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16 de janeiro de 2011

Um Raio de Luar

O vingador 

O magnata das ferrovias, Rafael Belloch, tem sorte e é orgulhoso. 
Por isso nunca se esqueceu da mulher mascarada, com maravilhosos olhos azuis e movimentos felinos, que o roubou, tirando-lhe o dinheiro... E as roupas. 
Mas Rafael suspeita que voltou a encontra-la.
A mão do destino Em meio aos bailes deslumbrantes e às noites no teatro, em plena temporada social de verão, uma dança perigosa em torno da verdade se inicia. 
Um homem obcecado por fazer justiça e uma jovem que é mestra nos disfarces se encontram em um confronto decisivo! 

 Capítulo Um 

Junho de 1883
Senhoras e senhores – anunciou Paul Rillieux com voz forte e educada que não demonstrava sua idade avançada. – Entre nós existem alguns que possuem o dom, apesar de desconhecerem, de ir além do plano físico. Essas pessoas são conhecidas como “sensitivas”, e isso me empolga. Conhecendo meu interesse, a sra. Astor pediu-me para fazer uma breve demonstração de telepatia, a capacidade de ler os pensamentos de outros através do éter, o elemento gasoso que permeia nossa atmosfera.
A orquestra no tablado, no final da galeria, estivera tocando valsas e árias de óperas, mas emudecera quando o idoso clarividente começara a falar.
– Todos sabemos – continuou o homem com um sorriso nos lábios – que um pedido da sra. Astor é uma ordem. Portanto aqui estou.
Fez uma leve reverência na direção de uma matrona com penteado elaborado e brilhantes no pescoço. A dama acenou de modo gracioso, e murmúrios de aprovação surgiram entre os convidados no salão.
Fazia apenas um ano que a luz elétrica chegara a Manhattan, fornecida pela usina de Pearl Street. No momento, até na mansão Maitland, na Quinta Avenida, lâmpadas incandescentes brilhavam com luz firme em castiçais com formato de querubins e separados nas paredes por grandes tapeçarias.
– Possuímos mente e espírito – disse Rillieux. – A mente consciente pode se questionar sobre o que haverá para o jantar, enquanto o espírito se preocupa sobre promessas quebradas ou sonhos frustrados.
Arrogante e confiante, Rillieux passeou o olhar pela platéia, apoiando-se de leve na bengala. Além de Caroline Schermerhom Astor, sua audiência incluía Alice Vanderbilt; um nobre francês emigrante, o conde de Chartrain; a debutante Antônia Butler, que deveria herdar uma fortuna maior que a dos Vanderbilt; e o anfitrião da noite, o rei do setor imobiliário, Jared Maitland.
Percebia-se que o esnobismo da sra. Astor terminara por fim, ante o grande número de novos milionários que invadiam os salões da alta sociedade. Em especial os vindos do Oeste, que não tinham boas maneiras, mas montes de dinheiro, e que a sra. Astor, com toda a sua arrogância, não podia continuar a ignorar.
De fato, graças a essas recentes fortunas, uma nova e radical noção surgira havia pouco e começava a criar raízes; quando se sabe quanto dinheiro se possui, até os centavos, então não se é rico de verdade. Fortunas incalculáveis tomavam o lugar das heranças previsíveis.
– Alguém entre nós – anunciou Rillieux de repente – há pouco sonhou sobre um querido animal de estimação que morreu faz alguns anos. E outra pessoa está preocupada, pensando se deve adquirir imóveis em... sim, na rua 54 Oeste.
Um murmúrio entusiasmado percorreu um grupo de senhoras junto ao tablado da orquestra.
– Ora! Thelma disse que sonhou com seu cãozinho Jip duas noites atrás – anunciou Lydia Hotchkiss, resplandecente em seu vestido de cetim. – E foi a primeira vez que mencionou isso.
Uma voz masculina ecoou:
– Não tinha percebido que, de fato, pensava nisso, mas admito que ando interessado em comprar terrenos na rua 54 Oeste.
Quem falara fora o advogado Albert Gage, cuja firma de Wall Street representava metade dos novos-ricos de Nova York, assim como muitos da velha aristocracia.
– Mas não estava pensando nisso de maneira consciente, sr. Gage – apontou Rillieux.
Por um instante o olhar do idoso fixou-se em uma jovem de pequena estatura, sentada sozinha a um canto, que observava tudo com serenidade. Rillieux fez um gesto imperceptível, e um minuto depois a moça começou a circular, de maneira lenta, entre os convidados distraídos.
– E há mais uma coisa – continuou Rillieux, o rosto forte capturando a atenção de todos, exceto da dama que circulava pela platéia como um puma caçador. – Alguém entre nós está muito irritado por causa... – Fez uma breve pausa e sorriu de modo estudado. 

– Sim, é claro. Por causa de um repórter ambicioso do New York Herald...