Trilogia Sinclair
Paris, 1913
Dessa vez o conde de Dare foi longe demais!
Stephen Sinclair, o conde de Dare, era um enigma, mesmo para aqueles que julgavam conhecê-lo bem.
Pois embora sua moral parecesse suspeita e sua busca pelo prazer tão incansável quanto a de suas parceiras, havia algo sob a fachada de beleza, perspicácia e charme que ele, muito habilmente mantinha escondido.
Ou, pelo menos, assim parecia, até a noite em que Dare apostou uma pequena fortuna pela amante inglesa de um jogador francês... e ganhou!
Agora, com a bela viúva instalada em sua casa, até as mamães casamenteiras da alta sociedade estavam começando a duvidar que o conde de Dare seria capaz de recuperar o bom nome, pois tinha-se a impressão de que a mal-afamada sra. Carstairs estava destinada a se tornar a próxima noiva da família Sinclair...
Capítulo Um
Londres.
Se tudo ocorrer de acordo com o planejado, minha querida, teremos um convidado muito especial esta noite — disse Henri Bonnet, sorrindo com indisfarçável satisfação. — Alguém a quem você deve tratar com redobrada cortesia.
Elizabeth Carstairs ergueu a cabeça e, durante breves segundos, fitou o reflexo do patrão no espelho sobre a penteadeira. Sem nada responder, retomou a tarefa de maquiar os belos e tristes olhos azuis. Irritado com a indiferença daquela inglesa altiva, apesar da posição subalterna que ocupava em sua casa, o francês atravessou o quarto com passadas rápidas e segurou-a pelo queixo rudemente, obrigando-a a encará-lo.
— Um convidado muito especial — tornou a dizer, pronunciando cada palavra com propositada lentidão. — Você está me entendendo, mulher?
— Claro — ela retrucou, não deixando transparecer a angústia que lhe ia no peito. Nos últimos dois anos, Elizabeth Carstairs pouco controle tivera sobre qualquer aspecto da própria vida, exceto quanto ao comportamento pessoal. E, desde o início, jurara a si mesma que Henri Bonnet, jogador profissional, jamais saberia o que ela estava pensando. Ou sentindo.
Ainda segurando-a firme pelo queixo, Bonnet virou-a em direção à luz. Depois de examiná-la criticamente, mergulhou um dedo num pote de rouge e acrescentou mais cor aos lábios e às faces pálidas.
Então afastou-se alguns centímetros e contemplou o resultado. Todavia o vestido azul, de corpete alto e mangas compridas, não o agradava.
— Prefiro vê-la usando o vestido vermelho, em vez deste aqui. Portanto, troque-se. Estaremos recebendo alguém importante. Alguém muito importante. E conto com seu empenho.
Sem se dar ao trabalho de aguardar até que sua ordem fosse cumprida, pois sabia que seria, o jogador retirou-se, deixando-a só no quarto. Elizabeth olhou-se no espelho, odiando a própria imagem.
Num misto de raiva e frustração, tentou remover o rouge das faces. Porém, após alguns instantes, desistiu, resignada. Impossível lutar contra o destino. Já não podia ser quem um dia fora. Com o olhar fixo no espelho, levantou-se e começou a desabotoar o vestido azul, preparando-se para cumprir a determinação do patrão.
Orgulhosa e serena, embora com a alma dilacerada, saiu do quarto após trocar-se, sem voltar a se olhar no espelho.
— Tão gentil de sua parte nos honrar com sua companhia, meu lorde Dare — Henri Bonnet falou inclinando-se servilmente, a mão esquerda, enfeitada por um enorme anel de esmeralda, apontando para a mesa de mogno, que dominava parte do cenário daquela elegante casa de jogos, no coração de Londres. Havia duas cadeiras vagas à mesa, as outras quatro já ocupadas por cavalheiros que costumavam freqüentar o mesmo círculo social do conde.
O olhar arrogante de Dare mal se deteve sobre seu anfitrião, preferindo passear rapidamente sobre o rosto de cada um dos presentes.
— Creio que você conhece todos aqui reunidos — o francês acrescentou, não se permitindo revelar o quanto a indiferença do conde às suas palavras efusivas de boas-vindas o tinha desagradado.
Trilogia Sinclair
1 - Uma Mulher de Coragem
2 - Sonhos Secretos
3 - Uma Dama Espanhola
Trilogia Concluída