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3 de agosto de 2014

O Senhor da Fronteira





Lachlan Kerr recebe ordens para se casar, por isso acha inútil protestar ao se tornar noivo da tímida e sem graça lady Grace Stanton. 

Entretanto, ele descobre o quanto ela é especial. 
Durante toda sua vida, Lachlan fora cercado por traições, mas Grace acredita que ainda há bondade nele. 
A força de Lachlan e o cuidado que tem com ela o tornam ainda mais atraente. 
E Grace se dá conta de que está cada vez mais apaixonada por aquele homem cheio de segredos na alma…

Capítulo Um

Agosto de 1360 — Grantley Manor, Clenmell, Durham, Inglaterra.
Lady Grace Stanton observava o homem que caminhava em sua direção. Alto, moreno e belo.
Era algo pelo que ela não esperava.
Aquela beleza a preocupava mais do que o perigo que o envolvia ou a indiferença que ele usava como um manto. E quando, enfim, ele estacou diante deles e a poeira, levantada pelos cascos dos cavalos, assentou, ela controlou a expressão e ergueu o rosto.
Ele ficara desapontado. Dava para perceber em seu olhar. Havia uma nuance de desconfiança sob a superfície azul-cinzenta. O coração de Grace afundou. Podia sentir a dor fria de suas suspeitas. Com um sorriso forçado, aceitou a mão que ele lhe estendeu, odiando as unhas roídas e a aparência de sua pele, vermelha e ressecada, de encontro à dele, morena e lisa.
Padecia com aquela enfermidade desde que nascera, há 26 anos. Porém, naquele dia, pelo menos, a pele sob seus olhos não estava descamada nem exsudada.
— Lady Grace. — Assim que proferiu seu nome, ele soltou-lhe a mão e recuou um passo.
— Kerr — disse o tio dela, o conde de Carrick, e seu tom não soou acolhedor. O olhar semicerrado, voltado para o recém-chegado, também englobava os membros do clã, mais ou menos uns 20, que se encontravam sobre os lombos de seus cavalos, atrás do lorde. — Nós o aguardávamos semana passada.
— Já chamaram o sacerdote? — Kerr o interrompeu dispensando completamente as boas maneiras.
— Sim. O padre O’Brian veio de...
— Então, traga-o aqui.
— Mas minha sobrinha ainda não está vestida adequadamente.
— Um vestido é a menor de suas preocupações em face do decreto de meu rei. — As palavras soaram categóricas. Quase insolentes. Oscilando à beira da insubordinação. Quando Grace olhou para o tio, a nitidez da luz o fez parecer mais velho, um homem que superara as agruras da guerra e que agora almejava passar a velhice em paz. Quando seu olhar recaiu sobre as armas que os Kerrs portavam, ela percebeu, com mais clareza do que nunca, o verdadeiro preço da política. Um passo em falso e sua família sofreria as consequências, pois plebeus inocentes eram facilmente descartáveis em períodos de frustração política.
— Eu... a-a-cho, t-tio, que o senhor deveria chamar o pa-pa-padre O’Brian. — Deus! Sua gagueira habitual estava pior do que nunca. Grace ouviu, mais do que viu, o murmúrio dos homens atrás de Kerr, e seu pulso acelerou tão descontroladamente que temeu desmaiar por falta de ar.
Não, não se permitiria tal luxo!
Mordendo o lábio inferior, manteve-se imóvel, esforçando-se para sufocar o pânico que a dominava, até senti-lo retroceder.
— Você se casaria aqui mesmo? Do lado de fora? Mas você esperava...
— Não, tio. Aqui está bo-bom.
Esperanças! Seu olhar percorreu o rosto do guerreiro a sua frente, esperando júbilo ou, no mínimo, compaixão, mas não viu nada.
Apenas uma obrigação, pensou de repente. Para ele, aquele casamento era apenas uma obrigação, uma maneira de apaziguar o rei e encher os próprios cofres de dinheiro.
Maculada por uma doença de pele, mas agraciada com boas ancas para gerar filhos. O emissário de Eduardo III da Inglaterra havia dito exatamente tais palavras, quando ela fora convocada para vê-lo. Lembrou-se da fúria momentânea do tio ao ler o decreto que lhe fora colocado nas mãos, um pedaço de papel que mudaria suas vidas para sempre. Se ele não obedecesse, Grantley Manor estaria em risco. Grantley! Perderiam a propriedade da família se ele não fizesse o sacrifício de casar uma sobrinha, sem atrativos e já passada, com um cônjuge escolhido. Até mesmo seu tio tinha limites quanto ao que estava disposto a perder.
A vontade dos reis. Uma união forjada, enquanto todos estavam às voltas com o conceito de independência da Escócia.
Grace podia ver o traço de impaciência nos olhos de Lachlan Kerr, azuis com pontinhos cinza. Olhos que diziam que ele certamente estava a par da extensão de sua reputação na corte, onde os boatos sobre ela eram cantados nas canções de bufões, figuras de entretenimento, que proporcionavam às damas e aos lordes uma pausa para fugir da realidade mais dura das conspirações. Stephen lhe contara no último verão, após retornar de Londres. O primo recitara os versos maldosos, achando que lhe estava fazendo um favor, avisando-a.
Talvez estivesse mesmo, pensou Grace. Um ano atrás, não teria sido capaz de perceber a aversão e a piedade tão claramente estampadas no rosto de Kerr, julgando ser apenas traços de impaciência. Agora, a forma de uma irritação indisfarçável em seu semblante era evidente em sua postura e na maneira como se colocava diante deles, uma das mãos no quadril e a outra no cabo da espada.
O sucessor do irmão!