13 de agosto de 2010

Segredos de um Coração







Teria o amor forças para brotar em corações endurecidos pela guerra?

Dulcie Trenton ressurgira das cinzas da guerra determinada a construir uma vida nova. Mas o preço pela sobrevivência era alto e poderia custar-lhe o amor de Cal Jermain, cuja honestidade era tão forte e real quanto sua paixão.
Arrasado e amargurado, Cal precisava de um milagre, e a providência lhe fornecera um quando Dulcie e um grupo esfarrapado de órfãos invadiram sua ilha, acabando com a tristeza dele.
Mas poderia um homem que já tinha estado às portas do inferno algum dia esperar que pudesse ter um anjo em seus braços?

Capítulo Um

Ilha Jermain, Carolina do Sul
A tempestade não durou mais de uma hora, mas os ventos, com sua força destrutiva, tinham arrancado várias árvores e derrubado um celeiro, o qual tombara como uma armação feita com cartas de baralho. A chuva caía ainda do céu escuro, mas o pior já passara.
Cal Jermain andava pelos canteiros, observando as mudas, tombadas pelo temporal. Avaliava os estragos, percebendo que acabara de perder dias e dias de trabalho duro nos campos de sua propriedade. A plantação estava arruinada e teria de ser totalmente refeita se quisesse colher alguma coisa no final do verão.
Meneou a cabeça, entristecido e desanimado, voltando-se em direção à praia, para onde se encaminhou com passos pesados. Quando se aproximou mais, saindo da linha de arbustos que contornavam a orla, divisou um barco junto à arrebentação.
— Ora, se um homem não se importa em amarrar bem sua embarcação, deveria perdê-la, por castigo — murmurou, irritado, mais pelo que lhe acontecera do que por perceber a falta de responsabilidade do provável dono do barco.
E, mesmo aborrecido, resolveu aproximar-se e amarrá-lo. Ao chegar mais perto, sentiu que a respiração lhe faltava. Havia muitos corpos inertes no fundo do barco. Estavam amontoados, mas pôde contar sete com certeza. Mulheres e crianças. Estavam desfalecidos, alguns tinham cortes que ainda sangravam.
Cal praguejou alto, e agarrou a proa da embarcação, puxando-a para fora da água. Quando conseguiu, ouviu um gemido dolorido e, de imediato, procurou identificar o sobrevivente.
Uma moça ergueu a cabeça levemente. Seus cabelos negros, como a noite, estavam colados a sua cabeça e ombros, e contrastavam com a palidez cadavérica de seu rosto, dando-lhe um aspecto quase grotesco.
— Sara! — Cal sussurrou, em um misto de surpresa e incredulidade. — Meu Deus! Você veio!
Ajoelhando-se a seu lado, Cal levou as mãos aos ombros da moça, só então percebendo seu engano. Não se tratava de Sara; e, naquele momento, pôde ter certeza de que aquela estranha nem sequer se parecia com ela. No entanto, a voz de Cal ainda era um murmúrio rouco;
— Então, você sobreviveu... Pode se sentar? — Ele a amparava, ajudando-a a sentar-se no fundo molhado do barco.
Dulcie sentiu como se tudo se apagasse a seu redor por alguns instantes. Logo em seguida, percebeu o rosto do homem que estava a sua frente. Sua impressão foi um tanto vaga, mas pôde notar os cabelos e os olhos escuros. Era um homem alto e forte, e tinha uma expressão severa na boca de lábios finos.
Segredos De um Coração Sua primeira reação foi de afastar-se, de desvencilhar-se daqueles braços o mais rápido possível. E assim o fez.
Cal percebeu o medo nos olhos verdes dela. Eles brilhavam, talvez de febre, ou choque.
Com calma, ele se afastou um pouco, para não assustá-la ainda mais. Percebeu que ela baixava a guarda.
— Onde estamos? — perguntou, por fim, com voz cansada.
Cal notou de pronto o sotaque sulista. Aquele sotaque trazia-lhe recordações que não queria ter no momento, mas que doíam de maneira quase agradável nos ecos de seu passado. Afinal, as mulheres de sua família sempre tiveram aquele jeito suave e típico de falar.
— Esta baía é conhecida como Baía das Tormentas — respondeu, tentando ser gentil com a desconhecida. — E fica ao largo da ilha Jermain, bem afastada da costa de Charleston.
— Muito afastada?
 

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