentir-se de outra forma, a não ser relaxado, usando o mínimo de roupas que a decência permitisse, sempre feitas de tecidos delicados como musselina, linho ou seda. 
Ela sentiria falta daquela indolência, do vagar, da calma sensual daquele lugar quando voltasse para a Inglaterra, agora que seu ano de exílio acabara. 
E o calor ainda trazia outro benefício, pensou Dita, prestando atenção ao grupo de garotas que também entrava no saguão todo feito de mármore do belíssimo Palácio do Governo. 
As altas temperaturas faziam com que a pele das louras, sempre tão clara, parecesse avermelhada e manchada, ao passo que ela, a cigana, como faziam questão de observar de forma depreciativa, quase não demonstrava os efeitos do calor em sua aparência. 
Dita demorou um longo tempo para se adaptar, levantar-se antes do amanhecer, dormir durante as tardes e reservar as noites para saraus e festas. 
Se não fosse pelo rastro de fofocas maldosas e rumores que trouxera consigo da Inglaterra, talvez pudesse ter reinventado a si mesma em sua nova vida na Índia. 
Mas a única coisa que aconteceu neste novo país foi Dita ter aprimorado sua capacidade de brigar e de se defender da maledicência alheia. 
Ela sentia falta da Inglaterra e queria estar lá.
Queria ver os verdes da paisagem inglesa, sentir a chuva no cabelo. 

Sentia falta da neblina densa de todas as manhãs e do sol que vinha em seguida, tão gentil, quase tímido. 
Sua sentença na Índia já estava quase toda cumprida.
Ela iria voltar para casa e pedir perdão ao pai na esperança de que seu reaparecimento na sociedade londrina não criasse uma nova onda de fofocas. 
Mas e daí se houvesse fofoca?, pensou ela enquanto entrava na sala com um sorriso de confiança forçada no rosto.
Ao inferno com todos eles, os maledicentes sussurrando atrás das portas sobre a minha vida. 
Quem eles pensam que são para me julgar, afinal? Cometi um engano, confiei no homem errado, foi só isso.
Não acontecerá novamente. Arrependimentos eram perda de tempo.
Dita deu-se uma sacudidela mental, obrigando-se a parar de pensar em tudo o que acontecera de novo e de novo, prestando atenção àquela sala incrível com colunas duplas de mármore e pé-direito altíssimo.

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16 de agosto de 2012

Um Oponente Perigoso

Série Ravenhurst
A saga dos Ravenhurst, uma família pouco convencional. 

Ele encontrou-se com sua alma gêmea. Jack Ryder sabia que escoltar a altiva viúva Grã Duquesa Eve Maubourg a Inglaterra não seria uma tarefa fácil. 
Mas com sua capacidade como espião e aventureiro acreditava que seria capaz de conduzir Sua Alteza Sereníssima. 
No entanto, ele não estava preparado para sua beleza, sua sinceridade, nem a maneira na qual percebeu a sensualidade através da fachada de frieza. 
E o que começou como uma missão rapidamente deu lugar há algo muito mais perigoso e pessoal.

Capítulo Um

Sete de junho de 1815 pela noite.

Ninguém disse lhe que era bonita. Jack Ryder se agarrava precariamente sobre o parapeito de uma janela de pedra situada a uns setenta metros sobre o leito do rio no fundo do barranco, e observava a sala iluminada por velas. Dentro a mulher pela qual tinha sido enviado, caminhava ao redor da sala como uma gata raivosa.
Ele ficou olhando para a mulher do outro lado do vidro e se ajeitou melhor no nicho escorregadio. Abaixo, o vazio a frente do castelo estava imerso em uma escuridão misericordiosa e o som da água do rio chegava muito abafado. Ele tentou ignorar os dedos frios do medo correndo por sua coluna, sabendo muito bem que se desse rédea solta à sua imaginação não conseguiria se mover. As botas com pregos derrubaram algumas pedras e ele ficou imóvel por um momento, mas ela pareceu não ouvir.
Jack começou a trabalhar no nó que prendia o fim da longa corda que tinha enrolada na cintura. Quando a desenrolou, jogou-a do topo da torre e a deixou cair através do vazio, para fora da vista.
Agora, a única maneira de descer era através dessa janela.
Apesar do perigo de sua posição, Jack não tinha a intenção de atravessá-la até que tivesse a chance de pegar a mulher. A mulher que havia sido contratado para levar de volta à Inglaterra, por qualquer meio necessário, incluindo a força.
Em Whitehall tinham explicado que era para o bem da mulher e do interesse dos dois países. Seus líderes tinham falado com o ar de homens que estavam contentes de não ser aqueles quem teriam que tentar convencer a mulher. Ele havia ouvido algumas coisas sobre sua Alteza Sereníssima a viúva grã-duquesa Eve Maubourg. Eles tinham dito que era inteligente, teimosa, anti-napoleônica, altiva, independente, forte e exigente. E metade francesa.
Não tinha deixado o ducado de seu casamento e certamente seria quase impossível deixar agora, mas isso não importa, Jack estava acostumado a ser designado para coisas quase impossíveis.
Mas não tinham falado sobre sua beleza morena, sua figura sexy e não disseram que tinha a graça de uma pantera ágil em uma gaiola. E Jack não podia acreditar que poderia ser a mãe de um menino de nove anos, embora isso talvez se devesse à espessura do vidro da janela.
Ela estava sozinha no quarto e Jack tinha esperado o suficiente para ter certeza disso. Mudou de posição e se esforçou para abrir a janela sem pensar no que aconteceria se ele perdesse o equilíbrio. A lâmina fina deslizou facilmente entre a pedra e a moldura. Felizmente, a janela se abria para dentro. Ele abriu alguns centímetros e esperou alguns minutos para não assustá-la com uma queda brusca na temperatura ou uma rajada de vento. Se ela chorasse, provavelmente tudo iria acabar em um banho de sangue e ele não tinha a intenção de que o sangue fosse dele. 

