Era uma vez, num reino distante, um plano de vingança que deu errado e se transformou numa paixão arrebatadora...
A vida no exílio ensinou a princesa Amy a abominar injustiças, e na pitoresca ilha de Summerwind, ela encontra a injustiça personificada no poderoso e incrivelmente atraente Jermyn Edmondson, o marquês de Northcliff.
Como o marquês se apoderou do meio de vida dos habitantes da ilha, Amy decide se apoderar dele. Ela rapta o arrogante nobre, o acorrenta no porão e pede um resgate para libertá-lo. É um plano simples, destinado a ter êxito, pois certamente o tio de Jermyn pagará o resgate.
Só que o tio de Jermyn quer mais é que alguém se livre de seu sobrinho para que ele herde o título e a fortuna. E manter o enfurecido, malicioso e sedutor Jermyn acorrentado no porão mostra-se um desafio ao controle de Amy... e à sua virtude...
Capítulo Um
Devon, Inglaterra, 1810
Se Jermyn Edmondson, o marquês de Northcliff, soubesse que estava prestes a ser sequestrado, não teria saído para um passeio.
Ou talvez saísse. Precisava de alguma emoção na vida.
A barreira cinzenta da bruma se arrastava pelo oceano verde encapelado e cobria a ilha de Summerwind. Bem abaixo de seus pés, as ondas estouravam com espumosa malevolência contra as rochas na base do penhasco. O vento penteava-lhe os cabelos e erguia o pesado sobretudo desabotoado como as asas negras de uma ave marinha. O sal picava-lhe as narinas, e leves borrifos cobriam-lhe a face. Tudo ali, naquele canto de Devon, era selvagem, puro e livre. Menos ele.
Estava atado àquele lugar. E morto de tédio.
Com desgosto, desviou os olhos do cenário com suas ondas imutáveis, enfadonhas, massacrantes, e manquitolou rumo ao jardim onde os açafrões da primavera começavam a apontar os brotos pelo solo nu.
Suas propriedades não contavam com nada que pudesse entreter um homem de seus interesses. Só bailes caipiras animavam as noites, lotados de senhores rurais sem cerimônias, debutantes de risos nervosos e mamães tímidas à caça de um título para as filhas.
Na verdade, Jermyn concluíra que havia chegado a hora de se casar. Efetivamente, pedira ao tio Harrison que apresentasse uma lista da safra atual de debutantes e sugerisse uma noiva adequada. Porém não tomaria como companheira de uma vida uma garota que julgasse uma caminhada bucólica como divertimento.
O acidente de carruagem que ele sofrerá dois meses antes havia cortado categoricamente suas atividades, e os dias eram intermináveis, silenciosos, preenchidos com longos passeios ao ar livre. E com leitura.
Jermyn olhou para o livro em sua mão. Meu Deus, estava tão enfadado de ler... Tinha até mesmo começado a ler em latim, o que não fazia havia treze anos. Não, desde que o pai morrera.
Fora o orgulho que o havia obrigado a partir às pressas de Londres. Ele detestava ser o centro de enjoativas atenções enquanto se recuperava. E quando o tio tinha sugerido a abadia de Summerwind como um retiro, Jermyn julgara a ideia digna de consideração.
Agora, pensava diferente.
No gazebo, sentou-se numa cadeira de vime e esfregou a coxa machucada. Ele sofrerá uma fratura feia no acidente, e aquele médico do interior a quem havia chamado duas noites antes lhe dissera, com seu sotaque ignorante de Devon:
— O melhor remédio é tempo e exercício. Caminhe até sua perna se cansar, mas não exagere. Ande por onde seja seguro e plano. Se escorregar e machucar esse osso recém-emendado, ficará com uma lesão permanente.
No dia anterior, Jermyn enveredara pela trilha íngreme dos penhascos rumo à praia, e caíra por causa da fraqueza da perna. Mal tinha conseguido rastejar de volta até o solar. A dor o fizera chamar o médico de novo, e Jermyn não havia ficado nada feliz em ouvir que só deveria caminhar pela varanda, como uma matrona ou uma criança.
Abriu o livro e mergulhou na narrativa de Tom Jones, e as aventuras jocosas de Fielding o prenderam contra a vontade. Assustou-se quando alguém disse:
— Senhor?
Uma criada encontrava-se de pé à entrada, com um copo numa bandeja, e, diante do gesto dele, aproximou-se.
Jermyn percebeu três coisas. Ele nunca a vira antes. O vestido azul era surrado, e a cruz de prata em torno do pescoço da criada era excepcionalmente elegante. E ela o fitava nos olhos sem deferência ao empurrar a bebida em sua direção.
Jermyn não pegou o copo de imediato. Em vez disso, notou a pele bem tratada da moça, tão diferente da tez queimada de sol das criadas locais. Os olhos eram de um tom incomum de verde, como o mar na iminência de uma tempestade. Os cabelos eram louros, penteados para cima. Ainda não devia ter vinte anos, e era bonita, tão bonita que Jermyn se surpreendeu que nenhum lavrador pela redondeza não a tivesse desposado. Contudo a expressão nos olhos daquela mulher era severa, quase austera.
Talvez isso explicasse sua condição de solteira.
Sem permissão, ela falou:
— Senhor, precisa beber. Eu trouxe isto o caminho todo até aqui para o senhor.
Meio aborrecido, meio divertido, Jermyn disse:
— Não mandei que fosse trazido.
— É vinho — a criada explicou.
Era uma moça corajosa. Talvez receasse problemas se ele não aceitasse a bebida mandada pelo mordomo.
— Está bem. Aceitarei. — Ele ergueu o copo, enquanto ela continuou a encará-lo, esperando, ansiosa, que Jermyn tomasse um gole. Num tom ríspido, ele emendou: — Isso é tudo.
A criada saltou como se assustada. Lançou-lhe um olhar de soslaio, abaixou-se numa graciosa mesura e recuou, o olhar ainda no copo.
E, naquele olhar, ele julgou ter visto de relance um lampejo de amargo ressentimento.
Então, com um jogar da cabeça, ela correu pelo jardim.
Interessante...
1 - Uma Noite Encantada
2 - A Princesa Descalça
3 - A Princesa Raptada
Trilogia Concluída