Um pedido às estrelas...
Lady Letitia e lady Viola não entendem nada de casamento!
As duas insistem que é preciso ter amor... Pois eu, Hannah Chillton, afirmo que basta aproximar um homem e uma mulher e deixar que a natureza faça o resto. E para provar que estou certa, tenho um plano secreto para fazer aquelas duas subirem ao altar! Claro que é um desafio e tanto, considerando-se que ambas já passaram um pouquinho da idade de casar...
E desde quando o amor tem algo a ver com o casamento que elas estão providenciando para mim?
Confesso que quando conheci St. Albans, fiquei um pouco sem fôlego, mas depois que nossa carruagem acidentalmente o atropelou, estou convencida de que ele pertence àquela desprezível categoria de homens infames e conquistadores.
A arrogância dele é insuportável... Verdade que às vezes ele parece tão tímido e carinhoso que chego a pensar se não existem dois St. Albans, totalmente diferentes um do outro. Mas isso seria impossível... Ou não?
Capítulo Um
Cemitério da Abadia Kirkwell, Inglaterra, Devon
Aquele não era o dia de sorte do conde de Devonsfield. Para completar, seu descanso eterno também estava ameaçado.
Aborrecido, o conde levantou a cartola e removeu a peruca para coçar com suas unhas roídas a calva brilhante.
— Bem, o que me diz, Pinkerton?
Seu criado pessoal, um cavalheiro elegante e perspicaz, equilibrava-se perigosamente num dos galhos da imensa sorveira brava que ficava ao lado do mausoléu.
— Acho que o funcionário do cemitério está certo, milorde. Não há outra opção; pelo menos nenhuma que eu possa imaginar. Não vejo como adicionar mais um andar ao mausoléu sem comprometer a estrutura.
A resposta não agradou ao conde. Ele, porém, era um homem que aprendera com a vida que as mudanças eram necessárias e invitáveis, e não iria se render diante do primeiro obstáculo.
— Nesse caso, não nos resta alternativa. Teremos de aumentar nas laterais, Pinkerton. — O elegante cavalheiro olhou paras as lápides vizinhas ao mausoléu de sua família. — Poderemos tentar persuadir os Anatole a remover seus familiares para outro terreno.
A expressão que surgiu no rosto do criado deixava claro que ele não acreditava num desfecho favorável para a idéia, mas acima de tudo vinha sua lealdade e ele aquiesceu.
— Entrarei em contato com os Anatole para verificar a viabilidade de seus planos, milorde.
Com cartola e peruca nas mãos, lorde Devonsfield caminhou pelo gramado que circundava o local de repouso de seus antepassados. Em seguida, suspirou ao tocar as paredes de mármore, imaginando se aquilo tudo não era conseqüência de seu terrível azar. Após duzentos anos, o mausoléu dos Devonsfield estava lotado, justamente quando sua passagem pela Terra estava com os dias contados. E a culpa era de seu irmão, sem sombra de dúvida. Mesmo depois do trágico falecimento de todos os familiares do conde num terrível acidente — que matara seus dois filhos —, ainda havia um espaço vago que lhe pertencia de direito. Mas então seu irmão mais jovem, Thelonius, morrera de repente, utilizando seu lugar no mausoléu.
— Milorde, posso descer da árvore agora? — Pinkerton, como sempre vestido de preto dos pés à cabeça, oscilava nervoso no galho.
— O quê? Oh, claro! Já terminamos. — O conde acenou-lhe para que descesse. — Por falar em árvore, poderia me explicar melhor o que descobriu sobre minha árvore genealógica. Mais especificamente sobre o ramo em que podemos encontrar meu herdeiro? Já faz um mês que aconteceu o acidente e você ainda não localizou aquele que herdará o condado de Devonsfield.
Pinkerton apoiou-se com cautela num galho mais baixo.
— Fique tranqüilo, sir. Sei, por exemplo que o cavalheiro mora na Cornualha. É filho de seu primo em segundo grau.
O conde encarou-o incrédulo e, aproximando-se da árvore, bateu com a bengala no tronco.
— Maldição, Pinkerton. Por que não me disse antes? Preciso falar com o rapaz sem demora. Qual é o nome dele?