Série Ravenh.
1 - Um Oponente Perigoso
2 - A Ultrajante Lady Felsham
3 - The Shocking Lord Standon
4 - The Disgraceful Lord Ravenhurst
5 - The Notorius Mr Hurst
6 - The Pratical Miss Ravenhusrt
7 - Disrobed & Dishonoured

7 de janeiro de 2012

Tormenta De Paixões



A senhorita Décima Ross sabia muito bem que sua família periodicamente se dava ao trabalho de «tentar casar a pobre Dessy». 

Mas quem ia querer uma mulher magra, sardenta e sem graça como ela? 

Quando soube que iam exibi-la mais uma vez para um cavalheiro solteiro, Décima fugiu apressadamente da casa de seu irmão. 
E se encontrou com Adam Grantham, visconde de Weston, o primeiro homem que ela conhecia e que era alto o bastante para carregá-la em seus braços… literalmente. 
Seria possível que esse belo libertino a achasse atraente? 

Comentário revisora Marlene: Esta é a história de Décima. Uma mulher de 27 anos que não se casou por ser muito alta e sardenta e seus parentes tentam de todo o modo casá-la, levando-a ao desespero. O livro é leve e divertido, sem ser hot e sem grandes dramas. Eu gostei. É diversão sem compromisso. 


Capítulo Um 


Em um encantador salão, que dava para um parque do condado de Notthingham, três pessoas estavam tomando a primeira refeição do dia em uma atmosfera de requinte e elegância. 

A senhorita Ross colocou sua torrada no prato, limpou os dedos com o guardanapo de linho e sorriu para sua cunhada. —Só por cima do meu cadáver. 
—Dessy! —Charlton esteve a ponto de engasgar-se com o café. 
Décima se sentiu enjoada, como se algo tivesse estourado em sua cabeça. 
Ela havia dito isso? 
Charlton deixou a xícara na mesa e limpou os lábios. 
 — Por que tudo isso? Hermione se limitou a sugerir que deveríamos visitar nossos vizinhos, os Jardine, esta tarde. Já te falei deles. Moram há seis meses em High Hayes e é uma família encantadora. 
— E casualmente tem um convidado que é um cavalheiro solteiro, se eu me recordo — sem dúvida uma desconhecida possuía seu corpo e dizia todas aquelas coisas que ela sempre tinha pensado e nunca tinha ousado pronunciar. 
 Nove anos de intenções desesperadas por parte de sua família em casá-la, tinham deixado-a com uma aguda sensação de perigo sempre que aparecia um solteiro à vista. 
Sempre fazia o que lhe pediam e tentava conversar com o cavalheiro em questão. 
Olhou a bandeja de presunto e ovos que havia diante de seu meio-irmão. 
Agora parecia que sua obediência covarde tinha chegado ao fim. 
—Podíamos ter ido visitá-los qualquer dia nas duas últimas semanas, mas entendi que o cavalheiro chegou faz dois dias e, portanto, devemos ir agora - acrescentou. 
Olhou pela janela e sentiu um calafrio, apesar do calor do salão. 
O céu baixo ameaçava com neve depois de uma semana de clima seco e frio, mas para escapar dessa humilhação, estava disposta a arrumar sua bagagem e partir em seguida. 
Por que antes nunca lhe havia ocorrido partir? Não era precisamente uma prisioneira que não tivesse para onde ir. 
—Pois sim, o irmão da senhora Jardine. Um cavalheiro solteiro e com título, mas não sugeri a visita por isso - lady Carmichael, que não mentia muito bem, ficou em silêncio quando os olhos cinza de Decima pousaram nela e olhou seu marido com ar implorante. 
— Não queremos interferir nas celebrações natalinas da família — interveio Charlton, deixando cair o jornal. — Naturalmente, não podíamos ter ido antes. 
Décima o olhou com uma calma que estava muito longe de sentir. 
Queria perguntar amargamente por que insistia em exibi-la diante de outro pretendente em potencial, cujas mornas tentativas por mostrar-se educado a lembrariam que ela continuava sendo uma solteirona na idade de vinte e sete anos. 
Mas sua recém-encontrada coragem não era nada mal. 
—Fizemos mais de uma dúzia de visitas nesta temporada de férias, Charlton, e recebemos em outras tantas - retrucou. — Por que tem que ser diferente com os Jardine? 
 —Não tem nada a ver com o irmão da senhora Jardine - declarou ele, ignorando a pergunta. 
— Não sei por que não pode agradar Hermione e acompanhá-la na visita. 
—Bom, Charlton, a razão é porque vou partir hoje. 
Décima tampou o frasco de geleia concentrando-se para que a mão não tremesse. 
Nunca antes desobedecera às ordens de seu irmão, mas por outro lado, antes não estava livre dele legal e economicamente. 
Ou ao menos estaria em mais dois dias, no Ano Novo.